sábado, 31 de outubro de 2020

ECONOMIA - Aliado comercial. Inimigo ideológico

 


Incólume ao joguete ideológico e à politicagem, a relação comercial entre Brasil e China segue alta e ajuda o País a evitar uma crise econômica ainda mais aguda.

 

Quem acompanha a relação comercial brasileira com a China nos últimos anos, deve estranhar a postura do governo federal de se colocar como peão dos Estados Unidos na disputa global do 5G ou mesmo a resistência do presidente Jair Bolsonaro a uma vacina chinesa contra a Covid. Principal parceira do Brasil no mundo, a China cresceu 4,9% no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, superando a alta de 3,2% registrado no segundo trimestre, segundo dados do Escritório Nacional de Estatísticas (NBS), uma espécie de IBGE em Pequim. Prova de que é possível reagir economicamente mesmo diante das incertezas de uma pandemia, o país deve crescer 8% neste ano, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). E o resultado disso é que, sob o ponto de vista de poder de compra, a China virou o maior mercado consumidor do mundo.

Ainda que quando avaliado o Produto Interno Bruto (PIB) a China esteja atrás dos Estados Unidos, com uma produção de riquezas estimada em US$ 15,2 trilhões, os chineses têm hoje o equivalente a US$ 24,7 trilhões de poder de compra, superando em 20% os US$ 20,8 trilhões dos norte-americanos, e essa cifra ainda pode aumentar nos próximos meses. Segundo o FMI, em seu relatório World Economic Outlook, a economia dos EUA deve encolher 4,3%, enquanto a zona do euro pode contrair 8,3%, o que põe os chineses no protagonismo da retomada da demanda externa e expectativa de reaquecimento da economia global, que deve cair 4,4% neste ano.

E é por isso que o Brasil teria que deixar de lado os joguetes ideológicos e se aproximar de um parceiro que, mais do que estratégico, se tornou fundamental para aliviar a queda do PIB brasileiro. Até setembro deste ano, o fluxo do comércio bilateral entre Brasil e China alcançou a cifra de US$ 78 bilhões, sendo que US$ 53,59 correspondem às exportações do Brasil, ou 34% do total de nossas exportações. “A China é, definitivamente, um parceiro importante para o Brasil. A nossa crise econômica seria ainda maior se não tivéssemos um superávit tão acentuado no comércio com eles”, disse Evandro Menezes de Carvalho, consultor jurídico do China Desk do escritório de advocacia Veirano Advogados. “O Brasil deveria se manter equidistante desta guerra comercial e procurar harmonizar os interesses em jogo. E a melhor forma de harmonizar é ter regras de mercado claras.”

Enquanto os chineses, ainda que alvos de alfinetadas do próprio presidente Bolsonaro, aceleram o consumo e aumentam a relevância na nossa bandeira comercial, os Estados Unidos provocaram um tombo de 25% na compra de produtos brasileiros entre janeiro e setembro, somando US$ 33,4 bilhões, pior resultado dos últimos 11 anos. A liderança do segmento da indústria de transformação na pauta brasileira de exportação aos americanos, com participação importante de petróleo e derivados, contribuiu para uma queda de 31,7% dos embarques aos americanos até setembro e para um déficit de US$ 3,1 bilhões. Os dados sinalizam para um déficit no comércio bilateral em 2020 que deve ser o maior dos últimos cinco ou seis anos, segundo dados do Monitor do Comércio Brasil-EUA, da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil). Pelas contas da Amcham, haverá déficit entre US$ 2,4 bilhões e US$ 2,8 bilhões para este ano no comércio Brasil-EUA. Mesmo assim, o mercado americano se mantém como o vice-colocado entre os parceiros comerciais do Brasil, com 9,7% das exportações e 12,3% da corrente de comércio.

 

NO CAMPO 

O oposto do que ocorre com os chineses. Importante agente exportador brasileiro, os empresários do agronegócio estão pisando no acelerador, independentemente do que diga o presidente e sua cúpula sobre negociar com um país comunista. Com mais de 1,5 bilhão de pessoas, a China precisa importar alimentos para humanos e animais, e com a desvalorização do real o negócio se torna ainda mais atraente. Um estudo recém-concluído pelo Departamento do Agronegócio (Deagro) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) aponta, no entanto, para uma preocupação em torno da dependência do Brasil. Baseado na evolução dos embarques do setor para China, União Europeia e Estados Unidos entre 2009 e 2019, o Brasil se coloca dependente de cadeias produtivas como a da soja. “Preocupa ver uma concentração cada vez maior nas exportações para a China, e em poucos produtos”, disse Roberto Betancourt, diretor do Deagro.

Segundo o estudo, os embarques do agronegócio brasileiro para a China renderam US$ 8,9 bilhões em 2009 (15% do total setorial). Dez anos depois as vendas somaram US$ 31 bilhões, com a participação chinesa indo a 32%. No intervalo de 12 meses entre agosto do ano passado e julho último, foram 33% de US$ 71,3 bilhões. Quem tem dúvidas sobre a importância da China para a sobrevivência da economia brasileira, basta olhar para os números. A bandeira brasileira pode não ter vermelho, mas as relações comerciais têm.

Por Jaqueline Mendes, na Revista Isto É Dinheiro

 

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sexta-feira, 30 de outubro de 2020

O alerta sobre falta de meta fiscal para 2021


 

Contas públicas: na LDO, governo não definiu alvo fixo para o resultado primário

 

O plenário do Tribunal de Contas da União (TCU) alertou ontem o Ministério da Economia sobre a ausência de meta fiscal para o ano que vem. De acordo com o órgão de controle, a metodologia prevista na proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021 está em desacordo com os preceitos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). 

Diferentemente do que ocorre historicamente, o governo não estabeleceu uma meta fixa para o resultado primário (exclui gastos com juros em 2021. Apesar de ter mencionado na LDO uma previsão de déficit primário da ordem de pouco menos de R$ 150 bilhões, a equipe econômica não associou esse valor a mecanismos que assegurem seu cumprimento, ou seja, trata-se tão somente de uma referência. 

Para o TCU, essa sistemática não configura nenhum tipo de meta, mas apenas uma “conta de chegada”, resultante do saldo entre receitas primárias e as despesas primárias sujeitas e não sujeitas ao teto de gastos. “A meta passa a ser mera operação matemática entre esses três elementos”, diz o relatório do tribunal. 

O entendimento do orgão de controle é de que a meta deve servir, entre outras coisas, para demonstrar a tendência da dívida pública, que já se aproxima de 100% do Produto Interno Bruto (PIB). Pelas projeções atualizadas do governo federal, o país só voltará a apresentar superávit nas contas públicas em 2027. 

Pelo modelo proposto na LDO, se as receitas primárias caírem ou se as despesas não sujeitas ao teto aumentarem, a meta é reduzida automaticamente. O único elemento que permanece fixo é o montante de despesas sujeitas ao teto, justamente devido às limitações impostas pela regra. 

Para o tribunal, além de estar em desacordo com a LRF, a ausência de uma meta fiscal consistente afeta o planejamento fiscal e a credibilidade do governo perante os agentes econômicos. 

 “Ainda que o atingimento de superávits primários, sobretudo dada a conjuntura econômica decorrente da crise provocada pelo coronavírus, não se mostre factível na atualidade, o fato é que resultados positivos serão construídos progressivamente a partir do esforço fiscal acumulado ao longo dos anos e, espera-se, da recuperação do crescimento econômico de forma duradoura”, disse o relator do processo no TCU, ministro Bruno Dantas

Durante o processo, a Secretaria de Orçamento Federal (SOF) argumentou que, em um contexto de severas limitações que comprometem a acurácia das estimativas de arrecadação, um valor de meta fiscal definido a priori tenderia a ensejar várias revisões ao longo do ano. Tais revisões, sustenta o órgão, também teriam efeitos sobre as incertezas por parte dos agentes econômicos. 

Para o cientista político Luiz Felipe D’Ávila, presidente do Centro de Liderança Política, a pandemia não pode servir como subterfúgio para mudanças permanentes na disciplina fiscal. 

 “Economias do mundo inteiro também estão sentindo o impacto da covid em suas contas, mas nem por isso estão agindo com manobras que podem trazer mais risco fiscal justamente em um momento que a economia já está fragilizada e precisa de sinalizações claras do governo de responsabilidade”, afirmou D’Ávila.

Congresso precisa ouvir com atenção advertência do tribunal 



Análise 

O alerta feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o desenho da meta fiscal para 2021 precisa ser ouvido e analisado com atenção, principalmente pelo Congresso. Embora o aviso tenha sido direcionado ao Executivo, que propôs uma meta que na prática não existe, são os deputados e senadores que decidirão o assunto. 

Os parlamentares ainda não se deram ao trabalho de colocar para funcionar a Comissão Mista de Orçamento e até agora não votaram a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que estabelece as regras para a execução do Orçamento do próximo ano. Se de um lado essa postura mostra pouco cuidado do Legislativo com a previsibilidade fiscal, esse atraso acaba vindo a calhar, permitindo que suas excelências avaliem um eventual “conserto” no modelo proposto pelo Executivo que, é importante ressaltar, tem caráter excepcional. 

A ideia de uma “meta variável” não era consenso nem mesmo na equipe econômica. O argumento da elevada incerteza no momento de envio da LDO não pode ser desprezado. Faz todo sentido. O modelo proposto pelo time do ministro Paulo Guedes, porém, é bastante discricionário, abrindo espaço, em tese, para uma série de ações fiscais contraditórias com a âncora do teto de gastos, como desonerações e até gastos maiores em rubricas não alcançadas pelo limite constitucional de despesas. 

Uma fonte do governo aponta que esse desenho proposto pouco difere de outras formas de meta, como aquelas que previam desconto de investimentos e desonerações no resultado final. E que, diante da forte incerteza que ainda há na economia, se o Congresso resolver modificar o desenho a partir do alerta do TCU, é pouco provável que adote uma meta fixa em nível que seja restritivo, pois isso contrariaria os próprios interesses políticos. Para essa fonte, portanto, o movimento do TCU é inócuo. 

Outro interlocutor, contudo, avalia que o alerta é correto e precisa ser levado em consideração. Na visão dessa fonte, o horizonte para 2021 já está bem mais claro que em abril. Dessa forma, seria possível trabalhar de maneira mais alinhada com o que preconiza a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e definir uma meta fixa, que seja também exequível. 

Seja como for, a advertência do TCU precisa ser vista em um contexto mais amplo. O Brasil tem muitas regras fiscais (o teto, o resultado primário, a “regra de ouro”), mas todos esses instrumentos têm problemas a serem resolvidos. O teto não tem paredes e gatilhos. O resultado primário não tem sido capaz de impedir a explosão de endividamento e a ancoragem de expectativas. E a “regra de ouro” não atingiu o objetivo de produzir uma situação fiscal que preserve os investimentos públicos, contendo outros gastos. De puxadinho em puxadinho, o país segue sem uma boa arquitetura fiscal.

Por Murillo Camarotto, no Valor Econômico  


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