"Esse é um processo que exige a existência de um
ecossistema de dispositivos, o que está ocorrendo aos poucos. Mas ainda falta
algum andamento para que o processo seja massivo e cheguem dispositivos
(celulares, tablets, etc) a um preço acessível para uma população como a do
Brasil."
Executivo
defende que a disputa pelas frequências só deve ocorrer quando as regras
estiverem totalmente esclarecidas
O presidente da Telefônica Brasil, Christian Gebara, minimizou o atraso na
definição do edital da internet móvel de quinta geração (5G), que segue em
análise no Tribunal de Contas da
União (TCU). A
afirmação foi feita em entrevista para a série Olhar de Líder, em que
jornalistas do Estadão/Broadcast conversam com líderes de grandes empresas.
Na avaliação do executivo, é preferível que o processo se arraste até o segundo
semestre se forem garantidas regras claras para as proponentes e a pavimentação
para o fluxo de investimentos na cobertura. "É melhor ter de ajustar algo
e contribuir para a melhor digitalização do País em vez de antecipar algo cujas
condições não estão bem definidas entre as instituições", afirmou.
Uma vez definido e realizado o leilão,
o sinal 5G deve começar a ser ativado em "poucos meses", estimou o
executivo da gigante espanhola. Leia, a seguir, os principais trechos da
entrevista:
Havia previsão do governo de que o leilão do 5G ocorreria na metade
deste ano, mas já estamos em cima da hora e nada. O edital está sendo revisado
pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pode voltar para a Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel). Qual a sua expectativa sobre prazos?
Nossa informação sobre prazos é similar à que você tem. O processo tinha o
objetivo de ser finalizado mais rápido. Agora, estamos na fase de aguardar
retorno do TCU, depois
haverá possíveis questionamentos a serem respondidos pelo Ministério da
Comunicação e pela Anatel. Só em seguida poderemos avançar para a realização do leilão. Não sabemos dizer com certeza
quando isso vai acontecer.
É mais razoável imaginar que ficou para
depois de julho?
Se o leilão for
realizado em julho ou em setembro, por exemplo, a diferença é mínima. No fim, é
melhor ter de ajustar algo e contribuir para a melhor digitalização do País em
vez de antecipar algo cujas condições não estão bem definidas entre as
instituições envolvidas. Não há uma pressa que não possa esperar por mais um, dois
ou três meses. Estamos confortáveis se o leilão acontecer nos próximos meses. E preferimos que as
regras estejam claras.
Esse atraso causa algum problema?
Não estamos atrasados. Esse é um processo que exige a existência de um
ecossistema de dispositivos, o que está ocorrendo aos poucos. Mas ainda falta
algum andamento para que o processo seja massivo e cheguem dispositivos
(celulares, tablets etc.) a um preço acessível para uma população como a do
Brasil. Da nossa parte, estamos preparando a infraestrutura para que, quando a
frequência estiver liberada, a gente comece a usá-la e tenha modelos de
negócios para isso. Já estamos fazendo provas de laboratório para a internet
das coisas, que terá muitas oportunidades para uso na indústria, na agricultura
e no varejo.
A Anatel já citou que o leilão deve movimentar em torno
de R$ 33 bilhões a R$ 35 bilhões. Dá para dizer que será arrecadatório ou não,
diante desses valores?
Com o valor solto assim, não sabemos dizer o que significa, porque não temos
ainda a explicação a que se refere exatamente. O leilão terá blocos nacionais e regionais, de 5G e 4G, além
das obrigações. O discurso e a mensagem que temos recebido até o momento são de
que o leilão será
orientado a obrigações, e não a arrecadação. Então, estamos trabalhando sob
essa premissa. Além disso, temos de saber o valor concreto das obrigações. Não
podemos ser surpreendidos com variáveis a serem definidas nos próximos anos.
Gestores de empresas de capital aberto precisam saber os valores que estão sendo
assumidos.
E vocês estão vendo pontas soltas?
Não sabemos ainda, porque o edital não foi finalizado. O TCU está avaliando. E o trabalho do TCU é de comprovar que as
obrigações contempladas estão dentro do valor contemplado. É um processo normal
de qualquer leilão. Não
posso especular sobre o que está sendo discutido, mas vamos aguardar que a
comprovação de que as obrigações associadas a cada uma das frequências sejam
condizentes, com números concretos, para não termos surpresas mais tarde. Até
porque dificilmente haverá um outro leilão tão grande quanto esse nos próximos anos em tamanho de
frequência leiloada, nem em relação às mudanças de paradigma.
Em quanto tempo o sinal do 5G será
ativado após o leilão?
Tudo vai depender da tecnologia que será usada e da disponibilidade dos
equipamentos. Mas, uma vez que o leilão for
realizado e as frequências estiverem disponíveis, a ativação do 5G acontecerá
em poucos meses. Isso vai começar de acordo com os pontos exigidos no edital.
No caso do 4G, começamos pelas cidades da Copa das Confederações (evento
realizado em 2013, preparatório para a Copa do Mundo). Se o leilão ocorrer este ano, em 2022
poderemos começar a ter a experiência do 5G em algumas capitais do País.
Por Circe Bonatelli, O Estado de S. Paulo
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