Trump manda
investigar prática de plágio industrial dos chineses e acena com possíveis
sanções. Pequim rebate, e ameaça retaliação. Para especialistas, disputa só tem
perdedores.
O presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, encarregou seu representante de comércio, Robert
Lighthizer, de investigar o procedimento da China relativo à propriedade
intelectual. No país, é sabida, impera tanto um baixo grau de consciência do
que é ilícito como grande disposição a copiar designs e tecnologias.
O fato é conhecido
também na Alemanha, maior economia da Europa, onde aqueles que roubam
propriedade intelectual – seja cadeira de escritório, aparelho de medir pressão
ou torneira misturadora – recebem todos os anos o Plagiarius, um troféu em
forma de anão com o nariz dourado. E a China sempre consta entre os laureados
com o antiprêmio.
Os EUA também
condenam essa atitude. Por isso Trump quer examinar de perto as práticas
comerciais chinesas. Caso Lighthizer constate irregularidades, anunciou, o país
asiático está arriscado a sofrer sanções. A reação não se fez esperar: já no
dia seguinte Pequim ameaçou os EUA com medidas retaliatórias. A China "não
vai ficar inativa".
Europa apreensiva
Representantes do
setor na Alemanha estão apreensivos. "Uma briga entre as duas maiores
economias do mundo teria efeitos negativos também para a economia alemã",
declarou o presidente da Câmara de Indústria e Comércio da Alemanha (DIHK),
Eric Schweitzer, ao jornal Neue Osnabrücker Zeitung.
Por outro lado, há
bons motivos para não levar a questão tão a sério: Trump já anunciou muitas
coisas, mas concretizou bem poucas. Além disso, ele deverá precisar de Pequim
como parceiro político, caso o conflito com a Coreia do Norte se agrave.
Marco Wagner, do
Commerzbank, menciona uma terceira atenuante: nem todas as firmas americanas são
a favor de restrições comerciais contra os chineses. "Existe um bom número
de empresas que quer vender licenças para a China. E é óbvio que elas não acham
uma boa ideia todas essas restrições ao país asiático."
Questão de
dimensões
Ainda assim, existe
um risco residual de que a disputa comercial aconteça. Ela poderá tomar
dimensões diversas: se os americanos só embargarem as importações da China, é
bem possível que a economia alemã saia lucrando. Pois haverá um "desvio de
comércio", explica Wagner, e "o aço não será mais importado da China,
mas sim de outras partes do mundo" – por exemplo, da Alemanha.
Se Trump for além
de alfinetadas contra as importações chinesas, entretanto, aí a influência
sobre a economia alemã poderá ser negativa. Os alemães dependem de todos os
seus parceiros comerciais estarem bem, de que não haja bloqueios, para que
atenda à demanda de sua clientela internacional.
Uma olhada nos
números revela por que o sinal de alerta de Eric Schweitzer: a China vende para
os EUA mercadorias no valor de 426 bilhões de dólares, 18,3% do volume total de
suas exportações e 21,4% das importações americanas.
Trata-se
principalmente de bens de consumo, os quais, como aponta a presidência da DIHK,
são manufaturados com máquinas não só exportadas da Alemanha para China, mas
até mesmo produzidas por sucursais de firmas alemãs que atuam naquele país
asiático.
Guerra sem
vencedores
Entre os impactos
das taxas aduaneiras sobre os bens de consumo chineses conta também,
naturalmente, o efeito cumulativo nos Estados Unidos. As taxas encarecem as
importações e "a grande maioria dos consumidores americanos sofrerá com
essa política, em especial os grupos de renda mais baixa", afirma o
professor Stefan Kooths, diretor do Centro de Prognósticos do Instituto de
Economia Mundial de Kiel. Pois "o milionário em Manhattan não depende de
importações de camisetas baratas".
E aí, se os preços
dos bens de consumo realmente subirem, será que os americanos ainda poderão
comprar automóveis na proporção atual? – perguntam-se os especialistas da DIHK.
A economia da
Alemanha troca tanto com a China quanto com os EUA um volume comercial de quase
170 bilhões de euros, totalizando mais de 15% do comércio exterior alemão
total. O presidente da Câmara de Indústria e Comércio da Alemanha, Eric
Schweitzer, está convencido de que uma guerra comercial sino-americana só teria
perdedores.
Por Michael Braun, na Deutsche Welle
A sátira política; a crítica social; o cotidiano e o dia a dia; a ironia e o sarcasmo; o decoro, a decência e a obscenidade; as intrigas sentimentais; as reflexões filosóficas e morais; as personagens inspiradas na gente simples do povo e em seus algozes; o humor irreverente levado às últimas consequências... Misture tudo às mazelas que caracterizam os países em desenvolvimento - estejam na África, estejam na América Latina - e estará criado o denso caldo de onde Antônio Carlos dos Santos extraiu o surpreendente enredo “A comédia do homem perfeito”.
Uma pequena cidade do interior de um país qualquer é tomada por uma rede de corrupção que corrói as instituições e as organizações da sociedade civil, tornando a população refém de um sistema cruel e desumano, uma complexa estrutura que reduz os moradores à condição de rebanho, manada a ter a carne retalhada no abatedouro, mera provisora de sangue para os vampiros e parasitas de plantão.
Através de quadros hilários que exploram a alegria farta e generosa, a jocosidade crítica e prazerosa, o texto convida o leitor a, navegando dentre as cenas, refletir sobre a absurdidade do mundo político.
O prefeito e os políticos que deveriam zelar pela gestão eficaz, pelo atendimento à legítimas demandas populares; as lideranças religiosas que deveriam servir aos enfermos espirituais, conduzir pelos caminhos do desconhecido; os movimentos sociais que deveriam ecoar o clamor popular por justiça e sustentabilidade, representar, defender o bem comum; toda a superestrutura econômica, cultural e ideológica organiza-se em quadrilhas para aparelhar o estado, consolidando a maior rede planetária de corrupção.
Para atingir os seus infames objetivos, as personagens centrais da trama teatral aliciam, subornam seduzem, degradam, emboscam, sequestram, extorquem, assassinam, utilizando o povo tão somente como escada, massa de manobra, bucha de canhão, instrumento para o deleite e a plena satisfação dos grupos de interesses.
Navegar por temas tão densos e complexos, e, ainda, de forma divertida, levar os leitores a refletir sobre a condição humana e os processos de desumanização, fez o autor mergulhar na comédia, o gênero mais aberto e democrático do mundo teatral, corroborando, assim, a máxima de que “ridendo castigat mores’ – sorrindo corriges os costumes.