domingo, 31 de dezembro de 2023

Trabalho em equipe


O homem é um ser social. Desde os primórdios percebeu as vantagens de viver e trabalhar em grupo. Formar número, acumular forças, resistir às intempéries, vencer os obstáculos impostos pela natureza.

O trabalho em equipe se revelou uma necessidade perene, assegurando a sobrevivência da espécie e o domínio sobre o habitat e o planeta.

Mas trabalhar em grupo não é tudo.

O domínio do fogo, da pólvora, da bússola, a tecnologia da construção das embarcações e das velas, a vapor e a revolução industrial, a tecnologia nuclear, o microchip... é o conhecimento que garante às sociedades, nos diferentes ciclos históricos, o desenvolvimento e o domínio sobre os demais povos.

Fazer em grupo é importante, mas o como fazer é fundamental.

Toda a história do homem é permeada de guerras e conquistas. Os heróis nacionais quase sempre são generais, militares, conquistadores e libertadores que - sem fazer valor de juízo sobre as razões de suas causas - deixam por onde passam um rastro de dor e sangue.

Já nos idos de 1.530 a.C., Sekenenrê, o primeiro libertador nacional, para libertar o Egito dos Hicsos chegou a contar com uma força permanente de 240 mil homens.
E cada nação, em cada momento da história, cultuou seu general.

Esta intensa presença militar transferiu para o seio das sociedades os dogmas e paradigmas da caserna, particularmente o autoritarismo. Portanto as relações interpessoais tendem a resvalar para o arbitrário, sejam estabelecidas no ambiente familiar ou nos grupos de trabalho.

A INÉRCIA
O líder do grupo assume uma postura semelhante ao dono da bola numa pelada de futebol. Por mais perneta que seja, será sempre o titular absoluto da posição, ou o jogo invariavelmente termina.

Auto suficiente e loquaz, o gerente do grupo está sempre correto e, quando numa fugaz eventualidade se faz de vencido, é na verdade um recuo estratégico para mais a frente, em melhores condições, tornar à carga.

Para compor a equipe, os critérios preferenciais são a passividade e a absoluta obediência. O técnico deve ser servil, jamais questionar e só se manifestar quando explicitamente convocado. Os papéis e o ritual não permite qualquer dúvida: "eu ordeno, você obedece".

Nesta estruturação a participação é meramente formal. A contribuição individual para o coletivo se limita ao mínimo necessário. O grupo caminha por inércia e os resultados se limitam ao trivial, ao convencional. Inovações é algo fora de cogitação. O realizado é sistemática repetição do que é feito há anos, portanto qualquer mudança é atitude sem procedência e temerária.

Aqui os paradigmas são devotados. Só o chefe pensa, só o chefe decide. É um iluminado, um privilegiado a quem Deus untou com seu santo ungüento, enquanto os integrantes da equipe não passam de meros mortais.

Naturalmente por mais diferenciado que seja o trabalho, os resultados caem na vala comum da mesmice e da mediocridade. A eficiência é um dogma repetido à exaustão, mas a eficácia fica adormecida nas páginas densas dos dicionários.

O grupo trabalha desmotivado, cada um preocupado unicamente com os limites de sua tarefa; há uma obsessão maníaca pelos horários e pela freqüência, e absolutamente nada é realizado além do previsto e estipulado. Se o planejado é executado ou não, pouco importa; o que interessa é que "minha parte" foi realizada.

Enquadrada, a equipe não tem vida própria, seus integrantes não tem importância, são descartáveis e o projeto só sofre solução de continuidade se perder seu chefe. Sim, pois outra peculiaridade desta formatação é a concentração e a centralização do poder.

Ao técnico só é permitido manusear parte dos dados e informações. Só o chefe manuseia o conjunto, mantendo assim o controle total e absoluto sobre o processo.

Como são impermeáveis às discussões, essas equipes se bastam. Ignoram e rejeitam contribuições de outras fontes, defendem intransigentemente seu pequeno universo de miudezas e privilégios e vêem no outro um adversário, ao invés de um potencial colaborador.

São equipes jurássicas, em acelerado estágio de putrefação, exalando o cheiro nauseabundo das estruturas inertes.

Por paradoxal que possa parecer estão onipresentes. No comércio, na indústria, nas escolas, nos bairros, no serviço público... Aliás, é no serviço público que se estabeleceu uma vinculação especial, com profundas raízes. Protegidos pelas elites políticas, se encastelaram majestosos e reinam num mundo de faz-de-conta, repleto de papéis, processos insolúveis, má vontade, clientelismo, fisiologismo e corporativismo.

Muitas vezes, esta concepção política de trabalho em grupo não aparece tão claramente delineada, se travestindo de outras facetas que na realidade redundam em variações sobre um mesmo tema. Existem as equipes autoritárias, outras escamoteando o despotismo, e outras ainda pretensamente "abertas", mas todas irremediavelmente viciadas, meras reprodutoras de valores ultrapassados.

O MOVIMENTO
Na extremidade oposta figura a equipe da qualidade.

Aqui o líder não é imposto, mas se faz no dia-a-dia, conquistando a preferência e o respeito de seus pares. Atua como agente de dinamização, estimulando e aglutinando as diferentes vivências e experiências.

A leitura que faz da vida o torna solidário. Jamais se coloca acima ou se considera mais importante que os demais. Seu lugar é ao lado, dentro, completamente imerso, o que torna sua liderança algo natural, agradável e produtiva.

As discussões são fomentadas, perseguidas a todo instante. Por necessárias à condução dos trabalhos, são sempre interessantes, pujantes, vigorosas, vivas. É a força motriz do grupo.

A exata compreensão que o trabalho é coletivo e o crescimento de um significa o crescimento de todos, torna a participação intensa e nunca artificial. O sucesso ou o fracasso será mérito ou defeito de todos. A figura do cacique é reservada às películas cinematográficas. Todos são e estão, por isso a alternância de gerenciamento é fato comum.

Nesta estrutura o autoritarismo cede lugar à democracia. As experiências individuais são valorizadas para, agregadas, originarem o universo coletivo. Os erros se reduzem pois todas as cabeças atuam no sentido de acertar, receptivos sempre aos novos desafios.

Nas discussões não existem vencidos e vencedores. Ao término dos debates só existem vencedores, pois do embate das idéias surge a terceira via oriunda do que havia de melhor nas postulações pregressas.

Os dogmas e paradigmas são questionados com vigor, ininterruptamente. Não podemos realizar as coisas simplesmente porque sempre foram feitas. Vale como ilustração a velha estória do peru no microondas:

(No dia de natal a garota pergunta:
-Mamãe porque a senhora assou o peru sem as pernas e a cabeça?
A mãe pensou e não encontrou resposta mais apropriada: "Sua avó sempre fez assim”.
A criança fez com que a mãe a acompanhasse até a avó.
-Vó porque a senhora ensinou mamãe a assar o peru sem pernas e cabeça?
Por mais que a vó matutasse, não encontrou coisa melhor:
-Sempre foi assim, aprendi com minha mãe.
E lá foram as três atrás da matriarca, que já se curvava ao peso
do século. A velhinha foi parcimoniosa: "Éramos muito pobres e nosso forno bem pequenino. O peru não cabia dentro, por isso tinha que cortar as pernas e a cabeça”.)


A estruturação pela qualidade não comporta verdades absolutas, tudo é relativo, tudo passivo de mudança e os graus de liberdade inúmeros. A satisfação é um quesito importante e impõe grandes saltos ao caminhar da equipe. Os resultados extrapolam ao programado, as metas são superadas em virtude da rápida incorporação das inovações.

A confiança é o fio condutor da relação entre as pessoas. Os horários são flexíveis e a responsabilidade integral. A motivação é contínua, o horizonte a cada momento mais largo, os integrantes da equipe se percebem, se enxergam, se vêem elos importantes da corrente.

A descentralização atua no sentido de valorizar as individualidades, agilizar as tarefas, melhorar a performance do colegiado e auferir produtividade crescente. Todos têm acesso ao universo de dados e informações, democratizando as oportunidades. O intercâmbio com outros grupos é constante ainda que as atividades não sejam afins.

São enfim equipes da qualidade, despertas, dinâmicas, receptivas aos novos desafios. Tem a leveza do movimento.

Esta política encontra plena guarida em várias empresas e setores, mas com desmedida timidez, apenas tangencia o setor público.

Nas últimas décadas o estado brasileiro foi sucateado para atender aos interesses de grupos minoritários, das elites, contra os grandes interesses da população. Neste processo os servidores foram relegados a um enésimo plano e transformados ainda nos vilões das mazelas do estado.

Políticas de qualificação profissional, de ganhos de produtividade, de cargos e salários foram simplesmente ignorados em função de práticas arcaicas e nocivas em que impera o fisiologismo e o clientelismo.

Esta realidade origina quase sempre um servidor desqualificado, desiludido e desmotivado. Adrenta-se num círculo vicioso em que os governantes que se sucedem, recusando-se a enfrentar o problema, entram num jogo de empurra, passando a fingir que pagam; enquanto o servidor indignado com a situação, finge que trabalha. E a estratégia vai se perpetuando.

Os novos tempos exigem o imediato rompimento deste ciclo. A sociedade comprimida, não suporta continuar pagando pela inexistência dos serviços, ou pelos péssimos serviços prestados. E nesta oxigenação o servidor é figura de proa, timoneiro.

Atuando nos sindicatos, entidades de classe e movimentos sociais, vai chamando a atenção para a imperiosa necessidade de modernizar o estado. Não a modernização falaciosa fluente na boca de tantos e sim a modernização de fato, que coloque o estado como instrumento ágil e eficaz das maiorias silenciosas e marginalizadas.

O servidor deve resgatar seus valores fundamentais, ressaltar o seu quesito mais nobre, o que faz especial, diferente dos demais trabalhadores: o fato de ser um servidor do povo, de ter como patrão sua comunidade. Confúcio acalentava como maior sonho ser servidor público.

Só a incorporação desses referenciais será capaz de remover as grandes barreiras que impedem o país de progredir e desenvolver.

É um processo que demandará tempo, sem dúvida. Mas tão certo como um dia após o outro.

Antônio Carlos dos Santos – criador das seguintes metodologias:
©Planejamento Estratégico Quasar K+;
©ThM – Theater Movement; e
©Teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.

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Dramaturgo, o autor transferiu para seus contos literários toda a criatividade, intensidade e dramaticidade intrínsecas à arte teatral. 

São vinte contos retratando temáticas históricas e contemporâneas que, permeando nosso imaginário e dia a dia, impactam a alma humana em sua inesgotável aspiração por guarida, conforto e respostas. 

Os contos: 
1. Tiradentes, o mazombo 
2. Nossa Senhora e seu dia de cão 
3. Sobre o olhar angelical – o dia em que Fidel fuzilou Guevara 
4. O lugar de coração partido 
5. O santo sudário 
6. Quando o homem engole a lua 
7. Anos de intensa dor e martírio 
8. Toshiko Shinai, a bela samurai nos quilombos do cerrado brasileiro 
9. O desterro, a conquista 
10. Como se repudia o asco 
11. O ladrão de sonhos alheios 
12. A máquina de moer carne 
13. O santuário dos skinheads 
14. A sorte lançada 
15. O mensageiro do diabo 
16. Michelle ou a Bomba F 
17. A dor que nem os espíritos suportam 
18. O estupro 
19. A hora 
20. As camas de cimento nu 

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VI – ThM-Theater Movement: 

sábado, 30 de dezembro de 2023

A tortura

Todas as guerras são sujas e não há justificativa que consiga amenizar o estado de selvageria e barbárie que produzem. São promovidas para subjugar o inimigo, se necessário exterminá-lo com o mais alto grau de terror porque a repercussão e a propaganda integram o cenário composto para intimidar o inimigo, tornam-se componentes estruturais do método.

Desde sempre onipresente nas relações de dominação, a tortura é, de longe, lugar comum em todas as culturas. Em períodos de paz se faz implícita, sutil, mas, nos tempos de guerra, encontra terreno fértil e passa a se constituir em uma espécie de idioma comum a vencidos e vencedores. Seu objetivo é humilhar o prisioneiro, reduzi-lo à completa inexpressividade, uma sevandija sem forma e identidade, aquebrantando a têmpera para que, na sequência, informações sejam obtidas.

Na história da humanidade jamais se tratou de implementá-la simplesmente, mas torná-la a mais dolorosa, a mais lancinante possível. Daí a sucessão de métodos e instrumentos de martírio e suplício, imprimindo ‘evolução’ na capacidade de impor dor e humilhação:  roda, ebulição até a morte, esfolamento, esventramento (abrir o ventre da vítima e extrair seus órgãos internos), crucificação, empalação, esmagamento, apedrejamento, morte na fogueira, desmembramento, serração, escafismo, o colar (técnica de linchamento que consiste em colocar um pneu em volta do pescoço ou do corpo do supliciado e, em seguida, atear fogo ao pneu)...

A Grécia antiga, berço da civilização ocidental, não nos legou somente democracia e cultura, mas também o touro de bronze, instrumento de tortura atribuído a Fálaris, nos idos do século 6 a.C.: uma esfinge de bronze oca, no formato de um touro mugindo, com duas aberturas, no dorso e na boca. No interior, um canal semelhante à válvula móvel do instrumento musical Trompete, ligava a boca ao interior do Touro. Colocada a vítima, a entrada da esfinge era fechada e posta sobre uma fogueira. À medida que a temperatura aumentava no interior do Touro, o ar ia ficando escasso, e o executado - exasperado por uma forma de respirar - recorria ao orifício na extremidade do canal. Os gritos ensandecidos do executado saíam pela boca do Touro, fazendo parecer que a esfinge estava viva.

Só com o Humanismo, no século XVII, esta tendência institucional começou a declinar. A Declaração de Direitos de 1689, na Inglaterra, deu um impulso para a abolição das penas cruéis. Mas só em 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, ocorreu a proibição da tortura por todos estados membros da ONU, compromisso que sabemos, se restringe aos tratados multilaterais e aos protocolos. 

As cadeias e presídios brasileiros são centros de referencia em tortura. Com frequência são denunciados pela imprensa e organizações internacionais de defesa dos direitos humanos. Os relatórios da Anistia Internacional estão sempre denunciando o aumento da violência policial, no Brasil, numa escala comparável aos abusos característicos dos períodos de guerra generalizada.

Neste setor os brasileiros inovam, trafegam com expertise e conhecimento de causa, com desmedida criatividade. O ‘pau de arara’ é uma excrescência da invencionice nacional. Aqui inventado, logo recebeu ‘certificação de qualidade’, sendo exportado para todos os rincões do planeta – inclusive para o mundo desenvolvido.

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Em nenhuma outra época a tortura foi utilizada de forma tão massiva quanto no período em que os nazistas e comunistas se impuseram ao mundo.

No holocausto, seis milhões de judeus foram exterminados nas câmaras de gás, no que os nazistas denominaram “solução final do problema judeu na Europa”.

E no período estalinista da história soviética, só dentre artistas, mais de 1500 foram submetidos à tortura e execuções sumárias pelos comunistas.  

Mas o que surpreendeu o mundo civilizado foi o resgate, em alto estilo, da prática da tortura, efetuado por nada menos que os EEUU, país que – dadas as suas características intrínsecas – é o país líder da missão de livrar o mundo do terrorismo, do arbítrio e das ditaduras.

Não faz muito tempo, um furo jornalístico da rede de televisão CBS desnudou – através de fotos e imagens - prisioneiros iraquianos sendo torturados. O que contribuiu para fragilizar a imagem de “mocinhos” que os norte americanos sempre aspiram acalentar nas questões relativas a direitos humanos.

O Presídio de Abu Ghraib, em Bagdá, foi o cenário escolhido por Saddam Hussein para humilhar e torturar seus compatriotas. Com uma parafernália de instrumentos de suplício que envolvia máquina de triturar elétrica e imersão em óleo fervente, nada menos que seis mil iraquianos eram executados por ano, só neste presídio.

Quando o governo americano se viu flagrado mentindo sobre a existência de armas de destruição em massa, utilizou o terror recorrente – por duas décadas - em Abu Ghraib para tentar construir um novo pretexto que justificasse a invasão: “libertar o povo iraquiano da repressão desumana de Saddam”.

Nos duros anos da ditadura brasileira, o governo norte americano chegou a despachar para o Brasil e demais países do cone sul, instrutores militares especialistas em “práticas não convencionais de interrogatórios”. Um deles, Dan Mitrione, se notabilizou pela desenvoltura. Os demais países desenvolvidos não ficaram para trás. A França, por exemplo, ‘contribuiu’ com o general Paul Aussaresses, acusado de disseminar a tortura na guerra da Argélia, e também acusado de treinar torturadores das antigas ditaduras latino-americanas, durante o período em que esteve adido militar da França no Brasil,

Como um ente acima do bem e do mal – desconsiderando inclusive a Convenção de Genebra - os diversos governos vêm, sistematicamente, torturando e infringindo maus tratos a seus prisioneiros.

Sobre a ilha de Guantânamo, onde os EUA mantêm, encarcerados, prisioneiros da Guerra do Afeganistão, o próprio presidente Barack Obama assim se manifestou: “É fundamental que entendamos que Guantánamo não é essencial para a segurança dos Estados Unidos", disse Obama, para complementar, "Devemos fechá-la."

Quando da entrada do sexto ano na Casa Branca, o presidente da nação mais poderosa do planeta proferiu o novo discurso do Estado da União: “O combate ao terrorismo não deve ser feito apenas com meios militares, mas também por nos mantermos fiéis aos nossos princípios constitucionais, servindo de exemplo para o resto do mundo”.

O que as imagens flagraram no Iraque são cenas terríficas, de soldados americanos promovendo estupros e afogamentos em prisioneiros iraquianos no pior, mais grave e abominável ato de covardia que um ser humano pode perpetrar contra outro.

O presidente Obama não fechou Guantánamo, o que demonstra a complexidade da questão. Mas os militares norte-americanos responsáveis pelas torturas no Iraque foram exemplarmente punidos, o que atesta o vigor e a pujança democrática dos Estados Unidos.

No Brasil profundo a tortura, qual um espectro errante, grassa incontinentemente pelo interior dos presídios e delegacias.

Instituições de defesa dos direitos humanos, como a Pastoral Carcerária da CNBB, por exemplo, recebem, anualmente, centenas de denúncias de violências praticadas contra presos comuns.
O silêncio que impera sobre o assunto e, sobretudo, a impunidade são as razões principais da continuidade dessa monstruosa tragédia nacional.

O silêncio atroz justifica a inexistência de números oficiais de registros de torturas no Ministério da Justiça, na Secretaria Nacional de Direitos Humanos ou nas ouvidorias do sistema penitenciário dos governos estaduais. E a omissão, a completa ausência de sistemas de controle, de fiscalização e de acompanhamento - como forma de prevenção - reforçam a indiferença das autoridades.

A tortura oficial tem como protagonistas agentes penitenciários, policiais civis e militares que atuam ao arrepio da lei para conseguir as confissões dos crimes.
Mas existe a tortura encetada pelos criminosos do trafico de drogas, por exemplo, que muitas vezes atuam com a cumplicidade e cobertura de policiais e autoridades corruptas.

E, ainda, a tortura que se opera no interior dos lares, sobretudo contra idosos e crianças indefesas.

Este é um dos mais graves problemas do Brasil atual. É necessário solucioná-lo. Herdamos uma cultura autoritária que remonta ao período colonial. Em nosso imaginário fervilham décadas e décadas de uma história política cravejada de ditaduras.
O governo brasileiro chegou a criar, tempos atrás, o Plano de Ações Integradas para a Prevenção e Controle da Tortura no Brasil. À oportunidade tão somente 12 estados aderiram ao programa. Estava prevista a criação de Comitês Estaduais de Prevenção e Combate à Tortura – integrados por entidades, sociedade civil e poder público. Um dos objetivos preconizados era discutir políticas públicas e realizar vistorias em prisões, delegacias e hospitais. Jamais existiu, porém fiscalização e controle, de modo que os resultados se circunscreveram à insignificância.

Em 2006, o Brasil assinou o Protocolo Facultativo à Convenção contra Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes da Organização das Nações Unidas - ONU. O governo federal se comprometeu a criar o Mecanismo Nacional de Combate à Tortura - equipe de peritos responsável pelas fiscalizações.
Depois de um longo tempo foi criado o Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (SNPCT), um dos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (SNPCT). É um colegiado integrado por 23 membros, 11 representantes de órgãos federais e 12 da sociedade civil.

Instituído, logo o Comitê caiu na malha estéril e infrutífera da burocracia nacional e o objetivo de mitigar as violações em instituições de privação de liberdade - como delegacias, penitenciárias, locais de permanência para idosos e hospitais psiquiátricos – não tem passado de letra morta.

O protocolo da ONU prevê que os governos estaduais deveriam criar mecanismos para atuar em conjunto com a União, exclusivamente para prevenção e combate à tortura. Mas qual?! Para variar, tudo se mantém ao nível dos projetos e intenções.
A legislação específica tem sido utilizada com uma parcimônia que envergonha. A pena estabelecida pela lei  9.455, de 7 de abril de 1997, é de até 10,6 anos de prisão. Mas poucas vezes é utilizada.

O Brasil não terá um futuro alvissareiro caso não rompa o ciclo da ‘certeza de impunidade’ que vigora entre nós. E esta é uma lacuna que o poder judiciário – mais que qualquer outro – de forma irresponsável e leviana, tem deixado à vista.
A democracia não combina, não rima com a tortura, ao contrário, a repugna, a combate sem acordos e sem tréguas.

Ou aprendemos essa lição, ou não escaparemos à sina de republiqueta bananeira bolivariana.

 Antônio Carlos dos Santos – criador das seguintes metodologias:
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9. O desterro, a conquista 
10. Como se repudia o asco 
11. O ladrão de sonhos alheios 
12. A máquina de moer carne 
13. O santuário dos skinheads 
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15. O mensageiro do diabo 
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