sábado, 4 de março de 2023

Caminhos para melhorar a empregabilidade

 


A péssima distribuição de renda no Brasil é especialmente nociva quando se pensa nas crianças e nos jovens. 


Enquanto filhos da classe alta frequentam colégios privados com valores de mensalidades múltiplos de mil reais, as famílias pobres, recebendo apenas pouco mais de uma centena de reais de Bolsa-Família, enviam sua prole a escolas públicas de qualidade deficiente. Para piorar, coma deflagração da pandemia e a consequente interrupção das aulas escolares, houve ainda maior deterioração no padrão educacional dos menos favorecidos.

O abismo em termos de oportunidades é tão agudo que não é possível 'ficar sentado' esperando que um milagre aconteça, e a convergência na qualidade entre os sistemas de educação público e privado transcorra da noite para o dia. É preciso pensar em maneiras de ampliar a capacitação e o preparo daqueles que apresentam hoje uma deficiência em sua preparação educacional e profissional.


Nesse sentido, programas que visem a melhoria da condição de empregabilidade são fundamentais no cenário social brasileiro. A ideia é pular etapas e ajudar o indivíduo a, rapidamente, encontrar uma colocação em algum ramo de atividade. Em linhas gerais, os programas envolveriam políticas de treinamento ou de assistência na busca por trabalho ou, ainda, alguma forma de subsídio para a geração de empregos, sem perder de vista, naturalmente, a delicada situação fiscal do Estado brasileiro e a imensa diversidade da população que enfrenta dificuldades no mercado de trabalho, desde os muito pobres com fundamental incompleto, passando pelos profissionais com ensino médio completo e até mesmo aqueles com terceiro grau finalizado.

Uma farta literatura empírica internacional de avaliação dos chamados 'programas ativos de mercado de trabalho', conhecidos globalmente como ALMPs, 'Active Labor Market Policy', vem sendo produzida. No Brasil, foram implementados múltiplos e diversificados ALMPs, sendo alguns deles bem ambiciosos em termos de disponibilização de recursos e objetivos. Ao longo dos últimos 25 anos, os mais abrangentes foram: o Plano Nacional de Formação Profissional (Planfor, 1995-2003); o Programa Nacional de Qualificação (PNQ, 2003-2012); e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec, 2011, -). Em todos eles, segundo meu colega no FGV Ibre Fernando de Holanda Barbosa Filho, apesar dos esforços na criação, as iniciativas foram mal coordenadas e tiveram objetivos pouco claros, impedindo um processo regular de aprimoramento dos programas.

Diante desse quadro, vale mencionar um caso emblemático, recente e rico de ensinamentos acerca da qualificação profissional no Brasil: o Pronatec. O programa foi concebido em 2011 com o objetivo de ampliar, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de educação profissional. O público-alvo eramos alunos do ensino médio público, os beneficiários de programas de transferência de renda e as pessoas que recebiam seguro-desemprego. Contudo, em uma apreciação do projeto feita em um estudo de 2015, Barbosa Filho, Porto e Liberato verificaram que o Pronatec não teve impacto sobre a empregabilidade ou sobre os rendimentos.

Então, à luz da experiência como Pronatec, foi implementado o Pronatec-MDIC, também chamado de 'SuperTec', uma variante do programa principal. O público-alvo era o mesmo do Pronatec, mas o SuperTec trouxe novidades. A 'captura', isto é, o mapeamento da demanda por qualificação era feita diretamente junto às empresas, em termos de tipo de especialização e localidade geográfica. Vale frisar que nem porisso as empresas consultadas tinham qualquer preferência ou exclusividade em relação aos trabalhadores formados. O sistema agregava as diferentes demandas para verificar quais justificariama abertura de uma turma.

Segundo Barbosa Filho, os resultados do Pronatec e do SuperTec sugerem que a análise contínua é fundamental para aprimorar os programas e para entender o que funciona e o que não funciona. Como nota o pesquisador, diante da simples inclusão da captura da demanda junto às empresas, o SuperTec propiciou o aumento da empregabilidade dos participantes em até 16, 8% em relação ao resultado apresentado pelo Pronatec, o que indica que o alinhamento da oferta com a demanda é fundamental. Embora o aprendizado ao longo do processo tenha trazido maior efetividade no uso do dinheiro público, o SuperTec obteve menos de 1% dos recursos totais do Pronatec convencional, segundo relatório do TCU.

Por fim, vale mencionar algumas lições tiradas dos ALMPs já executados mundo afora. Para começar, há hoje uma atenção crescente nos chamados 'soft skills' (ligados à capacidade de se relacionar, trabalhar em grupo etc. ). Essa habilidade pode ser trabalhada e desenvolvida, e deve ser considerada tanto nos programas de qualificação como nos de busca de emprego.

Entender o perfil do aluno, por sua vez, é peça-chave para o sucesso de qualquer programa - não se devem indicar pessoas sem o background adequado para um curso ou projeto. Além disso, as análises dos programas de qualificação profissional tendem amostrar resultados mais favoráveis no médio e longo prazo, já nos de assistência na busca de emprego os ganhos são sentidos em prazos mais curtos.

Em suma, a mitigação do grave e urgente quadro da empregabilidade do Brasil de hoje passa pela adoção de ALMPs que 'funcionem'.

Infelizmente, não há 'bala de prata'. Mas, ao longo das últimas décadas, houve bastante aprendizado com a experiência dos ALMPs. Por agrados e tenha o cuidado de focar em um público-alvo muito bem definido, além de intensificar o rigor com um planejamento bem pormenorizado, uma execução cuidadosa e uma avaliação meticulosa dos resultados.

Esses são alguns dos ingredientes necessários para trilhar caminhos que possam proporcionar o aprimoramento contínuo dos programas.

Simples captura de demanda melhorou a absorção de jovens

Por Luiz Schymura, Valor Econômico    


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