As desigualdades estão se aprofundando na sociedade brasileira por falta
de políticas que garantam acesso a direitos básicos, afirmou o presidente do
Instituto Ethos, Caio Magri.
“Estamos em um momento e fluxo global de concentração de renda e aprofundamento
de desigualdades, com uma sociedade, um Estado que não conseguiu construir
garantias mínimas de bem-estar social”, disse, ao participar de debate
promovido pelo movimento Todos pela Educação e pela Fundação Santillana, em São
Paulo.
“É muito contraditório tudo isso. Reduzimos algumas desigualdades no
Brasil. Ampliamos o acesso aos serviços básicos, como educação, em alguns
momentos, como saúde, Mas a gente continuou com os indicadores muito ruins.
Aprofundamos as desigualdades econômicas de uma maneira absolutamente sem
precedentes”, acrescentou.
Magri relacionou a situação do Brasil a tendências de aumento das
diferenças entre pobres e ricos identificada pelo economista francês Thomas
Piketty na Europa e América do Norte. Entre os problemas que destacou está a
falta de medidas que apoiem os atendidos por programas de transferência de
renda, para superar a pobreza.
“Não temos [medidas]. Várias regiões do Brasil, estrategicamente
necessárias para uma reforma agrária, não conseguiu, nesses quase 15 anos de
Bolsa-Família, estruturar uma diferença de processos e meios de produção”,
disse o presidente do instituto.
Membro do Núcleo de Consciência Negra da Universidade de São Paulo
(USP), Maria José Menezes concordou com a avaliação de Magri. Apesar de acreditar
na importância dos movimentos da sociedade civil, Maria defendeu que certos
graus de mudança só podem ser promovidos pelo Estado.
“A sociedade civil contribui, mas, em um país com mais de 5 mil
municípios, uma instituição não consegue, de forma equânime, fazer com que as
intervenções das organizações da sociedade civil sejam de fato importantes em
todo o território”, ressaltou.
A professora de Ciência Política da USP Marta Arretche, por outro lado,
disse que a expansão do ensino básico é uma conquista importante para reduzir
as desigualdades sociais e raciais no país.
“Não é trivial ter ocorrido massificação. E a nossa esperança é que o
processo de massificação se estenda para outras áreas e níveis escolares.
Tivemos massificação no ensino fundamental. E esta massificação, ou o que
chamamos de universalização, reduziu substancialmente as desigualdades de
acesso entre brancos e não brancos”, disse.
Por Daniel Mello, da Agência Brasil
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