terça-feira, 27 de abril de 2021

Orçamento aponta período desafiador para a área fiscal

 


Faria muito bem ao país se o déficit de credibilidade que atinge a política ambiental, a política externa e, tragicamente, a política de saúde pública, ficasse longe da economia. Mas rachaduras já surgiram e a sanção do Orçamento pode agravar o problema.


Depois de negociações duras, o resultado é que em 2021 haverá um Orçamento que aponta para direções opostas.

De um lado, haverá cortes e bloqueios de verbas que colocarão as despesas discricionárias — aquelas sobre as quais o Executivo pode decidir — em um nível baixo ao extremo: R$ 87 bilhões. Isso será feito para que as despesas caibam sob o teto, fixado em R$ 1,486 trilhão este ano.

De outro, há uma avenida para os gastos de combate à covid-19 e suas repercussões. O governo poderá realizar despesas acima do teto de gastos para: bancar programas emergenciais de crédito, reeditar o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) e reforçar dotações para gastos em saúde relacionados à pandemia. Essa autorização foi dada com uma mudança na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021, aprovada na segunda-feira passada pelo Congresso.

O “arrocho” foi anunciado depois. Ao sancionar a lei orçamentária, o presidente Jair Bolsonaro vetou R$ 11,9 bilhões em emendas de parlamentares e R$ 7,9 bilhões em despesas da União. Adicionalmente, foi anunciado um contingenciamento (bloqueio) de mais R$ 9 bilhões em despesas discricionárias. Esse último valor pode ser liberado, a depender do andamento das contas ao longo do ano.

Com isso, há quem fale em risco de desligamento (“shutdown”) da máquina pública, algo desmentido pelo secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues. Áreas menos prioritárias, do ponto de vista do Palácio do Planalto, tendem a sofrer mais.

Mas o que acendeu o sinal de alerta no Tribunal de Contas da União (TCU) é o que acontecerá acima do teto de gastos. A alteração na LDO autoriza a edição de créditos extraordinários (que são contabilizados fora do teto) para a pandemia e não estabelece limite. Além disso, retira essas despesas do cálculo do resultado primário das contas públicas, num desenho que faz lembrar os tristes tempos da “contabilidade criativa”.

A falta de limite é o que o ministro da Economia, Paulo Guedes, costuma chamar de “cheque em branco”. Ele chegou a dizer, numa live, que a economia não seria derrubada se o país gastasse mais 1% do Produto Interno Bruto (PIB) para enfrentar a crise sanitária. O que derruba a economia, disse, é “cheque em branco”.

Não foi por acaso que, enquanto a alteração da LDO era votada no Congresso, o Ministério da Economia divulgou uma nota informando que os gastos com a reedição do BEm serão de R$ 10 bilhões e, com o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), de R$ 5 bilhões. Tentou-se estabelecer ali um limite.

Contudo, não faltam pressões para elevar esses montantes. Há articulações no Congresso, com apoio de integrantes do próprio governo, para dobrar o aporte no Pronampe. Além disso, setores da equipe econômica acompanham com atenção o andamento de um projeto de lei que cria condições especiais de financiamento para o setor de eventos, duramente prejudicado pela pandemia.

O Ministério da Economia também espera derrubar na Justiça a migração de funcionários da antiga Secretaria de Receita da Previdência para a carreira de analistas da Receita Federal. É uma conta de R$ 2,7 bilhões. A medida havia sido vetada 12 anos atrás pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O veto foi derrubado pelo Congresso nesta semana.

O futuro incerto das contas públicas reflete a falta de visão, coragem e liderança política para promover um ajuste estrutural nos gastos do governo federal. As intenções reformistas de um ministro da Economia liberal empacaram na história do presidente Jair Bolsonaro, que pautou sua atuação parlamentar na defesa de interesses corporativos.

A chamada “PEC Emergencial” e, agora, a LDO de 2022 deixaram espaço para a concessão de reajustes salariais para servidores. A alta da inflação, por sua vez, empurrará o teto de gastos para cima, de forma que no ano eleitoral haverá R$ 106,1 bilhões a mais para impulsionar inaugurações.

Ao que tudo indica, 2022 será mais um ano em que a política fiscal jogará apenas para cumprir a tabela, na melhor das hipóteses.

No Valor Econômico    


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