quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Governança: os Valores Corporativos


Valor é um vocábulo com repercussão em praticamente todos os ramos do conhecimento.

Nas ciências exatas, lá está o termo - em matemática – determinando uma incógnita na expressão algébrica ou representando o estado de uma variável.

No direito pode representar a qualidade que tem o ato jurídico de produzir determinado efeito.

Na psicologia juízo de valor pode ser definido como uma apreciação subjetiva segundo tendências e influências sociais.

E em filosofia pode expressar os julgamentos não diretamente originados na experiência, ou da elaboração pessoal, em oposição aos julgamentos da realidade, intrínsecos ao conhecimento objetivo ou da ciência.

Mas é na economia que valor encontra seu significado mais conhecido, descrito nos glossários da língua portuguesa como:

1. o preço atribuído a uma coisa; estimação, valia;
2. relação entre a coisa apreciável e a moeda corrente no país, em determinada época, em determinado lugar;

Valor provém do verbo latino valere e até a vigência do português arcaico manteve seu sentido original passar bem, ser forte, válido, corajoso.

Sua utilização científica começou quando Adam Smith, assumindo a paternidade da economia moderna, estabeleceu a diferenciação entre valor de uso ( value in use) e valor de troca (value in exchange).

"Assim, o mercador ou comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse egoísta (self-interest), é levado por uma mão invisível a promover algo que nunca fez parte do interesse dele: o bem-estar da sociedade."
Sempre intrigou o economista e filósofo escocês as disparidades observadas entre esses dois valores. Enquanto o ar e a água, por exemplo, têm inestimável valor de uso e diminuto valor de troca; o diamante tem um diminuto valor de uso e um enorme valor de troca. Esta equação, porém, que mesmo Adam Smith não conseguiu resolver, só seria entendida mais tarde, com a teoria da utilidade marginal.

Karl Marx considerava que o valor se traduzia em trabalho acumulado: um bem vale o trabalho que custou para ser produzido. O tempo mostrou que nem sempre é assim. Uma importante inovação, de fundamental importância para a humanidade, pode se originar do acaso, custando pouco ou nenhum trabalho. Sir Alexander Fleming que o diga, pois que descobriu a penicilina acidentalmente, por mero acaso.

Mas foi graças ao filósofo alemão Neitzsche que o termo valor passou a se confundir com “bem”.

E é neste sentido que a definição mais se aproxima dos objetivos focados no planejamento.

Sob o ponto de vista do planejamento, valores são aquelas idéias fundamentais, estruturais, que compõem o alicerce de uma organização. Dessa forma, tudo o que diz respeito às convicções dominantes, às crenças básicas, ao imaginário que a maioria das pessoas da instituição acredita e defende, pode conformar o que pretendemos como valores de uma organização.

Por isto, os valores atuam como a grande força motriz. Algo como a grande alavanca a que se referia o matemático, físico e inventor grego Arquimedes, quando sabiamente ensinou: “dêem-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo”.

Os valores motivam, estimulam e direcionam as ações e atividades dos que compõem a organização, atuando como elementos catalisadores, assegurando unidade e coerência nos projetos e trabalhos.

Ao mesmo tempo, estabelecem uma zona claramente definida, um território plenamente demarcado, cujos limites são por todos conhecidos. De modo que o permitido e o não permitido, o certo e o errado, o aceito e o refugado, o bem e o mal não estão sujeitos a interpretações subjetivas. São sim referências por todos – verdadeira e entusiasticamente - assumidas. A busca da excelência está, portanto, condicionada à observância de um padrão de comportamento que permeia toda a equipe.

Quando estamos planejando a organização, devemos cuidar para que os valores estejam ancorados em algumas convicções fundamentais para o sucesso do empreendimento:

• num ambiente inóspito, onde a competitividade é gigantesca, é necessário cultuar os conceitos de Vitória, e de galgar a posição de Melhor, Superior, Primeiríssima;
• outro conceito por demais relevante é o que diz respeito à importância das pessoas, da equipe, da valorização do patrimônio humano;
• não podemos deixar de estabelecer um vínculo indissolúvel entre qualidade e o que produzimos (+ o que produziremos), sejam produtos ou resultados;
• aspectos que devem ser observados com especial atenção: criatividade, espírito inovador e determinação de solucionar problemas;
responsabilidade social.

Definidos os valores, eles passarão a acompanhar a rotina diária, vida diuturna das pessoas e da organização. Estarão balizando a caminhada em direção à conquista dos objetivos, da missão e da visão de futuro.

Abaixo selecionei alguns exemplos de instituições cujos valores estão estabelecidos:

• Excelência, consciência ética, transparência, comprometimento social, pluralidade, respeito pelo indivíduo e pela coletividade, integração, igualdade, responsabilidade, democracia, cidadania.

• ABM-ANRO Bank: Integridade, respeito, trabalho em equipe e profissionalismo.
• 3M: Inovação, integridade absoluta, respeito à iniciativa individual e ao crescimento pessoal, tolerância, qualidade e confiabilidade, solucionar problemas.
• ALCOA: Integridade, segurança e saúde, qualidade e excelência, pessoas, responsabilidade.
• Merck: responsabilidade social, excelência em todos os aspectos, inovação baseada na Ciência, honestidade e integridade, lucro a partir do trabalho que beneficia a Humanidade.
• Philip Morris: direito à liberdade de escolha, vencer (derrotar os outros numa boa luta), encorajar iniciativa individual, oportunidade baseada no mérito, trabalho duro e auto-melhoria contínua.
• Sony: elevação da cultura japonesa e do status nacional, ser pioneiro (não seguir os outros; fazer o impossível), encorajar habilidade e criatividade individuais.
• Walt Disney: sem cinismo, promulgação dos valores americanos, criatividade, sonhos e imaginação; atenção fanática à consistência e detalhe; preservação e controle da mágica Disney.
• HP: respeito pelo indivíduo, dedicação à qualidade e confiabilidade, responsabilidade comunitária.

Não à Hipocrisia
O Brasil passa pelo que talvez seja a maior crise moral de sua história. Jamais casos de corrupção e banditismo institucional enxovalharam tanto a nação. Por isto é necessário assegurar que os valores sejam exercidos na prática, não se constituam apenas em ’figuras de presépio’, em efêmeras ‘frases para inglês ver’.

Os que desejam um país mais justo e progressista, os que labutam por uma nação onde as oportunidades sejam democratizadas, devem se indignar, protestar, reagir, confrontar, dizer um retumbante NÂO à hipocrisia, à corrupção e a imoralidade que grassa no setor público & privado.

Não podemos permitir que nossos filhos e netos tenham vergonha da ética, da honestidade e da verdade.

Haveremos de construir a pátria de nossos sonhos, onde o protesto poético de Cleide Canton e Rui Barbosa (que você vê no vídeo abaixo na brilhante interpretação de Rolando Boldrin), seja – em curto espaço de tempo – apenas uma página que viramos. Simplesmente assim: uma página que viramos.

Cleide Canton e Rui Barbosa
 


Antônio Carlos dos Santos – criador da metodologia de Planejamento estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo.