segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Tesouro vê déficit de R$ 46 bilhões entre caixa livre e despesa em 2020

 


O Tesouro constatou a possibilidade de encerrar este ano com um uma insuficiência de R$ 46 bilhões entre o caixa de recursos livres (sem vinculações orçamentárias) e suas despesas programadas (incluindo restos a pagar).

 

Isso indica um crescente risco de descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) no futuro. No início do ano, essa estimativa estava positiva em R$ 42 bilhões para o fechamento de 2020. A virada de mais de R$ 80 bilhões aponta uma tendência preocupante, e significa que o governo está consumindo muito rapidamente sua reserva financeira, embora essa regra só poderá configurar uma ilegalidade se for descumprida pelo governo em 2022.

Por conta da piora nesse quadro, o Ministério da Economia alertou em seu último relatório bimestral para a necessidade de se discutir uma maior desvinculação de recursos orçamentários, para cobrir o buraco que começa a aparecer no horizonte. O artigo 42 da LRF proíbe que os poderes e órgãos do setor público assumam nos dois últimos quadrimestres de seus mandatos despesas que não possam ser cumpridas integralmente dentro dele. Nesse cenário, se algo ficar para o ano seguinte, é necessário reservar caixa em volume suficiente para fazer frente a esses restos a pagar.

Essa regra tem sido uma fonte de contenção importante dos ímpetos de prefeitos e governadores em ano eleitoral. No caso da União, que sempre teve um enorme caixa, isso nunca foi problema.

Mas, com essa reserva financeira consumida rapidamente por conta da sucessão de déficits fiscais nos últimos anos, agravada pela pandemia da covid-19, esse elemento é mais uma fonte de preocupação. “O valor divulgado no relatório bimestral relativo ao mês de setembro de 2020 evidencia que, se forem executadas todas as despesas financiadas por essas fontes livres ou eventualmente por outras fontes vinculadas que estejam apresentando frustração de arrecadação, as disponibilidades de caixa das fontes ordinárias ‘livres’, ao final do ano, não serão suficientes em R$ 46,1 bilhões para o pagamento ou para inscrição integral em restos a pagar dessas despesas, se não houver providências para adequação das fontes”, explicou o Tesouro em nota ao Valor .

Por um acerto com o Tribunal de Contas da União (TCU), o órgão precisa apurar essa relação entre seu caixa e as despesas contratadas anualmente, mesmo com a lei falando apenas do último ano de mandato. O Tribunal cobra do governo que evite a chamada “inversão de fontes”, jargão técnico que indica que o caixa de recursos é menor do que os compromissos assumidos em determinadas rubricas do orçamento.

Esse saldo negativo leva o governo a buscar autorização do Congresso para descarimbar recursos de áreas com superávit para bancar as deficitárias. Há uma discussão de técnicos se caberia apurar essa relação entre o caixa e as obrigações por fonte de recursos.

A leitura é que a interpretação mais restritiva adotada pelo Tesouro tem objetivo político de estimular a discussão sobre revisão das vinculações no orçamento federal. É que a lei não explicita qual a forma correta de apuração e, na visão de alguns, bastaria calcular a relação geral entre o caixa total e as obrigações, o que praticamente eliminaria o risco de um resultado negativo.

“Uma coisa é flexibilizar o saldo existente, outra é revogar a vinculação. O Executivo talvez esteja querendo acabar com as vinculações orçamentárias estabelecidas pelo Congresso, o que acho mais complicado... E tenhamos claro que o problema não são as vinculações.

Elas existem em outros países, como nos Estados Unidos”, disse o especialista em contas públicas Leonardo Ribeiro. “O problema é não avaliar o custo e o benefício das vinculações periodicamente por meio de um sistema transparente e objetivo. Boas vinculações devem ser mantidas”, completou o economista. Ribeiro reforça que o artigo 42 é para final de mandato. “Faz muito sentido para eleição que teremos neste ano no nível municipal.

A União está querendo usar como narrativa para defender a agenda de desvinculação do Guedes. Sem dúvida, escolheram mal a base do argumento no aspecto técnico”, acrescentou. Outros especialistas apontam na mesma direção e enxergam uma espécie de “terrorismo fiscal” patrocinado pelo próprio governo para tentar emplacar sua agenda de desvinculação.

O Tesouro, porém, se justifica. “Apesar desse dispositivo mencionar apenas os últimos quadrimestres do mandato presidencial, o princípio da boa gestão fiscal, também preceituado pela LRF, requer que esse acompanhamento e monitoramento sejam permanentes, de forma a evitar desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas”, disse na nota ao Valor .

“Note-se que a metodologia da apuração realizada pelo Tesouro decorre de interpretação da LRF e da necessidade de observar a legislação vigente quanto às vinculações de recursos existentes no arcabouço normativo” acrescentou o órgão, referindo-se a apuração “fonte por fonte”.

O secretário do Tesouro, Bruno Funchal, em recente entrevista ao Valor , comentou que o objetivo de se projetar essa relação entre fontes e despesas é uma boa prática. “O objetivo é que a gente tenha um acompanhamento para que, em 2022, quando tiver os dois quadrimestres anteriores à virada de mandato, que é o período crítico, os restos a pagar não sejam maiores do que as fontes livres. É para não ser surpreendido na hora”, afirmou.

“A apuração em todo ano é questão de boa prática, transparência e de um acompanhamento próximo de algo que é importante, mas mirando em 2022”, disse, defendendo o projeto do deputado Mauro Benevides (PDT-CE) que promove uma ampla desvinculação de recursos de fundos públicos.

Por Fabio Graner, no Valor Econômico


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