quinta-feira, 31 de julho de 2014
Aplicativo para iPhone copia a chave de qualquer porta
Por Bruno Garattoni,, na revista Superinteressante

Você tira uma foto da chave, e o app KeyMe se encarrega do resto.
Usando uma impressora 3D, os criadores do aplicativo produzem uma cópia perfeita da chave – e mandam pra você pelo correio.
O serviço, que por enquanto só está disponível nos Estados Unidos, é uma maneira rápida e prática de fazer cópias, mas também está gerando polêmica - porque pode criar grandes problemas de segurança.
O simples ato de tirar as chaves do bolso e colocá-las em cima da mesa (no trabalho ou em um restaurante, por exemplo), pode ser suficiente para que elas sejam clonadas.
Claro, há outros obstáculos -o bandido precisa descobrir onde você mora e ter acesso ao prédio, se for o caso-, mas o aplicativo pode ser considerado relativamente preocupante.

Você tira uma foto da chave, e o app KeyMe se encarrega do resto.
Usando uma impressora 3D, os criadores do aplicativo produzem uma cópia perfeita da chave – e mandam pra você pelo correio.
O serviço, que por enquanto só está disponível nos Estados Unidos, é uma maneira rápida e prática de fazer cópias, mas também está gerando polêmica - porque pode criar grandes problemas de segurança.
O simples ato de tirar as chaves do bolso e colocá-las em cima da mesa (no trabalho ou em um restaurante, por exemplo), pode ser suficiente para que elas sejam clonadas.
Claro, há outros obstáculos -o bandido precisa descobrir onde você mora e ter acesso ao prédio, se for o caso-, mas o aplicativo pode ser considerado relativamente preocupante.
Uso do ‘big data’ contra fraudes é baixo no Brasil
Estadão Conteúdo, na revista Info Exame

O uso da tecnologia do big data, termo usado para a análise de grandes quantidades de dados, na detecção de fraudes e corrupção, é aprovado pela maior parte dos representantes de empresas no Brasil. No entanto, ainda é pequena a parcela das companhias que utilizam de fato esse tipo de recurso.
A conclusão é de um relatório da empresa de auditoria Ernst & Young realizado com executivos de empresas em 11 países.
O levantamento mostrou que 75% dos entrevistados no Brasil acreditam que ferramentas de big data são importantes na prevenção e detecção de fraudes. Entre os motivos, está o fato de que esse tipo de tecnologia permite varrer uma grande quantidade de dados em um curto espaço de tempo.
Porém, o caminho entre teoria e prática ainda é longo. Apenas 5% das empresas sondadas faz uso de recursos de big data, como o FDA (sigla em inglês para "análise legista de dados"), que examina bancos de informações em busca de pistas de crimes financeiros.
De acordo com a pesquisa da Ernst & Young, o maior desafio para 28% dos representantes brasileiros é o acesso a ferramentas e conhecimento mais adequados na área de FDA.
O estudo apurou que para 13% dos entrevistados brasileiros as despesas em tecnologias de big data devem aumentar expressivamente nos próximos três anos, enquanto que 48% disseram que o investimento aumentará pouco.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Como criar e gerenciar um portfólio de inovação?
Do Diário do Comércio
Já sabemos que a vida do empreendedor não é fácil: é preciso, além de muitas outras coisas, vender, resolver problemas com entregas, tratar a saúde financeira da organização e motivar a sua equipe. Parece que não haverá tempo nem recursos para pensar no futuro e criar novos produtos, serviços e modelos de negócio. Entretanto, o empreendedor sabe que isso é fundamental para a sua sobrevivência e sucesso.
Como criar e gerenciar um portfólio de inovações que garante este futuro, então?
Inovar é arriscar, fracassar e aprender
Um pensamento em comum entre as pessoas é que para ter sucesso, é preciso escolher a coisa certa. Esta ilusão persiste pela criação dos mitos, como o mito do próprio Steve Jobs com o i-pod, o i-phone e o i-pad. Ele parece ter acertado desde o início, e criado somente produtos e serviços de sucesso. Esta é uma visão equivocada. Sugiro que procure na internet as ideias fracassadas da Apple. Você achará vários produtos que não deram certo e custaram bastante dinheiro para a empresa, como, por exemplo, o Apple Lisa.
Inovação é uma jornada de tentativa e erro, uma aventura que tem seus sucessos e seus fracassos. É preciso criar muitas ideias, testar rapidamente, descartar aquelas que não dão ibope, aprender com elas, focar nas ideias que tem potencial e persistir em fazer acontecer.
É preciso ter direcionamento
Criar sem saber por que e para que com certeza não vai levar a sua empresa para a direção certa. Como diz o ditado: ?Se você não sabe o destino, qualquer direção está certa?. Isto não significa que você precisa saber exatamente o que vai ser o futuro. Steve Jobs também não sabia exatamente como seria o futuro. Entretanto, ele entendia que o mundo futuro seria interconectado, que tecnologia formaria uma parte integral desse futuro e começou a criar produtos e serviços para inventar esse futuro. Embora as ferramentas de projeção estejam ficando cada vez mais sofisticadas, é difícil prever o futuro. Quem poderia ter dito que o Facebook teria 1,2 bilhões de usuários no final de 2013? O site conseguiu os seus primeiros milhões de usuários apenas no final de 2004.
Não tente prever o futuro, focar em o que você acredita é essencial no futuro, desenvolva um claro direcionamento, crie e teste ideias. Teste e aperfeiçoe sua ideia com os seus clientes para entender em que eles têm interesse. Foque em mercados mal atendidos ou tendências que vão criar um mercado no futuro. A Totvs criou um serviço para atender o mercado de médias empresas no Brasil, mercado mal atendido pelas grandes empresas de ERP, e teve grande sucesso. Quem entendeu, de 6 a 7 anos atrás, quais aplicações iam ser importantes, poderia ter criado algo de sucesso. Mas na época isto significava arriscar, porque não se tinha tanta certeza, especialmente sobre o que teria sucesso. Mas então, como gerar e escolher ideias boas?
Utilize ideias de outros
Moramos em um mundo globalizado e a nossa ideia provavelmente não é única no mundo, alguém já deve ter pensado e até provavelmente já deve ter testado ou criado um produto para a mesma ideia. Em vez de tentar reinventar a roda, tente utilizar ideias de outras partes do mundo para aumentar as suas chances de sucesso. Não estou dizendo que não se deve tentar criar ideias inéditas, elas podem garantir o seu diferencial, mas também trazem riscos maiores. Fique antenado sobre as ideias que estão fazendo sucesso no mundo, copie e implemente rapidamente para garantir o seu Market Share. O conceito do iFood, entrega de restaurantes diversos, já existiu mundo afora, mas foi implementada aqui no Brasil. Claro, não se esqueça de tropicalizar o seu produto ou serviço para o Brasil. Não se pode apresentar o mesmo cardápio de um restaurante chinês no Brasil como na China ou até como nos EUA.
Procure parcerias
É difícil fazer tudo sozinho. Nenhum de nós tem a capacidade para fazer tudo no nível de excelência que é exigido no mundo dos negócios, especialmente para crescer, fundamental para sobrevivência dos negócios de um empreendedor. É preciso fazer parcerias.
Há vários tipos de parcerias. Elas vão de investidores para injetar o capital necessário para você investir, universidades e centros de pesquisa para apoiar nas pesquisas, até as grandes empresas que possam dar acesso ao mercado por meio da sua rede de distribuição. Por exemplo, empresas grandes como a P&G e Unilever são empresas que podem ser a sua plataforma para atender o varejo. O custo de criar uma rede para atender os mercados no Brasil é grande e é algo demorado. Com apoio de parceiros é possível ter rápido acesso.
Há outras práticas que são importantes para criar seu portfólio de inovação, mas praticando essas já é um bom começo.
*Caspar van Rijnbach é Diretor da EY, empresa global de Consultoria e Auditoria, já publicou dezenas de artigos e blogs e foi autor ou co-autor de diversos livros sobre inovação.
Artigo publicado originalmente no site da Endeavor Brasil
Após título mundial sem patrocínio, handebol aposta em gestão para crescer
O segredo: planejamento

Mesmo sem patrocínio durante cinco anos, o handebol continuou crescendo. O segredo: planejamento
Sem patrocínio por cinco anos, a seleção brasileira de handebol feminino conquistou seu primeiro título mundial e a masculina chegou a sua melhor colocação em mundiais. Agora, com a atenção da mídia e do governo, a Confederação Brasileira de Handebol (CBHg) aposta em um plano de longo prazo para colocar o esporte entre os principais no país.
Camilla Costa, da BBC Brasil em São Paulo
O crescimento da modalidade nos últimos anos é considerado por especialistas um exemplo de boa gestão no esporte brasileiro, mas o presidente da CBHg, Manoel Luiz de Oliveira, afirma que a confederação "fez muito com pouco".
"Ficamos entre 2008 e 2013 sem patrocínio e o nosso esporte não parou, continuou crescendo. Como conquistamos um campeonato mundial em 2013? Planejamento. Independentemente do dinheiro vir, temos pessoas abnegadas que continuaram trabalhando", disse à BBC Brasil.
O título inédito trouxe mais dinheiro ao handebol, mas também a obrigação de continuar ganhando. "O mercado exige títulos, porque eles trazem exposição e patrocinadores. Por isso estamos tentando consolidar uma base de sustentação do esporte. A gente sabe que não conquistar a medalha no Rio não será bom para nós."
O condicionamento de investimentos e incentivos a atletas que já ganharam medalhas divide os especialistas da área entre os que criticam o que chamam de "mercantilização do esporte" e os que dizem ser normal o investimento em quem já provou que pode obter bons resultados.
"Se a equipe não tem resultados, ela não dá retorno de marketing e as empresas desistem de apoiá-las, deixando atletas e profissionais técnicos desempregados. O esporte não pode viver daquele dinheiro que vem só porque você ganhou, porque o esporte de alto rendimento mais perde do que ganha", diz Marco Antonio Bortoleto, professor e pesquisador de Educação Física da Unicamp.
Regularidade
Ao contrário de outras modalidades olímpicas no Brasil, o handebol se beneficiou da popularidade nas escolas para construir suas equipes, segundo Oliveira.
"O handebol é a modalidade mais praticada nas escolas no Brasil. Mas, quando chega na etapa dos clubes, a prática afunila bastante e este é o nó. Termina o ensino médio e naquele momento de ir para a universidade e trabalhar muita gente abandona o barco", afirma.

Campeonato em 2013 trouxe mais dinheiro e cobranças para vencer
No início dos anos 2000, a CBHb deu um passo que só agora vem sendo discutido no futebol brasileiro: a contratação de técnicos estrangeiros para conduzir as seleções. Na seleção feminina, o espanhol Juan Oliver Coronado abriu caminho para o dinamarquês Morten Soubak, que assumiu o comando da equipe em 2009.
"O Brasil tem muitos clubes ligados a escolas e universidades, que formam times de handebol. É um bom começo, mas é preciso investir. Não temos muitas equipes de alto rendimento", disse Soubak à BBC Brasil. "Sinto que falta continuidade da formação de atletas. Não conheço os motivos para fecharem uma equipe de handebol de uma hora para outra, mas isso acontece muito aqui."
Para manter a regularidade e a qualidade dos times, a confederação criou uma Liga Nacional de handebol, que precisa ter 12 equipes masculinas e 12 femininas anualmente. "Esse número nos dá mais garantia de mais gente participando. Temos escolas que jogam nos campeonatos nacionais", diz Manoel Luiz de Oliveira, presidente da confederação.
Ele diz que a qualidade da Liga "às vezes é bem sofrível", mas pode fazer com que o país tenha mais equipes mais sólidas. Atualmente, a maioria das jogadoras da seleção feminina campeã mundial atua fora do Brasil.
Cartolas
Manoel Luiz de Oliveira é um dos oito dirigentes de Confederações de esportes olímpicos no Brasil que está no comando há mais de dez anos. A falta de renovação dos quadros administrativos também é apontada por especialistas como um problema, tanto nas modalidades olímpicas quanto no futebol.
Acusações de má gestão e corrupção atingiram até mesmo o vôlei, considerado um dos esportes de gestão mais eficiente no país.
"Estou há tanto tempo na presidência que me incomoda, há mais de 20 anos. Já tinha comunicado na assembleia que não estaria mais, mas me pediram para ficar porque acharam que poderia ser perigoso uma mudança antes dos Jogos Olímpicos no Rio. Mas depois dos Jogos eu já estarei fora", afirmou.
Em setembro de 2013, a presidente Dilma Rousseff sancionou a MP 620, que limita os mandatos dos dirigentes das entidades esportivas a quatro anos, com apenas uma possibilidade de reeleição. Mas, na maioria das confederações vinculadas ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB), o cenário ainda não mudou.
"Nós não temos um projeto brasileiro para a profissionalização do esporte em todos os níveis. Temos um projeto de investimento maior de dinheiro, mas nós já investimos muito, erradamente, a partir de decisões tomadas por pessoas que têm interesses econômicos privados nesses investimentos ou simplesmente são incompetentes", diz Marco Antonio Bortoleto.
"Os nossos modelos esportivos hoje são insatisfatórios sobretudo por mal investimento, gestão não profissional. Os gestores são cartolas, políticos, não profissionais da gestão. Às vezes eles até são ex-atletas, até, mas quem garante que um ex-atleta será um bom gestor?"
Marco Antonio Bortoleto, pesquisador da Unicamp
"Os nossos modelos esportivos hoje são insatisfatórios sobretudo por mal investimento, gestão não profissional. É o que se discute no futebol hoje também. Os gestores são cartolas, políticos, não profissionais da gestão. E isso acontece em todas as modalidades. Às vezes eles até são ex-atletas, mas quem garante que um ex-atleta será um bom gestor?"
Segundo o diretor do Comitê Olímpico Brasileiro, o ex-atleta Marcos Vinícius Freire, o COB está "participando dessa mudança com uma estrutura completamente profissional".
"Cada uma das confederações é completamente independente, você não consegue mudar os estatutos ou interferir nelas. Mas nós conseguimos formar os executivos, a equipe. Estamos dando um exemplo no COB e algumas delas já estão seguindo este exemplo e investindo na qualificação dos seus gestores", disse à BBC Brasil.
Em 2009, o Comitê criou o Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), que realiza cursos de formação para técnicos, administradores, gestores esportivos e ex-atletas em transição de carreira. Os alunos, de acordo com Freire, são bolsistas de confederações, de clubes, do governo federal, de governos estaduais e de prefeituras.
Ainda que as confederações nacionais estejam no caminho da profissionalização, o problema persiste nos órgãos esportivos estaduais, segundo Expedito Falcão, técnico da judoca piauiense Sarah Menezes, medalhista em Londres 2012.
"Em nível estadual, o esporte é totalmente amador. Há federações em que os profissionais da gestão mal recebem. O topo da pirâmide está bom, mas a base está muito fraca", disse à BBC Brasil.
Na Política Nacional do Esporte, criada em 2005 durante o governo Lula, uma das ações estratégicas listadas se referia à "modernização e o fortalecimento das entidades de administração e de prática do esporte com vistas à democratização das entidades e à profissionalização da gestão".
Procurado pela reportagem, o Ministério do Esporte não respondeu às perguntas sobre as iniciativas concretas que estariam sendo tomadas nesta direção.
Você está sendo vigiado

Se você é leitor do site da Galileu,já sabe bem como são comuns tecnologias de vigilância online. Toda nossa atividade na web é monitorada com a finalidade principal de nos entregar publicidade altamente segmentada, só pra mencionar uma prática que é comum no dia-a-dia e completamente legal. Mas se você apaga seus cookies ou usa uma janela de navegação anônima, pode contornar um pouco essa invasão de privacidade. Era o que achávamos, ao menos até agora.
Uma nova tecnologia de online tracking, documentada pela primeira vez por pesquisadores da Universidade de Princeton e da Universidade KU Leuven, na Bélgica, se mostrou extremamente persistente e difícil de ser detectada. Batizada de canvas fingerprinting, ela funciona mandando o navegador gerar uma 'imagem' única, uma espécie de impressão digital do computador. E como cada computador gera uma 'imagem' diferente, é possível usá-la para atribuir um número de identificado único a cada usuário.
O tal de canvas fingerprint, na verdade, já está bastante popular. Os pesquisadores encontraram a tecnologia em 5% dos top 100 sites mais visitados da web. Uma das empresas responsáveis pela tecnologia, chamada AddThis, disse ao site ProPublica que está usando o canvas fingerprinting para testar alternativa a cookies.
O problema é que esse tipo de tecnologia, que manda o navegador gerar essa imagem automaticamente, não pode ser bloqueada por ferramentas que barram anúncios, como AdBlock, ou pelas configurações do navegador. As imagens geradas servem para construir um perfil de navegação do usuário para uso publicitário, a princípio. Ou seja: ainda que você tenha mandado seu navegador bloquear cookies, em uma clara manifestação de que você não deseja deixar rastros, essa outra maneira de rastrear sua navegação ainda estará lá, coletando dados sobre o que você acessa.
Atualmente, você pode contornar o canvas fingerprinting usando o Tor e usando extensões que bloqueiam Javascript. Nenhuma dessas opções é ideal, porque o Tor é muito lento e bloquear o javascript do seu navegador vai impedir que você veja recursos importantes em muitas páginas.
Via ProPublica
Da revista Galileu.
terça-feira, 29 de julho de 2014
Seul libera soneca no meio do trabalho
Funcionários poderão dormir após o almoço, desde que cheguem mais cedo ou saiam mais tarde para compensar a sesta
Da revista Época
Que tal tirar uma sonequinha depois do almoço, antes de voltar ao trabalho? Para os funcionários da prefeitura de Seul, capital da Coreia do Sul, essa será uma possibilidade. A partir de agosto, os servidores poderão fazer uma sesta de 30 minutos a uma hora no período da tarde, desde que cheguem mais cedo ou saiam mais tarde para compensar as horas.
A soneca no trabalho foi aprovada neste mês pela prefeitura da região metropolitana de Seul. "Algumas pessoas ficam sonolentas depois do almoço, e isso não é bom para a eficiência no trabalho", diz Kim Ki-bong, porta-voz da prefeitura de Seul. "Uma soneca rápida pode ser boa para diminuir a fatiga e melhorar a saúde dos funcionários".
A decisão de Seul não é isolada. Várias empresas multinacionais permitem que seus trabalhadores façam a sesta após o almoço, como o Google e a Nike, para citar duas. Pesquisas recentes mostram que a medida é boa para as empresas: funcionários ficam mais dispostos e melhoram o raciocínio e a criatividade no trabalho. Além disso, há várias tentativas de mudanças no mundo do trabalho para melhorar a qualidade de vida dos empregados. Recentemente, por exemplo, o bilionário Carlos Slim defendeu jornadas de trabalho de apenas três dias por semana.
Apesar disso, a soneca coreana foi recebida com ceticismo. A Coreia do Sul é um dos países com o maior índice de workaholics - pessoas que trabalham em excesso ou são viciadas em trabalho - do mundo. A cultura do mundo dos negócios coreano é tão restrita que mesmo o porta-voz de Seul diz que será difícil ver as sonecas se espalhando pelo país. "Para algumas pessoas, não é fácil descansar uma hora sabendo que outras pessoas estão trabalhando", disse Kim, segundo o Financial Times.
bc
Para crescer, Brasil precisa rever cultura de ‘mil’ bolsas
Para Marcos Mendes, é muito difícil coordenar um acordo social que
reduza benefícios em prol de um país mais eficiente e menos desigual
Ao longo dos 30 anos de
redemocratização do Brasil, o Estado incorporou programas de proteção social
aos mais pobres ao mesmo tempo em que ampliou as políticas de proteção e
benefícios aos mais ricos e à classe média.
Para dar conta de
atender a todos - alguns com voto, outros com poder econômico, outros com poder
de formar opinião na sociedade -, o gasto público passou de algo próximo a 20%
do Produto Interno Bruto (PIB) para os mais de 35% atuais. Com isso, o Brasil
ficou preso na armadilha de país ainda muito desigual e com baixo crescimento,
sustenta o economista Marcos Mendes, consultor legislativo do Senado.
Para voltar a crescer,
o Brasil precisa ser menos desigual, e o caminho passa por escolher as reformas
que, ao mesmo tempo, tragam mais eficiência e redistribuam renda. Na mira do
que precisa ser desmontado, diz Mendes, estão muito mais as transferências de
renda via BNDES, do que via Bolsa Família.
A tese de Mendes - que
virou o livro “Por que o Brasil cresce pouco? “, editado pela Campus - é de que
o conflito distributivo no país ficou tão sério que ninguém sabe quem ganha
mais ou quem perde mais, e qual a conta de cada um.
Em parte polêmica de
sua análise, ele defende que a democracia agravou esse conflito. Mas para quem
acha que isso significa uma defesa de governos autoritários, Mendes deixa claro
que pensa justamente o contrário. O livro de Mendes, doutor pela Universidade
de São Paulo (USP), começou a ser desenvolvido em 2012, quando esteve no
Departamento de Economia da London School of Economics, tem prefácio do
ex-diretor de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, e
apresentação de Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia
da Fundação Getúlio Vargas Ibre/(FGV). A seguir, os principais trechos da
entrevista.
Valor:
Por que o sr. avalia que a combinação de alta desigualdade e democracia afeta o
crescimento?
Marcos Mendes: Eu
trabalho há 20 anos com política fiscal e há 20 anos eu e todos os economistas
fiscais estamos falando que é preciso controlar o crescimento do gasto público,
da carga tributária. Você já teve um governo do PSDB que não fez isso, um do PT
que não fez isso. Quer dizer, você já teve alternância no poder e as coisas
continuam as mesmas.
Então não é
simplesmente uma opção de política de gastar mais ou gastar menos, de tributar
mais, ou tributar menos.
Valor:
Então, o que está em jogo?
Mendes: Tem alguma
coisa por trás disso. O que era o Estado brasileiro antes da redemocratização?
Só quem tinha acesso ao Estado brasileiro antes da redemocratização eram os
grandes grupos econômicos e a classe média alta. Você conseguia atender esse
público com uma tributação e um gasto público na faixa de 20% do PIB, e os
pobres simplesmente não tinham vez. Os indicadores sociais eram africanos, a
assistência à saúde não era integral, a escola pública não era acessível aos
pobres. Com a redemocratização, os mais ricos continuaram com canal de acesso
ao poder e continuaram obtendo do Estado o que obtinham antes, como crédito
subsidiado, proteção comercial às indústrias, perdão às dívidas agrícolas, uma
Justiça que favorece quem tem dinheiro para pagar advogado mais caro, regulação
fraca, ou seja, uma série de mecanismos favoráveis aos mais ricos. Com a
redemocratização, os mais pobres começaram a ter voz, porque o político precisa
de voto, que está na mão dos mais pobres. Então, você teve um boom de políticas
pró-pobre que se somaram às políticas
pró-ricos. E não foi só isso. Você abriu espaço para a pressão dos sindicatos e
outras associações, e por meio delas a classe média também teve espaço para
demandar mais do Estado. Então, com desigualdade e democracia você tem um
Estado que redistribui para os ricos, para os muito pobres e para a classe
média, não só através de gasto público, mas também de regulação econômica. E
essas duas coisas - gasto público excessivo e regulação que protege a renda de
determinados grupos - atuam contra a produtividade e o crescimento econômico.
Valor:
E como se poderia desmontar esse mecanismo do Estado concentrador?
Mendes: A primeira
reação das pessoas a esse argumento é: então você está dizendo que tem que
acabar coma democracia. Não é isso. Primeiro, porque a democracia tem seu valor
intrínseco, de liberdade de opinião, de expressão. Segundo, a não democracia
não funciona, vide a crise no governo militar. Quando você não tem transparência,
não tem liberdade de imprensa, grupos mais fortes economicamente dominam o
Estado e excluem o restante da sociedade. Você precisa, dentro do marco
democrático, encontrar políticas que ao mesmo tempo reduzam a desigualdade e
estimulem o crescimento econômico. Estamos numa situação de tanta ineficiência
que é possível ter políticas que atuem nas duas direções.
Valor:
Quais são essas políticas?
Mendes: Três delas são
mais importantes: primeiro, a reforma da Previdência Social, que é altamente
concentradora de renda, porque, apesar da grande parcela de benefícios pelo
mínimo, tem outra parcela grande, com peso financeiro razoável, que não é de
salário mínimo. Também tem uma regra de pensões por morte muito benevolente, e
tem a previdência dos servidores públicos. A Previdência tem dois problemas:
ela não se sustenta sozinha e ela bloqueia o crescimento, porque absorve
poupança da sociedade.
Valor:
Quais as outras políticas?
Mendes: A segunda é
educação. Com ela, você aumenta a produtividade do trabalhador, aumenta a
produtividade geral da economia e a igualdade de oportunidades. Com uma reforma
da educação no Brasil que diminua os custos do Estado com ensino superior e
foque no ensino básico, onde a maioria da população pobre está, você tem, no
longo prazo, uma melhoria da qualidade da educação e, portanto, maior igualdade
de oportunidades. Hoje, o país gasta cinco vezes mais com um aluno na
universidade pública que no ciclo fundamental. Por fim, na infraestrutura você
tem espaço para fazer gastos que melhorem a qualidade de vida dos mais pobres e
melhorem o funcionamento da economia, como transporte público nas grandes
cidades e saneamento básico.
Valor:
E qual o caminho para essas reformas?
Mendes: Temos tanta
dificuldade para fazer reformas que é preciso estabelecer prioridades. Nenhum
presidente eleito pode chegar no governo com uma cesta enorme de reformas,
porque o espaço político para fazê-las é muito pequeno. Você tem que escolher
reformas, e um critério seria aquelas que ao mesmo tempo tenham um impacto significativo
sobre crescimento e redistribuição.
“Com democracia e desigualdade, você tem um Estado que redistribui
para os muito pobres, os ricos e para a classe média.”
Valor:
Isso passaria por reduzir as políticas que favorecem a concentração pelo lado dos
ricos?
Mendes: Exatamente. Não
adianta hoje você dizer que vai fazer uma reforma tributária no Brasil.
Qualquer reforma vai reduzir a arrecadação, e aí não vai ter dinheiro para
pagar todas essas despesas. Primeiro tem que reformar pelo lado do gasto. Tem
que reforçar as instituições fiscais, a lei de responsabilidade fiscal, acabar
com contabilidade criativa, criar mecanismos de transparência, cumprir metas
fiscais. Quando você tem uma restrição fiscal sobra menos espaço para os grupos
se organizarem e conseguirem despesas a seu favor. Esse é um ponto. O segundo
ponto é colocar muito peso político para bloquear as contrarreformas. No
Congresso há uma série de projetos de lei que aumentam as despesas da
Previdência e desfazem as reformas feitas no passado, reduzem tempo de
contribuição, criam aposentadorias especiais, acabam com o fator
previdenciário. Uma série de coisas que, se aprovadas, são uma bomba fiscal.
Valor:
Nessas escolhas, algumas políticas que ajudaram na redução da desigualdade nos
últimos anos, poderiam ser mantidas?
Mendes: Claro. Você
precisa fazer uma escolha das políticas que são mais eficientes. Então,
nitidamente, o que os especialistas da área social mostram, é que o Bolsa
Família é muito mais eficiente que qualquer outro programa social. Com um custo
muito menor, ele tira muito mais gente da pobreza, e reduz muito mais o índice
de desigualdade. Agora, você tem políticas que são mais controversas, como a do
aumento real do salário mínimo. Ela tem diminuído a desigualdade, mas a um custo
fiscal muito alto. Ao mesmo tempo, se você simplesmente acabar com o aumento
real do mínimo e não colocar nenhuma outra política social eficaz no lugar,
você vai ter problemas com relação ao indicador de desigualdade. Então, é
preciso focar nos programas que geram, efetivamente, maior resultado. Mas
também não pode pensar só em resultado de curto prazo.
Valor:
Que programas são esses?
Mendes: Você precisa
migrar de uma ideia de programa social que coloca dinheiro no bolso das pessoas
para programas sociais que dão condições para as pessoas viverem bem e serem
produtivas. Qual a ideia? Se a desigualdade está caindo, e cair forte no médio
e longo prazo, esse problema pode se resolver por si só. Se a gente continuar
reduzindo a desigualdade por mais 15 anos em ritmo razoável, você vai ter uma
grande sociedade de classe média no Brasil e essa sociedade vai ser menos
dependente de assistência social e vai demandar mais serviços públicos de
qualidade. Ela não vai estar interessada em ficar recebendo benefício social,
ela vai estar um patamar acima. Esse é o cenário que eu chamo de virtuoso, com
a desigualdade caindo fortemente e, no futuro, acaba esse conflito
redistributivo. Mas esse não é o único cenário.
Valor:
Qual é o outro cenário?
Mendes: Os dados que os
especialistas estão levantando mostram que a desigualdade está estacionando em
um patamar ainda muito alto. Então, se a desigualdade parar de cair - e há
motivos para ela parar de cair - o Brasil pode ficar nesse modelo de alto
conflito distributivo e baixo crescimento por muitos anos.
Valor:
O que estaria levando a esse estacionamento da queda?
Mendes: São vários
fatores e aí estou me servindo da literatura da área. Primeiro, as frutas mais
fáceis de serem colhidas já foram colhidas. Se você já botou as pessoas na
escola, se elas já chegaram ao mercado de trabalho com mais escolaridade, e
isso já elevou o salário, daqui pra frente você vai precisar melhorar a
qualidade da educação. E melhorar a qualidade da educação é muito mais difícil
que colocar as pessoas na escola. Segundo, os programas sociais, como Bolsa
Família, já atingiram a universalização, já não tem mais quem incluir, então
você só vai melhorar a redução da desigualdade por meio deles se você aumentar
o valor desses benefícios. Em terceiro lugar, você passou por um boom de
commodities que aumentou a renda do país e havia mais renda para distribuir.
Agora, o cenário internacional está mais difícil. Daqui para frente, ou é
melhorando a qualidade da educação ou é melhorando a qualidade dos empregos oferecidos.
É muito mais difícil do que foi feito até agora.
Valor:
E já existe maturidade no país para desfazer essa política de Estado
distribuidor de benefícios?
Mendes: Não acredito.
Acho que a polarização política é muito forte, ninguém está disposto a abrir
mão dos seus privilégios, dos seus benefícios. E essa tensão tende a aumentar
ainda mais com o país crescendo pouco. Quando falo que o Brasil cresce pouco
não estou falando desse pibinho dos últimos três anos. O Brasil cresce pouco
nos últimos 30 anos. E isso vem de vários fatores que baixam a produtividade da
economia e baixam a taxa de investimento. Nossa economia é muito fechada, temos
pouca poupança para investir, temos infraestrutura ruim, população com baixo
nível de educação, empresas pequenas e pouco produtivas; e todos esses fatores
decorrem ou de uma regulação feita para proteger grupos específicos, ou de uma
pressão sobre o gasto do Estado que leva a um aumento da carga tributária, que
leva a um déficit público que reduz a poupança agregada da economia. E eu não
vejo a sociedade brasileira com maturidade para admitir que precisa sentar à
mesa, negociar e cada um ceder um pouco.
“Não vejo a sociedade brasileira com maturidade para sentar à mesa,
negociar e cada um ceder um pouco.”
Valor:
Algo poderia detonar uma mudança nesse cenário, ou vamos ficar presos no baixo
crescimento?
Mendes: O que poderia
detonar uma mudança de percepção seria uma crise econômica. Na história recente
do Brasil você teve dois grandes momentos de reforma, os dois detonados por
crise. Primeiro você teve a crise que levou ao golpe militar, quando a economia
estava numa crise forte. E logo depois do golpe, você teve uma reforma que
criou o Banco Central, uma reforma tributária que levou ao imposto sobre valor
agregado, uma abertura da economia. Mas tão logo a crise se dissipou, os grupos
de pressão foram comendo essa reforma. E a outra foi nos anos 90, quando você
teve uma crise fiscal forte, de balanço de pagamentos, que forçou o governo a
fazer privatização, a controlar o gasto público, a criar o famoso tripé, com
câmbio flutuante, meta de inflação e resultado fiscal. Tão logo o período de
crise se dissipou, a abertura dos anos 90 foi sendo revertida, a questão fiscal
vem se deteriorando, a contrarreforma foi se fazendo e não se consegue reforma
nenhuma. Então, a possibilidade de o Brasil fazer um ajuste é uma crise, o que
é um perigo, porque a crise traz oportunidade, mas traz também problemas
sérios.
Valor:
Esse é o único cenário?
Mendes: Outro cenário é
ficarmos muitos anos com baixo crescimento, redistribuindo para rico, para
pobre, para classe média, e, à medida que a economia não cresce, o cobertor vai
ficando curto e você ruma para uma crise fiscal grave. E no limite até a
democracia corre risco. Ou há a possibilidade de, mediante uma coalizão
política forte, o país fazer as reformas certas e andar em direção ao círculo
virtuoso. Se fizer as reformas que mantenham a queda na desigualdade, permitam
o controle do gasto público, e o governo suportar a pressão por alguns anos,
você pode puxar o fio da meada. Uma reforma faz a outra reforma ficar mais
fácil, você entra no círculo virtuoso, mas eu sou pessimista.
Valor:
Se fosse colocar em uma balança, dá para saber onde, de que lado - dos pobres,
da classe média ou dos ricos - o Estado gasta mais?
Mendes: Vou fazer uma
conta simples. Só o subsídio do BNDES - a diferença entre o que o Tesouro paga
para tomar no mercado e o que ele recebe de volta pela taxa subsidiada do BNDES
- custa R$ 24 bilhões por ano, que é exatamente o que ele gasta por ano no
Bolsa Família. Junta isso com o que a economia perde com o comércio
internacional protegido, com agências reguladoras fracas, eu acredito que os
benefícios que vão a para a classe média e a classe alta são muito maiores do
que o que pinga para os mais pobres.
Valor:
Se o Brasil fosse menos desigual, poderíamos crescer mais?
Mendes: Sim. No Brasil
hoje, que é muito desigual, o rico quer bolsa-BNDES, o pobre quer Bolsa
Família, a classe média quer universidade de graça e mercado de trabalho
protegido, isso faz uma pressão sobre o Estado para gastar a favor de todo
mundo, e regular a favor de todo mundo, diminuindo não só a poupança, como a
eficiência da economia. Quando a sociedade fica mais parecida entre si,
primeiro você tem menos necessidade de programas sociais. Segundo, a sociedade
vai querer menos programas sociais porque a maior parte dela terá patrimônio,
casa, ter poupança, renda fixa, e para gerar mais benefício social, vai ter que
tributar isso. Hoje, você tributa só os 10% mais ricos. Se mais gente for
classe média, mais gente vai pagar Imposto de Renda e ter restrição a financiar
gasto público. De qualquer forma, é preciso transparência para deixar os custos
claros para a sociedade, porque aí ela vai ficar mais receptiva às reformas.
Valor:
A sociedade tem consciência de quem paga o quê?
Mendes: Não. Nessa
situação de alta desigualdade você fica numa confusão distributiva danada. Você
pensa, eu estou pagando alguma coisa, mas tenho emprego público, meu avô recebe
aposentadoria, o empresário paga, mas recebe algum benefício. Então, ninguém
sabe quem está ganhando ou quem está perdendo, quem está pagando mais ou quem
está recebendo mais. Todo mundo sabe que depois de uma reforma econômica, vai
diminuir o gasto público, vai diminuir a regulação, e que na média o país vai
estar melhor. Mas você não sabe se você vai estar acima da média ou abaixo
dela. Prefiro ficar como eu estou a dar um salto no escuro, prefiro manter meu
benefício para não ficar atrás dos outros. Coordenar esse acordo social, em que
todos abrem mão do seu benefício em prol de uma sociedade mais eficiente, menos
desigual e com menos custo tributário, é muito difícil.
Valor:
O sr. acha que em algum momento das manifestações estava se caminhando para
esse consenso redistributivo?
Mendes: Você pode fazer
duas leituras das manifestações do ano passado. Uma delas é: você aumentou a
classe média e a gente está chegando no consenso da classe média, que está
falando: eu quero educação melhor, quero transporte melhor, quero saúde melhor,
quero gasto público melhor, não quero gastar dinheiro com estádio. Poderia ser
a maioria da sociedade tendo um pensamento racional em prol do coletivo. Essa é
uma leitura positiva, mas tem uma leitura negativa: cada um foi para a rua pedir
uma coisa diferente. Como o modelo de distribuir para todo mundo está se
extinguindo, vou para a rua defender o meu privilégio. Acaba com o privilégio
do outro e mantém o meu. Estou mais propício a enxergar essa leitura.
segunda-feira, 28 de julho de 2014
O adeus de João Grilo
Patrulha do politicamente correto retalha o dicionário - Ilustração: Negreiros
Gaudêncio Torquato
João Grilo, astuto e fanfarrão, recitava versos destrambelhados, fazia traquinagens com o amigo Chicó, arrematando impressões com a maior inocência, como a que fez para Manuel, o Leão de Judá, o filho de David, o Jesus negro da peça O Auto da Compadecida:
- O senhor é Jesus? Aquele a quem chamam de Cristo? (...) não é lhe faltando o respeito não, mas eu pensava que o senhor era muito menos queimado.
As lorotas de João provocam gargalhadas, mas, por pouco, não baniram de nossas escolas seu pai, o teatrólogo, advogado, cancioneiro, o admirado romancista de A Pedra do Reino, o imortal da Academia Brasileira de Letras, o genial paraibano Ariano Suassuna, que, ao falecer, quarta feira passada, aos 87 anos, deixa um dos mais ricos legados da história de nossa literatura.
O banimento quase se deu, há alguns anos, quando um grupo que se dizia defensor do conceito “politicamente correto”, vestindo o manto dos censores da Inquisição ou dos anos de chumbo da ditadura de 64, produziu uma cartilha financiada pelo Governo Federal, onde se registravam como discriminatórios verbetes e expressões comezinhas, como “comunista”, “anão”, “beata”, “barbeiro”, “palhaço”, “ladrão”, “farinha do mesmo saco”.
A expressão de Suassuna certamente estaria presa no cárcere montado pelos guardiões do templo da palavra nesses tempos de controle do verbo e descontrole de verbas. O amontoado de besteiras apenas serviu para subir o tom das gargalhadas de João Grilo e Chicó.
Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro (que também nos deixou,semana passada) e Jorge Amado, seu conterrâneo, foram exímios intérpretes da alma nacional. Desenharam uma galeria de personagens desbocadas, autênticas, alegres, doidas, radicais, sem nunca se submeterem ao tacão do “politicamente certo”, conceito que tem sido a vara de condão de grupos ideológicos entroncados na árvore do poder. Amparavam-se na linguagem para retratar o cotidiano. Quem os vê como discriminadores, senão radicais ou ignorantes?
Quem não fica indignado em ver Monteiro Lobato no paredão da censura? Acusam-no de ser preconceituoso por retratar “a preta” Tia Anastácia. Lobato foi execrado por ter comparado Tia Anastácia, personagem em Caçadas de Pedrinho, a uma “macaca de carvão” e, ainda, porque o conto Negrinha, de sua autoria, abrigar conteúdo racista.
Não há como imaginar personagens que tanto encantaram crianças e adultos – como Tia Anastácia, Emília, Pedrinho, Saci-Pererê, Visconde de Sabugosa, – fazendo a discriminação, ao final do século XIX, como enxergam os patrulheiros de plantão.
Jorge Amado, em Capitães de Areia, apresenta João Grande, “negro de treze anos, forte e o mais alto de todos. Tinha pouca inteligência, mas era temido e bondoso”. Retratavam um tempo em que a negritude era apresentada de maneira pejorativa.
Censurar a expressão de uma época é apagar costumes, jogar as tradições na fogueira de Torquemada.
A polêmica sobre o uso do lexema negro na literatura se expande na esteira de um debate enviesado sobre direitos humanos. Ocorre que as lutas pela igualdade têm jogado na vala comum da discriminação manifestações de todo tipo, mesmo as que retratam ciclos históricos.
Voltemos à antiguidade. Aristóteles, o pensador da filosofia clássica, dividia o mundo entre gregos e o resto, no caso, os bárbaros, selvagens e escravos natos.
Já Platão, em sua obra clássica A República, definia o Estado ideal como aquele dirigido pelos melhores. Dizia ele: “o ouro não se mistura ao bronze”.
Joaquim Nabuco, o abolicionista, chegou a se indignar com os sacerdotes que possuíam escravos: “nenhum padre nunca tentou impedir um leilão de escravos, nem condenou o regime religioso das senzalas”.
E o que dizer de Aluisio Azevedo, descrevendo nas páginas de O Mulato (1881): “se você viesse a ter netos, queria que eles apanhassem palmatoadas de um professor mais negro que esta batina?”
Lima Barreto também não escaparia do paredão. Em Histórias e Sonhos, diz: “não julguei que fosse negro. Parecia até branco e não fazia feitiços. Contudo, todo o povo das redondezas teimava em chamá-lo feiticeiro”. Para os ignaros da censura, explique-se que este grande intérprete produziu Clara dos Anjos (1922), libelo contra o preconceito, a história de uma mulata traída e sofrida por causa da cor.
Em Escrava Isaura (1875), Bernardo Guimarães escreve trechos que hoje estariam no índex proibido: “não era melhor que tivesse nascido bruta e disforme como a mais vil das negras”?
Sem esquecer o jesuíta André João Antonil com seu texto que pode ser considerado discriminatório: “os mulatos e as mulatas são fonte de todos os vícios do Brasil”. Ele escreveu o clássico Cultura e Opulência do Brasil (1711).
À guisa de conclusão, o celebrado Fernando Pessoa: “o espírito feminino é mutilado e inferior; o verdadeiro pecado original, ingênito nos homens, é nascer de mulher”. Arrematado por Shakespeare, que narra, em Otelo, o drama de Brabâncio deixando a filha livre para escolher o marido que mais a agradasse. A donzela escolheu um mouro. Otelo foi contratado para matá-lo.
Toda essa moldura vem à tona no momento no adeus a Ariano Suassuna, fiel intérprete do espírito da linguagem. Dizia ele que o português é a linguagem mais sonora e musical do mundo. Daí a necessidade de expressá-la com as nuances das ruas, com seus personagens e sem a gramática que ajusta as curvas da língua, um ato antidemocrático.
Suassuna, “uma aula viva estupenda e um permanente espetáculo folgazão de inteligência, vida, senso de humor e savoir-faire”, no dizer de José Neumanne (OESP, 23/07/2014), deixa grande lição: “respeitemos a linguagem falada, que é diferente da letra”.
Não é possível que a preamar do niilismo, anunciada por Ortega Y Gasset na terceira década do século XX, tente reaparecer em nosso mundo literário.
Que o desaparecimento de Ivan Junqueira, João Ubaldo, Rubem Alves e Ariano Suassuna nessa triste quadra reforce a convicção de que não podemos ceder um milímetro aos organizadores da “nova cultura”.
João Grilo implora.
Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter @gaudtorquato
domingo, 27 de julho de 2014
Dicas para quem precisa comprar um novo pen drive
Do http://canaltech.com.br
Se tem um dispositivo que ficou popular no mundo da tecnologia, este dispositivo é o pen drive. Os pequenos armazenadores de arquivos são encontrados no bolso e na bolsa de quase todo mundo que acessa o computador para poder trabalhar ou se divertir. Conhecido também como dispositivo USB de memória flash, o pen drive é um excelente aparato para armazenar dados e transferi-los de um PC a outro. Tudo pode ser guardado nele: desde fotos, músicas e documentos até sistemas operacionais inteiros.
Há uma variedade enorme de modelos, tamanhos e capacidades de armazenamento dos pen drives. Para te ajudar a comprar seu próximo (ou, quem sabe, primeiro) dispositivo de memória, nós preparamos algumas dicas essenciais.

Pen drive, pra que te quero?
Você já deve ter visto por aí pen drives de tudo quanto é tipo: grandes, pequenos, minúsculos, em formato de bichos, de gadgets e até de celebridades. Se você precisa tansferir dados ou simplesmente ter com você seus principais arquivos sempre à mão, é hora de escolher um desses dispositivos.
Primeiramente, você deve saber quanto espaço será necessário. Tem pen drive por aí com armazenamento bem "chinfrim", suportando no máximo 1 GB ou 2 GB de arquivos. Por outro lado, existem gigantes com capacidade para ignorantes 256 GB. Aí fica a critério do freguês.
A dica é saber qual tipo de arquivo você vai armazenar com mais frequência. Músicas? Fotos? Planilhas? PDFs? Textos? Arquivos CAD? Arquivos PSD? Arquivos mais específicos de trabalho? É com você. Além disso, vale dizer que, quanto maior a capacidade, mais caro é o dispositivo.
Outra dica é entender como será o uso do seu fiel escudeiro. Vai usá-lo com frequência, apagando e gravando dados o tempo todo? Ou é apenas uma unidade de backup de arquivos? Pretende gastar um pouco mais ou economizar um bom dinheiro? Como o pen drive se tornou um aparato extremamente pessoal, só você pode responder a essas perguntas antes de adquirir um novo dispositivo.
Tipos, formas e tamanhos
Há pen drives de todos os tipos, mas geralmente todos são do tamanho ideal para serem carregados em um chaveiro ou em uma cordinha ao redor do seu pescoço. Lembre-se que você não está comprando um HD externo, e sim um dispositivo portátil para caber em qualquer lugar e transportar seus dados com facilidade.

Se você se considera uma pessoa estabanada, fuja de unidades muito pequeninas de armazenamento de dados. Existem pen drives tão pequenos fisicamente que o conector USB é 3 ou 4 vezes maior que seu corpo. Aí você pensa o seguinte: pode ser interessante ter um pen drive tão minúsculo, mas e se você transportar dados corporativos ou confidenciais nele? As chances de perdê-lo ou esquecê-lo plugado no computador da empresa são bem grandes.
Geralmente, os pen drives em forma de bichos, personagens de desenhos ou com alguma temática geek trazem mais beleza que funcionalidade, dificilmente ultrapassando os 8 GB de armazenamento interno. Se para você esse tamanho atende, e o importante mesmo é a estética do aparelho, vá em frente e compre um pen drive divertido. Se esse não for o seu caso, há inúmeras outras opções mais "sisudas" com muito mais capacidade de armazenamento espalhadas por aí.

Novamente, o que vai ser mandatório na hora de escolher o pen drive ideal é o uso que você vai fazer dele. Ninguém melhor do que você para decidir isso.
Segurança
Um aspecto essencial na escolha do novo pen drive é a segurança. A menos que você esteja carregando arquivos sem muita importância, como músicas ou páginas da web, é imprescindível optar por um dispositivo que não te deixe na mão quando alguém tentar acessar os arquivos contidos nele.
Para isso, existem boas maneiras de garantir a segurança de seus dados em um pen drive: a primeira delas é a encriptação, que pode ser feita por meio do próprio hardware (consulte o manual) ou de softwares dedicados.
Softwares úteis para encriptação:
Leia também:
- Como criptografar seus arquivos com o TrueCrypt
A segunda é uma opção que já vem contida em alguns modelos: sensor biométrico. Existem pen drives que só permitem a abertura dos arquivos depois de reconhecer a impressão digital do dono. Dependendo da sensibilidade de seus arquivos, pode ser essa a melhor opção para você.

Velocidade (USB 2.0 ou 3.0)
Você sabe a diferença entre USB 2.0 e 3.0? Aqui vai uma breve explicação: existe uma diferença na velocidade de transferência de dados via porta USB. A versão 2.0 transfere dados, em média, a uma velocidade de 480 Mbps ou 60 MB/s. Já a versão 3.0 obteve um ganho nessa velocidade, transferindo dados com velocidade até 10 vezes maior que o padrão anterior. Em números, isso significa 4,8 Gbps ou 600 MB/s. Uma informação importante: para atingir essa velocidade toda, tanto o dispositivo quanto a placa-mãe do computador precisam ter padrão 3.0.
Lembre-se de um aspecto importante: se você está transferindo arquivos pesados, como vídeos e renderizações, opte pelo padrão USB 3.0. Quanto mais rápido, melhor para você. Portanto, veja na embalagem do dispositivo qual é o seu padrão de velocidade de transferência.
Obs.: a velocidade de escrita também é importante nesse caso. Se você transfere arquivos pesados com frequência, opte por um pen drive com velocidade de transferência de, no mínimo, 10 MB por segundo.
Compatibilidade
O padrão 3.0 é retrocompatível, ou seja, suporta dispositivos 2.0, que são mais antigos. Já o padrão 2.0 não suporta um dispositivo 3.0, por ser mais moderno e possuir o dobro do número de fios. Trocando em miúdos, um pen drive 3.0 pode rodar tanto em um computador cuja placa-mãe tenha padrão USB 2.0 quanto 3.0. Nesse caso, a taxa de transferência ficaria limitada pela capacidade da placa.
A dica é comprar, sempre que possível, um pen drive mais moderno. Atualmente, os pendrives padrão USB 3.0 rodam em qualquer dispositivo, com uma vantagem: em um computador com placa-mãe USB 3.0, a velocidade de transferência de dados será máxima.

Tire o escorpião do bolso
O fator que mais pesa na escolha de qualquer dispositivo é, sem dúvidas, o preço. Mas, vale lembrar que ofertas muito estranhas de marcas desconhecidas podem colocar seus dados em risco. Tenha em mente que o fabricante tem seus méritos. Nada que uma boa pesquisa na web não te ajude a escolher as melhores marcas. Corsair, Kingston, SanDisk, HP e Toshiba são, certamente, boas pedidas. Tem exemplar da Kingston por aí que já foi exposto a chuva, sol e terra durante 5 anos e mesmo assim manteve os dados intactos. É para se pensar ou não?

Nossa dica é a seguinte: faça uma lista dos modelos que mais te interessarem depois de ter lido este artigo. Você terá embasamento suficiente para escolher o melhor pen drive, com a capacidade ideal para você. E não tenha medo de gastar um pouco mais: às vezes, por uma diferença de poucos reais, você leva para casa um aparelho cuja vida útil seja surpreendente e que jamais danifique seus arquivos. Fuja dos baratinhos e xing-lings sem marca; esses, certamente, vão te dar dor de cabeça.
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