quarta-feira, 31 de março de 2021

Irresponsabilidade fiscal assombra Economia



Com Guedes cada vez mais fraco e o texto recém-aprovado inexequível, especialistas temem descumprimento das regras fiscais e acreditam que Bolsonaro deve vetar série de pontos. Segundo IFI, peça orçamentária estoura teto em quase R$ 32 bilhões

 

O Orçamento de 2021 aprovado pelo Congresso Nacional na noite da última quinta-feira causou uma crise monumental no governo, e ainda não há sinais de que ela será sanada. Especialistas em contas públicas, parlamentares e técnicos do governo ouvidos pelo Correio reconheceram que o Orçamento é inexequível, porque não há como executar essa peça orçamentária, que tem receitas superestimadas e gastos subdimensionados. A falta de atualização dos parâmetros esconde o tamanho do rombo, e isso pode resultar no descumprimento das regras fiscais, fazendo com que o presidente Jair Bolsonaro corra o risco de cometer crime de responsabilidade.

Nesse sentido, um dos principais problemas é o corte de despesas obrigatórias para abrir espaço para R$ 26,5 bilhões em emendas parlamentares proposto pelo relator. A manobra contábil pode implicar em pedalada fiscal, o que levou parlamentares a acionarem o Tribunal de Contas da União (TCU) para dar um parecer sobre o assunto. (leia mais abaixo).

Analistas lembram que o texto foi aprovado após uma reunião de Bolsonaro com os líderes da base no mesmo dia, na residência oficial do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o que indica que o chefe do Executivo estava de acordo com a proposta do relator, Marcio Bitar (MDB-AC), para cancelar despesas obrigatórias a fim de dar mais espaço para emendas parlamentares, principalmente em obras para o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) -- em clara mudança de prioridades, focando em uma estratégia eleitoreira em vez de buscar combater a pandemia.

Por conta disso, essa confusão do Orçamento é vista como uma falha gigantesca na articulação política e um claro sinal de enfraquecimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, que não conseguiu barrar a manobra que busca burlar as regras fiscais. Não à toa, fontes do mercado voltaram a apostar até em um fatiamento do superministério criado após a fusão de cinco pastas (Fazenda, Planejamento, Trabalho, Previdência e Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC), como forma de Bolsonaro agradar aos partidos do Centrão enquanto encolhe nas pesquisas de aprovação devido ao agravamento da crise sanitária.

De acordo com Gil Castello Branco, secretário-executivo da Associação Contas Abertas, além de ser uma verdadeira "peça de ficção", o Orçamento de 2021 traz uma série de problemas: pedaladas fiscais, maquiagem contábil e elementos de contabilidade criativa, e todas com a anuência do presidente. Como não há atualização dos parâmetros nem do salário mínimo para R$ 1,1 mil, criando uma despesa adicional de R$ 11,9 bilhões, que não está prevista, a meta fiscal, que permite um rombo de até R$ 247,1 bilhões nas contas do governo federal, pode não ser cumprida. "No dia da aprovação do texto no Congresso, houve o almoço do presidente com os líderes do Centrão para tratar do assunto. Imagino que todos sabiam desses problemas", afirmou. Ele apontou como exemplo de contabilidade criativa o fato de o relator tirar R$ 13,5 bilhões de despesas obrigatórias da Previdência para maquiar o teto de gastos -- emenda constitucional que limita o aumento de despesas pela inflação do ano anterior.

Rombo maior

Apesar de a equipe econômica ter sinalizado, no relatório bimestral de receitas e despesas, a necessidade de um contingenciamento de R$ 17,6 bilhões nas despesas para o cumprimento da regra do teto, a Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado, apontou um valor maior, de R$ 31,9 bilhões. No estudo, realizado pelos diretores Felipe Salto e Daniel Couri, o primeiro após as críticas de Guedes ao trabalho da entidade, os economistas informam que as despesas discricionárias previstas no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) passaram de R$ 96,1 bilhões para R$ 139,1 bilhões. Contudo o limite da despesa não obrigatória neste ano para que o teto não seja descumprido é de, no máximo, R$ 107,2 bilhões.

"Estamos vendo um Executivo sem liderança e Guedes perdendo espaço na articulação. Está tudo muito complexo, porque o Ministério da Economia perdeu o comando na CMO (Comissão Mista do Orçamento) e no Congesso", lamentou o especialista em contas públicas e analista do Senado Leonardo Ribeiro. Para ele, Guedes não conseguiu assumir todas as funções do Planejamento e, com isso, fazer um Orçamento mais propositivo, deixando tudo mais ou menos solto. "O ministro continua fazendo propostas de redução de gastos enquanto o agravamento da pandemia exige um Estado mais atutante", acrescentou.

De acordo com os analistas, se o presidente Jair Bolsonaro sancionar a Lei Orçamentária Anual (LOA) sem fazer os devidos ajustes e um decreto contingenciando despesas que extrapolam as regras fiscais assim que a lei for publicada, poderá cometer vários crimes de responsabilidade, como aconteceu com a ex-presidente Dilma Rousseff, em 2015, o que culminou no impeachment da petista.

Marcos Mendes, especialista em contas públicas e pesquisador do Insper, reconheceu que há vários crimes de responsabilidade que podem ser cometidos na proposta aprovada pelo Congresso se o Executivo não fizer alterações. "O artigo 1º da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) diz que o Orçamento deve ser aprovado de acordo com as regras e limitações legais. Ao mesmo tempo, se a peça orçamentária não admite o cumprimento do teto de gastos, podemos dizer que o Congresso criou uma situação para o Executivo que interferiu no funcionamento do Executivo, desrespeitando o princípio constitucional de autonomia dos poderes".

Na avaliação de Mendes, há um desarranjo político enorme entre Executivo e Congresso, e Bolsonaro precisará negociar para fazer as alterações necessárias no texto a fim de não cometer os crimes de responsabilidade. "Os parlamentares foram ao limite máximo de dar dois passos adiante para tentar recuar na negociação com o governo. É um jogo de forçar a barra. E, como o presidente não deu importância para a responsabilidade fiscal, (os parlamentares) acabaram cedendo antes da votação, deixando a equipe econômica refém desse acordo".

Um dos autores da proposta do teto de gastos, o economista ressaltou que, agora, o presidente pode sancionar o Orçamento com vetos nas emendas propostas pelo relator, mas, como não pode realocar o dinheiro, terá que enviar um projeto de lei ao Congresso (PLN) para recompor as dotações das despesas obrigatórias cortadas. "Mas isso vai depender de um novo acordo com a base em um momento em que a situação fiscal está cada vez mais delicada".

Élida Graziane Pinto, procuradora do Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo, também não poupou críticas ao Orçamento, especialmente por aumentar despesas sem alocar mais recursos para o enfrentamento da pandemia e pelo fato de o relator cortar despesas obrigatórias. "Eles fizeram uma omissão bilionária no planejamento da LOA de 2021 e vão forçar créditos extraordinários, porque isso amplia o poder de fogo do Executivo em decidir unilateralmente".

Por Rosana Hessel, no Correio Braziliense     


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terça-feira, 30 de março de 2021

País tem 14 regras de gasto público redundantes, e Orçamento fica inviável

 


Que o Orçamento de 2021, aprovado semana passada no Congresso Nacional, é impossível de ser cumprido ninguém tem dúvida.

 

Além do corte em gastos que já estavam subestimados, houve postergação de despesas que precisam de lei ainda inexistente para permitir o adiamento. Sem falar em transferências de gastos públicos para o setor privado, como no caso de auxílio doença, sem regra aprovada para tanto.

No Congresso, o relator da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2021, senador Márcio Bittar (MDB-AC) recorreu à contabilidade criativa, a manobras contábeis e a pedaladas fiscais para conter as despesas dentro do teto de gastos e manter o saldo de despesas e receitas nos limites da meta de resultado primário fixado. Os golpes fiscais também foram usados para abrir espaço a emendas de parlamentares, prevendo obras em seus redutores, num inédito total próximo a R$ 50 bilhões.

As manobras que resultaram na aprovação desse volume excepcional de emendas produziram também uma lei orçamentária que não garante recursos suficientes para a manutenção da máquina pública, sem aportes posteriores. Além disso, diante do momento mais crítico da pandemia de COVID-19, cometeu-se o absurdo de nem sequer manter os montantes de recursos destinados em 2020 para as áreas de saúde e assistência social.

No projeto de lei orçamentária que enviou ao Congresso, ainda em agosto de 2020, o Executivo previa emendas parlamentares pouco superiores a R$ 15 bilhões, 70% menos do que o aprovado. Ao ser discutido e votado às pressas, já em fins de março, os parâmetros e bases numéricas do Orçamento estavam defasados, mas o ministro Paulo Guedes, responsável pela elaboração da proposta orçamentária, não fez a tempo a devida correção, permitida pela legislação.

O Orçamento aprovado, com esses e muitos outros problemas, deflagrou um empurra-empurra em busca de "culpados". Na Economia, técnicos avisaram que a peça orçamentária de 2021 era "inexequível". Tesouradas sem critério, de fato, tinham, entre outras falhas, reservado montante insuficiente de recursos para a manter a máquina pública em funcionamento, além de inviabilizar o Censo Demográfico de 2020, que já estava atrasado em razão da pandemia. Detalhe: o relator Bittar diz que nada fez sem a concordância de técnicos da Economia.

Do outro lado, um grupo de parlamentares de dez partidos, numa frente ampla incluindo base aliada e oposição, encaminhou carta ao presidente Jair Bolsonaro, indagando como o governo pretende cumprir o Orçamento, respeitando as regras fiscais de controle, particularmente o teto de gastos, sem pedaladas e manobras. O objetivo, no fundo, é lembrar Bolsonaro das sombras de um impeachment, por crime de responsabilidade.

Os alertas de técnicos do governo e de parlamentares dão bem a ideia da barafunda em que se encontra a administração pública. Tanto uns quanto outros estão preocupados com problemas que eles mesmos ajudaram a criar. Os deputados que enviaram a carta a Bolsonaro ingressaram com uma representação no TCU (Tribunal de Contas da União), solicitando um parecer técnico do órgão de fiscalização do governo. Querem saber, oficialmente, se houve pedaladas.

Mas, se é possível apontar o dedo para Executivo e para Legislativo, no caso do inviável Orçamento de 2021, a culpa estrutural não é exatamente deles. É de uma teia superposta e redundante de regras rígidas de controle fiscal. Esse emaranhado de leis e normas contraditórias acaba tornando os Orçamentos impossíveis de serem cumpridos. E, muito pior do que isso, transforma-os em instrumentos de consolidação de desequilíbrios, barreiras ao crescimento econômico e desigualdades sociais.

Em janeiro de 2018, a IFI (Instituição Fiscal Independente), órgão de acompanhamento das contas públicas vinculado ao Senado Federal, listou 11 regras de controle. Agora, com a aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Emergencial, transformada na EC (Emenda Constitucional) 109, mais três regras foram adicionada ao conjunto. No total, portanto, o país dispõe de 14 regras para conter desequilíbrios fiscais. Mas os desequilíbrios só se aprofundam.

Várias dessas regras vêm da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), como é o caso da meta de resultado primário, que estabelece o superávit ou déficit fiscal anual a ser perseguido pelo governo, e da regra de ouro, também inscrita na Constituição de 1988, que proíbe o governo de contrair dívida para cobrir despesas correntes. Outras, caso do teto de gastos, nasceram de PECs próprias, ou de PECs com múltiplos dispositivos de controle, tipo a PEC Emergencial.

Das quase duas dezenas e meia de regras, meia dúzia impõem limites. Limites a despesas de pessoal, limites de dívida consolidada e mobiliária, limites de operações de crédito e de garantias em operações de crédito. Há ainda proibições de que despesas correntes superem receitas correntes, despesas obrigatórias passem de 95% das despesas primárias totais e de aumentos de despesas sem fontes definidas de custeio.

A Assecor (Associação dos Servidores da Carreira do Planejamento e Orçamento) divulgou nota no fim de semana em que reitera a posição de que é urgente substituir as "inexequíveis e contraditórias regras fiscais atuais". Técnicos e analistas do governo defendem a necessidade de criação de um novo sistema de controle fiscal, capaz de permitir que diretrizes e leis orçamentárias conduzam um planejamento democrático do gasto público.

Do emaranhado de regras fiscais, lembra a nota da Assecor, emergem não apenas leis orçamentárias pouco transparentes. A macarronada de normas de controle não só estimula e favorece a adoção de manobras contábeis. Dificulta também o controle social do uso do dinheiro público.

Por José Paulo Kupfer, no UOL    


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