O crescimento da renda da população mais pobre no Brasil nos últimos 15
anos foi insuficiente para reduzir a desigualdade. Segundo estudo divulgado
nesta semana pela equipe do economista Thomas Piketty, famoso por propor a
taxação dos mais ricos para reduzir as disparidades na distribuição de renda, a
maior parte do crescimento econômico neste século foi apropriada pelos 10% mais
ricos da população.
De acordo com o estudo, conduzido pelo World Wealth and Income Database,
instituto codirigido por Piketty, a fatia da renda nacional dessa parcela da
população passou de 54,3% para 55,3% de 2001 a 2015. No mesmo período, a
participação da renda dos 50% mais pobres também subiu 1 ponto percentual,
passando de 11,3% para 12,3%. A renda nacional total cresceu 18,3% no período
analisado, mas 60,7% desses ganhos foram apropriados pelos 10% mais ricos, contra
17,6% das camadas menos favorecidas.
A expansão foi feita à custa da faixa intermediária de 40% da população,
cuja participação na renda nacional caiu de 34,4% para 32,4% de 2001 a 2015. De
acordo com o estudo, a queda se deve ao fato de que essa camada da população
não se beneficiou diretamente das políticas sociais e trabalhistas dos últimos
anos nem pôde tirar proveito dos ganhos de capital (como lucros, dividendos,
renda de imóveis e aplicações financeiras), restritos aos mais ricos.
“Ao capturar pouco ou nenhuma parte da distribuição da renda de capital
e ao não capturar muitos dos frutos da política social diretamente, a faixa
intermediária ‘espremida’ poderia ser um produto das elites que a quer botar em
competição com a faixa inferior [de renda]”, destacou o estudo, assinado pelo
economista Marc Morgan.
O estudo classificou a manutenção da desigualdade no Brasil como
“chocante”, principalmente se comparada com outros países desenvolvidos. “É
digno de nota que a renda média dos 90% mais pobres no Brasil é comparável à
dos 20% mais pobres na França, o que apenas expressa a extensão da distorção na
renda no Brasil e a falta de uma vasta classe média”, ressalta o levantamento.
Em contrapartida, o 1% mais rico no Brasil ganha mais que o 1% mais rico no
país europeu: US$ 541 mil aqui, contra US$ 450 mil a US$ 500 mil na França.
Metodologia
O levantamento exclui transferências de renda. Considerando o Bolsa
Família e o Benefício de Prestação Continuada, a participação dos mais pobres
teria encerrado 2015 em 14%, mas a evolução da renda dos 10% mais ricos
permaneceria inalterada. No entanto, o salário mínimo, as aposentadorias e
pensões e o seguro-desemprego estão incluídos no cálculo.
Segundo o World Wealth and Income Database, as transferências sociais foram
retiradas do levantamento para facilitar a análise da estrutura da economia.
Essa medida, conforme a equipe responsável pelo estudo, permite estimar quanto
da renda nacional vem do capital e quanto vem do trabalho.
Para chegar à distribuição da renda nacional, os autores usaram dados da
Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) que analisa o padrão de vida e a renda das
famílias mais pobres. Os dados sobre a parcela mais rica da população vieram de
informações sobre a Declaração do Imposto de Renda Pessoa Física, enviados pela
Receita Federal com a preservação do sigilo fiscal dos contribuintes.
Para acrescentar a participação do capital e as rendas não tributáveis,
o estudo usou as Contas Econômicas Integradas, de 2000 a 2014, e as Contas
Nacionais Trimestrais do IBGE de 2015. Juntando as três bases de dados, os
economistas elaboraram a série histórica dos últimos 15 anos da renda nacional
com a participação de cada faixa de renda da população.
Dividendos
A inclusão das contas do IBGE permitiu aos pesquisadores estimar os
impactos sobre a economia da isenção de Imposto de Renda sobre lucros e
dividendos, em vigor desde 1995. De acordo com o estudo, a desigualdade na
renda do trabalho (de quem ganha salários) diminuiu de 2001 a 2015, mas esse
efeito pode ser mascarado por profissionais autônomos que recorrem a
instrumentos como participação nos lucros e distribuição de dividendos para
pagarem menos impostos.
“Num contexto em que lucros distribuídos são isentos de Imposto de
Renda, enquanto as rendas mais altas do trabalho são taxadas com a alíquota
máxima de 27,5%, esse tipo de comportamento não pode ser descartado,
especialmente como parece ser comum entre os brasileiros envolvidos em atividades
autônomas”, destacou o estudo.
Por Wellton Máximo, da Agência Brasil
O livro com a peça teatral Irena Sendler, minha Irena:
A história registra as ações de um grande herói, o espião e membro do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, Oskar Schindler, que salvou cerca de 1.200 judeus durante o genocídio perpetrado pelos nazistas. O industrial alemão empregava os judeus em suas fábricas de esmaltes e munições, localizadas na Polónia e na, então, Tchecoslováquia.
Irena Sendler, utilizando-se, tão somente, de sua posição profissional – assistente social do Departamento de Bem-estar Social de Varsóvia – e se valendo de muita coragem, criatividade e altruísmo, conseguiu salvar mais de 2.500 crianças judias.
"O Anjo do Gueto de Varsóvia", como ficou conhecida Irena Sendlerowa, conseguiu salvar milhares de vidas ao convencer famílias cristãs polonesas a esconder, abrigando em seus lares, os pequeninos cujo pecado capital – sob a ótica do führer – consistia em serem filhos de pais judeus.
Período: 2ª Guerra Mundial, Polônia ocupada pela Alemanha nazista. A ideologia de extrema-direita que sistematizou o racismo científico e levou o antissemitismo ao extremo com a Solução Final, implementava a eliminação dos judeus do continente europeu.
A guerra desencadeada pelos nazistas – a maior deflagração do planeta – mobilizou 100 milhões de militares, provocando a maior carnificina já experimentada pela humanidade, entre 50 e 70 milhões de mortes, incluindo a barbárie absoluta, o Holocausto, o genocídio, o assassinato em massa de 6 milhões de judeus.
Este é o contexto que inspirou o autor a escrever a peça teatral “Irena Sendler, minha Irena”.
Para dar sustentação à trama dramática, Antônio Carlos mergulhou fundo na pesquisa histórica, promovendo a vasta investigação que conferiu à peça um realismo que inquieta, suscitando reflexões sobre as razões que levam o homem a entranhar tão exageradamente no infesto, no sinistro, no maléfico. Por outro lado, como se desanuviando o anverso da mesma moeda, destaca personagens da vida real como Irena Sendler, seres que, mesmo diante das adversidades, da brutalidade mais atroz, invariavelmente optam pelo altruísmo, pela caridade, pela luz.
É quando o autor interage a realidade à ficção que desponta o rico e insólito universo com personagens intensos – de complexa construção psicológica - maquinações ardilosas, intrigas e conspirações maquiavélicas, complôs e subterfúgios delineados para brindar o leitor – não com a catarse, o êxtase, o enlevo – e sim com a reflexão crítica e a oxigenação do pensamento.
Dividida em oito atos, a peça traz à tona o processo de desumanização construído pelas diferentes correntes políticas. Sob o regime nazista, Irena Sandler foi presa e torturada – só não executada porque conseguiu fugir. O término da guerra, em 1945, que deveria levar à liberdade, lancinou o “Anjo do Gueto” com novas violências, novas intolerâncias, novas repressões. Um novo autoritarismo dominava a Polônia e o leste Europeu. Tão obscuro e cruel quanto o de Hitler, Heydrich, Goebbels, Hess e Menguele, surgia o sistema que prometia a sociedade igualitária, sem classes sociais, assentada na propriedade comum dos meios de produção. Como a fascista, a ditadura comunista, também, planejava erigir o novo homem, o novo mundo. Além de continuar perseguindo Irena, apagou-a dos livros e da historiografia oficial, situação que só cessaria com o debacle do império vermelho e a ascensão da democracia, na Polônia, em 1989.
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