terça-feira, 9 de setembro de 2014

É muito? Não, meu caro, é apenas o mínimo.



Um antigo ditado latino ensina que o tempo é o senhor da razão; o tempo... a quarta-dimensão capaz de dar cura a todos os males: mala omnia tempore finiunt.

É verdade.

O tempo é uma dimensão que desconhece a efemeridade humana. Sempre esteve aí e sempre estará. E como não há mal que resista à eternidade, está explicada a razão de, às vezes, a cura tardar, mas inexoravelmente se apresentar, mais dias, menos dias; mais séculos, menos séculos; mais milênios, menos milênios,... “O tempo cura o queijo, meu caro mancebo”, sussurrariam nossos avós.

Superando Galileu e Newton, Einstein com sua teoria da relatividade demonstrou que tempo e espaço não estão separados. E provou também que nem mesmo o tempo é absoluto.

Discutir a relação existente entre a cura dos males e o tempo tem sido a sina de muitos brasileiros. É que o Brasil já foi mais rico que os Estados Unidos, mas ficou para trás, lá atrás, bem lá atrás, em algum lugar longínquo do passado. A república tupiniquim rompeu os 500 anos atolada num lodaçal e patina, movendo-se milimetricamente em direção à sustentabilidade. Mas velozmente em direção à insignificância.

Dando asas ao pensamento poderíamos exclamar: como o tempo nos tem sido indiferente. E ‘indiferente’, aqui, tem um significado antagônico ao do ‘amor. Peçamos arrego: o tempo tem nos tratado com repulsa e ódio. Vejam se não é assim: em apenas 40 anos Coréia e Cingapura emergiram do terceiro para o primeiro mundo, enquanto Pindorama... Pindorama continua mergulhada em seu pântano sombrio.

Os países que lá chegaram, que conseguiram lidar de forma inteligente com o tempo, ensinam diuturnamente que investir em educação é o caminho mais rápido, justo e seguro para chegar ao mundo desenvolvido. Investiram de forma massiva e determinada em educação e sustentabilidade econômica, por isso chegaram à outra margem.

O subdesenvolvimento e o atraso geram problemas e muitos males. Romper o tempo, atravessá-lo como um bólido, fincar raízes no rol dos países desenvolvidos significa virar uma página que para nós, tem se mostrado horrenda, vergonhosa. Exatamente a página onde estão inscritos a fome e a miséria, o analfabetismo e a exclusão, a burocracia e a corrupção, o clientelismo e a politiquice – viés partidário e carreirista onde a arte da política se apresenta como sinonímia de patifaria e vigarice.

Como o Brasil não faz o dever de casa assume características de um imã eletromagnético, um corpo que atrai poderosas energias negativas, descomunais forças deletérias. Então se intenta o próprio círculo vicioso, o rolo compressor que arrasta tudo e todos em direção ao precipício, ao despenhadeiro da terra arrasada onde nada germina.

Quando a terra não é irrigada e quando ao bem não se empresta guarida, é o mal que comemora. O descaso com que o país trata a educação implica no fortalecimento de vetores que aprofundam as desigualdades e as injustiças. Basta verificar a relação dos brasileiros com o Congresso Nacional, sobretudo após os episódios das quadrilhas como a do orçamento e a do mensalão.

O caldo cultural resultante do descaso para com a educação engendra uma mega-burocracia que torna o Brasil porto seguro para a mais avassaladora corrupção. Que já atravessou fronteiras tornando o país ilha idílica, retiro, paraíso onírico para os maiores traficantes internacionais de cocaína.

As prisões dos colombianos Juan Carlos Ramírez Abadía, Gustavo Durán Bautista, e a de Pablo Rayo Montano – ocorridas há poucos anos atrás - mostram apenas a ponta de um ignóbil iceberg. São os especialistas da Polícia Federal, os juízes e os procuradores federais que identificam o motivo pelos quais os mega-traficantes adotam o Brasil como pátria-mãe-generosa: a corrupção.

Máfia dos gafanhotos, do INSS, das sanguessugas, dos correios, o valerioduto e o mensalão, as obras superfaturadas,... a cada dia uma nova quadrilha toma conta dos noticiários, e casos como o da compra de parlamentares apenas evidenciam que a corrupção enraizou, fixando-se em todos os meandros do estado nacional.

A corrupção abre as portas para a lavagem de dinheiro em grande escala, estimula o suborno de policiais, autoridades e parlamentares, irriga o processo de cooptação de laranjas e faz vista grossa às aquisições de bens valiosos com dinheiro vivo.

Banalizou-se de tal forma que até cueca virou embalagem para dinheiro sujo.

E por que tudo isto ocorre? Porque a população – privada dos meios que só a educação proporciona – não tem como interpretar a realidade que mal vislumbra, e como não consegue criticar, interpretar e refletir, se mobiliza tão somente para ser tangida qual boi no pasto.

Não podemos aceitar que, em pleno século XXI, continuemos a experimentar a vida amargada pelos vassalos da idade média. Façamos como a Coréia e Cingapura. Resgatemos a educação brasileira. A frase é curta, mas o significado largo: traduz-se em tomar as rédeas do nosso destino, recuperar nossas próprias vidas, reinventar nossas esperanças, acreditar e construir um futuro digno, melhor e radiante para os que herdarão nossos sonhos.

É muito? Não, não é. È apenas o mínimo.

Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.