A região do Centro de Endemismo Belém (CEB), a despeito de ser uma das mais ricas em biodiversidade da Amazônia, é uma das mais ameaçadas e pressionadas pelo desmatamento - 70% das suas florestas já foram cortadas para dar lugar a cidades, segundo a organização Conservação Internacional (CI-Brasil).
Com baixo Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) e alta desigualdade, a população da área vive
principalmente da agropecuária de baixa produtividade.
Com o objetivo de
gerar uma nova opção de renda, a comunidade rural Vila Mamorana, no município
de Breu Branco, no Estado do Pará, foi escolhida para receber um projeto-piloto
conduzido pela química Dow. Além do dinheiro, a iniciativa também visa a
conservar a floresta, a partir do extrativismo de bioativos não-madeireiros
(sementes e frutos) de interesse comercial.
O investimento é de
R$ 1 milhão na primeira fase do projeto, que consiste no mapeamento das
comunidades, da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos.
Foi feito um trabalho
de capacitação e assistência técnica para ensinar as mulheres da comunidade as
técnicas de colheita, armazenagem e secagem das sementes, bem como o
fortalecimento da cooperativa local, com orientação do Instituto Peabiru, para
estruturar os processos e as capacidades técnicas necessárias ao fornecimento
de bioativos à indústria de cosméticos por meio de uma gestão sustentável.
A primeira safra da
colheita da andiroba está prevista para o início de 2023, e o potencial de
produção atinge de 6 a 21 toneladas de sementes por ano – de 50 a 200 quilos
por árvore.
Para chegar às
espécies que poderiam ser cultivadas, pesquisadores do Museu Paraense Emílio
Goeldi, trazidos pelo Instituto Peabiru, mapearam a biodiversidade local e
identificaram 17 tipos de vegetais de interesse comercial para a indústria
cosmética e farmacêutica.
Dessas, quatro
espécies são de interesse da empresa de cosméticos Natura, parceira comercial
da Dow no “Projeto Ybá: Conservação que Transforma”, que começa com a compra de
andiroba, semente usada na fabricação de produtos como o óleo hidratante. A
Natura apoia a capacitação dos comunitários, inclusive estimulando a troca de
conhecimento com uma cooperativa já fornecedora na área.
Projeto visa a
atingir 150 famílias
Inicialmente, cerca
de 20 famílias da Vila Mamorana estão envolvidas no projeto e terão acesso às
terras da Dow onde há andirobeiras – a empresa é dona de duas áreas que somam
38 mil hectares de floresta nativa preservada na região. O objetivo é impactar
até 150 famílias e o foco da iniciativa é atender mulheres pretas e pardas de
baixa renda que hoje trabalham como donas de casa ou com agropecuária familiar.
- Ao mesmo tempo que gera
uma renda extra, o projeto resgata a cultura do extrativismo que estava um
tanto esquecida pelas novas gerações, mais ocupadas com a agricultura familiar,
artesanato ou na busca por empregos em empresas públicas [a Usina Hidrelétrica
de Tucuruí fica na região] - conta a Diretora de Sustentabilidade para Américas
para o Negócio de Consumer Solutions da Dow, Ana Félix.
A segunda fase do
Projeto Ybá, que vai receber aporte de R$ 250 mil da Dow, envolve a produção de
mel. Foram localizadas cerca de 50 espécies de abelhas na floresta e já foram
erguidos os meliponários. A estimativa é produzir 100 quilos no primeiro ano,
com colheita prevista para 2024, e dobrar o número no segundo ano.
Há ainda a
possibilidade de expansão da iniciativa para outros bioativos, o que depende de
outros compradores interessados nas demais espécies disponíveis. As outras
espécies mapeadas e que já estão no radar da Dow são o açaí, copaíba, breu
branco e breu vermelho.
- De acordo com os
resultados obtidos com as experiências da andiroba e do mel, a exploração
dessas espécies também será oferecida às comunidades - explica Félix.
Segundo a executiva,
o projeto não dá retorno financeiro direto, mas é visto como uma oportunidade
para fortalecer seu posicionamento ESG (ambiental, social e governança, na
sigla em inglês), gerar reputação e inspirar os colaboradores, bem como
estreitar a parceria com a Natura, cliente estratégico, para quem vende
formulações de silicones.
- Existe a percepção
de que o desmatamento gera desenvolvimento econômico e social, o que não é
verdade. Hoje temos conhecimento suficiente para mostrar que você consegue
gerar renda com a preservação da floresta em pé - destaca Félix.
O projeto foi
escolhido pelo programa de fundo de impacto da Dow e da Fundação Dowm que elege
iniciativas que endereçam problemas sociais e de sustentabilidade. Desde o seu
lançamento em 2016, o fundo destinou US$ 9,78 milhões para 51 iniciativas.
O Projeto Ybá é um
dos cases mapeados pelo estudo inédito “Boas Práticas Empresariais na
Amazônia”, realizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o
Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) em parceria com o Instituto de Conservação
e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), e divulgado com
exclusividade pelo Prática ESG.
Foram levantadas 143
iniciativas, de 53 companhias, que contribuem para a conservação de florestas e
o desenvolvimento sustentável na região. Esses projetos movimentam R$ 100
milhões e beneficiam diretamente 50.721 pessoas, entre famílias que vivem nas
comunidades, produtores rurais, empreendedores e funcionários públicos
capacitados.
A presidente do
CEBDS, Marina Grossi, comenta que o objetivo do estudo é demonstrar que o
desenvolvimento sustentável na maior floresta tropical do mundo, lar de quase
30 milhões de brasileiros, é uma realidade que gera negócios, empregos e renda
com as árvores em pé, além de gerar inspiração e ideias para outras empresas
que queiram fortalecer suas ações na região.
- Buscamos exemplos
de negócios de sucesso na Amazônia sem a necessidade de degradação florestal -,
observa.
São negócios como
restauração de áreas degradadas, capacitação profissional de moradores,
desenvolvimento de startups, agricultura sustentável e de maior produtividade,
atividades ligadas à bioeconomia, inteligência artificial na prevenção ao
desmatamento, entre outros.
Os projetos trazem
como resultados a geração de renda para as comunidades; o estímulo ao
empreendedorismo; a inovação tecnológica; a restauração florestal; boas
práticas agrícolas; e a capacitação profissional.
Sete gargalos
mapeados
O estudo também joga
luz sobre os principais desafios que as empresas tiveram na implantação dos
projetos, o que pode facilitar a replicação das iniciativas. Sete gargalos
foram mapeados: falta de mão-de-obra especializada; logística; dificuldades no
escoamento da produção; monitoramento de impacto; garantia de renda sustentável
a comunidades longínquas e de difícil acesso a políticas públicas; gargalos
estruturais; e tecnologias e arranjos inadequados à região.
- São vários
desafios. Um deles é a escassez de mão-de-obra especializada na região para
determinadas demandas. Neste sentido, capacitação e assistência técnica são
fundamentais. Temos também a falta de tecnologias adequadas à realidade da
região e o monitoramento de impactos pelas atividades produtivas, que fazem com
que a região fique em desvantagem em relação às demais do país- comenta Grossi.
O CEBDS destaca a
participação de atores locais, de comunidades e associações, nas decisões e
execução dos projetos bem-sucedidos na Amazônia. Do lado das empresas, o
envolvimento da liderança também faz diferença para garantir maior longevidade
às iniciativas.
Alguns exemplos de
projetos-piloto citados no estudo já ganharam vida própria e foram incorporados
em políticas, programas e metas ESG das empresas. Teve também quem cresceu com
a entrada de novos parceiros e outros que originaram spin-offs, startups e
negócios sociais com sustentabilidade financeira.
Entre as tendências
para projetos sustentáveis na Amazônia, a pesquisa evidencia que muitas
iniciativas estão ligadas às metas de descarbonização, passando por políticas
corporativas, como da área de compras e de sustentabilidade.
- As empresas estão
investindo, por exemplo, em sistemas de rastreabilidade de toda a sua cadeia
produtiva, especialmente aquelas ligadas a commodities e uso do solo, como
cacau, soja, madeira e pecuária - conta Grossi.
Outra tendência
percebida é o fomento e apoio a negócios locais, por meio de mecanismos como
editais e fundos, e o fortalecimento de produtores da região.
- Os bancos e
instituições financeiras têm também papel fundamental no movimento de criar
modelos específicos de projetos considerando as características próprias da
região e critérios de sustentabilidade - completa a presidente do CEBDS.
O Globo
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