O Ministério de
Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações lançou, em outubro, o Plano
Nacional de Internet das Coisas. O principal objetivo é inserir o país na
revolução econômica e tecnológica da conectividade de dados. Dentre as
melhorias que esse investimento pode promover estão: a gestão integrada de
serviços nas cidades, a visão integral da saúde de pacientes, o aumento de
produtividade no campo e maior cooperação das diversas cadeias produtivas da
indústria.
A Internet das
Coisas (IoT, em inglês) é a interconectividade que permite a coleta e o
compartilhamento de dados, facilitando a comunicação entre empresas, produções
industriais, setores públicos e a sociedade. Dentro das casas, a IoT atua por
meio de sensores, por exemplo, que permitem o ajuste da temperatura ambiente
nos aparelhos de arcondicionado. No varejo, câmeras e sensores podem monitorar
a disposição de produtos em uma prateleira, avisando automaticamente o
fornecedor da necessidade de reposição. Em uma linha de produção, máquinas
podem prever suas próprias falhas, necessidades de manutenção e até sugerir
ajustes no processo de produção.
O plano brasileiro
está em discussão desde 2013, e conta com parceria do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES). Ao longo de sua elaboração, diversos workshops e
reuniões com membros da sociedade civil e empresas foram realizados. O plano
alimenta a expectativa de aumento de produtividade nacional em 8% até 2025, e
um incremento de 50 a 200 bilhões de dólares na economia brasileira, conforme
apontou um estudo da consultoria McKinsey - que previu que o impacto de IoT na
economia global será de 4% a 11% do produto interno bruto do planeta em 2025
(entre 3,9 e 11,1 trilhões de dólares).
Para ampliar a
adoção da Internet das Coisas no país, o plano prevê uma série de iniciativas,
como: definir mecanismos para o estímulo de provedores regionais, com especial
ênfase para oferta de conectividade para o ambiente rural; adaptar linhas de
crédito ao setor público para apoiar Cidades Inteligentes e adoção de soluções
IoT; fomentar a adoção de IoT em pequenas e médias empresas; e apoiar a criação
de fundos garantidores e estruturadores das PPPs, incentivando a adoção de IoT
em cidades. Quatro setores devem ser prioritariamente desenvolvidos a partir
das ações do plano: cidades, saúde, rural e indústria. De acordo com o BNDES um
fundo inicial para a execução do plano já conta com 500 milhões de reais, mas o
orçamento necessário à implementação de todas as medidas previstas deve ser
apresentado até o final do ano.
Desafios
Apesar das
ambições, o Brasil tem baixa Inclusão digital, investe muito pouco na
universalização das telecomunicações e tem cortado investimentos do
desenvolvimento científico. Um relatório recente da Conferência das Nações
Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) sobre economia digital mostrou
que 41% dos brasileiros não estão conectados. O Tribunal de Contas da União
denunciou, em abril deste ano, que, entre 1997 e 2016, apenas 5% dos 85,4
bilhões de reais arrecadados pelos fundos de telecomunicações - um total de
85,4 bilhões de reais - foram investidos nas finalidades previstas. E o próprio
plano de Internet das Coisas aponta que, entre 2013 e 2015, o número de bolsas
para engenheiros e outros profissionais da área de tecnologia caiu de 41.000
para 26.000.
A discussão sobre
os investimentos no setor não são de hoje e, para o presidente da Comissão de
Ciência e Tecnologia e senador Otto Alencar (PSD-BA), a falta de verbas é um
dos grandes problemas para o desenvolvimento das áreas de tecnologia e ciência
no país. 'Definitivamente, os recursos não são suficientes e vêm sendo
contingenciados'. Alencar alerta para o fato de que os fundos criados para o
Ministério têm sido usados como instrumento fiscal, para reduzir o déficit nas
contas públicas. De fato, relatório produzido pelo TCU mostra que 81% dos
recursos dos fundos de telecomunicações foram utilizados pela Secretaria do
Tesouro Nacional. A discussão sobre avanços tecnológicos também parece
desconectada da realidade nacional. Enquanto o Brasil discute da implementação
do 5G (nova geração de rede móvel ou sistema sem fio), junto com países como a
China e a Alemanha, cerca de 117 milhões de brasileiros vivem em domicílios sem
acesso à internet, de acordo com dados de 2015 do IBGE. O próprio plano de
Internet das Coisas ressalta a importância de estruturar o país. Segundo o
relatório, 48% dos empregados brasileiros afirmaram não possuir habilidades
específicas com tecnologias. Além disso, a porcentagem de empregados
especializados ainda é muito baixa: no Brasil, apenas 7% trabalham com
tecnologia, enquanto na Alemanha essa parcela já é de 15%.
Num cenário como
esse, é importante voltar alguns passos e rever aspectos básicos do
desenvolvimento, em vez de achar que a tecnologia é o remédio para os problemas
sociais do país. 'Não podemos trazer soluções para buracos em canos sem antes
pensar na gestão da água', diz Fabro Steibel, diretor executivo do Instituto de
Pesquisa Its Rio e professor do Laboratório de Cidades Criativas da ESPM Rio.
'A iniciativa privada tem uma visão mais determinista, de que a tecnologia vai
solucionar os problemas, porque ela quer vender seu produto. Mas o que falta é
a integração das tecnologias com políticas públicas'. No fim das contas, o
Brasil ainda é um país que discute inovação numa ponta, e lida com ineficiência
na outra.
Por Carolina Pulice, no Portal Exame
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