sábado, 21 de dezembro de 2019

Operadora francesa é condenada após onda de suicídios


France Télécom e executivos considerados culpados de "assédio moral”. Piora proposital de condições de trabalho para forçar milhares de funcionários com estabilidade a pedir demissão acabou resultando em 60 mortes.

Um tribunal francês condenou nesta sexta-feira (20/12) a empresa France Télécom e uma série de executivos da operadora de telefonia por "assédio moral" contra funcionários. O julgamento ocorre uma década após uma onda de suicídios de funcionários da empresa.
A sentença contra a companhia, que mudou o nome para Orange em 2013, prevê o pagamento de uma multa de 75 mil euros, o valor máximo nesses casos. O ex-presidente da France Télécom Didier Lombard e outros executivos também foram condenados a um ano de prisão, com oito meses de suspensão da pena, e a pagar uma multa de 15 mil euros por sua política agressiva de redução de funcionários. Além disso, os réus também deverão pagar em conjunto mais de 3 milhões de euros por danos às partes civis, entre elas ex-funcionários e parentes das vítimas.
Os casos que motivaram a ação aconteceram entre 2006 e 2009. Na época, a France Télécom foi sacudida por uma onda de suicídios, após o anúncio de um plano de restruturação da empresa, que previa a demissão de 22 mil empregados. Ao todo, foram 60 mortes voluntárias, das quais o presente processo se concentrou em 39.
Um dos suicidas, o técnico Michel Deparis, deixou uma carta criticando técnicas de gestão "aterradoras" antes de se matar, em julho de 2009: "Cometi suicídio por culpa da France Telecom. É a única causa", escreveu.
Durante o julgamento, várias testemunhas descreveram mudanças no ambiente de trabalho que fizeram muitos funcionários sofrerem de depressão. Entre os métodos utilizados, estavam transferências geográficas forçadas, redução de salários ou e-mails incessantes incitando-os a pedir demissão. Muitos dos funcionários tinham estabilidade e não poderiam ser demitidos. À época, sindicatos franceses descreveram as táticas como sendo de "uma brutalidade extraordinária".
Lombard negou que a administração tivesse qualquer responsabilidade pelas mortes, apesar de ter dito aos gerentes em 2006 que tiraria os funcionários "de um jeito ou de outro, seja pela porta ou pela janela". Para o tribunal, os "métodos" aplicados para eliminar os 22 mil empregos foram "ilegais", e a empresa elaborou "um plano combinado para piorar as condições de trabalho da equipe, a fim de acelerar a saída".
Um relatório elaborado pela Justiça francesa apontou que a empresa passou a fomentar "incidentes frequentes" com o objetivo de "desestabilizar os funcionários" e assim criar um "clima profissional de ansiedade" para precipitar pedidos de demissão.
Da Deutsche Welle

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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

"Não acessamos dados de usuários", afirma presidente da Huawei


Liang Hua: "Depois que a Huawei entrou na lista negra dos EUA, ficamos como um avião cheio de buracos"


A gigante chinesa é líder mundial em tecnologia 5G, mas tida como ameaça à segurança de dados. Em exclusiva à DW, seu presidente, Liang Hua, assegura que Pequim nunca exigiu fornecimento de dados.

O campus da gigante chinesa de tecnologia Huawei, na cidade de Shenzhen, está repleto de árvores, pequenos lagos e edifícios elegantes. Jovens funcionários andam pelo lugar vestidos casualmente de jeans e tênis, os paletós são raros. Na hora do almoço, tiram-se sonecas sobre colchonetes especialmente disponibilizados. A atmosfera é calma, ninguém diria que a Huawei está envolvida numa competição global pelo futuro das redes de dados do mundo.

A empresa é líder global em tecnologia de internet de quinta geração (5G), criada para alimentar tudo, de carros e fábricas automatizadas a cidades inteligentes e a "internet das coisas" (IoT). A empresa também é a maior fornecedora mundial de infraestrutura para essas redes.

Lutando pela sobrevivência
No entanto, a Huawei está na defensiva desde que os Estados Unidos, sob o presidente Donald Trump, a acusaram de representar uma ameaça à sua segurança nacional. Washington afirma que a Huawei pode ser usada para facilitar a espionagem pelo Partido Comunista da China. Em maio de 2019, os EUA impediram as empresas americanas de fazerem negócios com a Huawei sem uma licença especial.

Em conversa com o editora-chefe da DW, Ines Pohl, em Shenzhen, o presidente da Huawei, Liang Hua, explicou como a empresa está lidando com seus desafios atuais.

"Depois que a Huawei entrou na lista negra dos EUA, ficamos como um avião cheio de buracos, mas continuamos voando e voltamos para casa. Temos que resolver muitos problemas e consertar esses buracos um por um, como redesenhar alguns de nossos produtos e garantir a continuidade do fornecimento. Apesar de toda a pressão, nossa prioridade máxima é assegurar a sobrevivência."

Num evento em junho, o fundador da Huawei, Ren Zhengfei, disse esperar que as receitas da empresa caiam em US$ 30 bilhões nos próximos dois anos. Segundo Liang, a empresa agora está focada na expansão em lugares onde é bem-vinda: "A Huawei se concentra mais nos países e regiões onde opera, e nos esforçamos para expandir nossos negócios nesses lugares."

Para fazer smartphones que funcionem, a Huawei ainda precisa de software e semicondutores fabricados por produtores de chips dos EUA, como Intel e Qualcomm. Especialistas afirmam que a inclusão na lista negra não afeta apenas a empresa chinesa, mas também prejudica empresas americanas.

Além disso, algumas redes rurais nos EUA ainda usam hardware da Huawei. Para minimizar a interrupção, o Departamento de Comércio dos EUA emitiu uma suspensão temporária da sanção. O órgão permite a exportação "limitada" de itens fabricados nos EUA para a Huawei, e a empresa atende a redes existentes em áreas rurais americanas que dependem da Huawei para funcionar.

Essa suspensão "temporária" foi prorrogada pela terceira vez em novembro.

Tecnologia chinesa
Poucas empresas globais podem produzir a infraestrutura e o hardware necessários a construir redes 5G de maneira tão barata e confiável quanto a Huawei.

De acordo com a plataforma de análise de tecnologia Iplytics, sediada em Berlim, a Huawei atualmente possui mais patentes 5G do que qualquer outra empresa em todo o mundo, e também é líder em contribuições para as especificações técnicas dos padrões 5G.

Críticos ocidentais temem que o futuro da tecnologia 5G seja definido pela Huawei e controlado por Pequim. Mas Liang rejeita esses temores, ressaltando que sua empresa busca cooperação global para criar a tecnologia que impulsionará o futuro digital de alta velocidade.

"Não queremos ser de mente estreita e seguir um caminho em que criamos tudo sozinhos. Estaríamos isolados se usássemos apenas produtos desenvolvidos por nós mesmos", sublinha Liang. "Se você olha a cadeia de suprimentos da Huawei, fica claro que continuamos confiando na globalização."

Mas as ações do governo dos EUA estariam forçando a Huawei a projetar e desenvolver ela mesma muitos componentes que integram seus produtos: "Ficamos sem outra opção, a não ser tomar as rédeas em nossas próprias mãos para garantir nossa sobrevivência. Se o governo americano permitir suas empresas voltarem a fornecer para a Huawei, continuaremos comprando componentes dos EUA para construir nossa cadeia de suprimento", afirmou.

Ameaça à liberdade?
As autoridades americanas temem que o papel pioneiro da Huawei na 5G possa ser explorado pelas autoridades chinesas para espionagem global, exigindo acesso a dados ou interferindo em servidores. Os temores são agravados por a China desenvolver tecnologia de vigilância maciça, sistemas de censura e controle rígido sobre todos os aspectos da vida pública.

Trump alega que a Huawei é "muito perigosa". Mas Liang discorda, garantindo que as redes de sua firma são confiáveis. "Nunca no passado a Huawei recebeu pedidos para fornecer informações ao Estado. E mesmo que recebêssemos esses pedidos no futuro, não concordaríamos com eles. Sem solicitações legais, não faremos nada", assegurou, acrescentando que os temores sobre a possibilidade de ela vir a acessar dados de usuários são infundados. "A Huawei apenas fornece equipamentos e não participa de operações de rede; portanto, não temos acesso aos dados do usuário."

A Alemanha está trabalhando num pacote de leis que regulamentará a futura rede de dados do país. Berlim não excluiu a Huawei, desde que a empresa cumpra os requisitos de segurança e privacidade de dados necessários. "A Alemanha propôs que se estabeleçam padrões mais altos, e eles devem ser aplicados a todos os participantes de todo o setor, para garantir a segurança cibernética. A Alemanha está indo muito bem nesse sentido", elogiou Liang.

Operadoras do país como a Deutsche Telekom, Vodafone e Telefónica, estão adotando uma estratégia de "vários fornecedores" para a construção de redes 5G. Até o momento, apenas a Telefónica nomeou publicamente a Huawei como parceira 5G. Segundo Liang, sua empresa quer "fazer sua parte" na implantação do 5G na Alemanha.

Ao fim, a editora-chefe Ines Pohl perguntou a Liang: "A DW, a emissora para que trabalho, é bloqueada na China. Não seria ótimo se fosse possível assistir a esta entrevista, por exemplo, em smartphones da Huawei?" "Sim, seria ótimo", foi a resposta do executivo.

Da Deutsche Welle

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quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Lava Jato: PF investiga fraudes em contratos que superam R$ 6 bilhões



Os contratos foram feitos entre a Petrobras e empresas de afretamentos

A 70ª fase da Lava Jato, chamada de Operação Óbolo, foi deflagrada nesta quarta-feira (18) para coletar provas a fim de investigar crimes relacionados a contratos de afretamentos de navios pela Petrobras, que superam R$ 6 bilhões. Os contratos foram feitos com as empresas Maersk, Tide Maritime e Ferchem. Os policiais investigam também o fornecimento de informações privilegiadas que concederam vantagens competitivas a empresas, tendo como contrapartida o pagamento de propina a funcionários da Petrobras.
Segundo o Ministério Público Federal, em Curitiba, existe uma estimativa inicial do pagamento de subornos de ao menos US$ 3.402.941,58, em razão de 11 contratos da Maersk, que chegam a R$ 592 milhões, conforme informações contidas em planilha apreendida com Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, no estágio inicial das investigações da Operação Lava Jato.
O procurador da República Athayde Ribeiro Costa disse, durante entrevista à imprensa na sede da PF, na capital paranaense, que a ação policial deflagrada hoje é uma sinalização concreta que a área-fim da Petrobras foi atingida por esquemas de corrupção que vão desde o afretamento e o abastecimento de navios até a carga por eles transportada. Segundo o procurador, as investigações se aprofundam inclusive em relação a contratos de afretamentos ainda em vigor.
De acordo com o MPF, entre 2002 e 2012, a Maersk e suas subsidiárias fecharam 69 contratos de afretamento com a Petrobras, que totalizaram aproximadamente R$ 968 milhões. A Tide Maritime figurou em 87 contratos, entre 2005 e 2018, no valor de R$ 2,8 bilhões. Já a Ferchem, também shipbroker, intermediou ao menos 114 contratos de afretamento marítimo na Petrobras, superior a R$ 2,7 bilhões, entre 2005 e 2015.
As investigações relacionadas a Maersk são oriundas da colaboração premiada de Paulo Roberto Costa. “Foram reunidas evidências que o armador, por meio de uma empresa intermediária, efetuou pagamentos de propina ao então diretor de Abastecimento da Petrobras, tendo como contrapartida o fornecimento de informações privilegiadas. Por ora, são investigados pelo menos 15 contratos de afretamento marítimo vigentes entre 2006 e 2014, no valor total de R$ 658 milhões”.
A reportagem da Agência Brasil não conseguiu contato com as empresas citadas nas investigações da Operação Óbolo, conduzidas pelo PF e o MPF.
De acordo com a PF, o nome da operação, Óbolo, é em referência à moeda que era usada para remunerar o barqueiro Caronte, que conduzia as almas através do rio que separava o mundo dos vivos dos mortos, segundo a mitologia grega.
Da Agência Brasil


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