sábado, 17 de junho de 2017

"O custo para eu liderar a Petrobras é muito alto. Por isso, tem de valer muito a pena"


O observador não deve estranhar se for tomado por uma sensação de assombro ao presenciar, a poucos metros, o encontro entre Pedro Parente e Luiz Carlos Trabuco. Afinal, esses dois senhores, sentados logo ali, frente a frente, não são apenas presidentes de gigantes do mercado brasileiro - eles lideram dois símbolos nacionais. Parente assumiu a Petrobras em junho do ano passado, com a missão de resgatar a petrolífera do maior buraco, ético e financeiro, em que a estatal se meteu em 63 anos de história. Trabuco, por sua vez, desde 2009 comanda o septuagenário Bradesco. Pense que cada frase, sorriso ou mesmo franzir de testa que brota desse contato está ligado a um valor de mercado de R$ 370 bilhões e a um quadro de 180 mil funcionários (na soma das duas empresas). Nem de longe é coisa pouca.
À primeira vista, como gestores, ambos não poderiam parecer mais desiguais. O engenheiro carioca Parente, aos 64 anos, é reconhecido como um equacionador de crises, o que o torna um nômade corporativo. Assim, empilha passagens pelo setor público e privado, quase sempre carregando um balde d'água para apagar incêndios. Na política, passou por três ministérios no período FHC. Em 2002, assumiu as Minas e Energia para desatar o nó elétrico. Ficou conhecido como o 'ministro do apagão'. Depois disso, participou da reestruturação do grupo de mídia gaúcho RBS e presidiu a Bunge no Brasil.
A estabilidade, em contraponto, é o traço essencial de Trabuco. Ele entrou no Bradesco aos 18 anos. Começou como escriturário e subiu todos os degraus da dinastia da Cidade de Deus, onde fica a sede da instituição, em Osasco (SP). Natural de Marília, no interior paulista, Trabuco é surpreendente. Na infância, dividia uma casa de dois quartos com mais dez pessoas (os pais, dois avós e seis irmãos). Dessa multidão, refugiava-se na biblioteca da cidade. Tornou-se um leitor voraz. Ainda menino, compreendeu o valor da informação. Todos os dias lia jornais velhos deixados de lado pelo dono de uma tecelagem onde trabalhava. Certa vez, disse na escola: 'Vai haver 13º salário'. Tomaram-no por tolo. Afinal, só cabem 12 pagamentos em um ano. Ele, contudo, concluiu: 'Fiquei sabido'. Hoje, aos 65 anos, não dorme sem vasculhar todas as notícias do dia. Para completar, dirige um banco, mas tem graduação em filosofia e pós em sociologia.
Apesar de diferentes, a experiência de Parente e Trabuco funde-se nas próximas páginas, em meio a temas como a perspectiva das indústrias de petróleo e bancária, os desafios e desarranjos do crescimento brasileiro, além, claro, dos meandros da vida no topo das grandes corporações. Outro aspecto que os une é que, ambos, são profissionais que, pela destreza, o economista Delfim Netto define como gestores que 'fazem tricô com quatro agulhas'. A seguir, eles mostram que têm muito a tricotar.
Luiz Carlos Trabuco Como você avalia o salto que a Petrobras já deu durante a sua administração, em um prazo curto de tempo?
Pedro Parente Olha, Trabuco, na verdade, fico muito preocupado quando as pessoas dizem que progredimos muito. É verdade, e devo reconhecer, houve avanços. A Petrobras saiu do noticiário policial. Hoje, as notícias relacionadas à companhia estão no lugar de onde nunca deveriam ter saído: nas páginas de negócios. Mas muita coisa precisa ser feita. E quando a gente perde a noção de que existe uma crise, fazer as coisas difíceis se torna ainda mais difícil. Eu me refiro especificamente ao nosso programa de parcerias e desinvestimento. Para uma empresa privada, essa seria uma iniciativa complicada. Para uma estatal, é pior. Além de questões envolvendo o Tribunal de Contas da União (TCU), temos de lidar com um componente ideológico sempre presente nos temas relacionados à Petrobras. No Bradesco, é diferente. Vocês decidem. Está feito. No nosso caso, a decisão é só o começo de um longo processo que terá questionamentos, liminares. É uma batalha.
Trabuco Essa gestão transformacional da Petrobras é muito desejável. A cadeia de óleo e gás é fundamental para o Brasil. Tem grande relevância na geração de empregos. Meu desejo é que você apresente o caso da Petrobras como um exemplo de sucesso no Fórum Econômico Mundial, em Davos, em 2018. Aliás, este ano, assisti a um seminário em Davos sobre a falência das previsões. Lembrei que, em 2016, vi o herdeiro da coroa da Arábia Saudita dizendo que o petróleo chegaria a US$ 20 o barril. Acreditei. Dei até uma entrevista sobre isso, ganhei uma manchete no jornal. Mas, claro, o petróleo a US$ 20 desarticularia a indústria.
Trabuco De qualquer forma, o que podemos esperar do preço do petróleo?
Parente Posso falar sobre os drives que puxam o preço para baixo ou para cima. O fato é que os grandes produtores da indústria tradicional de óleo e gás têm condições de colocar a produção no nível que desejarem. No último trimestre de 2014, a Opep decidiu deixar esse preço cair, para criar dificuldades para o produtor americano do shale gas [o gás de xisto]. Acho que eles pensaram: vamos ver se a gente quebra essa turma. O que aconteceu? O shale resistiu. Esse pessoal é diferente da indústria tradicional. Eles produzem, e se colocam na posição de produzir, com rapidez muito maior. Isso significa que têm uma grande capacidade de adaptação às circunstâncias de mercado. Depois, houve uma decisão de reduzir a oferta. A cotação do barril atingiu US$ 55. A questão é que, quanto mais alto o preço do petróleo, mais se perfura shale nos Estados Unidos. Dada essa dinâmica de curto prazo, tenho dificuldade de ver um aumento expressivo na cotação. Mas existe um outro lado nessa história. As indústrias tradicionais realizaram grandes cortes de investimento, ano a ano, desde 2014.
Época NEGÓCIOS O que isso significa?
Parente A decisão de deixar de investir hoje não terá repercussão imediata no nível de produção. Isso porque você está retirando dos poços o petróleo que já descobriu no passado. Mas a falta de investimento pode ter, sim, impacto na produção a médio prazo. Assim, dado o esgotamento da produção atual, e graças ao hiato de investimento nesses últimos três anos, pode ser que falte petróleo. Agora, isso vai acontecer? Quando penso nisso me lembro de uma frase do Delfim Netto. Ele dizia que o câmbio era uma variável inventada pelo diabo para desmoralizar economistas. Eu acredito que o preço do petróleo é uma variável inventada pelo diabo para desmoralizar os presidentes de empresas de óleo e gás. Mas deixa eu inverter um pouco a bola. Vamos falar da indústria bancária. A gente observa que os juros praticados no país são muitos superiores aos de outros mercados. Sei que existem componentes importantes de carga tributária e inadimplência nisso, mas vai chegar o dia em que teremos taxas menores? E não vale dizer que os juros são uma variável inventada para desmoralizar os banqueiros.
Trabuco A nossa aposta, e a minha crença pessoal, é que se o juro no Brasil não convergir ao internacional é porque alguma coisa aconteceu na economia brasileira. É desejável que o custo de capital aqui siga os padrões internacionais, com pequenas variações, mas não com a atual discrepância. E essa questão já está colocada. O Banco Central a tem entre suas prioridades. É evidente que devemos olhar para aspectos como a carga tributária. Existem dois países no mundo que têm imposto de intermediação financeira. O Brasil é um deles. Temos o IOF. Ainda existe a questão dos depósitos compulsórios e a inadimplência. Mas um tema importante que precisa ser endereçado é o crédito direcionado [que inclui operações rurais, empréstimos imobiliários e do BNDES]. Hoje, ele representa a metade do crédito concedido no país. Oferece juros baixos, mas quem paga por isso é o crédito livre.
Parente Mas os bancos estão preparados para atuar com um spread menor? Essa é uma indústria que, mesmo em um período de recessão, tem apresentado resultados positivos. O que sugere que isso poderia acontecer. Mas vocês também estão lidando com inovações disruptivas. Na verdade, vocês atuam sob um duplo ataque. De um lado a pressão do spread, do outro as mudanças tecnológicas.
Trabuco Existe ainda o custo trabalhista e o peso da violência. São raras as semanas em que temos menos do que 15 explosões em agências.
Parente Por semana?
Trabuco Sim. Mas acho que o sistema bancário enxergou as possibilidades adequadas. Teve um adensamento, mais por seleção dos mais aptos, uma seleção natural, do que por um processo de concentração por outros objetivos. Aliás, uma das vantagens comparativas do Brasil é a saúde do sistema bancário. Agora, temos de compatibilizar dois conceitos muito importantes: ser uma instituição high tech, mas também de alto contato, high touch. Mesmo porque, independentemente do canal que vamos usar, o contato humano é fundamental. Por isso, acredito que a área de recursos humanos é um grande desafio. Tenho uma grande preocupação com engajamento. Temos 10 mil gerentes, com um orçamento a cumprir e um programa de objetivos a entregar. Essa capacidade de entrega é crucial, e o engajamento é muito importante nesse contexto. No Bradesco, temos uma cultura de valores e princípios que privilegia a carreira. Somos um banco de carreira. Exceto nos bancos incorporados, nós formamos as pessoas passo a passo, e elas não só vestem, mas suam a nossa camisa. Em um momento de margens menores, essa é uma grande vantagem.
Parente A cultura do Bradesco é algo muito forte. Ela dá previsibilidade à atuação dos gestores. Mas, para mim, a questão é: diante do desafio da tecnologia, ela terá de mudar ou é compatível com este novo momento?
Trabuco A nossa cultura foi gestada nessas sete décadas de administração contínua. Temos o mesmo nome e usamos a mesma cor desde 1943. Grandes lideranças passaram pela presidência do banco, como o lendário Amador Aguiar, o profissionalismo do Lázaro Brandão, o Marcio Cypriano e, agora, eu estou na presidência. Isso nos ajudou a ser um banco que valoriza a prata da casa. Quanto a isso não temos dúvidas. O desafio, agora, é fazer com que a prata da casa fique atualizada. Eu aprecio uma frase do Paulo Freire. Ele dizia que a educação não muda o mundo, mas muda os homens - e os homens mudam o mundo. Mas a nossa cultura não é uma coisa congelada. Eu acredito que as empresas não podem ter âncoras. Elas deixam a companhia no mesmo lugar. Agora, uma empresa tem de ter raízes, que são dinâmicas, alimentam a árvore. A nossa cultura é esse substrato que dá o que você chamou de 'previsibilidade' às ações dos nossos gestores. Acho que ela é fundamental em uma sociedade que, como definiu o filósofo polonês Zygmunt Bauman, é líquida, fragmentada.
Parente Ela é muito importante.
Trabuco Sim. E as fintechs, as startups do mundo financeiro, são uma ameaça e uma oportunidade para os bancos. Precisamos incorporar esses processos, essas ideias, trazê-las para dentro de casa. Não dá para deixar de pensar que o mundo vive um processo de 'uberização'. Isso por mais que a Justiça e os códigos trabalhistas tenham dificuldade em reconhecer. O fato é que o trabalho mudou. Outro dia li um painel sobre o mundo do trabalho. Ele trazia exemplos de três gerações. A pessoa mais velha teve apenas um emprego na vida. A do meio teve quatro. A terceira, o mais jovem, tem cinco empregos ao mesmo tempo. É uma fragmentação muito grande.
Trabuco Mas, por falar em mudanças, como você vê a relação entre a indústria de petróleo e as múltiplas fontes de energia? Em outros momentos, acreditou-se que a Petrobras poderia atuar em todas essas frentes. Esse foi um processo de diversificação ou de dispersão?
Parente Ex post, ou seja, comentando após os fatos, foi um processo de dispersão. No nosso plano estratégico, dizemos não somente o que vamos fazer, mas principalmente o que não vamos fazer. Para dar clareza à estratégia, às vezes é mais importante a sua capacidade de dizer não do que a de falar sim. No planejamento, está claro que vamos sair de áreas como biocombustíveis, petroquímica e fertilizantes. Os biocombustíveis, por exemplo, estão em um setor agrícola. Eu vim da Bunge e sei como isso funciona. E não há nada mais distante da Petrobras do que gestão agrícola. Para você ter uma ideia, a empresa embarcou em um projeto de produção de óleo de palma, no Pará. Ele parou no meio. Agora, temos uma plantação enorme, com um custo de manutenção elevadíssimo, e não sabemos o que fazer com aquilo.
Trabuco A ideia é se concentrar em óleo e gás? Parente Sim. Temos uma visão muito clara: neste momento, tudo o que não é óleo e gás é dispersão. A discussão de temas ligados à economia de baixo carbono e às mudanças climáticas é muito importante, mas a realidade é que o óleo e o gás ainda estarão presentes por décadas. Tem gente que acha que o pico do petróleo, a partir do qual o consumo só iria reduzir, vai acontecer entre 2040 e 2050. Tem gente que nem sequer consegue prever quando isso ocorrerá. É verdade, por outro lado, que existem mudanças relevantes em curso. E elas devem ser consideradas. Na comunidade europeia, por exemplo, observamos uma redução pequena, mas crescente, no consumo de petróleo. E isso ocorre mesmo quando o preço do barril diminui. A Alemanha também proibiu a fabricação de veículos com motores a combustão a partir de 2030.
Época NEGÓCIOS Essas são mudanças expressivas.
Parente Sim. Nós vamos concentrar nossa ação em óleo e gás, mas sabemos que temos de desenvolver as habilidades necessárias para conduzir a empresa, no futuro, para usos com maior valor agregado do petróleo e para as energias alternativas. O que são essas energias hoje? Isso será objeto de estudos e desenvolvimentos, que vamos começar a fazer imediatamente no nosso centro de pesquisas. Qual será o negócio da Petrobras no dia em que o petróleo deixar de ser importante? Não é possível dar essa resposta hoje. A maior parte das grandes empresas do setor também faz essa pergunta, mas 95% dos negócios dessas companhias continuam em óleo e gás.
Trabuco Pensando nisso, é quase inevitável refletir sobre o futuro do Brasil. Eu tenho uma visão otimista em relação ao nosso potencial. Como você vê o Brasil nos próximos dez anos?
Parente Olha, Trabuco, eu também sou um otimista, mas uma coisa me deixa muito triste: é a imensa diferença entre o nosso potencial e o que realmente somos. A grande verdade é que as lideranças do país, das quais fazemos parte, não construíram um modelo de nação que pudesse explorar ao máximo esse potencial. O Brasil ainda se perde em discussões que são pelo menos da primeira metade do século passado.
Época NEGÓCIOS Por exemplo?
Parente O conjunto de regras trabalhistas que temos hoje era moda na primeira metade do século passado. E não é pequeno o atraso que isso provoca no crescimento, na geração de renda e riqueza. Riqueza, digo, no melhor sentido do termo. Não estou falando em enriquecer as pessoas. Eu me refiro ao patrimônio do país. Temos um grande potencial, Trabuco, mas olha onde estamos. Pense em coisas como a insegurança jurídica na qual vivemos. Em relação a esse tema, existe um aspecto pouco comentado, que diz respeito à questão tributária. A insegurança, nesse caso, não é resultado da mudança de regras. É consequência da interpretação das regras. Um fiscal pode concluir que uma empresa fez alguma coisa errada e autuá-la. Mas isso é o que ele acha, e cada cabeça é uma sentença. Ainda assim, a companhia vai ter de contratar advogados, gastar rios de dinheiro e ter de lidar com uma perspectiva de solução daquele problema em no mínimo dez anos. O fato é que temos uma agenda de reformas constitucionais, mas existe uma outra que é a microeconômica, na qual há muito o que fazer. Com ela, é possível facilitar a geração de renda e riqueza. E ela não envolve temas constitucionais. Às vezes, nem sequer existe um entrave legal. É um impasse cultural.
Trabuco Você levantou um tema que surge com frequência quando conversamos com empresários. Como temos negócios com 4 milhões de empresas, discutimos vários assuntos, e o meu sentimento é o seguinte: não se trata de pagar menos imposto. O que as companhias querem é um regime tributário mais objetivo, simplificado. Uma grande indústria de bebidas, que tem um portfólio enorme, me disse que tem 14 mil procedimentos fiscais diferentes. Também não é normal que um país tenha 3 milhões ou 4 milhões de processos trabalhistas. O empresariado brasileiro não pode ser tão ruim.
Parente Ou tão mal-intencionado.
Trabuco Exato. Mas estamos otimistas. Teremos uma nova safra recorde de grãos, com perto de 220 milhões de toneladas. Até o fim do semestre, ela vai virar dinheiro e estamos falando de algo como R$ 180 bilhões. Existe uma certa ansiedade, claro, mas isso tem a ver com a nossa aposta, torcida e trabalho para fazer o Brasil voltar a crescer. Seria ótimo se pudéssemos estar entre as seis maiores economias do mundo. E isso tem a ver com crença, com trabalho, com esperança. Mas será que esperança tem a ver com o verbo esperar? Com uma atitude passiva? Não. Temos pressa. Uma questão que me assusta é o senso de urgência dos governos.
Parente Por isso, acho importante gerar um certo grau de insatisfação entre o que somos e o que poderíamos ser. Mas você falou no Agronegócio. Repare que ele é uma das coisas mais desregulamentadas que existem no Brasil. O pessoal trabalha de acordo com o mercado internacional, com os preços fixados sem interferência do governo. Não tem imposto de exportação. Ou seja, existem lições aí.
Época NEGÓCIOS Mas os senhores acreditam que a confiança dos agentes econômicos voltou?
Trabuco Estamos em contato presencial com nossos 10 mil gerentes. A cada três dias promovemos um grande workshop com perto de 1,5 mil deles. Temos o sentimento de que o pior ficou para trás. Este ano, o Agronegócio vai ser um dos motores do crescimento. Outra coisa que não podemos subestimar é a força da queda da taxa de juros. E há outro dado importante: o custo da alimentação para este ano vai ter o menor peso no comprometimento da renda dos assalariados dos últimos três anos. Também voltou a crescer o número de horas trabalhadas. Isso significa que a economia está se movimentando. O processo é lento. Vai ser uma recuperação que não vai gerar tanto emprego como seria necessário, porque o emprego só cresce com taxas altas de investimento. Mas o direcional está definido.
Parente Concordo. E a velocidade dessa retomada vai depender de outras coisas, muitas delas relacionadas à área política.
Época NEGÓCIOS Quais?
Parente Qual será o impacto da Lava Jato na capacidade de governar do governo? Qual será a capacidade do governo de continuar gerando as reformas e as mudanças que são necessárias? Essas dúvidas remetem à questão política. Isso tem a ver com confiança.
Trabuco A esperança é algo fundamental. Se você não esperar que vai ter um bom dia, terá dificuldade de sair de casa. Acho que já saímos desse estágio e estamos na fase da confiança. Isso está refletido nos juros, no câmbio e nos indicadores de inflação. Há um ano estávamos com o dólar a R$ 4,18. Hoje, buscamos algo próximo de R$ 3. Esse é um gesto de confiança. Há ainda a robustez das reservas. E o Brasil é um destino excepcional para investimentos. Agora, Pedro, senso de urgência é importante. Ele tem de ser muito grande. Nós, como presidentes de companhias, vivemos a necessidade de prestar contas. Um valor fundamental da gestão é o senso de urgência. Acho que todo executivo é obcecado. Eu sou obcecado com isso.
Época NEGÓCIOS O que poderia aumentar esse senso de urgência?
Trabuco As concessões, as parcerias, as privatizações. Temos de contaminar o Congresso com esse senso de urgência. O tempo é o bem mais escasso de qualquer pessoa. Principalmente do governante. O espaço você pode ganhar ou perder. É uma lei da física. O tempo não. Você sempre perde. Isso se agrava em uma sociedade desigual como a brasileira.
Parente Um governo que tem dois anos de mandato, por definição, tem de ter pressa. Acho que as questões microeconômicas poderiam andar mais rapidamente. Por exemplo, no setor de óleo e gás, o investimento virá se o governo fizer os três leilões que estão previstos para este ano.
Época NEGÓCIOS Os três leilões são essenciais?
Parente Essenciais, nessa linha que o Trabuco falou. Pode fazer dois, mas por que dois, se é possível fazer três? Quanto mais leilões, em uma área tão boa como o pré-sal, mais investimentos. Mas o governo pode não chegar ao ponto que quer porque é um mediador. Tem de um lado a indústria de suprimentos, pedindo mais proteção, e do outro nós, dizendo que quanto mais proteção, maior o custo.
Época NEGÓCIOS O que de mais importante foi feito na Petrobras na sua administração?
Parente Anunciamos um plano de cinco anos. Então, temos um plano para entregar. A execução é a parte mais difícil. No plano, existem duas métricas fundamentais: a segurança e a redução da alavancagem. Uma empresa não pode se conformar com o nível de endividamento que tem a Petrobras. No fim de 2015, era de mais de cinco vezes a geração operacional de caixa. Temos, até o fim de 2018, de entregar uma alavancagem que não seja superior a 2,5 vezes a geração operacional de caixa. Para fazer isso, temos algumas linhas de ação: reduzir custos e investimento, o programa de parcerias e desinvestimentos.
Época NEGÓCIOS E o que ainda falta fazer na Petrobras?
Parente Entregar o plano. Tão simples assim. Mas, voltando ao tema anterior, o que fizemos de mais importante foi, em primeiro lugar, tirar a empresa do noticiário policial. Depois, reconquistar a credibilidade, embora esse seja um trabalho de todos os dias. Prometer e entregar. Essa foi a grande mudança. Isso era algo raro na Petrobras. Por exemplo: as metas de produção. Este foi o segundo ano, depois de vários anos, em que a meta anunciada foi entregue. Eu dizia também que iríamos ter uma política de preços. As pessoas reagiam com ceticismo. Pois temos uma política de preços sem interferência do governo. Aliás, eu não me lembro de nenhum outro presidente da Petrobras que tenha tido a autonomia que o presidente Temer me deu. Dissemos também: vamos ter um programa de parcerias e desinvestimento que totalizará US$ 15,1 bilhões. Fizemos US$ 13,6 bilhões, porque houve uma liminar que nos impediu de alcançar a meta. Aí, a gente cai em uma questão que é peculiar à Petrobras. É a ideológica. Como a companhia é amada pelos brasileiros, aqueles que estão contra a nossa visão de trabalho vão fazer tudo que for possível para dificultar nossa atuação.
Época NEGÓCIOS Se daqui a dois anos o novo presidente disser: Pedro continua na Petrobras. O que o senhor faz?
Parente Eu continuo. Isso se mantidas as condições atuais. Estou tendo um alto custo para liderar a Petrobras. Antes de assumir a empresa, eu ganhava muito mais e não corria riscos. Quando falo em riscos, me refiro a ações de procuradores, do TCU. Essas liminares contra nossas iniciativas são ações populares, e meu nome está nelas como réu. Alguém acha isso bacana? O custo financeiro é fácil de medir. Ele é limitado. Não é uma conta em aberto. O risco é o contrário. Vou ter de responder a uma ação no futuro? Não sei. Ninguém sabe. Como é isso para mim? Simples: dado que o custo é muito alto, tem de valer a pena.
Época NEGÓCIOS O que é valer a pena?
Parente Fazer o que tem de ser feito. E fazer o certo.
Época NEGÓCIOS E o senhor, Trabuco, qual seria o ponto mais importante para encabeçar uma agenda nacional?
Trabuco Para retomar a taxa de investimento é o programa de concessões, privatizações e parcerias. Uma coisa está clara: em qualquer país, a capacidade de investimento em relação ao emprego está no setor privado. Mas o fato é que todos os nossos desafios requerem um senso de direção e urgência dramático, mas necessário. É disso que precisamos.

Época Negócios

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