terça-feira, 7 de março de 2023

Richard Zhang: errar é fundamental


Para o matemático e cientista de dados, o sucesso nada mais é do que a soma de pequenos fracassos - desde que superados, um a um, pela vontade de aprender com os erros


Assim que se formou em física e matemática pela New York University, em 2015, Chengzhao Richard Zhang enviou seu currículo para cerca de 50 empresas em busca de emprego, sem nem sequer ser chamado para entrevista. Na mesma época, tentou uma vaga em 11 cursos de pós-graduação em matemática aplicada e só foi aceito por um. Inscreveu-se e, logo na primeira prova que fez, percebeu que teria uma pedreira pela frente: acertou apenas 35 das 120 questões sobre “equação diferencial parcial”. Um resultado para desanimar qualquer discípulo de Pitágoras — menos aqueles de espirito mais forte, que veem o erro não como o prenúncio do desastre, mas como uma oportunidade para aprender e crescer.

É exatamente este o caso de Zhang. Ele tem pelos erros cometidos o mesmo apreço que dedica aos acertos, porque acredita que estes são uma consequência natural daqueles. "É assustador falhar. O fracasso faz você duvidar da sua habilidade, do seu valor e da sua inteligência, mas não é motivo para parar de tentar. Reflita sobre os erros que cometeu e aprenda uma lição com eles", ensina esse suave canadense de origem chinesa, que recentemente tornou-se também cidadão dos Estados Unidos.

Por não ter medo de errar, Zhang sonha alto e vem construindo uma carreira invejável. Aos 27 anos, já concluiu 14 cursos nas mais variadas áreas de exatas — física computacional, eletricidade e magnetismo, mecânica quântica e teoria da probabilidade, por exemplo — e participa de projetos importantes, como o de machine learning (aprendizado de máquina) para melhorar a gestão de saúde, e a iniciativa FAIL!, que promove eventos justamente para encorajar a resiliência de profissionais em formação diante das naturais dificuldades para se firmar na carreira.

A proposta da FAIL! parte de uma verdade incontestável: não há gênio ou grande personalidade humana que não tenha cometido erros em sua trajetória, por mais brilhante que ela tenha sido. Einstein acreditava que o universo era estático e eterno, mas depois voltou atrás. Reviu suas teorias mais de uma vez. Leonardo da Vinci, tão genial como artista quanto como inventor e engenheiro, cometia erros de cálculo banais. Churchill, que emergiu da Segunda Guerra Mundial como um dos maiores estadistas do século 20, havia sido o principal responsável por uma desastrada incursão na Turquia na Primeira Guerra, que resultou em 45 mil baixas nas forças aliadas.

Em suas palestras, porém, Zhang prefere citar fracassos mais corriqueiros, como os vividos por ele mesmo ou por alguns de seus notáveis professores, por serem exemplos mais próximos da realidade de seus ouvintes. Um personagem sempre lembrado é George Church, professor de genética da Harvard Medical School e reconhecido pelos pares como “o pai fundador da biologia sintética”, que deu um surpreendente depoimento pessoal em uma das primeiras conferências da FAIL!, em 2018. Na ocasião, Church revelou que fora reprovado na pós-graduação na Duke Universlty antes de ser aceito em Harvard e, para espanto da plateia, contou que vivera seis meses como sem-teto. "Aprendi tanto com meus modelos negativos quanto com os positivos", garantiu Church.

Zhang - que confessa fazer tudo o que faz, e na intensidade que faz, pelo pavor primordial de um dia não ter onde morar — fundou a FAIL! com alguns colegas do Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde ele ainda está fazendo sua pós-graduação. Curiosamente, essa escola tão ambicionada por nerds do mundo inteiro foi a única que o aceitou num curso de especialização em 2015. Com a experiência que adquiriu nos últimos anos, hoje o jovem pesquisador certamente encontraria portas abertas em qualquer universidade, mas ele já assumiu atribuições demais para as 24 horas do dia.

Alem de ser um dos membros mais ativos da FAIL! (o site fail-sharing.org reúne vários relatos para quem precisa de uma injeção de ânimo para dar a volta por cima). Zhang coordena um comitê, criado por ele, que promove a troca de experiências entre atuais e ex-alunos do MIT. Como pesquisador, seu principal desafio no momento é identificar e destravar gargalos operacionais na gestão de saúde, projeto feito em parceria com o Massachusetts General Hospital, que é o maior hospital da Costa Leste dos Estados Unidos e está ligado à escola de medicina de Harvard.

"É comum haver sobreposição de exames e outros processos repetitivos que comprometem o fluxo no atendimento hospitalar. Nosso trabalho é detectar esses problemas e eliminá-los com a ajuda de machine learning e inteligência artificial", explica Zhang, cujo trabalho, feito em colaboração com outros cientistas, foi publicado recentemente na revista cientifica Nature.

Quando não está mergulhado nos números ou na interação com as máquinas. Zhang se distrai imaginando projetos de construções comunitárias — este é o único hobby citado por ele, em entrevista por e-mail. É solteiro e sem filhos, mas seus finais de semana não costumam ser muito diferentes dos outros dias. “Ah, gosto muito do musical O Fantasma da Ópera. Já fui ver cinco vezes na Broadway", cita, ao ser perguntado sobre preferências nas artes. Seu passatempo, fica muito claro, é mesmo consertar erros. Dele e dos outros. 

Por Luiz Maciel, na Revista Época 


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