segunda-feira, 18 de junho de 2018

Governo com reprovação recorde


Insatisfação com gestão econômica de Temer puxa reprovação recorde 

Maioria reclama de problemas como desemprego e impostos, mostra Datafolha; corrupção e imagem de presidente são questões laterais 

A impopularidade recorde de Michel Temer (MDB) se deve essencialmente à insatisfação com o desempenho do governo em geral e, em particular, na economia. A imagem pessoal do presidente e o desgaste causado por escândalos de corrupção que o envolvem são laterais, mostra pesquisa Datafolha.

Em levantamento realizado em 6 e 7 de junho, o instituto identificou que 82% da população considera a gestão Temer ruim ou péssima, 14%, regular e 3%, ótima e boa. É o pior desempenho de um presidente desde o início da série história, em 1989.

Depois de perguntar como avalia a gestão Temer, o Datafolha indagou o entrevistado sobre seus motivos, sem apresentar alternativas.

Entre aqueles que reprovam Temer, 51% citaram espontaneamente sua gestão na economia como razão para o descontentamento. Os aspectos mais criticados foram o desemprego (13%), os preços dos combustíveis (13%) e os impostos (10%).

Não aprovam o desempenho do presidente de forma geral 21%, alegando motivos como ele “não ter feito nada pelos pobres” (7%) e despreparo ou incompetência (5%).

Entre os entrevistados, 15% mencionaram corrupção e desonestidade como fundamentos da má avaliação, sendo que 7% classificaram Temer como corrupto ou ladrão. Os homens se incomodam mais com esses problemas (18%) do que as mulheres (12%).

A imagem do emedebista foi citada por 5% da totalidade dos entrevistados como base da reprovação.

Em contraste com os atuais 82% de Temer, o governo Dilma Rousseff (PT) era considerado ruim e péssimo por 28% em junho de 2014, o que foi suficiente para a então presidente ser vaiada na Copa do Mundo, realizada no Brasil.

Dois anos depois, foi a vez de Temer, ainda interino, ser hostilizado na Olimpíada no Rio.

Em meados de 2016, durante o processo de impeachment de Dilma, ele prometeu comandar a retomada da economia, mas acabou por frustrar expectativas.

Entre os 3% que disseram que a gestão Temer é boa ou ótima, 27% mencionaram seu desempenho na economia como razão para tanto.

0 pente-fino na reprovação atual de Temer se choca com o discurso adotado pelo governo, segundo o qual a Lava Jato e o seu noticiário ofuscam avanços conquistados.

No dia seguinte à publicação da pesquisa Datafolha que mostrou a impopularidade recorde de Temer, o ministro Raul Jungmann (Segurança Pública) afirmou, na segunda-feira (11), que “vazamentos representam um assassinato civil e político do presidente”.

Carlos Marun (Secretaria de Governo) disse que uma “conspiração asquerosa impede que a população associe à figura do presidente avanços altamente significativos”.

Denunciado duas vezes pela Procuradoria-Geral da República durante o mandato, o emedebista é investigado por supostos recebimentos de propina e outras ilegalidades, as quais ele nega.

Mas são questões práticas, que afetam o dia a dia da população, que alavancam a insatisfação com o governo.

Em sua pesquisa de campo, o Datafolha ouviu frases como a de uma mulher de 59 anos, no Rio de Janeiro, que reclamou da diminuição do poder de compra que o reajuste do salário mínimo abaixo da inflação causou em 2018.

“Para pessoas de baixa renda, está tudo péssimo. Eles [governo] não ajudam as pessoas que mais necessitam. O salário mínimo não acompanha o aumento dos produtos”, protestou a entrevistada.

A saúde pública, sempre mencionada pela população entre suas principais queixas, foi citada por 11% dos que reprovam o governo Temer. Para as mulheres, o problema é mais grave (14%) do que para os homens (8%). Uma entrevistada de 47 anos reclamou, em Estiva Gerbi (SP), da “falta de remédios nos postos”, disse que “a saúde está ruim” e emendou um descontentamento generalizado. “Falta emprego. Os preços nos mercados estão caros. Muitos impostos.”

A greve dos caminhoneiros foi citada por 6% dos entrevistados como motivo para a reprovação de Temer.

A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Foram ouvidas 2.824 pessoas de 16 anos ou mais, em 174 municípios no país.

Folha de S. Paulo



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