domingo, 20 de março de 2016

Um país de analfabetos...


Meus caros, o artigo que segue abaixo, escrevi em 2007. Mas seu conteúdo continua a assombrar nosso presente...

 

A frieza tomada emprestada dos serial killers


Como - em pleno século XXI – pode o analfabetismo estar tão entranhado entre nós?

Como é possível a chaga devassar de tal forma a alma nacional, envergonhando, prostrando e humilhando a nação?

Estamos adentrando o futuro com 13% de brasileiros amargando a situação de analfabetos. E que fique claro, não estou me referindo aos analfabetos funcionais. 

Estima o IBGE que a população brasileira gire em torno de 189,5 milhões de habitantes. Sendo assim, a conta expressa uma realidade insuportavelmente medonha, de toda inaceitável. Admitir com naturalidade que mais de 24 milhões de brasileiros estejam distantes da leitura crítica, estejam ao largo da cidadania, estejam ainda sob os grilhões do obscurantismo é admitir que o destino nos reserva a banalidade, a pequenez, é admitir que estamos fadados à mediocridade e ao subdesenvolvimento. Não se trata de negar o obvio ou ignorar a realidade. Ao contrário, trata-se de reagir, resistir, protestar, não com a naturalidade dos néscios, dos hipócritas, e sim com a indignação dos justos, com a revolta incontida das pessoas de bem, com infinito desprezo para o que cuidam de perpetuar um cenário tão bizarro e nefasto.

É difícil acreditar, mas, das 5.560 cidades brasileiras tão somente 64 podem ser consideradas livres do analfabetismo. Conseguiram índices similares aos dos países desenvolvidos. Custa reconhecer, mas, do total das urbes brasileiras, apenas 1% das cidades conseguiram enfrentar e resolver o problema. O restante do país, 99% dos municípios tupiniquins são, no mapa, como manchas indeléveis, máculas de vergonha e tragédia, território disforme estigmatizado pela brutalidade da chaga medieval.



segunda-feira, 14 de março de 2016

Como conquistar a atenção do outro?



O século XXI encontrou um mundo com os vínculos sociais fragilizados e a individualidade ávida – exclusivamente - pela satisfação pessoal.

O egocentrismo como centro da construção da personalidade individual e o descaso para com os interesses alheios, vão tornando as pessoas seres brutais, soldados de um exército obcecado pelas aspirações pessoais, ainda que conquistá-las exija o sacrifício ou a coisificação do outro.

Neste contexto não sobra tempo para ninguém, vez que todo o tempo de que dispomos está direcionado ao atendimento de nossas necessidades individuais.

Por isto é tão difícil, nos dias de hoje, conquistar a atenção de alguém. Porque toda a atenção do mundo é desviada do interesse coletivo.

Chamar a atenção do outro

Daí o surgimento de técnicas e teorias para tornar possível a possibilidade do outro. E nessa ciranda, o exagero vira regra, não exceção.

O exemplo mais eloqüente talvez seja o representado pela figura do marqueteiro, que consegue transformar candidatos presidenciais em sabonete e creme vaginal.

Qualquer um de nós que queira ou necessite transmitir uma mensagem precisa contar com a atenção de seu interlocutor. E nos dias que correm, com tudo se reduzindo a numerário – sobretudo o tempo – a atenção do outro é uma preciosidade que não se conquista com facilidade.

Para conseguir acolhida para a mensagem, muitos recorrem a toda sorte de maquinações e invencionices.

Enéias, eterno candidato do Prona sagrou-se campeão de votos, sendo eleito deputado federal pelo estado mais poderoso da federação. Conquistou mais de um milhão de votos com seu histriônico “meu nome é Enéias”, jargão repetido à exaustão nos parcos minutos que dispunha nos programas eleitorais.

Mas existem também os que navegam em águas mais profundas em busca da promoção: se penduram em anzóis, seguram os filhos de ponta cabeça do enésimo andar de um espigão, existem os que não se incomodam em vender a mãe, os possessos de arremessar pedra em sombra de avião, e ainda patéticos imbecis como o que se colocou à frente do maratonista olímpico Vanderlei Cordeiro. Tudo para que sejam percebidos.

Quanto mais indiferentes ao que se passa à volta, quanto mais submergidos no mundo próprio, maior a necessidade de distinguir, destacar, sobressair, para que a idéia se eleve e encontre porto para atracar. Este processo se bifurca em duas direções.

Criatividade X Marquetagem

Na primeira, a atenção é conquistada à custa de criatividade, de inovações que estimulem o olhar para fora, a percepção da realidade em volta. Para que uma decisão mais conseqüente possa ser tomada.

Na segunda, a grosseria, a baixaria, compõe o arcabouço, o pano de fundo do estratagema de conquistar o interesse das pessoas. Movidas a indicadores que aferem a audiência de suas programações, minuto a minuto, as redes de televisão se esmeram em apresentar uma produção de mau gosto, em que a mediocridade e a superficialidade são marcas registradas.

De igual modo, gestores de todos os matizes e políticos profissionais e informais lançam mão deste substrato, assumindo projetos e proposições pautados pela demagogia e artificialidade.

Em quase todos os momentos de nossas vidas estamos em busca da atenção de alguém. O governo, de seus contribuintes; os gestores públicos de suas equipes, fornecedores e cidadãos; os empresários, de seus clientes; os empreendedores de quem lhes assegurem oportunidades; os apaixonados, de seus amores; os políticos, de seus eleitores; os pais, de seus filhos; os filhos, de seus pais; numa infinita cadeia de inter-relações.

É que num sistema em que a tônica é a competição, a atenção é como uma jóia rara, cobiçada, e por isto disputada a ferro e fogo.

O fundamental é não perder de vista a força motriz capaz de nos conduzir a porto seguro: a ética. Nada de recorrer à lei de Gerson, ao jeitinho brasileiro, às maracutaias e joguetes dos espertinhos. Se desejamos um país de valorosos, devemos perseverar nos valores e princípios que dão conformação aos gigantes, aos homens de bem.

Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia Quasar K+ de planejamento estratégico, da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo, e da metodologia ThM-Theater Movement.

segunda-feira, 7 de março de 2016

A janela de oportunidades


Poucos se lembram dos tempos nervosos da guerra fria, o embate de surdos-mudos travado pela URSS e EUA. De um lado, a defesa do comunismo, da economia planificada, do partido único; de outro a economia de mercado, as liberdades individuais, a democracia e a propriedade privada. Cada um deles criando sua rede de influência, seus países satélites.

A divisão ideologia chegou ao apogeu, ao seu ponto máximo, impondo até mesmo a divisão de países, como ocorreu na Alemanha, na Coréia e no Vietnã. O muro de Berlim foi o exemplo maior desta estupidez que não conheceu limites. As superpotências, sentadas sobre seus arsenais nucleares – capazes de eliminar a vida na terra por inúmeras vezes – estimulavam e municiavam os países subordinados nos conflitos regionais. Na Europa ocidental, os países de livre mercado organizaram-se na OTAN, a Organização do Tratado Atlântico Norte; e na cortina de ferro, o pólo antagônico estruturou o Pacto de Varsóvia. Um período lastimável, mas que resultou em alguns avanços, inequívocos, entre os quais, não custa rememorar, a conquista do espaço sideral.

A disputa insana encontrou um terreno propício para os embates, um campo emblemático, favorável para que, de forma instantânea, fosse possível propagandear ao mundo qual dos sistemas políticos era o mais avançado e eficaz.

O primeiro lance ocorreu no ano de 1957, quando a URSS lançou o foguete Sputnik com um cão dentro, o primeiro ser vivo a ir para o espaço. Mas o gol de placa dessa longa história ocorreria em 1961, quando a União Soviética promoveu o vôo inaugural na corrida espacial tripulada, colocando Yuri Gagarim em órbita.

O troco não tardaria.

Imediatamente informado do fenomenal acontecimento, o presidente norte-americano John F. Kennedy criou o Projeto Apollo com o objetivo de levar o homem à Lua. E cerca de uma década depois, em 1969, o mundo todo, entre surpreso e estupefato, não conseguia tirar os olhos da televisão que transmitia os primeiros passos do homem na lua, o coroamento da missão espacial norte-americana.

No dia 20 de julho de 1969, Neil Armstrong e Edwin Aldrin gozaram o privilégio histórico de serem os primeiros homens a caminhar sobre o solo lunar.

O feito abriu caminho para cinco novas missões que possibilitaram outros dez astronautas americanos pisar no solo lunar.

A conquista da lua teve um efeito devastador sobre a União Soviética e contribuiu de forma decisiva – muito mais do que muitos imaginam – para a derrocada do império vermelho.

De Gagarim até os dias de hoje, muito do nosso conforto e bem estar se deve às pesquisas realizadas no espaço. URSS – hoje a Rússia, EUA, Europa, Japão e agora a China continuam investindo no setor por terem conhecimento que a soberania sobre o espaço está para o progresso e o futuro assim como a conquista dos mares esteve, muito tempo atrás, para os navegadores vikings e fenícios.

Em um desses conflitos regionais, muitos chegaram a acreditar na vitória vermelha e na iminente hegemonia comunista sobre todo o planeta. Foi logo no final da Guerra do Vietnã. O conflito se originou em 1959, durou quase duas décadas, e só foi terminar em 1975. Os vietcongs, apoiados pelos soviéticos, ignoraram o colossal poderio bélico-tecnológico dos norte-americanos, impondo uma derrota avassaladora e vergonhosa aos EUA. Foi quando não poucos imaginaram que o momento sinalizava o início da débâcle definitiva do capitalismo e a conseqüente e inequívoca hegemonia da URSS sobre o planeta.

Mal sabiam que, poucas décadas depois, em 1991, era o próprio império soviético que desmoronaria, caindo em ruínas.

Nos embates militares de forma geral, um setor sempre elevado à categoria estratégica é o das comunicações. Na guerra fria não foi diferente.

O grande temor no período era de que, repentinamente, independentemente da guerra ser formalmente declarada, as cidades passassem a ser bombardeadas. Em decorrência do temor generalizado, o governo norte-americano investiu recursos para criar um sistema informatizado que garantisse a fluidez das comunicações militares, ainda que o caos provocado por um eventual ataque soviético se materializasse.

A pressão atuava sempre no limite do suportável. A União Soviética já havia logrado um expressivo tento ao lançar no espaço, em 1957, o Sputnik 1. Na prática, o que significava esta conquista comunista? Que os russos poderiam, através do espaço sideral, lançar bombas em qualquer ponto do mundo.

Pressionado, o presidente Dwight Eisenhower criou, em 1962, a ARPA, a Advanced Research Projects Agency, agência governamental que se incumbiria de retomar a supremacia digital na corrida armamentista, protegendo a América do Norte do que parecia à época, iminente ataque nuclear soviético.

Como, diante de um ataque nuclear, reorganizar o país para a necessária contra-ofensiva, sem dispor de um eficiente e confiável sistema de comunicação que sobrevivesse ao poder destrutivo da hecatombe?

Então, sob a coordenação do Pentágono, desenvolveram um revolucionário sistema de comunicação entre computadores, o ARPAnet - Advanced Research Projects Agency Network – com o objetivo principal de conectar as diversas bases militares e os inúmeros departamentos de pesquisa do governo americano.

A concepção lógica que norteou o desenvolvimento do projeto partiu da premissa de proteger a central de informações, a estratégia adotada foi diluí-la em vários lugares, diferentemente do que existia até então, quando todo o comando central se aglutinava em um único ponto, um único lugar, uma única instalação militar, alvo fácil de um possível ataque do inimigo.

Mas para viabilizar que a central de informação fosse diluída de modo a descentralizá-la fixando-a em diferentes lugares era necessário fazer com que os diferentes pólos fossem interligados, conversando entre si. E bommm!!! Em 1969 ocorre a primeira troca de arquivos. A palavra “Log” é transmitida pela Universidade da Califórnia (UCLA), em Los Angeles, para a Universidade de Stanford, que recebe a mensagem e a responde com “in”, formando “login”. Esta primeira experiência não foi de toda exitosa, pois funcionou até a segunda letra. Todavia o teste-embrião da tecnologia de transmissão de dados digitais em “pacote”, inaugurando o sistema que mudaria a face do mundo, a forma como as pessoas, as instituições e os governos passariam a comunicar.

Como era vital para a segurança dos EEUU que o sistema se consolidasse, entrando imediatamente em operação, a ARPA se viu diante da necessidade de estruturar e financiar laboratórios em muitas universidades americanas. E, naturalmente, em determinado momento, estes laboratórios universitários tiveram que se conectar à ARPAnet. De modo que a revolucionária tecnologia manteve-se disponível exclusivamente para os setores militar e acadêmico. Mas a pressão para liberalização foi tamanha que, em 1987 a rede já estava totalmente liberada, assumindo o nome de Internet.

Hoje, não há setor que permaneça indiferente à rede mundial de computadores, pois isto significaria a liquidação, a falência mais completa.

Na educação, a Internet consolida um setor em plena expansão, a Educação a distância, com todas as vantagens que isto significa: efetiva possibilidade de universalização do ensino de qualidade com a inclusão dos brasileiros que desejam cursar o terceiro grau, e com expressiva redução dos custos. A Internet e a Educação constituem uma gigantesca janela de oportunidades para um Brasil diferente, um país justo e desenvolvido.

E poucos se dão conta que esta descomunal janela de oportunidades tem tudo a ver com a guerra fria que fritou nervos e mentes durante as décadas que sucederam a 2ª guerra mundial.

Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+, da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mane Beiçudo e da tecnologia ThM-Theater movement.