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Ilustração do Homo bodoensis |
Há um período na história da evolução humana que os cientistas ainda não entendem muito bem.
Se sabe muito pouco sobre essa época que é conhecida como "a confusão", porque os especialistas ainda não concordam sobre as espécies que nela existiam. Trata-se de uma época entre o surgimento do Homo erectus e o do homem moderno, o Homo sapiens.
Um grupo de pesquisadores nomeou uma nova espécie que
poderia esclarecer essa confusão e que, segundo suas análises, seria o
ancestral direto dos humanos.
Trata-se do Homo bodoensis, que viveu na África há
cerca de 500 mil anos e que, segundo os autores do estudo, ajuda a resolver o
quebra-cabeça de um período-chave da evolução humana.
Novos rótulos
O período de confusão corresponde ao Pleistoceno
Médio, que desde 2020 é conhecido como chibaniano, e que ocorreu entre 774 mil
e 129 mil anos atrás.
Os especialistas, entretanto, não estão têm certeza
sobre a quais espécies pertencem os vários fósseis daquele período. E, ligado a
isso, não está muito claro quais espécies deram origem a quais.
O período chibano é importante porque foi nele que o
Homo sapiens surgiu na África e os neandertais na Europa.
O problema é que os fósseis da época que antecederam o
Homo sapiens e os neandertais, "são mal definidos e são entendidos de
várias maneiras", segundo os autores da pesquisa.
Os fósseis existentes no período chibaniano têm sido
tradicionalmente chamados de Homo heidelbergensis ou Homo rhodesiensis, duas
categorias que, segundo alguns especialistas, muitas vezes têm sido descritas
de formas contraditórias.
Os autores do estudo dizem que o Homo
bodoensis pode ajudar a esclarecer aspectos da evolução dos humanos
"Falar sobre a evolução humana durante este
período tornou-se impossível devido à falta de uma terminologia adequada que
reconheça a variação geográfica humana", diz Mirjana Roksandic,
paleoantropóloga da Universidade de Winnipeg, no Canadá, e principal autora de
um novo estudo.
Com esse argumento, Roksandic e sua equipe
reanalisaram um conjunto de fósseis chibanianos encontrados na África e na
Eurásia, e concluíram que as categorias Homo heidelbergensis ou Homo
rhodesiensis deveriam ser descontinuadas e agrupadas sob um novo rótulo
exclusivo: o Homo bodoensis.
Os pesquisadores também mencionam que alguns fósseis
que foram identificados como Homo heidelbergensis são na verdade neandertais.
Em relação à categoria Homo rhodesiensis, acrescentam
que tem sido um rótulo pouco aceito, em parte porque seu nome está associado a
Cecil Rhodes, símbolo do imperialismo britânico na África.
Clareza
O Homo bodoensis leva o nome de um crânio encontrado
em Bodo D'ar, na Etiópia.
Roksandic e seus colegas argumentam que o Homo
bodoensis é o ancestral direto dos humanos e inclui a maioria dos primeiros
humanos chibanianos na África e alguns do sudeste da Europa.
Os autores do estudo esperam que o uso da categoria
Homo bodoensis ajude a facilitar a comunicação e a clareza sobre o período
chibaniano.
Segundo Roksandic disse à BBC News Mundo (serviço de
notícias em espanhol da BBC), a taxonomia do Homo bodoensis já foi aceita pela
Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica, órgão responsável por
garantir o uso correto dos nomes científicos dos animais.
Cautela
Dois especialistas consultados pela BBC News Mundo que
não estiveram envolvidos na pesquisa expressaram suas reservas sobre as
conclusões.
"Acho que os autores levantam um importante
problema paleoantropológico de longa data que nos assombra a todos, mas eles
não oferecem uma solução convincente", disse o paleoantropólogo Zeray
Alemseged, professor de biologia e anatomia de organismos da Universidade de
Chicago, nos Estados Unidos.
Alemseged refere-se ao fato de que, para resolver a
confusão em torno do Homo heidelbergensis, não basta nomear uma nova espécie a
partir de um crânio.
"Isso não vai nos ajudar, o que nós queremos, eu
acho, é encontrar mais fósseis da Europa e da África para que possamos ter um
melhor entendimento", diz Alemseged.
Jeff McKee, professor do Departamento de Antropologia
da Ohio State University, também é cético.
"A espécie Homo heidelbergensis tem sido uma
designação que ficou sem solução por algum tempo, pois ninguém conseguia chegar
a um consenso sobre quais fósseis pertenciam a esse táxon", diz McKee.
"Suspeito que, da mesma forma, a nova proposta do
Homo bodoensis será como um depósito taxonômico fóssil que não se sustentará no
longo prazo."
McKee argumenta que não é a favor de tentar
"impor artificialmente" uma taxonomia às subpopulações humanas
emergentes.
Posições como as de Alemseged e McKee representam um
desafio à proposta de Roksandic, que argumenta que o conceito de Homo bodoensis
"vai durar muito tempo".
"Um novo nome de táxon só existirá se outros pesquisadores
o usarem", diz a pesquisadora.
Carlos Serrano (@carliserrano) - BBC
News Mundo
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