quarta-feira, 30 de novembro de 2016

'Fator corrupção' vira indicador de risco em empresa


'A companhia não pode assegurar que processos judiciais contra administradores não venham afetar adversamente o valor de mercado das suas Units (ações)' Relatório da Taesa a investidores
A indicação de acusados na Operações Acrônimo e no mensalão tucano para postos de comando corporativo transformou-se em um 'fator de risco' para a Transmissora Aliança de Energia Elétrica (Taesa), uma empresa de porte do setor de transmissão de energia, que tem como principal sócio a Cemig, a estatal do governo de Minas Gerais. Segundo um relatório da própria empresa destinado aos investidores, as indicações para dois cargos da diretoria e dois do Conselho de Administração da Taesa viraram 'fator de risco' para se investir na empresa. Esses quatro respondem a procedimento judiciais, até com condenação, e a empresa não garante que a presença deles não possa interferir no rendimento da companhia.
Um desses administradores, o conselheiro Paulo Moura Ramos, foi alvo de condução coercitiva da Operação Acrônimo, que investiga o governador petista Fernando Pimentel. Outro, o conselheiro José Afonso Bicalho — que também é secretário estadual da Fazenda em Minas —, foi condenado há duas semanas a cinco anos e oito meses de reclusão por gestão temerária do antigo Bemge (Banco do Estado de Minas Gerais), que comandou durante a gestão do governador Eduardo Azeredo, do PSDB, na década de 1990.
REPASSES A EMPRESA DE VALÉRIO
Paulo Moura é presidente da Prodemge, empresa do governo mineiro de tecnologia de informação. Bicalho ainda é alvo do processo do mensalão tucano e acusado de fazer repasses ilegais à empresa de publicidade SMP&B, de Marcos Valério, para financiar a reeleição de Azeredo. Esse caso ainda está em fase de instrução no Tribunal de Justiça de Minas. O diretor de Relações com Investidores da Taesa, Marcus Pereira Aucélio, foi da equipe econômica de Dilma Rousseff e alvo de uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU) por suposta responsabilidade nas 'pedaladas fiscais' que levaram ao impeachment da ex-presidente.
Luciano de Araújo, diretor jurídico da empresa, responde a processo por ter tido seu escritório contratado sem Licitação na prefeitura de Ribeirão das Neves (MG). Ele foi controladorgeral da prefeitura de Belo Horizonte, quando Pimentel foi prefeito na década passada.
Todas essas informações constam de um documento da própria Taesa, em informe a seus investidores de 21 de novembro. A Taesa reconhece que a presença desses profissionais nos seus quadros é um fator de risco e que, por isso, não pode garantir que não terá influência no desempenho da companhia.
'A companhia não pode assegurar que a existência de processos judiciais e administrativos, novos desdobramentos da Operação Acrônimo ou mesmo o início de novos procedimentos judiciais, administrativos ou investigativos contra administradores da companhia não venham impor limitações ou impedimento dos administradores da companhia que sejam parte nessas questões e que essas limitações não possam afetar adversamente a companhia e o valor de mercado das suas Units (ações)'.
O documento, que está disponível no site da Taesa, foi assinado pelo diretor-presidente da empresa, João Procópio Campos, e pelo próprio diretor Marcus Aucélio. No texto, os dirigentes informam que o cenário ali exposto, que trata da empresa como um todo, é o 'retrato verdadeiro, preciso e completo da situação econômico-financeira e dos riscos inerentes às suas atividades'.
O documento trata ainda a instabilidade política do país como um fator adverso à economia do Brasil e também aos negócios da companhia. O informe cita a Operação Lava-Jato como um dos fatores que levam os mercados brasileiros a incertezas.
Em 5 de outubro, o plenário do TCU condenou Aucélio a multa de R$ 30 mil, mas negou o pedido do MP do tribunal de impedi-lo de ocupar cargos públicos por oito anos. O Ministério Público Federal instaurou inquérito civil público e investigação, e o caso ainda está fase de instrução. 'Não há como assegurar que não resulte em processo judicial', informa o documento.
Sobre o futuro de Bicalho, o documento da Taesa afirma que ele recorreu da condenação, mas que, se for mantida a decisão da 4ª Vara Federal de Belo Horizonte, ele estará 'inabilitado para exercer o cargo na administração da companhia'.
O caso dos quatro diretores e conselheiros consta no capítulo do informe com o título: 'Determinados membros da administração da companhia são partes em processos administrativos e judiciais e de investigações em curso relacionadas a atividades fora do escopo da companhia'. Informa ainda serem integrantes que ocuparam cargos nos governos federal e no estado de Minas Gerais.
O GLOBO entrou em contato com a Taesa e solicitou uma manifestação de todos os dirigentes da empresa citados no relatório da companhia, mas não obteve retorno até as 21h. Foi feito contato também com a Secretaria de Fazenda de Minas Gerais, que não respondeu.

Por EVANDRO ÉBOLI, em O Globo
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