terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Senado no centro da Lava-Jato


A Polícia Federal deflagrou a Operação Leviatã, desdobramento da Lava-Jato, e levou, mais uma vez, o PMDB do Senado Federal para o centro das investigações de Corrupção no governo federal. Os alvos dos mandados de busca e apreensão, autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, foram Márcio Lobão, filho do senador Edison Lobão (PMDB-MA), e o ex-senador Luiz Otávio Campos (PMDB-PA), ligado ao peemedebista Jader Barbalho. Eles são suspeitos de participar do esquema de desvio de recursos na construção do maior projeto brasileiro no setor elétrico, a Usina de Belo Monte.
A operação ligou o sinal de alerta em integrantes do atual e do antigo governo. A Leviatã é um indício de que as apurações da Lava-Jato chegaram em peso ao setor elétrico. E os investigadores acreditam que isso pode ter muitos resultados: a previsão é que o montante envolvido seja parecido com o que foi desviado da Petrobras. Só nesse caso, por exemplo, a propina passa de R$ 1 bilhão. O investimento inicial previsto para Belo Monte era de R$ 16 bilhões, mas esse valor ultrapassou os R$ 30 bilhões. A PF acredita que propina tenha sido de 1% em cima do valor inicial da construção, divididos entre PT e PMDB.
A polícia amanheceu na casa da família Lobão uma semana após o patriarca ter sido eleito para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), a mais importante da Casa, que sabatinará o indicado para o STF, Alexandre de Moraes. Márcio Lobão é presidente da Brasilcap, braço do Banco do Brasil no setor de capitalização e é suspeito de ser um dos operadores do esquema. A PF também esteve na sede da estatal, no Rio de Janeiro. Na delação premiada de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobras, o filho de Lobão era quem recebia a propina, cerca de R$ 300 mil mensais, em dinheiro vivo. Machado garante que, só nesse esquema, a família desviou mais de R$ 20 milhões. Flavio Barra, que trabalhava na empreiteira Andrade Gutierrez, também delatou Lobão como beneficiário das obras de Belo Monte.
Influência
Já Luiz Otávio é ligado ao clã de Jader Barbalho. Senador de 1998 a 2006, chegou a ser indicado para o Tribunal de Contas da União (TCU), mas teve o nome barrado na Câmara dos deputados. Após sair do parlamento, Luiz Otávio ocupou importantes cargos na Esplanada. No governo de Dilma Rousseff (PT), foi secretário-executivo da Secretaria de Portos na época em que Helder Barbalho, filho de Jader, era o ministro da pasta.
Também foi indicado para a Agência Nacional de Transporte Aquaviário (Antaq). Atualmente, é assessor especial do Ministério dos Transportes. Na casa dele, em Brasília, a polícia encontrou R$ 135 mil. Na de Lobão, recolheram o equivalente a R$ 40 mil em várias moedas e 1,2 mil obras de arte.
O STF abriu inquérito em junho do ano passado para investigar a participação de Lobão e dos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR), Valdir Raupp (PMDB-RO) e Jader Barbalho (PMDBPA) no esquema. Por isso, a operação de ontem precisou de autorização do STF. As propinas relacionadas ao PT não envolvem políticos com foro privilegiada e estão na Justiça Federal do Paraná. Por meio dos advogados, Márcio Lobão afirmou que “nunca cometeu nenhum ilícito”. O Correio não localizou a defesa de Luiz Otávio. O presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, disse que a Brasilcap “não coaduna com qualquer tipo de ato que seja ilegal”.
Instintos
A operação foi batizada em alusão à família Lobão. Leviatã é uma obra do filósofo Thomas Hobbes, onde ele afirma que “o homem é o lobo do homem”. O autor faz uma comparação entre o Estado e um ser humano artificial criado para sua própria defesa e proteção, porque se continuasse vivendo em estado natural, guiado apenas por seus instintos, não alcançaria a paz social.

Por Matheus Teixeira, no Correio Braziliense