quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Militarização tira credibilidade dos dados de monitoramento ambiental, diz ex-diretor do Inpe


Ricardo Galvão foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro depois de defender a integridade dos dados oficiais sobre desmatamento

 

Demitido pelo presidente Jair Bolsonaro depois de defender a integridade dos dados oficiais sobre desmatamento, o ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Ricardo Galvão disse que a credibilidade dos dados de monitoramento ambiental ficará comprometida sob a tutela de um órgão militar, conforme pretende o governo federal.

Ele se refere à proposta do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que propôs a criação de uma agência nacional para centralizar as informações sobre o desmatamento. Essa agência seria gerida pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), instituição militar vinculada ao Ministério da Defesa.

"Ao sugerir que a nova agência seguiria o modelo da agência nacional americana, o governo está claramente indicando a intenção de controlar as atividades de observação da terra sob a ótica das aplicações militares", disse, durante audiência promovida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para debater a gestão do Fundo Clima.

Segundo o cientista, isso terá "implicações bastante negativas na atividade de minimizar desmatamentos e queimadas" na Amazônia. "Reconhecendo seus bons serviços com relação ao sistema de vigilância, o Censipam não tem como missão o monitoramento amplo, nem disponibiliza abertamente seus dados."

"Portanto, em sua proposta, o vice-presidente transmite uma ideia confusa do que é o monitoramento de Amazônia, embaralhando aplicações militares com civis. Um efeito indesejável poderá ser a obstrução ou dificuldade em sua análise por órgãos e agentes públicos e privados, inclusive universidades e programas de pós-graduação", criticou.

Galvão disse, ainda, que o governo quer usar "instrumentos de prateleira, de muito menor qualidade" para monitoramento ambiental. Referiu-se ao sistema Planet de imagens por satélite, desenvolvido por uma empresa norte-americana, cujos proprietários se reuniram com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pelo menos duas vezes no ano passado.

Um contrato de R$ 49 milhões com a Planet, assinado com a Polícia Federal (PF), foi recentemente suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A ministra Ana Arraes entendeu que a tecnologia não trazia inovações em relação ao trabalho já atualmente realizado pelo Inpe.

"É com grande tristeza que vemos a forma como essas instituições são tratadas no atual governo. Em particular, o Inpe voltou a ser fortemente criticado por autoridades governamentais e várias iniciativas estão sendo adotadas para diminuir seu protagonismo no programa espacial brasileiro", disse Galvão.

Por Luísa Martins, no Valor Online 


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