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Japoneses em hora de almoço: tradição no país é só fechar expediente quando chefe vai embora |
Num país onde
muitos se negam a tirar férias e casos de morte no ambiente laboral não são
raros, governo pretende limitar horas extras. Mas cresce o temor de que
escassez de mão de obra possa abalar economia.
O Japão planeja um
novo limite anual de 720 horas de trabalho, algo inicialmente aplaudido num
país conhecido pelas extensas cargas laborais. Mas críticos estão apontando
para uma série de problemas que a legislação pode causar.
O primeiro deles é
que os trabalhadores perderão por ano cerca de 8,5 trilhões de ienes de
rendimentos extras – e, no Japão, os salários em grande parte estão estagnados
há uma década, muitos trabalhadores dependem de horas extras para completar o
orçamento.
O outro resultado
não desejado atingirá o lado oposto da equação do emprego – os empregadores,
que inevitavelmente vão se deparar com uma escassez drástica de pessoal.
As empresas no
Japão já estão lutando contra a falta de mão de obra, um problema provocado por
uma população em rápido envelhecimento e famílias com menos filhos. Os casais
não estão tendo filhos porque se casam mais tarde e devido aos custos.
"Momento
infeliz"
O momento da
mudança nos regulamentos sobre horas extras também é infeliz por a economia do
Japão mostrar sinais de reaquecimento. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 4%
em um ano, segundo dados do último trimestre – a taxa mais impressionante entre
os países do G7. Os maiores ganhos foram no consumo público e nos gastos de
negócios. Se esse tipo de crescimento se sustentar, a demanda por empregados
vai subir ainda mais.
"O desemprego
está em um dos níveis baixos em décadas", diz Richard King,
diretor-gerente da filial da empresa britânica de recrutamento Michael Page,
lembrando que a taxa atual é de 1,48 vagas para cada candidato.
E a situação só vai
piorar. As empresas japonesas estão buscando se expandir, e o país vem se
tornando ainda mais atraente como destino turístico, com a aproximação da Copa
do Mundo de Rugby e dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
"As
multinacionais estão enfrentando uma falta crônica de profissionais bilíngues
de qualidade média de quase todos os tipos de trabalhos especializados, e
muitas empresas japonesas também enfrentam dificuldades para segurar
profissionais de qualidade em meio de carreira", diz King. "Esta
escassez está sendo experimentada na maioria dos setores industriais. Ademanda
em organizações relacionadas à tecnologia é extraordinariamente alta."
Além dos problemas
demográficos, os locais de trabalho do Japão também são prejudicados pela
ineficiência e hierarquias rígidas, que encorajam atitudes enraizadas.
Um estudo do Japan
Institute for Labor Policy and Training descobriu que 60% dos trabalhadores se
recusaram a tirar as férias previstas em 2016, alegando que isso
"incomodaria seus colegas". Outros 53% disseram que não tinham chance
de tirar folgas devido à sua pesada carga de trabalho.
De acordo com a
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a média
japonesa foi de 1.713 horas de trabalho em 2016, superior à média de 1.363
horas na Alemanha, 1.472 horas na França e 1.676 horas no Reino Unido.
Morte por excesso
de trabalho
Mas este número não
leva em conta as horas extras não remuneradas de trabalho, uma prática aceita
nas corporações japonesas e que provavelmente se tornou mais comum quando a
economia nacional enfraqueceu e os funcionários ficaram com mais medo de
demissão.
Nos 25 anos que se
passaram desde a explosão da bolha econômica no Japão, longas jornadas, horas
extras não remuneradas, férias mais curtas e menos regalias se tornaram norma
nos locais de trabalho no país, com uma jornada de trabalho de 12 horas sendo considerada
algo normal.
Tudo isso deu
origem ao "karoshi", termo para a morte por excesso de trabalho, e
acredita-se que seja um fator significativo para a diminuição da taxa de
natalidade do Japão.
"O Japão
costumava ser uma das nações com uma das maiores produções per capita do mundo,
atingindo o pico na década de 1970, antes de começar a declinar na década de
1980", diz Makoto Watanabe, professor de comunicação e mídia na
Universidade Hokkaido Bunkyo.
"Hoje, o Japão
está em um momento crítico, e as decisões tomadas agora afetarão restaurantes e
lojas, que podem ser obrigados a encurtar suas horas de funcionamento por falta
de pessoal. As empresas japonesas poderão perder a competitividade no mercado
global", prevê.
Deutsche Welle
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