quinta-feira, 30 de março de 2023

A inteligência artificial e o futuro

 


Três décadas de internet conectaram o mundo e o integraram em uma sociedade global, o que não significa que todos estejamos incluídos na esfera digital. Basta um breve exercício e imaginar a realidade da pandemia da covid-19, sem nossos dispositivos computacionais como smartphone, tablets e computadores para nos darmos conta de que já não concebemos mais a vida sem as possibilidades que a conectividade permite.


A inteligência artificial (IA) está embutida e cada vez mais potencializada na explosão de fenômenos associados ao avanço tecnológico, passando pelas plataformas de mídia social, internet das coisas, realidade aumentada, big data, blockchain, fintechs e todas mudanças em curso trazidas pela automação e transformação digital. Entretanto, perdido num presente confuso, cego para as oportunidades e as ameaças que o futuro digital apresenta, o Brasil parece ignorar o que vem pela frente.

Num recente debate na Universidade de Stanford, nos EUA, sobre o impacto da inteligência artificial na economia global, o prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, traçou um cenário pessimista para os países em desenvolvimento como o Brasil. São três as principais razões que reforçam essa posição de Stiglitz. O potencial da IA para economizar mão de obra terá maior impacto em países com setores de produção e exportação intensivos em mão de obra. O potencial de IA para economizar recursos naturais irá causar impacto para os países exportadores de recursos naturais, mas com benefícios para os importadores. Por exemplo, a IA pode contribuir para reduzir a demanda por recursos naturais não renováveis. A concentração de poder tende a aumentar nas poucas empresas que dominam a tecnologia de IA, as chamadas 'big tech', e nos poucos países que oferecem serviços de IA globalmente, com potencial para gerar grandes receitas para países avançados que dominam a lA. Qual a perspectiva para o Brasil nesse cenário?

O kit para o país se posicionar como um ator relevante na economia do futuro passa por três eixos essenciais: infraestrutura, força de trabalho qualificada e políticas públicas para a transformação digital. Além disso, para enfrentar esse futuro, os países em desenvolvimento - precisariam também cooperar e se unir para ter poder suficiente para negociar regulamentação com os gigantes globais de tecnologia que reflita seus interesses.

Não vem sendo essa a tônica nos debates sobre a agenda global para o desenvolvimento. O atual episódio sobre a liberação das patentes da vacina é um bom exemplo, embora surpreendentemente os EUA tenham adotado uma postura distinta de seus posicionamentos históricos - e o Brasil inacreditavelmente tenha revertido o seu.

Mesmo para colaborar internacionalmente, o país precisa também se posicionar sobre seu futuro tecnológico. Em 2017, pressões do Tribunal de Contas da União induziram a elaboração de uma Estratégia Nacional de Desenvolvimento, posteriormente transformada na Estratégia Federal de Desenvolvimento. O documento tem seus méritos, mas ressente-se de um olhar digital e de uma perspectiva internacional comparada contemporânea.

Continuamos pensando no desenvolvimento do Brasil sem levar em consideração o brutal impacto da transformação digital. O assunto é tratado como um segmento da área de ciência e tecnologia, não como um vetor de transformação sistêmica.

Em recente artigo publicado na imprensa, Carlos Américo Pacheco, presidente do Conselho Técnico-Administrativo da Fapesp, chama a atenção para a revolução tecnológica em curso e para a atitude que Estados Unidos, Europa, Japão e China tem tomado. O governo Biden logo no início reafirmou essa visão, ao colocar a ciência e tecnologia no status de ministério e propor um orçamento de mais de US$ 10 bilhões para a 'National - Science Foundation'. 

O Brasil teve momentos de lucidez coletiva importantes nas últimas décadas. Todos governos, desde a redemocratização, acertaram estrategicamente em uma ou mais áreas. A inteligência artificial está transformando o mundo em velocidade crescente e vai mudá-lo ainda mais. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação publicou recentemente uma Estratégica Brasileira de Inteligência Artificial. É pouco, muito pouco, frente ao desafio colocado para o Brasil em um mundo cada vez mais digital. O país segue ocupado demais em uma entropia dinâmica rumo ao passado, esquecendo de formular políticas públicas que pavimentem o caminho para um futuro moderno e inclusivo.

As oportunidades de acumulação de capital humano - e sua potencialização via produção de riqueza de forma inclusiva - nunca foram tantas para o Brasil. As possibilidades estão dadas e em expansão. Como fazer para acordarmos deste transe psicótico é um desafio. 

A questão é: o Brasil precisa definir o que quer ser quando crescer. Alguns documentos publicados nos últimos anos sugerem que, a despeito de suas insuficiências, setores do Estado estão atentos ao problema. Mas o futuro digital depende principalmente do comprometimento da classe política, dos dirigentes empresariais, da academia e da sociedade civil. Nenhum país se desenvolve sem querer e trabalhar muito para isso.

País trata a revolução digital como segmento da ciência e tecnologia, não como vetor de uma transformação sistêmica

Por Francisco Gaetani e Virgilio Almeida, no Valor Econômico (com adaptações)   


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