quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Planejar para quê?



Os céticos costumam afirmar que fosse o planejamento algo sério e consequente teria evitado a débâcle do império soviético, haja vista que lá se originou, de forma efetiva, o planejamento de Estado.

Já os entusiastas adeptos desse ordenamento afirmam que não fosse o planejamento os países da cortina de ferro – carcomidos por dentro pela nomenclatura soviética – teriam desmoronados há muito mais tempo.

O certo é que as posições extremadas quase sempre não resistem a uma análise crítica mais estruturada. Por isso é preciso manter sobre tudo certo distanciamento, um distanciamento que nos mantenha vinculados aos marcos da razão, do raciocínio lógico. Nem tanto o céu, nem tanto a terra. O que podemos asseverar com rigor científico é que o planejamento é um sistema aberto; um sistema convém repetir, nada mais, nada menos.

Jamais será uma panaceia a quem se atribuirá o poder divino de resolver todos os males da terra, de dar solução a todos os problemas dos indivíduos e das instituições. Como também não será jamais a desdita, a perfídia, o traidor das causas nobres e das esperanças alheias, o instrumento que se mostrou baldado, ineficaz.

Condenar ou absolvê-lo será, quando menos, figura de retórica, trocadilho de intenções subalternas. Como todos os demais instrumentos da racionalidade humana, o planejamento será um bem ou um mal dependendo do uso que dele fizermos.

Se o contexto encerrar um eficaz conjunto de procedimentos metodológicos, se o manejo das técnicas e princípios forem criteriosamente monitorados, e se os atores passarem por um rigoroso processo de capacitação para lidar com a ferramenta - extraindo dela tudo o que oportuniza - então estarão criadas as condições necessárias para um desfecho satisfatório. Mas, se necessárias, jamais teremos à mão as condições suficientes. Explica-se: em qualquer processo ou atividade em que nos lancemos sempre estaremos sujeitos às variáveis que jamais serão conformadas no todo, as variáveis da incerteza, uma fragilidade inerente à essência e ao âmago da espécie humana. Como ensinavam, pacientemente, nossos avós, “errar é humano”.

Todavia, a construção de um cenário em que o planejamento sustentável, estruturado, esteja presente nos deixam menos vulneráveis aos erros e imperfeições, menos sujeitos às contingências da improvisação e, por consequência, com maior proximidade dos êxitos e acertos.

Quando estivermos desenhando nossos planos de ação, especificando as atividades a serem desenvolvidas, determinando a maneira mais correta de alocar recursos, e disponibilizando os meios e instrumentos adequados para construir o futuro desejável, estaremos lidando com o planejamento, estaremos planejando.

Como é da natureza humana e da essência do ambiente as rápidas e contínuas transformações, é de todo fundamental conduzir este vital movimento por caminhos mais produtivos, mantendo-nos ao largo do princípio da mão invisível e emprestando ao processo toda a racionalidade lógica e econômica, como também as racionalidades social, legal e política.


O planejamento é um sistema aberto, que alimenta e é suprido, partes interdependentes que, ajustadas convenientemente, conduzem as transformações sociais na direção e no sentido desejados. É quando se descortina a possibilidade do futuro ser diferente e melhor que o presente - como resultado da ação de variáveis causais específicas. É quando nos deparamos com o fato de que se não podemos tudo, pelo menos podemos exercer um controle parcial sobre o conjunto de variáveis que determinam as mudanças.

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