quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Precatório pode virar moeda para privatizações


Modelo prevê que créditos sejam aceitos por valor de face e têm Correios e Eletrobras como alvos

 

Se os processos de privatização avançarem, precatórios da União poderão ser utilizados como moedas para comprar ações. Em tese, essa possibilidade estaria presente nas desestatizações da Eletrobras e dos Correios, disse ao Valor uma fonte da área econômica.

A possibilidade do uso de precatório como moeda de privatização consta da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, encaminhada pelo governo ao Congresso neste mês e que ainda será debatida. Precatórios são créditos detidos por pessoas e empresas que venceram na Justiça causas contra a União. Nas privatizações, esses créditos serão aceitos por seu valor de face.

Esse possível uso dos precatórios independe do Fundo de Liquidação de Passivos da União, também proposto na PEC. O fundo, criticado por especialistas por supostamente atentar contra o teto de gastos, será utilizado para os detentores de superprecatórios, que tiverem seu pagamento parcelado, acelerarem o recebimento.

'O grande problema desse desenho [de moeda de privatização] é que o governo quita 100% de uma dívida, mas o dono do precatório vai receber uma fração do que é seu direito líquido e certo', disse o head de Negócios de Finanças Estruturadas da Rubicon Capital Investment do Brasil, Filinto Müller de Almeida.

Ele se refere, por exemplo, à situação em que os detentores de precatórios vendem seus direitos a fundos de investimento e recebem seus valores com desconto. Essa situação não é rara. Levantamento da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) mostra que cinco fundos detêm R$ 906 milhões só em superprecatórios (os que têm valor acima de R$ 66 milhões). Todos são créditos cedidos.

O deságio pode ocorrer de outra maneira, segundo aponta o presidente da Comissão Especial de Precatórios da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Eduardo Gouvêa: pela forma como o governo gerir o Fundo de Liquidação de Passivos da União.

Pelo desenho que está na PEC, quem tem precatório de mais de R$ 66 milhões terá o pagamento parcelado em dez vezes, mas poderá receber antecipadamente por intermédio do fundo. Quanto dinheiro haverá lá, é algo que o governo federal controlará, aponta. Assim, existe a possibilidade de o governo colocar pouco dinheiro no fundo e, dessa forma, pressionar o detentor do precatório a aceitar um pagamento com desconto. Essa é a 'maldade' da PEC, disse.

Especialistas em contas públicas apontam para outro problema no uso de moedas de privatização: a falta de transparência. 'Com isso, há o risco de você perder um pouco o caminho do dinheiro, de controle das contas', afirmou o economista Guilherme Tinoco, especialista em contas públicas. O mesmo tipo de risco é observado no Fundo de Liquidação de Passivos, acrescentou.

A visão é compartilhada pelo analista do Senado Federal Leonardo Ribeiro. Se aprovada a PEC, o valor do precatório poderá ser recebido via participação acionária e não passará pelo Orçamento. A discussão envolvendo operações patrimoniais e Orçamento é antiga e o Tribunal de Contas da União (TCU) já se manifestou nesse sentido em relação a operações com títulos públicos, explicou Ribeiro.

'O correto, para transparência fiscal, é trazer a operação para o Orçamento. Dessa forma, o Congresso participa. Não foi o próprio [ministro da Economia, Paulo] Guedes que defendeu a importância do Parlamento no processo orçamentário?', afirmou o economista.

Gouvêa afirma que, nas três páginas de texto da PEC, existem mais de 20 inconstitucionalidades. Uma delas é a que limita os pagamentos de precatórios a 2, 6% das receitas correntes líquidas do governo. O que ultrapassar vai para uma conta que 'sabe-se lá quando será paga'. Na sua avaliação, é um ponto que não resiste a uma análise'primária' do Supremo Tribunal Federal (STF).

A inclusão do pagamento de precatórios sob o teto dos gastos públicos fere a independência entre Poderes, segundo o advogado. Por se tratarem de decisões da Justiça, esses pagamentos não são despesas discricionárias do Executivo.

-A PEC dos Precatórios foi formulada pelo governo com o objetivo de parcelar uma conta de R$90 bilhões desse tipo de crédito a ser paga em 2022. Para os superprecatórios, a ideia é pagar 15% em 2022 e parcelar o restante em nove vezes. Do contrário, o Orçamento de 2022 ficaria comprometido, diz o governo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a dizer que faltará dinheiro para salários.

Ao mesmo tempo em que propôs o parcelamento, o governo tentou criar na mesma PEC incentivos à privatização. O uso do precatório como moeda de privatização é um, a utilização dos ganhos com a privatização para quitar antecipadamente os créditos parcelados é outro. É possível que o Congresso inclua um terceiro incentivo, que é o dividendo social.

Por Lu Aiko Otta e Mariana Ribeiro, Valor Econômico     


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