sexta-feira, 7 de maio de 2021

Marco legal da mini e microgeração pode ter custo bilionário

 


Polêmico, PL 5829 beneficia um pequeno grupo; subsídios serão arcados por 83 milhões de consumidores

 

Perto de ser posto em votação na Câmara dos Deputados, o projeto de lei (PL) 5829/2019, que cria um marco regulatório para a geração distribuída de energia, pode armar uma bomba tarifária nos próximos anos. Quem vai pagar essa conta são milhões de brasileiros.

A proposta em discussão estende por mais 25 anos as regras de um sistema de compensação aos 'prosumidores' - consumidores que geram sua própria energia, normalmente em miniusinas solares - que vem causando polêmica no setor elétrico. Desde 2019, o assunto move uma 'guerra de versões', encobrindo os aspectos técnicos da discussão.

Para especialistas, da forma como está estruturado hoje, o modelo de compensação aos prosumidores geraria subsídios cruzados, 'invisíveis' na conta de luz, e beneficiaria quem detém um pequeno sistema gerador e penalizaria os demais consumidoTes. Isso aconteceria porque os prosumidores deixam de pagar alguns componentes das tarifas, como o uso da rede da distribuidora, e esse custo acaba sendo redistribuído.

São cerca de 470 mil beneficiários da chamada 'GD', num mercado de mais de 83 milhões de unidades consumidoras de energia, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Esse grupo de beneficiários se concentra em residências das classes 'A e AA', além de empresas de serviços, comércio e bancos, informa a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).

'Estamos tendo uma inversão da pirâmide, é o consumidor de menor renda que está suportando esse subsídio', diz o presidente da entidade, Marcos Madureira. Segundo ele, em 2021, os subsídios à GD já vão superar os da Tarifa Social (R$ 3, 5 bilhões), que beneficia 11 milhões de consumidores de baixa renda. Curiosamente, está oculto nas contas mensais de luz. Estudo da consultorias PSR e Siglasul mostrou que, caso o PL 5. 829 seja aprovado, os subsídios à geração distribuída teriam um impacto de R$ 500 bilhões nas tarifas de energia até 2050. Trazido a valor presente, o custo seria de R$ 135 bilhões.

Mas o crescimento exponencial da 'GD' desde 2018 já começa a aparecer nas tarifas. O subsídio já tem impacto de 3% nos reajustes das distribuidoras em 2021, segundo a Abradee. Em algumas de menor porte, o efeito pode ser até de 10%. 'Pedimos oficialmente que a Aneel publique nos reajustes qual é o impacto da geração distribuída', afirma Madureira.

Os cálculos de custos bilionários da 'GD', e a própria leitura de que existem subsídios cruzados, são contestados por um grupo de entidades, encabeçado pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

Para esse grupo, as análises erram ao desconsiderar os atributos positivos desse modelo de geração. Por exemplo, a economia em perdas elétricas na transmissão, distribuição e geração em grandes usinas, distantes do local de consumo, e a redução de custos no uso de térmicas. Pelos cálculos da Absolar, a modalidade traria benefício líquido de R$ 173 bilhões até 2050 aos consumidores do país.

'Temos que considerar os custos e os benefícios do setor. Se não olharmos para os dois lados da balança, qualquer conclusão será parcial e sem compromisso coma verdade', afirma Bárbara Rubim, vice-presidente da Absolar. 'A geração própria é um setor de infraestrutura, e como qualquer outro que envolve investimentos delongo prazo, precisa de estabilidade e segurança jurídica'.

A regulamentação para a GD foi instituída em 2012, época em que o custo da tecnologia era muito mais elevado. Uma placa solar custava cerca de US$ 130; hoje está em torno de US$ 30. Uma revisão por parte da Aneel deveria ter ocorrido em 2019, mas encontrou resistências e foi alvo de forte polêmica, envolvendo declarações do presidente Jair Bolsonaro de que o governo não iria 'taxar o sol'.

As discussões esfriaram com a chegada da pandemia e voltaram à tona no fim do ano passado, quando o Tribunal de Contas da União (TCU) se posicionou contra os subsídios e deu um prazo para a Aneel revisar as regras. Ao mesmo tempo, a tramitação do PL ganhou urgência na Câmara.

'Foram criadas narrativas nesse processo. Ninguém é contra geração solar, as distribuidoras pertencem a grupos que investem em renováveis e até na geração distribuída. A questão não é ser contra. Mas, no esforço para termos energia limpa e tarifa acessível, não podemos deixar subsídios nessa proporção', diz Britaldo Soares, presidente do conselho da Abradee.

Para acabar com essa 'guerra de versões', Soares defende que a discussão caminhe para um campo neutro, com números e dados providenciados pela Aneel, Ministério de Minas e Energia e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Na Câmara, o PL está na iminência de entrar na pauta de votação há semanas. Os líderes não têm conseguido chegar a um acordo quanto à votação do substitutivo apresentado pelo relator, deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).

Principal voz de oposição ao texto, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), afirma que a proposta atual representa um 'Robin Hood às avessas'. 'É um debate difícil. Estamos avançando, mas alguns pontos são difíceis de conciliar. Aceitam reduzir o tempo de transição [para pagamento do 'Fio B'] dos novos projetos, de dez para oito anos. Mas não querem mexer no prazo de 25 anos [para projetos existentes], alegando questões de contrato e segurança jurídica".

Regras para geração distribuída de energia estão em debate desde 2019 e movem 'guerra de versões" no setor

Por Letícia Fucuchima, no Valor Econômico    


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