sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A razão de ser das organizações...


Bee Gees - Massachusetts


Impressora 3D quer revolucionar construção civil no 3º Mundo — e isso é péssimo

Por Carlos Cardoso, no Meio Bit. Tecnologia da Informação

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A empresa italiana WASP (World’s Advanced Saving Project) tem a melhor das intenções. Preocupados com o déficit de moradias entre a população extremamente pobre do 3º Mundo — ou “Países em Desenvolvimento”, como os politicamente corretos otimistas gostam de chamar. Eu prefiro 3º Mundo, no mínimo dá a impressão que a gente é vizinho dos Thundercats, mas divago.
Voltando: os italianos desenvolveram uma impressora 3D gigante que imprime… choupanas. O negócio é bem legal, usa materiais locais, como lama e fibra vegetal. Devagar e sempre ela ergue as paredes, proporcionando o tão sonhado sonho da casa própria, a máquina é tão eficiente que deve imprimir no final até um cartão do bolsa-família.
A WASP tem como lema: “Nós somos sonhadores, somos criadores, somos Makers: partimos da impressão 3D para salvar o mundo.”
Veja que legal:
                                                 Wasp: 3D Printed Houses
Agora, claro, vem a parte onde eu explico que isso é uma péssima idéia, mas para tanto precisaremos viajar no tempo, ao longínquo ano de 1985 e um movimento chamado USA For Africa, que ao contrário do que você sempre pensou, quer dizerUnited Support of Artists for Africa.
A seca havia piorado muito a situação da fome na Etiópia, e Michael Jackson, bem antes de misturar os termos, se preocupava com criancinhas que não tinham o que comer. usando seu imenso prestígio, reuniu um elenco estelar, criaram um mega-super-hit, uma campanha de doações e arrecadaram mais de US$ 220 milhões, em dólares de hoje. Até eu comprei o disco, e como todo mundo só tacava uma faixa.
Aviões levando mantimentos começaram a pousar nas áreas afetadas, várias organizações de caridade surgiram na esteira do USA For Africa, e até hoje navios chegando com carregamentos da UNICEF, Cruz Vermelha e outros colocam comida na mesa de muita gente por lá.
Isso também DIZIMOU a economia local, criando um círculo vicioso de dependência.
Imagine a situação: Motumbo vive na merda. Literalmente, sua modesta casinha é feita com esterco, material de construção abundante (dsclp). Ele a esposa e os 78 filhos cuidam de uma pequena lavoura familiar. Depois de alguns meses vem a colheita, Motumbo monta em sua carroça, percorre os 1.789 km até a feira-livre na cidade mais próxima, vai vender a produção e tentar conseguir uns trocados para comprar comida, já que as crianças não sobrevivem só com cebola, que é o que ele planta.
Motumbo chega na feira, descobre que ninguém compra mais nada, estão abastecidos com as doações. A produção é jogada fora, estraga ou é vendida abaixo do custo. Motumbo não tem como alimentar suas crianças, vende a fazenda, se muda para um acampamento de refugiados perto da cidade e passa a depender também ele das esmolas dos países ricos.
Isso vale para as cebolas do Motumbo, mas também para o sujeito que ia até a fazenda comprar os tomates, para o dono da vendinha que comprava desse sujeito, para o Pequeno M’Ping, que trabalhava descarregando as carroças…
Uma impressora 3D que faça casas está tirando o ganha-pão de gente que ajuda o vizinho a construir uma casa de lama ou esterco em troca da única refeição do dia. Pior ainda, faz com que essa gente, que por milhares de anos deteve o conhecimento de construir casas, mesmo de bosta, perca esse conhecimento e se torne dependente de uma tecnologia que eles não tem condições de replicar.
A intenção é ótima, o resultado é um material de construção popular entre os Massai, se é que você me entende.
Existem formas bem melhores de ajudar. Um exemplo:
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Esse tio da foto se chama John. Mora em Uganda, um fim-de-mundo com renda per capita anual de US$ 1.500,00. Ele tem uma terrinha onde planta umas verduras e tira dinheiro dessa vendinha. Com isso ele mal ou bem cuida de seus nove filhos. Agora John quer expandir os negócios, precisa aumentar seus estoques de açúcar, óleo, sabão, sal e omo (não pergunte). Para isso John precisa da imensa quantia de US$ 225,00.
Ele provavelmente vai receber esse dinheiro, mas não será doação. John faz parte do Kiva, um projeto de microcrédito, um conceito modernizado e viabilizado por um economista e banqueiro paquistanês chamado Muhammad Yunus. Ele fundou o primeiro banco de microcrédito moderno, e em 2006 ele e seu banco ganharam um Prêmio Nobel. Não de economia, mas da Paz.
O conceito é ao invés de caridade, que ajuda mas não tira as pessoas da miséria, criar formas de fomentar prosperidade, dar a quem precisa a oportunidade e os meios de crescer.
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Muhammad Yunus – #RESPECT
O modelo de microcrédito trabalha com juro zero ou próximo disso e valores baixos. Como John há muitos outros. Godfrey precisa de US$ 150,00 para comprar pesticidas pra sua plantação. Um sapateiro de El Salvador precisa de US$ 500,00 para comprar cola, couro, etc Esse cara no Haiti precisa de US$ 325 para conectar sua casa à rede de eletricidade solar.
O Kiva não é um banco, ele é um intermediário. Ele conecta essas pessoas com gente que quer ajudar, não dando, mas emprestando dinheiro. E sim, o pessoal paga de volta. As taxas de inadimplência na área de microcrédito são mínimas, dependendo da fonte falam de 98% de empréstimos pagos dentro do prazo. Qualquer um pode emprestar dinheiro pra projetos no Kiva, ó valor mínimo é de US$ 25,00.
Projetos de microcrédito não são idéias mirabolantes do Grande Salvador Branco, surgiram de mentes locais, movimentam a economia e não trabalham em cima do coitadismo. Talvez por isso mesmo nem de longe sejam tão populares quanto comerciais com garotinhos emaciados música triste e pedidos de dinheiro que rivalizam a sacolinha da Universal.
É uma pena, pois enquanto todo mundo está deslumbrando com a bosta da impressora de bosta que não vai resolver problema nenhum, o Kiva faz o trabalho pesado, tendo emprestado mais de US$ 625 milhões, em 80 países e com 98,81% desses empréstimos devidamente quitados.
Mas claro, quem vai salvar o mundo é a impressora 3D…
Fonte: RT.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O reconhecimento...


Bee Gees - Immortality


Os desafios dos próximos quatro anos

Do El País

Reeleita para um segundo mandato neste domingo, a petista Dilma Rousseff terá pelos próximos quatro anos desafios importantes para executar a real mudança que explorou em seus discursos. Apesar dos avanços conquistados desde a época da redemocratização, o Brasil ainda enfrenta problemas importantes na economia, na educação, na saúde e terá que realizar a reforma política, já sinalizada pela presidenta em seu discurso. Entenda abaixo qual o cenário que Rousseff deixou após seus primeiros quatro anos de mandato e quais são os desafios que ela terá nos próximos quatro.

A difícil reforma política

Talita Bedinelli
Gustavo Lima (Câmara dos Deputados)

Em seu primeiro discurso como presidenta reeleita do país, Dilma Rousseff destacou qual será a primeira prioridade de seu novo Governo: a reforma política. “Entre todas as reformas, a primeira e mais importante deve ser a reforma política.

Meu compromisso é deflagrar essa reforma”, afirmou ela na noite deste domingo.

No último debate, na TV Globo, Rousseff já deu uma pista de um dos pontos que essa reforma deveria trazer: o financiamento público de campanha. Em um documento sobre a reforma política preparado pelo PT, o partido defende que acabar com o financiamento de empresas aos candidatos tem o objetivo de evitar a “reeleição incestuosa” entre parlamentares eleitos e os que pagam sua campanha.

O mesmo documento também defende que essa reforma priorize o voto em lista pré-ordenada, onde cada partido escolhe uma lista de candidatos e os organiza por ordem de prioridade: os eleitores votam nesta lista e não em um candidato específico. Para os defensores do modelo, esse tipo de votação pode garantir a representatividade de minorias cujos representantes não costumam ter votações populares expressivas e que poderiam ser priorizadas nas listas dos partidos.

Isso também poderia evitar a desigualdade da representatividade no Congresso, que nesse ano elegeu ainda mais representantes do movimento ruralista e defensores de bandeiras conservadoras e diminuiu, por exemplo, a presença de sindicalistas.

No entanto, como a própria presidenta afirmou no discurso, essa mudança é de responsabilidade do Congresso, que deve ser resistente à ideia. Ela afirmou no discurso que pressionará pela realização de um plebiscito, para que a população decida ou não se quer que a questão entre na pauta dos parlamentares.

A demanda reprimida da reforma agrária

Talita Bedinelli
A reforma agrária foi um dos temas sensíveis no Governo de Dilma Rousseff, que dialogou pouco com o Movimento dos Sem-Terra (MST), organização historicamente ligada ao PT. Dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) mostram que o número de assentamentos diminuiu.

Em 2006, último ano do primeiro Governo de Lula, 136.358 famílias conseguiram uma terra, um recorde histórico. A partir daí, o número de assentados caiu e, em 2012, segundo ano do mandato de Rousseff, apenas 23.075 famílias foram contempladas. Em 2013, últimos dados disponíveis, o número cresceu um pouco, para 30.239. Com a demanda reprimida, o movimento voltou às ruas neste ano. Em julho, tomou a avenida Paulista após uma caminhada de 24 dias até o escritório paulista da Presidência da República, onde os militantes foram atendidos por representantes da presidenta e conseguiram a garantia da demarcação de sete áreas para a reforma agrária no Estado. Eles pediam 12.

A polêmica questão indígena

Talita Bedinelli
Um dos pontos mais fracos da gestão de Dilma Rousseff foi a questão indígena. Os índios, que representam 0,21% da população do país (817.963 pessoas), realizaram inúmeros protestos nos últimos anos para pressionar pela demarcação de terras indígenas que só dependem da homologação da presidenta. Mas a pressão dos parlamentares ruralistas, que querem, inclusive, tirar do Governo federal o poder de demarcar terras, é um dos fatores que dificulta o processo.

Índios e fazendeiros estão envolvidos em um confronto que já se arrasta há décadas. Os índios reivindicam a demarcação das terras às quais têm direito, de acordo com estudos antropológicos que comprovaram que as terras pertenceram aos ancestrais deles. Mas os produtores rurais compraram há muitos anos essas terras, de onde os índios foram expulsos pelos governos locais. E eles só saem se forem indenizados, o que não é previsto pela Constituição brasileira, que diz que eles só podem ser indenizados pelo que construíram na propriedade. Cansadas do impasse, comunidades indígenas que vivem em terras improvisadas e em situação de extrema pobreza passaram a ocupar essas áreas. E os fazendeiros os expulsam, muitas vezes com o uso de violência. Desde 2003, 563 índios foram mortos no país. Resolver esse impasse em meio a um Congresso onde a participação dos ruralistas aumentou será o um grande desafio no próximo governo.

Educação: O desafio da qualidade e do ensino médio

Talita Bedinelli
O Governo de Rousseff conseguiu aprovar em junho deste ano o Plano Nacional de Educação, que deverá quase dobrar a verba para a educação nos próximos 10 anos, com a aplicação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país na área até 2024 –atualmente, aplica-se cerca de 6%.

O novo plano inclui ainda metas para universalização da educação no ensino fundamental, o que já está praticamente cumprido. Mas há um grande desafio: o de universalizar até 2016 o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos. Atualmente, 15% dos alunos da faixa etária estão fora da escola e 42% deles estão atrasados, ainda cursam o ensino fundamental. Com o avanço dos investimentos em bolsas para o ensino superior, como o Fies e o ProUni, o ensino médio continua sendo um grande gargalo no país. Rousseff tem que encontrar uma forma de estabelecer uma parceria mais efetiva com os Estados, responsáveis pela gestão dessa etapa.

Outro desafio importante é a melhoria da qualidade do ensino. Resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), colocaram o país em 38o lugar num ranking com 44 países nas habilidades dos alunos com matemática em um resultado divulgado neste ano.

Apenas 2% dos alunos conseguiram resolver problemas de matemática mais complexos. Na versão mais completa da prova, cujos resultados são referentes a 2012, o Brasil ficou em 58o lugar em matemática, 55o em leitura e 59o em ciências, dentre 65 países.

Mais verba para a saúde

Talita Bedinelli
O Sistema Único de Saúde (SUS) é o maior sistema de saúde pública do mundo, disponível para os mais de 200 milhões de brasileiros. Criado pela Constituição de 1988, 26 anos depois ele ainda sofre com a falta de financiamento. Hoje, o país aplica pouco mais de 7% de suas Receitas Correntes Brutas na saúde, mas diversas entidades do setor, reunidas no Movimento Saúde Mais Dez, acreditam que é necessário elevar esse investimento para os 10%, injetando mais de 40 bilhões de reais ao ano. O próximo mandato também terá que lidar com uma classe médica crítica ao programa petista Mais Médicos, que trouxe profissionais formados no exterior para trabalhar em áreas distantes do país.

Outro ponto sensível na área que necessita ser alvo de discussão é a regulação dos planos de saúde, área cada vez mais problemática e que atende a 51 milhões de usuários atualmente. Mesmo após uma resolução da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), de 2011, regular os prazos máximos de atendimento, usuários de planos ainda amargam para marcar consultas e no atendimento do pronto-socorro. Além disso, para fugir das limitações de preço estipuladas pela agência para os planos individuais, muitas operadoras têm deixado de vender esse tipo de plano, investindo nos chamados planos coletivos (feitos para pequenas empresas ou entidades de classe), que podem aumentar livremente.

Uma moradia digna

Beatriz Borges
O número de pessoas sem moradia nas grandes metrópoles brasileiras aumentou. Segundo os últimos dados divulgados em maio pela Fundação João Pinheiro, a cidade de São Paulo, por exemplo, passou de 592.405 famílias sem casa em 2011 para 700.259 em 2012; Belo Horizonte foi de 115.045 para 148.163, a maior variação entre nove metrópoles do país (29%). A principal razão, segundo o estudo, foi o aumento do aluguel nas principais capitais, que chega a comprometer 30% ou mais da renda familiar. Apesar disso, os números do déficit habitacional no Brasil melhoraram nos últimos anos.

Entre 2009 e 2012 o país conseguiu reduzir em 8% a quantidade de famílias sem casa graças ao programa federal Minha Casa Minha Vida, de acordo com um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O maior impacto foi sobre a habitação precária, que caiu 19%.

O déficit de habitação, porém, ainda é alto: 5,2 milhões de casas devem ser construídas, de acordo com o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Essa população atualmente vive em barracos ou favelas – no Brasil, 11 milhões moram neste tipo de construções. Na maioria dos casos, não têm acesso a serviços básicos como saneamento e coleta de lixo. A Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílios (Pnad) de 2012 indica que a rede coletora de esgoto atende apenas 58,2% das casas brasileiras, sendo o menor alcance na região Norte (13,9%) e Nordeste (37,2%).

O desafio não é, portanto, apenas construir mais casas para suprir a demanda, mas criar estruturas sociais para uma moradia digna. A coordenadora do setor de construção da FGV, Ana Maria Castelo, explica que falta planejamento para dar continuidade à política habitacional para pessoas de baixa renda que não têm condições de financiar uma casa própria sem os subsídios dados atualmente pelo Governo Federal. “É preciso integrar a construção dessas unidades com serviços básicos como rede elétrica, transporte, creches, rede de água e esgoto”, algo que depende dos Estados e municípios, esclarece.

Energia, apesar da falta de chuvas

Beatriz Borges
Em época de estiagem, a falta de água preocupa tanto quanto a falta de energia elétrica. A previsão de poucas chuvas nos próximos meses prenunciam reservatórios ainda mais baixos – o volume das represas da região Centro-Oeste e Sudeste (70% da reserva brasileira), podem chegar a 16% em novembro, o nível mais baixo desde 2001 – e de um cenário incerto para o setor de energia. “Se as chuvas do verão não forem boas, estaremos expostos a racionamento e blecautes em 2015”, afirma Cláudio Sales, presidente do observatório do setor elétrico Instituto Acende.

A dependência de hidrelétricas – responsáveis por 69% da energia que consumimos – não é algo ruim, já que se trata de uma fonte renovável. Porém, na falta delas, são acionadas as termoelétricas, que têm um alto custo operacional apesar de contribuir com 28% da eletricidade fornecida. Como atualmente estão funcionando com o total de sua capacidade pela defasagem das hidrelétricas, podem encarecer a conta do consumidor. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já aprovou a aplicação de reajuste mensal na fatura de acordo com as dificuldades de geração de energia a partir do ano que vem. A medida serve para compensar o setor que foi obrigado a reduzir o valor da tarifa em 20% pela polêmica Medida Provisória 579, aprovada pelo Senado em 2012. O Governo ainda tem pendente uma indenização no valor de 20 bilhões de reais às transmissoras, geradoras e distribuidoras de energia elétrica que renovaram suas concessões sob os termos da MP.

Outra fonte são as centrais eólicas, setor onde o investimento cresceu: dos 187 empreendimentos em construção previstos para 2016-2018, 127 são de geradoras deste tipo. Porém, esses é um sistema mais complexo: depende de capacidade de armazenamento e não pode ser acionado a qualquer momento. A energia produzida pelo vento representa apenas 3% do total de fontes, mas em 2023, segundo projeções do Ministério de Minas e Energia, passará a contribuir com 13,5%.

Como deixar o posto de sétimo país mais violento do mundo

Afonso Benites
Ano após ano, o Brasil vê suas taxas de homicídios aumentarem. Em 2012, último em que os dados estão disponíveis, chegou aos 29 assassinatos a cada grupo de 100.000 habitantes. Dez anos atrás era de 28, conforme o Ministério da Saúde. Isso quer dizer que 56.337 pessoas foram vítimas de homicídios dolosos (intencionais) naquele ano. São 154 assassinatos a cada dia. Com esses números, o Brasil foi alçado ao posto de sétimo país mais violento, entre cem analisados pelo Mapa da Violência.

Em um cenário no qual a criminalidade aumenta a cada dia, cabe ao governo federal coordenar uma política de segurança que seja capaz de diminuir não só os assassinatos, mas também crimes que muitas vezes não são notificados, como roubo e furto. Pela Constituição Federal, cabe aos Estados fazerem o combate a esse tipo de crime. Mas quando os números mostram que 20 das 27 Unidades da Federação enfrentaram aumentos de suas taxas de violência, fica claro que algo está errado. Os recursos dos Estados são limitados e o crime organizado não respeita as divisas, por isso é comum ver delitos de tráfico de drogas, por exemplo, sendo investigado em São Paulo, mas não no Rio de Janeiro, mesmo que a quadrilha tenha ramificações pelos dois Estados.

Especialistas que estudam o assunto e alguns congressistas já iniciaram debates para alterar a legislação e aumentar a responsabilidade da União nesse quesito. Até mesmo alguns candidatos à presidência sugeriram que seria necessário aumentar a integração entre as polícias, o que, em um segundo momento, poderia ampliar a taxa de resolução dos crimes e consequentemente a punição dos infratores.

Fronteiras secas com pouca fiscalização, falta de continuidade de políticas que deram certo e tratar a questão da criminalidade apenas com aumento do policiamento são outros problemas que interferem no aumento das taxas.

Prisões superlotadas e uma multidão sem ter sido julgada

Afonso Benites
Em um espaço onde caberiam três pessoas, estão cinco. Ao menos duas delas não necessariamente deveriam estar ali.

Nesse espaço, nem sempre há colchões, janelas ou banheiros. Apenas um pedaço de papelão, uma fresta perto do teto e um buraco no chão é o que há. Esse é um breve e superficial retrato do sistema penitenciário brasileiro.

São 548.000 presos em 310.000 vagas. Quase 40% deles não foram julgados por seus crimes e, por essa razão, poderiam estar em liberdade, conforme a legislação. Poucos deles trabalham ou estudam. Vivem no ócio e, devido à falta de estrutura ou por conivência dos agentes penitenciários, têm fácil acesso a produtos e equipamentos que não poderiam. É usual encontrar telefones celulares e drogas na maioria das cadeias espalhadas pelo Brasil. Assim como na área de segurança pública, cabe aos Estados controlar os presídios. Ocorre que, sem uma política nacional unificada, dificilmente as ações têm dado resultado. E não é apenas a superpopulação que explicam os recorrentes problemas. Por exemplo, tanto São Paulo, onde há mais de 200.000 detentos, como em Santa Catarina e no Maranhão, que juntos somam 20.000 presos, registraram problemas com facções criminosas que matam nas cadeias e ainda dão ordens para ações externas.

Nos últimos anos, o governo federal pouco investiu no setor. Entre 2006 e 2009 construiu quatro penitenciárias federais, que totalizam pouco mais de 800 vagas. Nelas, estão apenas algumas lideranças de grupos criminosos. Parte dos Estados evitam transferir seus detentos para elas porque acreditam que, ao fazer isso, assinariam uma confissão de incapacidade de cuidar de seus criminosos.

Controle da inflação e retomada econômica

Carla Jiménez
Há uma urgência por medidas que estimulem a economia, depois que a desconfiança atingiu seu grau máximo no Governo Dilma. No primeiro dia depois do segundo turno, os mercados financeiros deram um duro recado à presidenta reeleita, com a queda drástica do índice Ibovespa nesta segunda-feira. Os papeis da Petrobras, por exemplo, chegaram a ter uma ‘queda livre’ de 13%.

A manobra dos agentes financeiros reflete a impaciência do país por medidas concretas para retomar o crescimento econômico e para garantir o controle das contas públicas. O esperado ajuste fiscal garantiria ao Governo alcançar a meta de superávit primário, que já foi alterada várias vezes, e de quebra ajudaria a controlar a inflação, com a redução dos gastos governamentais. Para isso, é preciso que a presidenta aponte o nome do próximo ministro da Fazenda, que vai substituir o atual, Guido Mantega.

A margem de manobra é estreita, uma vez que os meios para lograr o intento poderiam esfriar ainda mais a economia.

Mas, poderiam resgatar a confiança dos investidores depois de uma relação turbulenta nos últimos tempos.

O controle inflacionário é outra exigência que recai nas costas de Dilma. A inflação está no teto da meta estabelecida pelo BC (6,5%) e a pressão para que ela ceda para os 4,5% (centro da meta) cresce a cada ano. Será um remédio amargo a ser injetado, mas que se bem sucedido, pode colocar o país na rota do crescimento.

O cobertor sempre curto da cultura

Camila Moraes
Daniel Dantas grava a sequência de 'Pequeno Dicionário Amoroso', filme de Sandra Werneck. / Vantoen P

Como é comum na arena política brasileira, a campanha presidencial de 2014 não se deteve muito sobre as propostas para a cultura. Ainda que estas eleições tenham sido disputadas a cada fio de cabelo, o que será da área nos próximos quatro anos permanece no ar.

É verdade que o orçamento do Ministério da Cultura cresceu. De 2010, quando Dilma Rousseff assumiu a presidência, para 2013, ano em que foi aprovado o valor de quase três bilhões de reais, o incremento foi de 83%. Mesmo com um aumento orçamentário, o cobertor da cultura sempre é curto e, quando há cortes por ajuste fiscal, é também o primeiro a ser encolhido em benefício de outros setores.

Durante a gestão Dilma, o departamento priorizado foi o do audiovisual, que recebeu maior injeção de recursos e contou ainda com a criação de uma lei que estimulou nos últimos anos a produção nacional independente – a Lei 12.485, de 2011, que prevê cota de exibição de programas brasileiros na TV paga e foi bem recebida até por opositores. Tudo caminhou relativamente bem para o cinema e a TV, mas agora outras áreas culturais, como a música, o teatro e a literatura certamente disputarão com eles uma maior atenção do Governo.

Em todos os âmbitos, o grande cartão de visita do MinC continua sendo a Lei Rouanet, a Lei Federal de Incentivo à Cultura criada em 1991, cuja reforma tramita atualmente no Congresso para que seja equilibrado hoje seu forte peso estatal – criticado por muitos. Só no ano passado, a lei injetou 1,3 bilhão de reais em 3.459 projetos realizados via renúncia fiscal. De cada 10 reais investidos, 9,50 saíram dos cofres públicos, e agora o esperado é que o setor privado tenha maior participação nesse rateio. Sob Ana de Hollanda e sob Marta Suplicy – a atual ministra, que substituiu a anterior em 2012 –, a pasta passou a desembolsar também o Vale Cultura, benefício de 50 reais mensais para trabalhadores que recebem até cinco salários mínimos, muito questionado pela oposição, como outros benefícios de amparo social criados por Lula e Dilma.

Desafios específicos que vêm aí incluem debates sobre a lei de direitos autorais, cuja reforma da lei está em curso no Executivo, e sobre a crise de instituições como a Biblioteca Nacional, que responde, entre outros, por políticas ao redor do livro e da leitura e pela difusão da literatura, e a Cinemateca Brasileira, responsável pelo arquivo histórico, pela restauração de filmes e outras questões ligadas ao cinema. Isso, no plano concreto. No geral, falta muito para que valorize os potenciais econômico e social da cultura no país e para que ela, em todo a sua dimensão, seja associada à educação e aos direitos humanos, contribuindo de fato para uma vida melhor.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Os que mudam o mundo...


Bee Gees - How Deep Is Your Love


Cientistas treinam 'distraídos' a se focar em tarefas


Caroline Williams para a BBC Future
Pessoas que 'viajam demais' podem estar usando parte menos eficiente do cérebro
Você está sempre adiando suas tarefas? Ou não consegue se concentrar direito no que precisa fazer, deixando sua mente andar por ai? A jornalista e autora Caroline Williams tem os mesmos problemas. Ela resolveu visitar um laboratório dedicado a estudar e "curar" esse problema. Abaixo, ela dá o seu relato da experiência:

"Estou no Boston Attention and Learning Lab - um laboratório americano que tenta treinar e educar o cérebro a se concentrar melhor.

As técnicas desenvolvidas aqui ajudam pessoas com sofrimento muito maior do que o meu. Algumas não conseguem se concentrar por terem danos cerebrais, doenças ligadas a traumas (transtorno de estresse pós-traumático, ou TEPT) ou deficit de atenção (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, ou TDAH).

Eu queria saber se uma pessoa como eu, sem essas condições extremas, também pode se beneficiar de novas técnicas.

O neurocirurgião Joe DeGutis, que trabalha no laboratório, se mostrou cético com a proposta.

"É difícil melhorar o funcionamento já 'normal' para algo acima da média ou de nível superior, apesar de algumas empresas de treinamento de cérebros tentarem vender isso."
Caroline Williams convenceu cientistas de que tinha um problema crônico de concentração
Mas depois de alguns testes online de concentração, consegui convencê-lo de que sou péssima em focar minha atenção.

Na minha família, sou até famosa pela falta de concentração. Sempre que surge alguma tarefa que foi abandonada na metade, sem conclusão, meus familiares dizem que ela parece uma "Tarefa Caroline". Meus amigos dizem que tenho um "cérebro borboleta", já que ele está sempre voando por aí.

Esperança

Mas existe esperança para pessoas que, como eu, costumam interromper o que estão fazendo para olhar seu Facebook, sonhar acordada ou ir tomar um cafezinho no meio do trabalho. Estudos nos Estados Unidos indicam que esse é o quadro de 80% dos estudantes e 25% dos adultos. Com o surgimento de novas distrações, como smartphones, o cenário só piora.

E com prejuízo à saúde mental - com mais doenças, estresse e conflitos em relações. Um estudo de 2010 dos psicólogos Matthew Killingsworth e Daniel Gilbert, de Harvard, mostrou que as pessoas que deixam seu cérebro "voar longe" são menos felizes do que as que se concentram em suas tarefas.

Para o psicólogo Tim Pychyl, procrastinação é um problema emocional. Diante do estresse, as pessoas resolvem se dar "um pequeno presente" instantâneo, mesmo que isso venha nos prejudicar no futuro.

Áreas do cérebro

A mudança está toda no cérebro. Os pesquisadores do Boston Attention and Learning Lab trabalham para melhorar as ligações entre duas regiões do cérebro: o córtex pré-frontal (acima dos olhos, que nos ajuda a tomar decisões) e o córtex parietal (atrás dos ouvidos, e que coordena nossas sensações).

Juntos, eles formam a rede de atenção dorsal, que é a parte do cérebro que trabalha quando estamos concentrados em uma tarefa. Para que ela opere bem, é preciso "desligar" outra parte do cérebro conhecida como "rede de modo default" - responsável pela criatividade, pelo ócio ou por "viajar" com a cabeça.

Testes mostram que as pessoas com problema de concentração estão usando a parte esquerda do cérebro - que é a menos eficiente para esse tipo de tarefa.

Os cientistas queriam descobrir quais das duas hipóteses explicavam minha falta de atenção: estou usando demais a parte errada do cérebro para me concentrar em uma tarefa? Ou não estou conseguindo desligar minha "rede de modo default"?

Foco, foco, foco

Sou submetida a testes de atenção contínua - para ver o quão "ligada" eu consigo ficar em meio a tarefas tediosas e repetitivas.
Teste "Não Toque na Betty" exibia rostos diferentes em uma tela
O primeiro teste se chama "Não Toque na Betty". A tarefa é aparentemente fácil. Por 12 minutos, vários rostos de homens surgem em uma tela. A cada face masculina, eu devo apertar um botão. Mas quando o único rosto feminino (o de Betty) surge, não posso apertar.

Apesar de parecer fácil, descubro que minha margem de erro é de 51% - muito pior do que a média de voluntários "saudáveis" (20%). O pior resultado que eles haviam registrado nesse teste era de 40%.

Os testes mostram que a tarefa dos cientistas será dura: melhorar minha concentração em apenas quatro dias - que foi o tempo livre que nós tivemos para nos dedicar a essa experiência.

A primeira experiência é usar um pulso magnético fraco para tentar "desacelerar" o meu "campo de olho frontal" - uma região na parte esquerda do cérebro. Com isso, a parte direita - responsável pela concentração - trabalharia mais.

A sensação não é das piores pelos primeiros cinco minutos. Mas depois, sinto como se alguma coisa estivesse estalando dentro do meu cérebro. Cinco minutos depois e a sensação é muito irritante.
Técnicas demoraram para dar resultado, mas no último dia Caroline melhorou
Passado isso, eu repito testes semelhantes ao "Não Toque na Betty". Mas meus resultados pioram. No terceiro dia de testes, eu sigo sem apresentar nenhuma melhora - o que gera frustração em mim e nos cientistas.

Mas de repente, no final do terceiro dia, meu índice de acertos começa a saltar. No mesmo dia, eu passo de uma margem de 11 a 30% de acertos para algo como 50 a 70%.

Eu começo a perceber que estava errando vários resultados porque estava pensando em como escreveria este artigo, ou como estaria meu filho sem mim, já que estou viajando. Ou se eu deveria tomar cerveja ou vinho no fim do dia.

Controlando as 'viagens' da mente

Para o neurocirurgião DeGutis, isso é um grande avanço. Estar ciente do que você está pensando é conhecido na psicologia como "metaconsciência" - e é uma ferramenta útil para quem está tentando controlar uma cabeça que "viaja longe".

"Todos que passam pelo treinamento descobrem que estão em um estágio em que ficam um pouco mais metaconscientes.

Eles estão cumprindo suas tarefas e conseguem perceber que estão pensando em outras coisas", diz o neurocirurgião.
Partes diferentes do cérebro controlam a concentração e a criatividade
Sara Lazar, neurocientista em Harvard, descobriu algo semelhante em seus estudos. Ela identificou outra parte do córtex que facilita que a mente "viaje". É o córtex cingulado posterior. Quanto maior o controle que exercemos sobre essa parte do cérebro, mais nós nos concentramos.

Eu certamente senti algo assim em meu cérebro quando trabalhava na concentração.

No último dia, eu fiquei ansiosa para saber os resultados dos meus últimos testes. Os cientistas fizeram questão de dizer que os resultados não eram totalmente científicos, e que eles não me incluiriam em seus estudos e artigos.

Mesmo assim, eles dizem que o "treinamento" para melhorar minha concentração funcionou em alguma medida. Meu índice de erro no teste "Não Toque na Betty" baixou de 51% (a pior nota entre todos os "saudáveis") para 9,6% - um índice considerado entre os melhores. DeGutis diz que a melhora é real - e não apenas dada à minha familiaridade maior com o jogo.
Meta-consciência é estar ciente do que está sendo pensado
Outro teste que revela quanto tempo demora para meu cérebro voltar a focar em uma tarefa depois de ser distraído com outra coisa também teve resultado positivo: um escore de 46% subiu para 87% (em uma escala onde 0 é a pior taxa de concentração e 100% a melhor).

De fato, depois dos quatro dias no laboratório, eu me sentia mais calma e focada. Será que realmente consegui mudar meu cérebro em apenas quatro dias?

"Não estruturalmente, mas sim funcionalmente - na forma como você se engaja com seu cérebro. Alguma coisa mudou", diz o cientista."

terça-feira, 28 de outubro de 2014

A insatisfação...


Robin Gibb - More Than a Woman


'Made in USA' está de volta: fábricas pretendem retornar aos EUA

1 em cada 2 fábricas dos EUA no exterior projeta retornar produção no país. 
País compete com China e México para abastecer o mercado doméstico.




Da France Presse

Uma em cada duas empresas americanas com fábricas no exterior projeta retornar a produção aosEstados Unidos, que agora competem com China e México para abrigar unidades de produção para abastecer o mercado doméstico, afirma uma pesquisa.
O estudo do Boston Consulting Group (BCG) aponta que 54% dos entrevistados planejam voltar a produzir diretamente nos Estados Unidos. Quase 25% afirmaram que já iniciaram o processo de retorno.
"O percentual de empresas que retomarão as atividades produtivas nos Estados Unidos está crescendo", destaca o estudo.
Mão de obra qualificada, maior controle da qualidade, redução da rede de fornecedores, um clima de negócios mais propício e a necessidade de aproximação dos clientes são algumas razões citadas para o ressurgimento do "Made in USA", segundo o BCG.
O território dos Estados Unidos voltou a ser o destino mais desejado (27%) para fábricas de produção voltadas aos consumidores americanos, superando China (23%) e México (24%).
A tendência deve aumentar, pois o estudo calcula que nos próximos cinco anos 47% da produção para os Estados Unidos acontecerá diretamente no território americano. A China receberá 11% da produção, seguida por Europa Ocidental (8%) e México (7%).

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Ouça!


Bee Gees - Guilty



Celebridades e multas são 'armas' da Califórnia contra desperdício de água

Estado dos EUA enfrenta terceiro ano de seca e tem abastecimento afetado.


Lady Gaga e Conan O'Brien gravaram vídeos para conscientizar população.


Eduardo Carvalho, do G1

Montagem compara a região da Ponte Enterprise, que cruza o Lago Oroville, na Califórnia. A primeira foto é de 20 de julho de 2011. A segunda, de 19 de agosto de 2014. Terceiro ano consecutivo de seca obrigou o estado a tomar medidas drásticas para economizar água  (Foto: Justin Sullivan/Getty Images North America/AFP)Montagem compara a região da Ponte Enterprise, que cruza o Lago Oroville, na Califórnia. A primeira foto é de 20 de julho de 2011. A segunda, de 19 de agosto de 2014. Terceiro ano consecutivo de seca obrigou o estado a tomar medidas drásticas para economizar água (Foto: Justin Sullivan/Getty Images North America/AFP)

A exemplo de São Paulo, o mais populoso estado americano, a Califórnia, também enfrenta um longo período de estiagem que ameaça o abastecimento de água da população.
Há 3 anos, o estado tenta evitar os efeitos do pior período de seca da história, obrigando o governo local a tomar medidas drásticas para conservar recursos hídricos e reduzir o desperdício, em uma campanha que inclui a aplicação de multas diárias a quem cometer ilegalidades relacionadas ao uso de água e a participação de celebridades como Lady Gaga, pedindo economia.
Com 37,6 milhões de habitantes, a Califórnia vem registrando queda nos níveis de chuva e, consequentemente, a redução dos níveis de seus rios e reservatórios. De acordo com o Centro Nacional de Mitigação à Seca dos Estados Unidos, 81% do território enfrenta estiagem extrema e 58,4% do estado vive dias de seca excepcional – classificação mais grave, segundo o órgão americano.
Assim, o governador local, o democrata Edmund Jerry Brown, que concorre à reeleição ainda este ano, declarou em janeiro situação de emergência e pediu à população que reduzisse em 20% o consumo de água, no intuito de evitar racionamento.
Em julho, ficou determinado que, por nove meses, quem utilizasse água potável para lavar calçadas e regar gramados ou lavasse carros com mangueira sem controle de vazão, e fosse flagrado, poderia ser multado em US$ 500 por dia e que as agências responsáveis pelo abastecimento em condados e cidades tinham que apresentar planos de segurança hídrica. Quem não cumprisse a ordem estaria sujeito a multa de US$ 10 mil diários.
Mapa do estado da Califórnia com cores que apontam a gravidade da seca. O vermelho mais forte indica seca extrema em 81% do território (Foto: Reprodução/Centro Nacional de Mitigação à Seca dos Estados Unidos)Mapa do estado da Califórnia com cores que apontam a
gravidade da seca. O vermelho indica áreas que sentem a
estiagem de maneira mais intensa
(Foto: Reprodução/Centro Nacional de Mitigação
à Seca dos Estados Unidos)
Descontos e apelo de celebridades
Outra campanha desenvolvida concede desconto na conta de água de quem retirar voluntariamente o gramado de suas casas durante a seca, a fim de evitar o uso de água para regar a grama e outras plantas. Segundo o governo, até agosto já foram pagos US$ 42,9 milhões em descontos a quem aderiu à medida.
Foram criados ainda dois portais na internet, um que atualiza a população sobre o estágio da seca e outro que conscientiza os usuários sobre a necessidade de economizar água, além de dar dicas de redução do desperdício.
O “saveourwater.com” (salve nossa água, na tradução do inglês) apela para vídeos com artistas, como o apresentador Conan O’Brien e os cantores Lady Gaga e Sammy Hagar, ex-integrante da banda Van Halen.

Segundo o governo da Califórnia, desde que as medidas foram implementadas, 11,5% das moradias e fábricas instaladas no estado aderiram à economia de água. Em julho passado, o índice era de 7,5%. Em algumas áreas, como na região do Rio Sacramento, a população conseguiu economizar 22,6% em relação ao volume gasto em períodos de não escassez.
Mesmo assim, 10 dos 12 principais reservatórios do estado estão com níveis inferiores a 50% – alguns têm apenas 11% da capacidade de abastecimento – e houve 59 decretos de emergência requisitados por cidades, como a turística Santa Barbara, e condados.
Max Gomberg, Conselheiro para Mudanças Climáticas e Recursos Hídricos da Califórnia, disse aoG1 que a seca já desempregou 17 mil pessoas no setor agrícola, impactou na biodiversidade e deu prejuízo econômico de US$ 2,2 bilhões.
Segundo ele, a população entende a gravidade da crise e as ações para conservação da água desde que o poder público dê o alerta sobre o que está acontecendo. "A imposição de restrições é eficaz se o público entende que é necessária", explica.
Em comunicado divulgado pelo departamento de recursos hídricos do estado norte-americano, Felicia Marcus, presidente do Conselho estadual de água, afirma que muitas comunidades da Califórnia tem respondido seriamente à seca e tornando a conservação da água como prioridade. “O aumento é uma coisa boa. No entanto, enquanto não tivermos chuva, teremos que continuar a economia”, explica Felícia.

sábado, 25 de outubro de 2014

A esquizofrenia populista

A campanha eleitoral do Brasil exibe uma dualidade que é constitutiva do populismo em toda a América Latina



Por CARLOS PAGNI, no El País

Se perguntassem aos brasileiros como foram para eles os Governos do Partido dos Trabalhadores (PT) da porta de suas casas para dentro, Dilma Rousseff ganharia com folga as eleições do próximo domingo. Mas, se forem consultados por suas vidas da porta de suas casas para fora, o vitorioso seria Aécio Neves, o candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Não é um fenômeno local. A campanha eleitoral do Brasil exibe uma dualidade que é constitutiva do populismo em toda a América Latina.
Na última década o país foi testemunha de uma grande mobilidade social. Saíram da pobreza 35 milhões de pessoas. São a denominadanova classe média brasileira, ou classe C. Essa população protagonizou um boom de consumo. Em 2013 as vendas desmartphones cresceram 118%. E 35% dos usuários são da classe C. A venda de carros passou de 1.300.000 em 2005 para 2.400.000 em 2013. E 48% corresponde à nova classe média. Entre 2002 e 2012 esse setor gastou 277% a mais em turismo e 150% a mais em roupas. Em 2013 destinou a eletrônicos 122% mais dinheiro que em 2010.
A propaganda do PT se dirige a esse Brasil. Nos anúncios apareceLuiz Inácio Lula da Silva recordando um país no qual, para os pobres, não era costume construir casas, ter carros zero quilômetro, viajar de avião ou ir a um restaurante. Dilma repete o monólogo, enumerando subsídios para reformas de casas ou aquisição de eletrodomésticos.
Em seu afã por sacralizar o presente, o populismo se desliga do futuro. Nessa prioridade está a semente de sua decadência
Esse ciclo de consumo encontrou um limite na deterioração da vida pública. Em meados do ano passado o desajuste se expressou nos protestos nas grandes cidades do país. A população saiu à rua para se queixar porque os hospitais, ônibus ou escolas não eram “padrão FIFA”, como os estádios que estavam sendo construídos.
Essas mobilizações, inauguradas em São Paulo após o aumento no preço do transporte, evidenciaram as penúrias que se tem de enfrentar quando se transpõe a porta de casa. Apesar dos progressos registrados na segurança de cidades como o Rio de Janeiro, a taxa de homicídios de 2012 foi de 21 a cada 100.000 habitantes. É verdade que na Venezuela foi de 37. Mas no Chile foi de 2.
Das estradas brasileiras, somente 12% estão asfaltadas. O Tribunal de Contas avaliou em 2013 que 81% dos 116 hospitais mais requisitados estão em más condições.
Aécio ataca Dilma nesses flancos. Em seus anúncios ele a critica por ter feito somente 12% das obras de infraestrutura prometidas; ter provocado 181 apagões desde 2011; ter endividado a Petrobras para subsidiar o combustível; e não ter construído um porto sequer.
As mobilizações, iniciadas em São Paulo após o aumento no preço do transporte, evidenciaram as penúrias que se tem de enfrentar quando se transpõe a porta de casa
Um artigo do jornal O Globo com base em estatísticas oficiais desnuda essas duas caras do Brasil: 50% das famílias que sobrevivem nas favelas pertencem à nova classe média.
A contradição sobre a qual se organiza o debate é intrínseca ao modelo. No Brasil aparece atenuada uma deformação que na Argentina e na Venezuela é caricatural. Em seu afã por sacralizar o presente, o populismo se desliga do futuro. Premia o consumo, não a poupança. O gasto, em vez do investimento. E se empenha mais em ampliar subsídios do que em criar trabalho genuíno. Nessas prioridades estão as sementes de sua decadência.
Por causa da defasagem cambial e do déficit de infraestrutura, aeconomia brasileira perdeu competitividade. Este ano não deve crescer. Mas a inflação estará em 6%, um ponto e meio acima da meta oficial. Como o crédito foi decisivo na criação da nova classe C, a desaceleração surpreende os brasileiros com um nível de dívida preocupante. Segundo a consultoria Serasa, 60 milhões de consumidores estão com dívidas. Lula atemoriza os eleitores dizendo que, se Aécio for eleito, perderão o que adquiriram. Mas isso também poderá acontecer com uma vitória de Dilma. A fragilidade é macroeconômica.
A esquizofrenia do bem-estar doméstico e da inquietação pública não é paradoxal. Está na essência do projeto populista. O Governo de Dilma, em menor medida que o de Cristina Kirchner (Argentina) e Nicolás Maduro (Venezuela), menospreza a iniciativa privada, distorce os preços com subvenções e exalta a distribuição da riqueza muito mais do que a sua criação. Esse estilo afugenta a corrente de investimentos que as obras públicas ou a exploração energética requerem.
Maduro dá tablets de presente, mas conectar-se à Internet na Venezuela leva mais de 15 minutos. Cristina Kirchner multiplicou os celulares, mas como não se preocupou com a interconexão, os argentinos já não conseguem comunicar-se pelo celular. De vez em quando a antítese adquire um signo trágico. Em abril do ano passado, a falta de obras hidráulicas produziu uma inundação em La Plata, a capital da província de Buenos Aires. Houve 89 mortes. A televisão mostrava as telas de plasma que saíam, flutuando, das casas mais humildes.