sexta-feira, 12 de maio de 2017

Fitch vê melhora na perspectiva para empresas no país


A Fitch Ratings espera alguma melhora no ambiente de negócios no Brasil, com PIB ainda estável neste ano e um avanço maior a partir de 2018, segundo Ricardo Carvalho, diretor sênior do grupo de finanças corporativas da agência de classificação de riscos.
Segundo Carvalho, a agência espera que a melhora na economia chegue ao balanço das companhias nos próximos meses. As empresas têm sido também beneficiadas pelo cenário mais favorável para commodities, observou.

"Vemos melhora nos índices de confiança e isso tende a gerar benefícios no ambiente de negócios. Mas indicadores de produção ainda estão fracos, temos desdobramentos da Operação Lava-Jato e não sabemos como esse processo termina", ponderou o especialista, que participou de evento da Fitch.

Carvalho disse ainda que, pelo lado da demanda, ainda não viu sinais de retomada mais fortes. "A partir do segundo semestre, devemos ver melhora nos indicadores, mas de forma mais sustentável só em 2018." O diretor lembrou que o nível de custo de dívida enfrentado pelas empresas em 2015 e 2016 consumiu grande parte do fluxo de caixa, se não ele todo. "Os níveis não eram sustentáveis. Agora caminhamos para uma forte queda de juros e o custo cai também", diz.

Carvalho destacou como boa notícia a retomada do mercado local de dívida e afirmou que as estatísticas do primeiro trimestre ainda não mostram o movimento de alta. "Temos pelo menos dez emissores em processo de atribuição de rating de alguma emissão de debêntures. Achamos que o mercado voltará aos níveis de 2015, com melhora do perfil de crédito, rentabilidade dos títulos públicos em queda levando investidores a assumir mais risco nas carteiras e volume elevado de vencimentos em 2017."

Para Alexandre Garcia, analista sênior de construção da Fitch, o grupo Odebrecht, classificado atualmente em "CC" pela Fitch, ainda precisa superar seu maior desafio para destravar contratos: estabelecer um acordo de leniência com as autoridades de 11 países em que praticou pagamentos ilícitos. No caso da construtora Queiroz Galvão - classificada em "C bra" pela agência-, a maior dificuldade é reverter a declaração de inidoneidade por cinco anos dada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). "Esse veredicto é quase uma sentença de morte para a companhia porque ela não pode contratar clientes públicos."

No caso da Andrade Gutierrez, com nota "B-", a situação é "menos pior" pois vem conseguindo novos contratos, além de desbloquear recebíveis que estavam travados.

O diretor-executivo da Fitch no país, Rafael Guedes, disse que espera mais clareza sobre como as reformas serão feitas para voltarem a avaliar o rating soberano do Brasil. Segundo ele, o país teve certa estabilização política e econômica, com queda da inflação, microrreformas e ajustes externos. No entanto, a perspectiva negativa do rating reflete o gradualismo fiscal, além de riscos na implementação do ajuste fiscal e com relação ao ambiente político. "Os analistas estão esperando melhora no campo fiscal e crescimento do país. Mas a recuperação será lenta", diz.


Por Daniela Meibak e Paula Selmi, no Valor Econômico