sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Na origem das modernas organizações, o Exército e a Igreja Católica.


A Igreja e as Organizações
Duas instituições foram de grande valia para a teoria da administração; ambas milenares. A primeira, a igreja católica, e a segunda, a organização militar.

eclesiástica



A Igreja Católica deve sua estruturação inicial à capacidade de absorver o conhecimento acumulado pelas antigas cidades-Estado, como Atenas, e pelos impérios antigos, como o romano.

Esse processo foi se operando lentamente, de uma forma bastante gradual, de maneira quase imperceptível para os atores sociais envolvidos, mas com uma efetividade que pavimentou o caminho para a consolidação.

Contribuiu definitivamente para a eficácia desse processo a visão monolítica da igreja católica, com objetivos estratégicos e metas traçadas de forma unitária e precisa. Se esses atributos, nos dias de hoje, encontram ainda grandes resistências para fincar âncora, muito mais dificuldades encontravam naquela época, quando as estruturas públicas viviam açoitadas pelas contradições dos partidos e das classes sociais, enveredando quase sempre por cortes e rupturas sociais profundas, violentas, muitas delas solucionadas à custa de guerras prolongadas e inumeráveis perdas humanas.

A necessidade de rápida expansão do ideário cristão legou à Igreja Católica uma estrutura organizacional bastante simples, mas eficaz. Foram essas características elementares que permitiram que adquirisse conformação mundial num período em que isso só era possível através da força dos exércitos. E muitas vezes, disso se valeu a Igreja.

Paulatinamente, à medida que os séculos avançaram, a organização eclesiástica absorveu um férreo modelo de hierarquia, uma direção superior consistente, e uma departamentalização funcional estrutural de modo que conseguiu se estabelecer mesmo nos rincões mais distantes e inóspitos do planeta.

Este sucesso organizacional, com um viés fortemente empreendedor, foi capaz de levá-la a superar os desafios mais perigosos e complexos. O que naturalmente estimulou um sem-número de instituições a utilizá-la como modelo, como inspiração. Consolidou-se então a “doutrina administrativa” da Igreja Católica, agora tomada como uma referência universal.


A estrutura militar, a organização linear e Jules Henri Fayol

A outra fonte é tão importante quanto a Igreja católica: um modelo largamente utilizado pelos exércitos do período antigo, pré-medieval, denominado organização linear.

Quando em guerra, os exércitos antigos encontravam-se – para travar o combate - num campo de batalha aberto, com os pelotões dispostos frente a frente, numa formação linear. Essa característica, utilizada praticamente por toda a antiguidade, adentrando a idade média, é que originou a organização administrativa linear.

Foi este tipo de formação em linha que inspirou os estudos de Fayol, sistematizados nos princípios condensados no que denominou “
organização linear”.
 


A organização linear de Fayol é alicerçada em quatro elementos.

OS ELEMENTOS DA ORGANIZAÇÃO LINEAR DE FAYOL

No primeiro elemento, a “
unidade de comando”, cada pessoa, cada empregado, é remetido a apenas um chefe. Seria impossível imaginar um exército prescindindo dessa característica. No calor das batalhas, o soldado deve ter internalizado na mente que - sob quaisquer circunstâncias, receberá ordens de uma única pessoa, um único chefe.

No segundo, a “
unidade de direção”, os planos setoriais convergem para planos mais abrangentes, estabelecendo um encadeamento que desemboca nos objetivos operacionais e estratégicos da instituição.

O terceiro elemento, a “
centralização da autoridade”, concebe o poder e a autoridade superior da instituição ocupando o pico de uma estrutura piramidal, concentrada e isolada no ponto máximo da escala de comando.

E finalmente, o quarto princípio da organização linear, a “cadeia escalar”, dá movimento à escala e aos níveis de hierarquia, ordenando que um nível inferior da hierarquia esteja sempre subordinado ao imediatamente superior.

São princípios e características tão vinculados e inerentes à organização militar que não se concebe a existência de um sem o outro.

Todavia, apesar da ortodoxia das organizações militares e das escassas possibilidades de adequações, face seus princípios de rigidez e disciplina, a história é repleta de exemplos registrando, sobretudo nas guerras, os movimentos dos exércitos em direção à flexibilização.


Conta-se que Napoleão Bonaparte, o general francês derrotado em 1815 na batalha de Waterloo, sempre complementava suas ordens com as devidas explicações. Sua experiência nos campos de batalha ensinou que a obediência cega trás quase sempre prejuízos e, no mínimo, resultados pífios e duvidosos.

Foram, portanto, as organizações católica e militar que contribuíram com destaque, nos primórdios, para a estruturação da administração institucional. Depois de Jules Henri Fayol muita água já correu por debaixo da ponte. À medida que a evolução da humanidade foi se orquestrando, novas características foram sendo adquiridas, novos paradigmas absorvidos, até que conformamos a substrato atual, onde as pessoas, o ambiente e as tecnologias são utilizados de forma indissociável.

Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+.