quarta-feira, 17 de maio de 2017

O sistema de alertas só tem sentido se foi criado para ser considerado.


LULA FOI ALERTADO SOBRE SUSPEITAS NA PETROBRAS
Embora tenha afirmado perante o juiz Sérgio Moro que demitiria toda a direção da Petrobras caso alguém o informasse sobre a existência de um esquema de corrupção na estatal, o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu importantes alertas, ainda no exercício do mandato, de práticas suspeitas na companhia, mas não agiu.
No interrogatório da última quarta-feira, na sede da Justiça Federal em Curitiba, questionado pelo procurador Roberson Pozzobon, que perguntou se ele tinha conhecimento de corrupção na Petrobras e de repasse de dinheiro ao PT, Lula respondeu: 'Se, em algum momento, um dos 204 milhões de brasileiros chegasse ao presidente da República e dissesse 'tem um esquema de propina na Petrobras ', seria mandada embora a diretoria inteira da Petrobras'.
Mas houve avisos, inclusive oficiais. Em 2009, quatro obras da petroleira foram incluídas pelo Congresso numa lista de 24 projetos que deveriam ficar fora do Orçamento de 2010, sem verba, por terem sido flagradas com indícios de graves irregularidades em auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU). Em todos os casos, a suspeita era a mesma: preço muito acima do inicialmente orçado.
Mas, no lugar de aceitar a decisão da Comissão Mista de Orçamento do Congresso e determinar investigação na estatal, Lula vetou a inclusão das obras da Petrobras na lista e liberou os recursos. O ex-presidente alegou que a paralisação acarretaria prejuízos e desemprego. As quatro obras liberadas pelo veto de Lula em 2009 foram flagradas posteriormente na Lava Jato. Uma delas é o terminal de gás liquefeito de Barrado Riacho, construído no município de Aracruz. As outras são a Refinaria Abreu e Lima, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e a modernização da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná.
No terminal de Barra do Riacho, o TCU classificou a gestão da obra como temerária. Além de sobrepreços, a Corte apontou que os projetos básicos de várias obras da Petrobras, como a do terminal portuário, eram deficientes, e os editais de licitação restringiam a competitividade entre as empresas.
BARRA DO RIACHO
O terminal construído em Aracruz é uma das 87 obras da Petrobras incluídas em uma planilha de de talhamento de propinas entregue à força-tarefa da Lava Jato pelo ex-gerente executivo da estatal Pedro Barusco, braço direito do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duqueno esquema do petrolão.
Em depoimento concedido em acordo de delação premiada, o ex-executivo detalhou os pagamentos de propina efetuados por onze operadores. De acordo com a planilha de Barusco, no terminal de Barrado Riacho, as empreiteiras Carioca e Mendes Júnior pagaram um total de R$ 9,6 milhões em propinas referentes a contratos firmados por cada empresa com a Petrobras em agosto de 2008 para a execução dessa obra.
A Carioca pagou R$ 4,6 milhões, o equivalente a 2% do contrato de R$ 233,6 milhões. Já a Mendes Júnior repassou quase R$ 5 milhões, 1% do valor contratual - de R$ 493,5 milhões, segundo consta na planilha de Barusco.
Porém, antes mesmo das revelações de Barusco, a Mendes Júnior já havia confessado ter pago propina de R$ 5 milhões ao doleiro Alberto Youssef durante a construção do terminal. O dinheiro foi depositado de julho a setembro de 2011 na conta deu ma empresa da rede paralela do doleiro, a GFD, que emitia anota fiscal em favor da construtora. Em novembro de 2014, o vice-presidente executivo da Mendes Júnior, Sérgio Cunha Mendes, confessou a transação em depoimento à Polícia Federal, em Curitiba.
À época, em entrevista a A GAZETA, o advogado do executivo, Marcelo Leonardo, afirmou que a Mendes Júnior concordou em pagar o valor exigido porque Yous-sef, atuando em nome do então diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, extorquiu Sérgio Cunha e ameaçou não pagar valores devidos à empresa por serviços já executados na obra do terminal.
Em outubro de 2015, foi a vez de o empresário Ricardo Pernambuco, um dos sócios da Carioca Engenharia, admitir o pagamento de vantagens indevidas a agentes da Petrobras, de 2008 a 2012, em quatro obras realizadas pela empreiteira para a estatal. Entre elas, a de Barra do Riacho. Segundo o executivo, a cobrança era feita pelo lobista Mário Góes, que dizia agir em nome de Barusco.
DIFICULDADES
Além dos indícios de irregularidades, o TCU registrou em seus relatórios de 2009 enorme dificuldade de acesso aos documentos de licitações e valores contratados, não fornecidos pela Eletrobras. O órgão relatou obstrução dos trabalhos de fiscalização e chegou a convocar o então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, para tentar obter as informações.
Entre os responsáveis pelas licitações, estavam Renato Duque e Pedro Barusco. Ambos atuaram para o PT, de acordo com suas delações. Outro citado nas auditorias foi Paulo Roberto Costa, que afirma ter arrecadado dinheiro para o PP.
Mas nem todas as suspeitas, questionadas diretamente à Petrobras, bastavam para influenciar o julgamento de Lula, que, em 2010, dizia conhecer bem as contas da companhia, a ponto de discursar, no batismo da plataforma P-57, em Angra dos Reis:
“Houve um tempo em que a diretoria da Eletrobras achava que o Brasil pertencia à Petrobras, e não a Petrobras ao Brasil. A ponto de ter presidente que dizia que era uma caixa preta. No nosso governo é uma caixa branca e transparente, nem tão assim, mas é transparente. A gente sabe o que acontece lá dentro e a gente decide muitas das coisas que ela vai fazer”, afirmou.
 RELATÓRIO
O veto de Lula à paralisação das obras da Petrobras gerou um relatório conjunto, assinado pelas consultorias de Orçamento, Fiscalização e Controle da Câmara e do Senado, publicado em janeiro de 2010. No relatório, os consultores afirmaram que a decisão presidencial desconsiderou dados que apontavam sobrepreços nas obras, pagamento por equipamentos parados como se estivessem em operação e recusa da Petrobras em fornecer planilhas de custos de insumos e serviços.
A defesa de Lula não quis se manifestar. Luís Adams, chefe da Advocada-Geralda União na época, afirmou que as discussões com a Petrobras eram sempre difíceis, pois a estatal alegava sigilo comercial para não apresentar todas as informações, já que é empresa de economia mista. Além disso, também era questionada a tabela de preços de mercado usada pelo TCU, pois a empresa alegava que os preços variavam de acordo com o local da obra e tinha suas próprias tabelas de referência. (Agência 0 Globo e Vitor Vogas)
Depoimentos desmontam teses de petistas
Em menos de um mês, depoimentos de investigados pela Operação Lava Jato que tinham relações próximas com Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff aprofundaram as denúncias contra os dois ex-presidentes. A situação para os dois petistas pode ficar ainda pior a depender do que o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci resolver contar em delação premiada.
Para os advogados de Lula, esse movimento contra o ex-presidente aconteceu porque, segundo eles, os colaboradores são obrigados a falar o nome do petista em troca de benefícios. Já a defesa de Dilma alega que alguns delatores mentiram na tentativa de reduzir sua pena.
A fila das novas colaborações foi puxada pelo ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, que já foi condenado a 26 anos de prisão e tenta reduzir sua pena nas ações em que é réu por meio de um acordo com o Ministério Público Federal (MPF) - a delação ainda não foi homologada pela Justiça.
Em depoimento prestado ao juiz Sérgio Moro em 20 de abril, o empresário, que era muito próximo de Lula, disse sempre saber que o triplex em Guarujá, no litoral paulista, estava reservado para o petista e que o dinheiro da reforma do apartamento saiu de um caixa de propina da empreiteira com o PT.
Pinheiro ainda relatou um encontro em que o ex-presidente teria lhe pedido para destruir documentos que comprovassem a existência desse caixa.
INFORMAÇÕES
Em 6 de maio, foi a vez do ex-diretor da Petrobras Renato Duque afirmar ao juiz Moro que entregaria informações que ajudariam a investigação. Condenado a penas que somam 57 anos de prisão, ele tenta o benefício nos processos ainda sem julgamento.
Duque disse que, após conversar com o expresidente, ficou claro que Lula tinha conhecimento do esquema de propinas na Etetrobras e que comandava tudo. Segundo o ex-diretor da estatal, o petista teria lhe dito para não ter contas no exterior e quis saber detalhes de pagamentos ilícitos ligados a contratos de sondas da Petrobras com a Sete Brasil.
Lula negou todas essas afirmações durante o interrogatório do último dia 10. Em nota, a defesa do ex-presidente afirmou que “está muito claro que citar o nome de Lula tor-nou-se condição obrigatória para que réus e até condenados obtenham os favores na Promotoria”.
INVESTIGAÇÃO
A defesa entrou com dois pedidos na Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar se os acusados da Lava Jato estão sendo pressionados a incriminar o petista para conseguir o benefício.
Além disso, segundo os advogados, nenhum dos delatores apresentou provas das menções feitas a Lula.
No dia seguinte ao depoimento do expresidente, o mundo político foi atingido pela divulgação dos depoimentos dos marqueteiros Mônica Moura e João Santana.
Responsável pelas corridas presidenciais petistas desde 2006, Santana disse acreditar que os dois sabiam que pagamentos de suas campanhas foram feitos por meio de caixa 2.
Já Mônica afirmou que Dilma a avisou que o casal seria preso dias antes da ordem de prisão. Lula e Dilma negam as acusações. (AG)

A Gazeta/ES