segunda-feira, 27 de julho de 2015

“Governança: transparência e proximidade com os cidadãos”


“Governança: transparência e proximidade com os cidadãos”ou
“Dormindo no ponto e engolindo sapo?”

Em tempo algum os governos tiveram mais oportunidades de cultuar a transparência e a proximidade com seus cidadãos.

É que agora estamos em tempo de Internet, um dos principais instrumentos da modernidade e que, salvo aqui e ali, ainda distante do planejamento e da ação de governo.

Os administradores públicos sempre foram refratários às novidades. Pior: quase sempre se perfilam como francos opositores, tudo fazendo para que o status quo não sofra qualquer tipo de alteração ou algo que se assemelhe a desconstrução ou descontinuidade.

Com a Internet não tem sido diferente, posto que o instrumento contribui para a oxigenação do setor, elevando a transparência e a proximidade com os cidadãos e contribuintes a um nível e grau de qualidade jamais experimentado.

A nova plataforma tecnológica enseja o aumento da produtividade, sobretudo devido à capacidade sem igual de racionalizar, sistematizar e disponibilizar conhecimentos e ações; e ainda em decorrência da capacidade de articular os espaços, em qualquer nível: a interação administrativa, a comunicação política, e inclusive a capacidade de interagir os espaços geográficos.

Mas não é só. Uma das piores disfunções do setor público é a morosidade, a letargia, a lerdeza com que se movimenta, retardando o atendimento das demandas sociais. Disfunção que impacta de maneira cruel e fulminante o conjunto da população, sobretudo, os mais pobres. Um instrumento como a Internet, que possibilita obter, tratar e disponibilizar os dados e informações em tempo real, qualifica a decisão gerencial como também o que resulta dela, a resposta social, a manifestação da coletividade. Observe que este novo patamar em que pode se situar o binômio “decisão governamental / rebatimento social” (conceituando “rebatimento social” como o recebimento, processamento e reação da comunidade às movimentações governamentais) leva, necessariamente, ao surgimento de um novo tipo de controle: perene, untado de continuidade, e não fragmentado, meramente reativo e protocolar como os atuais sistemas de auditoria.

Daí o surgimento de novos arranjos organizacionais para dar guarida e vazão à participação comunitária. Se o objetivo é a interação governo-cidadão, cuidar de estimular a manifestação popular é iniciativa da mais alta importância. Neste contexto, as reclamações assumem papel relevante, de especial destaque. Receber, processá-las – agregando-as por setor de governo, por região geográfica ou pela quantidade de pessoas impactadas negativamente - e então intervir com oportunidade e precisão cirúrgica, permitindo rigoroso controle da situação, monitorando os problemas com rédea curta, cuidando para que o tumor identificado pela população não se generalize em metástase. Ao contrário, seja convenientemente extirpado e quando pior, mantido inerte.

Mas a contribuição maior que este processo agrega à relação “Estado/Cidadão” encontra-se numa esfera maior e exponencialmente mais importante que defino como a “radicalização da democracia”. Nos primórdios da Grécia antiga, a democracia se fazia de maneira direta, com os cidadãos se reunindo em praças públicas, onde comungavam idéias, propostas, votos e decisões. Devido a questões principalmente demográficas, a democracia teve que se adaptar ao modelo indireto, o formato representativo.

Todavia a questão da representatividade atravessa grave crise moral e ética, que decorre do escandaloso distanciamento que políticos (e não me refiro tão somente aos parlamentares, como também lideranças sindicais, classistas e de organizações sociais) vêm impondo aos eleitores. Os inúmeros instrumentos disponibilizados pela Internet ajudam a construir uma ponte que pode restabelecer a vinculação direta entre políticos e cidadãos. As inovações não param de chegar: e-mail’s, MSN, sites, blogs, orkut, etc. e etc.

Ao disponibilizar objetivos e metas, gastos com custeio e investimentos, receitas e despesas na Internet, políticos, executivos e gestores públicos atuam como educadores no processo de construção da cidadania, posto que assumem compromisso com a transparência, principal componente no processo de combate à corrupção que grassa na administração pública brasileira.

O mesmo ocorre quando decidem criar sistemas para receber e processar as reclamações dos cidadãos, conduzindo-as através de dutos disponibilizados pela rede mundial de computadores, resgatando a interlocução direta com os cidadãos.

Mas para que esta questão chegue a bom termo, a população precisa aprimorar seus processos de organização, vigilância e participação.

É que os políticos acostumaram-se a aparelhar as instituições, idéias, projetos, iniciativas, tudo que abra trincheiras e sedimente caminhos capazes de conduzir à pernóstica herança, à maldita chaga de remotas origens: o clientelismo e a corrupção.

Lembram-se quando do advento dos “Conselhos Comunitários” e, posteriormente, quando da inovação do “Orçamento Participativo”? Através do modelo, a população organizada fiscalizaria a ação governamental, participaria inclusive do planejamento e da eleição de prioridades, de modo que o sistema trataria de corrigir seus próprios desvios, a democracia se fortaleceria e o país se reencontraria com o desenvolvimento sustentável. Efêmera e fugaz ilusão! Pois o que fizeram os políticos? Aparelharam as instituições da sociedade civil, manobraram e utilizaram a força dos executivos – municipal, estadual e federal - para manobrar, “criar” lideranças, “forjar” presidentes de sindicatos, associações de moradores, donas de casa, sem-teto, sem-terra, sem-cota, ONG’s de tudo quanto é espécie e quilate e o escambau a quatro...

Pois é o que desde sempre acalentam fazer com a Internet. E o farão caso a população cochile e mais uma vez ‘engula sapo’.

A metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e a tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo são criação originais de Antônio Carlos dos Santos.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

EDUCAÇÃO E PARTICIPAÇÃO


No processo de ‘participação’ nos projetos governamentais, um dos pilares de sustentação é a educação comunitária. Esta relação assumiu diversas configurações, se moldando aos diferentes momentos históricos. Na década de 60 vivia-se a euforia desenvolvimentista e as propostas de participação não lograram êxito.

Na década seguinte, a participação impositiva se mostrou inconsistente e sucumbiu, antes mesmo do sistema autoritário que lhe deu origem.

Mas o campo não se mostrou estéril por todo o tempo e muitas experiências de participação se mostraram exitosas, produtivas, transpassaram o tempo e se tornaram referências para novas incursões.

Uma das experiências mais expressivas ocorreu no nordeste do país, sob a orientação de Francisco Julião. No ano de 1958 as ligas Camponesas contavam com 3.000 líderes, representando um universo de 50.000 camponeses. Isto considerando a realidade local, caracterizada ainda hoje – muitas décadas depois - pelo coronelismo e voto de cabresto.

Em 1974 a UNESCO avançou na proposta de educação de base estabelecendo como objetivo a "conquista de conhecimentos, valores e atividades que permitissem às populações pobres caminhar na direção não só do desenvolvimento do pensamento e dos meios de relacionamento, mas também do desenvolvimento (...) a partir do conhecimento e compreensão do ambiente físico e dos processos naturais de vida nesse ambiente".

A Igreja Católica por sua imersão no movimento social tem, nas ultimas décadas, contribuído para a supressão das abordagens pontuais e fragmentárias, auxiliando na identificação de propostas que contemplem e analise as diversas facetas, compreendendo-as na sua totalidade e complexidade.

Neste contexto, a escola enquanto Instituição não tem ajudado muito. Parte considerável do professorado é leiga, mal remunerada, vivendo em condições de subsistência, agentes desmotivados para o exercício desta nobre função de recriar e irradiar o saber.

Nas áreas periféricas das cidades e nas zonas rurais, as instalações físicas das unidades educacionais estão mais para um “Deus nos acuda!”. As condições sanitárias são insustentáveis. As salas são mal iluminadas, insuficientemente arejadas, banheiros que contribuem para a disseminação de doenças, manutenção se limitando a impedir que a edificação desabe sobre a cabeça dos alunos.

Da mesma forma os conteúdos são - via de regra - inadequados, desligados da realidade concreta, com forte carga de formalidade e ortodoxia.

A escola tem um papel muito mais importante, de dimensões muito maiores que os atualmente estabelecidos. Por ser um equipamento comunitário, deve se estender para algo que lembre um Centro de Referência da Comunidade, ampliando sua clientela para além dos alunos e pais de alunos, assistindo toda a comunidade. Novas estruturas, práticas e rotinas devem ser estabelecidas. A programação deve contemplar, além da educação formal, o esporte e o lazer, a cultura e o meio ambiente, mas, sobretudo, processos que radicalizem a participação social, a conscientização sobre os problemas que incidem sobre a comunidade. Deve se constituir num centro de pesquisa, estudo e difusão da arte e da cultura local, viabilizando condições, apropriando o saber popular para melhor difundir o científico.

Todavia, sequer as limitadas atribuições institucionais da escola são efetivamente compridas. Não seria então um sonho bem distante da realidade imaginar este novo desenho?

Talvez. Mas também não foi um sonho, em certas épocas passadas, imaginar que o homem, singrando os mares, pudesse descobrir novos continentes? Não foi um sonho, por um longo tempo, imaginar que o homem pudesse vencer o espaço e deixar suas pegadas na lua?

São os sonhos que movimentam a humanidade, que dão asas às mais árduas e sofridas conquistas. Transformar a escola ultrapassada que temos em um centro de referência comunitária é um daqueles sonhos que exigem persistência e determinação para realizá-lo.

Antônio Carlos dos Santos criou a metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e a tecnologia de produção de teatro popular Mané Beiçudo.

domingo, 12 de julho de 2015

Planejar para quê?


Os céticos costumam afirmar que fosse o planejamento algo sério e conseqüente teria evitado a débâcle do império soviético, haja vista que lá se originou de forma efetiva o planejamento de Estado.

Já os entusiastas adeptos desse ordenamento, afirmam que, não fosse o planejamento, os países da cortina de ferro – carcomidos por dentro – teriam desmoronados muito mais cedo.

O certo é que posições extremadas quase sempre não resistem a uma análise crítica mais estruturada. Por isso é preciso manter sobre tudo certo distanciamento, um distanciamento que nos mantenha vinculados aos marcos da razão. Nem tanto o céu, nem tanto a terra. O que podemos asseverar com rigor científico é que o planejamento é um sistema aberto; um sistema convém repetir, nada mais, nada menos.

Jamais será uma panacéia a quem se atribuirá o poder divino de resolver todos os males da terra, de dar solução a todos os problemas das pessoas e das instituições. Como também não será jamais a desdita, a perfídia, o traidor das causas nobres e das esperanças alheias, o instrumento que se mostrou infrutífero.

Condenar ou absolvê-lo será, quando menos, figura de retórica, trocadilho de intenções subalternas. Como todos os demais instrumentos da racionalidade humana, o planejamento será um bem ou um mal dependendo do uso que dele fizermos.

Se o contexto encerrar um eficaz conjunto de procedimentos metodológicos, se o manejo das técnicas e princípios forem criteriosamente monitorados, e se os atores passarem por um rigoroso processo de capacitação para lidar com a ferramenta - extraindo dela tudo o que oportuniza, se houver vontade política da alta direção, então estarão criadas as condições necessárias para um desfecho satisfatório. Mas se necessárias, acredito que jamais teremos à mão as condições suficientes. É que em qualquer processo ou atividade em que nos lancemos sempre estaremos sujeitos às variáveis que jamais serão conformadas no todo, as variáveis da incerteza, uma fragilidade inerente da essência e do âmago da espécie humana. Como ensinam nossos avós, “errar é humano”.

Mas a construção de um cenário em que o planejamento orgânico e estruturado esteja presente nos deixa menos vulneráveis aos erros, menos sujeitos às contingências da improvisação e, por conseqüência, mais próximos aos êxitos e acertos.

Quanto estivermos desenhando nossos planos de ação, especificando as atividades a serem desenvolvidas, determinando a maneira mais correta de alocar recursos, e disponibilizando dos meios e instrumentos adequados para construir um futuro desejável, estaremos lidando com o planejamento, estaremos planejando.

Como é da natureza humana e da essência do ambiente a rápida e contínua transformação, é de todo fundamental conduzir este vital movimento por caminhos mais produtivos, mantendo-nos ao largo do princípio da mão invisível e emprestando ao processo toda a racionalidade lógica e econômica, como também as racionalidades social, legal e política.

O planejamento é um sistema aberto, que alimenta e é alimentado, partes interdependentes que ajustadas convenientemente conduzem as transformações sociais na direção e no sentido desejados. É quando se descortina a possibilidade do futuro ser diferente e melhor que o presente, como resultado da ação de variáveis causais específicas. É quando nos deparamos com o fato de que, se não podemos tudo, pelo menos podemos exercer um controle parcial sobre o conjunto de variáveis que determinam as mudanças.

A partir do instante em que o planejamento agregou princípios como a racionalidade, universalidade, unidade, flexibilidade, inerência e previsão, deixou de ser diletantismo para se situar no rol dos instrumentos imprescindíveis ao desenvolvimento do homem e de suas organizações.

Tomada a decisão de planejar, um fator de extrema relevância é como fazer(?), que metodologia adotar(?). Dadas nossas características específicas é que se originou a necessidade da metodologia Quasar K+ de planejamento. Como nenhuma outra, consegue interagir Lógica, Cultura e Participação intensiva. Os planejadores que já experimentaram a ferramenta animam-se com a qualidade dos produtos e resultados conquistados.

Diz o ditado popular “não existem bons ventos para quem não sabe aonde quer chegar”. De igual modo, jamais haverá um planejamento capaz de conduzir os que não conseguem identificar a direção a seguir.

Artigo de Antônio Carlos dos Santos publicado na Revista Bula

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Administrar ?



O mundo evoluiu e não mais consegue se movimentar ao largo de suas organizações. A relação entre as pessoas e as instituições se tornou de tal forma umbilical que ficou impossível uma prescindir da outra.

Do nascimento à morte, passando por todas as fases e etapas de nossa existência, do aprendizado acadêmico, do aprendizado informal, da conformação de nossos conteúdos imateriais, dos momentos de lazer e prazer, até a realização no amor e no exercício profissional, vivemos num permanente processo de simbiose com as organizações, extraindo delas tanto quanto contribuímos, e vice versa.

De forma geral, a administração das organizações tornou-se um imperativo face a necessidade da sociedade traduzir o esforço do trabalho coletivo em inclusão e bem estar social.

 No plano específico da administração “educacional” (administração pública ou privada sempre terá um viés educacional haja vista que lida diuturnamente com a transformação de pessoas e processos) este universo se reveste de maior importância, em conseqüência do ensino formal oferecido nas escolas ter se tornado o templo – não exclusivo, mas sem dúvida o referencial - onde se processa o substancial da geração, reprodução e democratização do conhecimento.

Com todos os problemas endo e exógenos que a martirizam, nossos locais de trabalho e sobretudo as escolas de formação e habilitação profissional, ainda são exemplo bem sucedidos na reprodução do conhecimento acumulado pela humanidade.

O mundo foi exigindo de suas organizações educacionais e profissionais um compromisso cada vez maior com as condicionantes do progresso e do desenvolvimento. Hoje, mais que em qualquer outra época passada - e muito mais será no futuro - o saber fazer é a mola propulsora do desenvolvimento pessoal, coletivo e institucional.

Em tempos de acelerada globalização, tudo assume dimensões descomunais, numa complexa e intrincada rede de interdependências e interpenetrações. Cada vez dependemos mais dos outros – pessoas e instituições.

O mesmo ocorre em nível de nacionalidades. A aglutinação dos países em grandes blocos políticos e econômicos, está a evidenciar a irreversibilidade da interdependência cosmopolita.

Neste contexto, administrar se tornou muito mais que um mero ordenamento de fluxos e rotinas. Enseja fundamentalmente a disposição de pessoas certas nos lugares certos, a alocação de pessoas com diferentes atributos em diversas escalas hierárquicas, de modo que as diferentes tarefas e atribuições possam ser dotadas de operacionalidade, não uma operacionalidade inerte e sim uma orgânica.

Impregnar este processo de racionalidade é a essência da administração.

Sem que lancemos mão do planejamento sistemático, da estruturação dos processos, da direção e do controle das diferentes atividades, não estaremos sorvendo da boa administração.

Sim, não subestimemos a vulnerabilidade humana. O que mais presenciamos nas instituições contemporâneas, públicas, privadas ou do terceiro setor, é a má gestão, a gestão perdulária, inconseqüente e inconsistente.

Boa parte dos nossos centros de administração absorveu o estigma da inoperância, da ineficácia, do carcomido pelo tempo, que se faz indiferente às avaliações de desempenho, que desdenha exalando sarcasmo qualquer proposta ou tentativa de controle social.

Abordar, portanto, o tema da gestão soa como um objetivo dos mais desafiadores, posto que os interesses corporativistas se sedimentaram de tal modo, que fossilizaram mentes e intenções, se emoldurando de arquétipos ideológicos e de ortodoxias dogmáticas. Questionar, o simples argüir, ou o convite para a mais elementar reflexão crítica, passou a soar como desvio a ser eliminado através de mecanismos nada sutis de convencimento e adesão “voluntária”, similares em muitos aspectos aos utilizados pelas agências de repressão política.

Destarte, a gestão que deveria se constituir num eficiente instrumento de liberação de energias produtivas, é instrumentalizada para servir exclusivamente aos grupos de interesses.

Por isto, tão importante quanto dominar as técnicas da moderna administração, é municiar de uma proposta de vida que enxergue a sociedade como um grande laboratório, onde vingue e aflore o progresso individual e coletivo, a justiça social e a democracia.

Sobre as técnicas, é importante destacar que sua aplicação mecânica é tão ineficaz como dispendiosa e desnecessária.

 Apesar dos múltiplos contextos e do caldo cultural em que nos encontramos, não existe uma instituição, uma organização rigorosamente igual à outra. Assim como, da mesma forma, não existe uma pessoa que em tudo guarde semelhança com um outro alguém. Esta característica é uma magia da vida. É esta radical diversidade que torna nosso universo muito mais complexo e dinâmico. Receitas prontas e padronizadas geram quando muito, relatórios técnicos e gerenciais volumosos, detalhados, mas que invariavelmente retratam atividades pasteurizadas, de resultados efêmeros e medíocres.

Daí que o gestor que tenha obtido boa performance numa determinada instituição estará sempre sujeito a amargar homéricos fracassos em uma outra, em que pese, às vezes estar atuando em organizações muito parecidas.

Não se trata apenas do conhecimento tecnológico. Este é necessário, mas não suficiente. Para impregnar o processo gerencial de qualidade, é necessário também misturar à massa insumos fundamentais, estruturantes, como o modo de ser, pensar e agir do gestor e demais atores, as personalidade, valores, princípios, filosofias de vida e trabalho.

Como não existe um único caminho pelo qual possa trilhar o administrador, nosso gestor deve ter a habilidade de, no leque de opções disponíveis, optar pelo trajeto que demande menor esforço; menor dispêndio em insumos materiais, humanos e financeiros; mas que necessariamente origine melhores resultados.

E estes predicados, somente uma formação integral, holística, que considere o todo, poderá propiciar.

O fato do gestor conquistar a formação regular, se apropriando dos saberes técnico e acadêmico, se constitui apenas na primeira de uma serie de outras etapas; e não implica em automático êxito, sucesso ou eficácia na condução da organização. As etapas seguintes que poderão conduzir ao tão almejado êxito dos agentes gestores estão condicionadas à formação psicológica, à personalidade, à forma de sentir e enxergar os outros e as coisas, o modo de operacionalizar as técnicas científicas e os procedimentos da informalidade.

De qualquer forma, para que ao processo de gerenciamento institucional agregue eficácia, o gestor deve se valer, no mínimo, de três competências.

A primeira, a técnica, é o suporte que permitirá desenvolver as atividades diárias, potencializadas por meio de conhecimentos específicos e métodos revestidos de racionalidade.

A segunda, a capacidade humana, é a qualificação que permite desvendar certas particularidades das pessoas, de modo que seja possível despertar nelas o interesse pela produção qualificada, e pelo trabalho efetuado com motivação.

Finalmente, a competência conceitual encerra a capacidade de enxergar a essência, de poder manejar o que não se encontra à vista, a capacidade de desnudar - na junção das partes - o conjunto, o universo em que se situam as pessoas e as organizações. É esta dimensão que possibilita entender a complexidade das instituições e nos dá a possibilidade de extrair soluções simples, adequadas ao perfil e características das pessoas. É esta dimensão que faz o gestor libertar-se do corporativismo que limita, para gravitar numa outra esfera, superior, que expande, e o interage aos objetivos maiores da instituição e da sociedade.

Em qualquer instituição, essas três capacidades são dosadas e utilizadas conforme o grau hierárquico ocupado. Uma empresa privada demandará um profissional com maiores habilidades técnicas para administrar os extratos de supervisão operacional. As habilidades necessárias passam a ser a humana e a conceitual conforme transitamos para as chefias intermediarias e os cargos de direção superior.

Todavia, a peculiaridade dos universos executivo e gerencial exige de todos os seus profissionais a utilização das três capacidades, quase que de forma plena. Independentemente do lugar em que atua e do serviço que executa no dia a dia, o profissional deve raciocinar e agir lidando com todo o conjunto de habilidades: a técnica, a humana e a conceitual.

Se as instituições devem se constituir numa linha de montagem para processar insumos com vistas à satisfação de clientes e cidadãos, como exigir menos de um profissional da administração?

As pessoas compõem o mais valioso patrimônio de qualquer instituição. O agente responsável por conduzir as pessoas ao seu caminho deve ser o mais preparado, deve ser o melhor e o mais capaz, deve ser o mais interessado em mudar a si e as pessoas, o mais interessado em transformar-se para que todos possam processar o ambiente, a sociedade, modificando para melhor a realidade em que vivemos.

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e a tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo.acs@ueg.br