quinta-feira, 29 de maio de 2014

Mais uma vez: planejar implica, muitas vezes, dizer ‘não!’



Meus queridos, leiam o que escrevi em janeiro deste ano:

Planejar implica, muitas vezes, dizer ‘não!’
Muito bem, o Brasil tem sido palco de megaeventos esportivos de dimensões planetárias. Bom? Poderia ser excelente, caso tivéssemos a habilidade de utilizar esses eventos como oportunidade para catapultar o desenvolvimento, investir em infraestrutura, gerar empregos, descortinar uma nova era de avanços e sustentabilidade... mas qual?!, parece que estamos engessados, paralisados, enlameados num lodaçal onde se misturam, exclusivamente, corrupção, lavanderia e politicagem... Como bem lembrou o Presidente da Fifa, o Brasil teve sete anos para planejar a Copa, para alinhavar programas e projetos de investimento; e o que fez? Aguardou ‘em berço esplêndido’ que todos os prazos se exaurissem para investir na improvisação que leva aos ‘puxadinhos’, que conduz às ‘contabilidades criativas’, que embica para a arroubos legislativos ‘revolucionários’ e tome pau na Lei das Licitações, e loas, pompa e circunstâncias aos RDC’s¹...  Poderia ser diferente?, como não? Vejam como se deu na Suécia... num artigo que extraí da BBC-Brasil:

¹[ O RDC – Regime Diferenciado de Contratação –Lei 12.462, de agosto de 2011, foi criado originalmente objetivando os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, a Copa deste ano e as obras de infraestrutura e de contratação de serviços para os aeroportos das capitais dos Estados distantes até 350 km sedes dos mundiais. Mas, logo no ano seguinte, trataram de, através da Lei nº 12.688, incorporar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).  E neste mesmo ano de 2012, incluíram obras e serviços de engenharia no âmbito dos sistemas públicos de ensino (Lei nº 12.722) e no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS (Lei nº 12.745).  E como se não bastasse, no apagar das luzes do ano passado, inseriram as obras e serviços de engenharia para construção, ampliação e reforma de estabelecimentos penais e unidades de atendimento socioeducativo (Medida Provisória nº 630, de 2013).
E como um cancro, uma chaga maligna, através do RDC, vão solapando e reduzindo a pó o Estatuto das Licitações, a Lei 8.666. ]

O artigo completo está aqui.

Pois, agora, é a cidade de Nova York que exala lições de racionalidade lógica. Leiam o que extraí do Estadão, Blog de Jamil Chade:


 Nova Iorque diz não aos Jogos Olímpicos
Um dos principais motivos é a recusa de concentrar investimentos para atender a um evento que dura “apenas 17 dias”.

GENEBRA - Nova Iorque anuncia: não será candidata para receber os Jogos Olímpicos de 2024. O motivo: a cidade tem outras prioridades e não quer concentrar recursos para um evento de apenas 17 dias. Quem afirma isso não é algum movimento social ou algum repórter do contra. Mas sim o gabinete do novo prefeito, Bill de Blasio, em reportagem do Wall Street Journal.

Depois de avaliar os benefícios e os problemas de um evento esportivo internacional, a responsável pelo desenvolvimento econômico e moradia de Nova Iorque, Alicia Glen, deixou claro que a decisão da administração era de que não valeria à pena o esforço e o investimento.

A cidade foi candidata a receber o evento em 2012. Mas foi eliminada e a organização ficou com Londres. “Não faz sentido se candidatar”, declarou Glen. Para ela, a meta de ter um evento seria para colocar uma cidade no mapa mundial. Mas isso, segundo Glen, não seria necessário para Nova Iorque. Outro motivo seria atrair turistas. Mas, com 54 milhões de visitantes por ano, a cidade acredita que também não precisa de uma Olimpíada para atrair o mundo. “Nossa sensação é de que poderia até mesmo frear o turismo”, confessou.

Mas o ponto principal é de que ter a Olimpíada na cidade poderia afetar a agenda de desenvolvimento econômico da cidade. Para Glen, se a cidade se focar apenas nas instalações esportivas ou numa área da cidade, outras partes poderiam ser negligenciadas.

“O prefeito quer tomar decisões de desenvolvimento baseados em políticas públicas sólidas e não ir a uma direção particular apenas para atender as necessidades de um evento de 17 dias”, afirmou Glen, que também é a vice-prefeita.
Ela não nega que sediar a Olimpíada tem uma “noção romântica”. “Mas eu acho que quando você pergunta ao cidadão de Nova Iorque nas ruas se ele quer que a cidade e seus esforços sejam direcionados para um evento de três semanas em dez anos, ou se deve arregaçar as mangas e lidar com todos os demais desafios imediatos, acho que a vasta maioria diria: “prefiro assistir ao evento em um telão grande em minha casa”.

De Nova Iorque à Olso, da Suíça à Alemanha, governos democráticos estão pensando duas vezes em lançar suas candidaturas para receber os mega-eventos mundiais. A a Fifa e o COI sabem disso…