Nada
a declarar
O
mês de novembro deve nos brindar com mais um exemplo dos usos e costumes que
fazem a imagem dos políticos se assemelhar, esteticamente, ao popular pão que o
Diabo amassou com o rabo.
Michel
Temer prepara uma reforma da Previdência que exigirá mais tempo de serviço e
mais contribuição dos brasileiros. Na linha de frente da defesa da proposta
estarão o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o responsável pela articulação
com o Congresso, Geddel Vieira Lima.
Além
de serem colegas de Esplanada, os dois têm outro ponto em comum: se aposentaram
por meio de um generosíssimo programa que, somado aos contracheques de
ministros, lhes rendem supersalários de mais de R$ 50 mil todo mês.
Coisa
de quase R$ 20 mil acima do maltratado teto do funcionalismo.
Padilha
e Geddel são beneficiários do extinto Instituto de Previdência dos
Congressistas e se amparam em um controverso entendimento do Tribunal de Contas
da União, para o qual oIPC, apesar de ter tido todo seu rombo milionário
absorvido pelos cofres públicos, era uma entidade de previdência privada.
O
TCU é majoritariamente formado por excongressistas e tem também dois ministros
com super salários, José Múcio e Augusto Nardes.
A
situação de Padilha e Geddel foi noticiada em outubro pelo jornal “O Estado de
S. Paulo”. A Folha informou depois que o PSOL questionaria no STF o valor acima
do teto.
Nos
dois casos as palavras escaparam aos falastrões Padilha e Geddel. O primeiro se
limitou a dizer ao “Estado” que tinha 70 anos de idade. À Folha saiu-se com um
“nada a declarar sobre o tema”. Geddel quedou-se mudo nas duas ocasiões.
A
Folha perguntou ainda se eles se sentiam constrangidos ao terem uma situação
pessoal gritantemente diversa da reforma que defendem. Nem um pio. Como nas
clássicas transcrições policiais, nada mais foi dito nem nada mais lhes foi
perguntado. Um silêncio assaz eloqüente.
Por
RANIER BRAGON, na Folha de S. Paulo
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