sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Cuidado com os modismos

Howard Yu, da escola de negócios IMD, alerta para a importância de ter senso crítico sobre as teorias de gestão que dizem resolver tudo

Murilo Ohl, da  Você S/A

Howard Yu, da escola de negócios IMD
Howard Yu, da escola de negócios IMD

São Paulo - No fim de junho, Jill Lepore, renomada escritora e professora de história da Universidade Harvard, escreveu um artigo na revista The New Yorker criticando seu colega de instituição Clayton M. Christensen, igualmente célebre e autor de um best-seller de gestão, O Dilema da Inovação (1997).

Jill questiona a qualidade da pesquisa de Christensen que deu origem à teoria do livro e o acusa de ter direcionado o universo de respostas do estudo para o resultado que desejava. Para ela, a obra de seu colega é mais um modismo da gestão, como tantos outros. De Lausanne, na Suíça, outro professor, Howard Yu, da escola de negócios IMD, defendeu Christensen.

“É um raro caso em que a teoria da gestão é adotada na prática”, diz Howard. Para ele, o problema está na fragilidade das pesquisas em gestão, mal interpretadas e transformadas em modismos. Christensen foi vítima dessa prática e aponta a necessidade de entender e filtrar melhor o conhecimento acadêmico.

VOCÊ S/A: O que há de errado com a gestão que a torna tão exposta a modismos?
Howard Yu: O campo da gestão atrai demais a atenção do público corporativo. Nem todos lidam com problemas de engenharia no dia a dia, mas a maioria dos gestores é confrontada com temas genéricos, como estratégia e liderança. Por isso, há muita gente à procura de novas respostas.

VOCÊ S/A: Por que os gestores estão sempre procurando uma solução mágica?
Howard Yu: As teorias mais úteis geralmente têm um alto poder explicativo, que atende a uma grande variedade de situações. Isso em si é bom. Mas, quando a busca de novas respostas ganha um tom sensacionalista em noticiários e livros de gestão, o público inevitavelmente presta atenção no que proporciona conforto psicológico ou sensação de segurança.
Às vezes a resposta está certa, mas em grande parte do tempo não. Quando a contraprova emerge, o público perde o interesse por causa da expectativa elevada que depositou na ideia e descarta tudo de uma vez, sem fazer um balanço.

VOCÊ S/A: Não é curiosa a existência de uma lacuna entre a teoria e a prática na gestão? Em outros campos complexos, como é o caso da medicina, a situação é muito diferente...
Howard Yu: A estrutura de trabalho dos professores da maioria das escolas de negócios enfatiza a publicação de estudos revisados por outros acadêmicos em periódicos especializados.
Curiosamente, os principais jornais de medicina, como The New England Journal of Medicine, são lidos por médicos clínicos, e não apenas pelos professores. Já as principais revistas acadêmicas de negócios, como a Administrative Science Quarterly, raramente recebem a atenção de presidentes e executivos das empresas.

VOCÊ S/A: Como os gerentes podem melhorar a própria compreensão de teorias de gestão a fim de absorvê-las e praticá-las de forma mais precisa em seu dia a dia de trabalho?
Howard Yu: Quando um profissional ouvir falar de uma nova prática de gestão, ele deverá obrigatoriamente refletir sobre o assunto. É importante que avalie em que circunstância a prática prescrita vai funcionar e quando não vai. O profissional precisa ter capacidade de identificar os limites das novas teorias. Sem exercer alguma forma de pensamento crítico, ele vai acabar copiando os outros cegamente.