quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Iniciativas na Amazônia geram renda com baixo impacto e ajudam a preservar floresta


A região do Centro de Endemismo Belém (CEB), a despeito de ser uma das mais ricas em biodiversidade da Amazônia, é uma das mais ameaçadas e pressionadas pelo desmatamento - 70% das suas florestas já foram cortadas para dar lugar a cidades, segundo a organização Conservação Internacional (CI-Brasil).

 

Com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e alta desigualdade, a população da área vive principalmente da agropecuária de baixa produtividade.

Com o objetivo de gerar uma nova opção de renda, a comunidade rural Vila Mamorana, no município de Breu Branco, no Estado do Pará, foi escolhida para receber um projeto-piloto conduzido pela química Dow. Além do dinheiro, a iniciativa também visa a conservar a floresta, a partir do extrativismo de bioativos não-madeireiros (sementes e frutos) de interesse comercial.

O investimento é de R$ 1 milhão na primeira fase do projeto, que consiste no mapeamento das comunidades, da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos.

Foi feito um trabalho de capacitação e assistência técnica para ensinar as mulheres da comunidade as técnicas de colheita, armazenagem e secagem das sementes, bem como o fortalecimento da cooperativa local, com orientação do Instituto Peabiru, para estruturar os processos e as capacidades técnicas necessárias ao fornecimento de bioativos à indústria de cosméticos por meio de uma gestão sustentável.

A primeira safra da colheita da andiroba está prevista para o início de 2023, e o potencial de produção atinge de 6 a 21 toneladas de sementes por ano – de 50 a 200 quilos por árvore.

Para chegar às espécies que poderiam ser cultivadas, pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, trazidos pelo Instituto Peabiru, mapearam a biodiversidade local e identificaram 17 tipos de vegetais de interesse comercial para a indústria cosmética e farmacêutica.

Dessas, quatro espécies são de interesse da empresa de cosméticos Natura, parceira comercial da Dow no “Projeto Ybá: Conservação que Transforma”, que começa com a compra de andiroba, semente usada na fabricação de produtos como o óleo hidratante. A Natura apoia a capacitação dos comunitários, inclusive estimulando a troca de conhecimento com uma cooperativa já fornecedora na área.

Projeto visa a atingir 150 famílias

Inicialmente, cerca de 20 famílias da Vila Mamorana estão envolvidas no projeto e terão acesso às terras da Dow onde há andirobeiras – a empresa é dona de duas áreas que somam 38 mil hectares de floresta nativa preservada na região. O objetivo é impactar até 150 famílias e o foco da iniciativa é atender mulheres pretas e pardas de baixa renda que hoje trabalham como donas de casa ou com agropecuária familiar.

- Ao mesmo tempo que gera uma renda extra, o projeto resgata a cultura do extrativismo que estava um tanto esquecida pelas novas gerações, mais ocupadas com a agricultura familiar, artesanato ou na busca por empregos em empresas públicas [a Usina Hidrelétrica de Tucuruí fica na região] - conta a Diretora de Sustentabilidade para Américas para o Negócio de Consumer Solutions da Dow, Ana Félix.

A segunda fase do Projeto Ybá, que vai receber aporte de R$ 250 mil da Dow, envolve a produção de mel. Foram localizadas cerca de 50 espécies de abelhas na floresta e já foram erguidos os meliponários. A estimativa é produzir 100 quilos no primeiro ano, com colheita prevista para 2024, e dobrar o número no segundo ano.

Há ainda a possibilidade de expansão da iniciativa para outros bioativos, o que depende de outros compradores interessados nas demais espécies disponíveis. As outras espécies mapeadas e que já estão no radar da Dow são o açaí, copaíba, breu branco e breu vermelho.

- De acordo com os resultados obtidos com as experiências da andiroba e do mel, a exploração dessas espécies também será oferecida às comunidades - explica Félix.

Segundo a executiva, o projeto não dá retorno financeiro direto, mas é visto como uma oportunidade para fortalecer seu posicionamento ESG (ambiental, social e governança, na sigla em inglês), gerar reputação e inspirar os colaboradores, bem como estreitar a parceria com a Natura, cliente estratégico, para quem vende formulações de silicones.

- Existe a percepção de que o desmatamento gera desenvolvimento econômico e social, o que não é verdade. Hoje temos conhecimento suficiente para mostrar que você consegue gerar renda com a preservação da floresta em pé - destaca Félix.

O projeto foi escolhido pelo programa de fundo de impacto da Dow e da Fundação Dowm que elege iniciativas que endereçam problemas sociais e de sustentabilidade. Desde o seu lançamento em 2016, o fundo destinou US$ 9,78 milhões para 51 iniciativas.

O Projeto Ybá é um dos cases mapeados pelo estudo inédito “Boas Práticas Empresariais na Amazônia”, realizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) em parceria com o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), e divulgado com exclusividade pelo Prática ESG.

Foram levantadas 143 iniciativas, de 53 companhias, que contribuem para a conservação de florestas e o desenvolvimento sustentável na região. Esses projetos movimentam R$ 100 milhões e beneficiam diretamente 50.721 pessoas, entre famílias que vivem nas comunidades, produtores rurais, empreendedores e funcionários públicos capacitados.

A presidente do CEBDS, Marina Grossi, comenta que o objetivo do estudo é demonstrar que o desenvolvimento sustentável na maior floresta tropical do mundo, lar de quase 30 milhões de brasileiros, é uma realidade que gera negócios, empregos e renda com as árvores em pé, além de gerar inspiração e ideias para outras empresas que queiram fortalecer suas ações na região.

- Buscamos exemplos de negócios de sucesso na Amazônia sem a necessidade de degradação florestal -, observa.

São negócios como restauração de áreas degradadas, capacitação profissional de moradores, desenvolvimento de startups, agricultura sustentável e de maior produtividade, atividades ligadas à bioeconomia, inteligência artificial na prevenção ao desmatamento, entre outros.

Os projetos trazem como resultados a geração de renda para as comunidades; o estímulo ao empreendedorismo; a inovação tecnológica; a restauração florestal; boas práticas agrícolas; e a capacitação profissional.

Sete gargalos mapeados

O estudo também joga luz sobre os principais desafios que as empresas tiveram na implantação dos projetos, o que pode facilitar a replicação das iniciativas. Sete gargalos foram mapeados: falta de mão-de-obra especializada; logística; dificuldades no escoamento da produção; monitoramento de impacto; garantia de renda sustentável a comunidades longínquas e de difícil acesso a políticas públicas; gargalos estruturais; e tecnologias e arranjos inadequados à região.

- São vários desafios. Um deles é a escassez de mão-de-obra especializada na região para determinadas demandas. Neste sentido, capacitação e assistência técnica são fundamentais. Temos também a falta de tecnologias adequadas à realidade da região e o monitoramento de impactos pelas atividades produtivas, que fazem com que a região fique em desvantagem em relação às demais do país- comenta Grossi.

O CEBDS destaca a participação de atores locais, de comunidades e associações, nas decisões e execução dos projetos bem-sucedidos na Amazônia. Do lado das empresas, o envolvimento da liderança também faz diferença para garantir maior longevidade às iniciativas.

Alguns exemplos de projetos-piloto citados no estudo já ganharam vida própria e foram incorporados em políticas, programas e metas ESG das empresas. Teve também quem cresceu com a entrada de novos parceiros e outros que originaram spin-offs, startups e negócios sociais com sustentabilidade financeira.

Entre as tendências para projetos sustentáveis na Amazônia, a pesquisa evidencia que muitas iniciativas estão ligadas às metas de descarbonização, passando por políticas corporativas, como da área de compras e de sustentabilidade.

- As empresas estão investindo, por exemplo, em sistemas de rastreabilidade de toda a sua cadeia produtiva, especialmente aquelas ligadas a commodities e uso do solo, como cacau, soja, madeira e pecuária - conta Grossi.

Outra tendência percebida é o fomento e apoio a negócios locais, por meio de mecanismos como editais e fundos, e o fortalecimento de produtores da região.

- Os bancos e instituições financeiras têm também papel fundamental no movimento de criar modelos específicos de projetos considerando as características próprias da região e critérios de sustentabilidade - completa a presidente do CEBDS.

O Globo


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