sábado, 14 de dezembro de 2019

e-mail: a forma de comunicação mais invasiva já inventada


Uma antiga matéria, vale a pena ler novamente...
Apps, executivos e empresas buscam solução para 'bombardeio' de e-mails
Por Nick Bilton, no "New York Times"

No dia 31 de dezembro, eu tinha 46 mil mensagens de e-mail na minha caixa de entrada. No meu primeiro dia de trabalho neste ano, eu tinha zero.

Não, não passei duas semanas respondendo todas aquelas mensagens. Eu as apaguei –sem sequer ler uma– e declarei o que é conhecido como falência de e-mail.

Sou um cara mau por ignorar esses e-mails? Ou, de alguma maneira, os remetentes tem culpa? Provavelmente um pouco dos dois.

Pela primeira vez na história, comunicação de longa distância é essencialmente gratuita. Claro, cartas tradicionais são legais. Mas poucos de nós precisam de papel e de selos para correspondência. Não mais contamos os minutos em chamadas telefônicas, preocupando-nos com a conta. E certamente não precisamos fazer uma viagem –seja à casa ao lado, seja ao outro lado do mundo– para nos comunicarmos com alguém.

E-mails e mensagens em redes sociais, ou mesmo mensagens de texto em serviços como o iMessage custam nada além do dispositivo que seguramos na mão. Como resultado, somos bombardeados por mensagens. Não há escapatória: e-mail é provavelmente a forma de comunicação mais invasiva já inventada.

Segundo um estudo recente pelo grupo Radicati, uma empresa de pesquisa em mercado focada em tecnologia de Palo Alto, Califórnia, as pessoas trocam 182 bilhões de mensagens por dia ao redor do mundo. Isso significa mais de 67 trilhões de mensagens por ano –mais do que os 144 bilhões de mensagens por dia em 2012, ou 52 trilhões de mensagens. O número de contas de e-mail ativas teve um incremento para 3,9 bilhões no ano passado –havia 3,3 bilhões em 2012.

Estima-se que o número de endereços novos vá crescer 6% por ano durante os próximos quatro anos.
Bilhões, trilhões –não levará muito tempo para falarmos sobre e-mails em termos de quarilhões.

"É o feijão com arroz da economia comportamental", diz Clive Thompson, autor de um novo livro, "Smarter Than You Think: How Technology is Changing Our Minds for the Better" ("mais esperto do que você pensa: como a tecnologia está transformando nossas mentes, para melhor", em tradução livre, e colaborador ocasional da "The New York Times Magazine". "Você torna fácil algo, e as pessoas fazem mais disso."

Estudos mostram que todo esse e-mail leva a um ambiente de trabalho contraproducente e tomado por ansiedade, diz Gloria Mark, professora de informática na Universidade da Califórnia, Irvine, que vem estudando os efeitos do e-mail no ambiente de trabalho desde 2004. A pesquisa de Mark aponta que pessoas que deixam de usar e-mail durante o trabalho sofrem menos de estresse e se tornam mais focadas e produtivas.

Thompson diz que, no ambiente de trabalho, o e-mail se tornou uma barreira à eficiência. "A pessoa sente a necessidade de incluir outras 10 em uma mensagem de e-mail só para fazê-las saber que está sendo produtiva", diz. "Mas, como resultado, isso acaba tornando essas outras 10 pessoas menos produtivas, porque elas têm de lidar com aquela mensagem.

Várias start-ups estão tentando resolver os problemas implicados pelas montanhas de mensagens. Mas aquelas que oferecem alguma ligeira solução são, com frequência, compradas antes de seus produtos chegarem a um grande público.

No ano passado, a Mailbox, que criou uma "caixa de entrada inteligente", foi vendida à Dropbox por estimados US$ 100 milhões. O Yahoo! comprou a start-up de e-mail inteligente Xobni –o nome é "inbox" (caixa de entrada) ao contrário– por US$ 48 milhões, também no ano passado.E, em 2012, o Google adquiriu a Sparrow, dona de um aplicativo inteligente para e-mail, por estimados US$ 25 milhões.

Branko Cerny, criador do SquareOne, autointitulado software de e-mail livre de estresse, diz que a tecnologia poderia ajudar a resolver os problemas no ponto de recebimento, o que o SquareOne faz ao selecionar e categorizar mensagens importantes, mas que apenas a consciência dos usuários poderia evitar as inundações de e-mail.

No passado de cartas físicas, as pessoas refletiam sobre o que escreveriam antes do envio, disse Cerny. Com o digital, é enviar primeiro e pensar depois.

O Google causou arrepios em muitas pessoas na semana passada quando disse que permitiria às pessoas enviarem e-mail a qualquer um, mesmo se eles não tivessem o endereço de e-mail do outro, contanto que ambas partes tivessem contas no Gmail e no Google+.

Algumas pessoas inventaram suas próprias soluções para os problemas do e-mail. Luis Suarez, executivo na IBM, decidiu atacar sua caixa de entrada há vários anos, e, de certa maneira, parece ter vencido.

Ele disse que moveu a maior parte de suas comunicações para plataformas públicas e sociais. Quando as pessoas contatam Suarez por e-mail, sem saber que ele não é fã daquela rota, ele escaneia sua assinatura de e-mail em busca de uma rede social que a pessoa usa e, então, responde de maneira pública, seja no Twitter, no Google+ ou no LinkedIn. Dessa maneira, diz, ele pode lidar com diversas mensagens de uma só vez.

Ao longo dos últimos anos, ele conseguiu baixar o número de mensagens de sua caixa de entrada em 98%. Ele raramente usa e-mail.

"Se o e-mail fosse inventado hoje, provavelmente não teria sobrevivido como uma tecnologia", diz Suarez. "Sites e redes sociais são tão mais eficientes."

Para aqueles que não conseguem lidar com a enxurrada de e-mail, sempre há a opção extrema. Quando as mensagens se aglomeram, pressione Delete, e declare falência de e-mail.



Para saber mais, clique aqui. 




Para saber mais, clique aqui