quinta-feira, 25 de agosto de 2022

'Aprendemos a usar armas, a matar': as crianças recrutadas para a 'guerra eterna' na Colômbia

Jovani Chilhueso (à esquerda), vista aqui com o pai, recebeu US$ 400 para se juntar a uma gangue e perdeu amigos aos 11 anos.

“(...)Segundo a ONU, cerca de 600 crianças foram recrutadas por gangues armadas nos três anos após a assinatura do acordo de paz, um número que especialistas colombianos dizem ser bastante subestimado (...)”

 

Corinto parece uma cidade movimentada como qualquer outra: motocicletas sobem e descem pelas ruas principais, moradores andam pelas calçadas e donos de lojas chamam os clientes do lado de fora dos estabelecimentos.

Mas, se alguém parar em qualquer esquina, há uma presença mais ameaçadora.

Em uma parede está pintada a seguinte frase: "Abaixe o vidro ou balas". E uma assinatura: "FARC-EP", abreviação de Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército Popular.

Esse é um alerta para que os motoristas se identifiquem quando entram no bairro. Ele se repete em muitos muros de Corinto, no sudoeste do departamento colombiano de Cauca.

A guerrilha das Farc se desmobilizou em 2016, após assinar um acordo de paz com o governo. O movimento acabou com mais de cinco décadas de conflito civil.

Mas, quase seis anos depois, o acordo ainda não foi totalmente implementado e, embora a violência tenha diminuído depois do pacto, o que está acontecendo na zona rural da Colômbia causa preocupação em especialistas em segurança.

Membros das Farc que não aceitaram o acordo, paramilitares de direita e novos grupos criminosos estão disputando território antes controlado pelo grupo guerrilheiro — e todos estão à procura de novos recrutas.

Crianças vulneráveis

Segundo a ONU, cerca de 600 crianças foram recrutadas por gangues armadas nos três anos após a assinatura do acordo de paz, um número que especialistas colombianos dizem ser bastante subestimado.

Os colombianos pobres que vivem em áreas rurais antes controladas pelas Farc são os mais propensos a serem alvos de recrutamento. As mais vulneráveis ​​são as crianças indígenas.

Derli (nome fictício), uma adolescente de 13 anos, faz parte do grupo indígena Nasa, que tradicionalmente luta contra gangues armadas. Derli está vestindo uma camiseta rosa estampada que diz "Só amor", uma frase contraditória com sua história de violências.

Derli fugiu de casa devido a um relacionamento conturbado com a mãe. Ela ficou tentada pelo dinheiro oferecido pelos dissidentes das Farc e porque alguns de seus amigos haviam partido antes dela. Mas logo se arrependeu.

"Aprendemos a usar armas, aprendemos a matar pessoas e amarrá-las", diz ela, torcendo as mãos de maneira nervosa enquanto conta sua história.

"Eles me amarraram, me fizeram passar fome", acrescenta. "Eles sempre disseram que esta vida era para caras durões. Eu tinha que andar de moto enquanto alguém estava sendo executado. Eu nunca quis fazer isso, mas se você não fizesse, você era punido ou morto."

Da janela, Derli aponta para a montanha para onde a levaram. Ela conta que foi resgatada uma noite pelo cacique do grupo indígena depois que uma mulher entrou em contato com ele pedindo ajuda.

Mas mesmo quando ela estava em casa, seu pesadelo continuou.

"Recebi ameaças de morte", conta.

Um dia, ela acordou e encontrou algumas pessoas armadas em frente a sua casa. "Minha família me escondeu em um quarto."

Segundo o tribunal de justiça de transição da Colômbia, mais de 18 mil crianças foram forçadas a se juntar às guerrilhas das Farc durante um período de 20 anos. Recrutar e treinar crianças-soldados era uma tática conhecida.

'A guerrilha não pagava'

Muitos colombianos sentem que a prometida paz ainda não existe na zona rural do país, apesar do cessar-fogo oficial.

"Não melhorou, piorou", diz Luz Marina Escué, uma líder comunitária que ajuda indígenas a localizar crianças vulneráveis antes de serem recrutadas ou resgatá-las depois.

"As gangues vêm, tiram maços de notas, mandam as crianças comprarem o que quiserem", diz ela. "Não é mais uma guerrilha que luta pelo povo. São grupos que estão matando o povo."

Esse é um sentimento ecoado por Boris Guevara, ex-membro das Farc. Ele se juntou à guerrilha quando tinha 16 anos, mas largou as armas em 2016.

"As Farc nunca me pagaram. Toda atividade econômica era para apoiar o exército, não para pagar soldados", diz ele. "Eu nunca recebi um centavo pelo trabalho que fiz. Isso causou uma enorme divisão: entre se tornar mercenários pagos e uma consciência política onde você está fazendo sacrifícios por algo em que acredita."

Segundo Luz Marina Escué, o recrutamento de crianças por esses grupos está destruindo o futuro da Colômbia.

"São as sementes que iriam semear a nossa terra", diz.

Por outro lado, grande parte dessa terra ainda está cheia de plantações ilegais.

Plantação de maconha

Do outro lado do vale, há plantações de coca e maconha. Nem todos esses campos estão escondidos: alguns são visíveis à beira da estrada. Ao anoitecer, as encostas são iluminadas por pontos de luz suspensos sobre as plantações de maconha.

O acordo de paz pretendia conter a produção de cocaína, mas ela continua a aumentar. Segundo os Estados Unidos, a Colômbia produziu cerca de 972 toneladas de coca em 2021. Há dez anos, esse número era de 273 toneladas.

Ainda existem agricultores cultivando outros produtos. Mas, enquanto um quilo de laranja é vendido por 15 centavos, a coca ou a maconha pagam centenas de vezes mais.

"Não somos narcotraficantes", diz Irma Corpus, uma plantadora de coca. Como parte do acordo de paz, a substituição voluntária de culturas foi incentivada, mas muitos camponeses sentem que o governo não cumpriu sua parte no acordo.

"Claro que concordamos com a erradicação (das plantações de coca e maconha), mas tem que ser gradual, não temos alternativas", diz Irma. "O acordo de paz no papel foi muito elegante, eles nos prometeram tudo, mas na realidade nada foi cumprido."

São os jovens colombianos que estão pagando o preço da violência contínua. Jovani Chilhueso recebeu US$ 400 (cerca de R$ 2.000) para se juntar a uma gangue. Alguns de seus amigos foram assassinados na região.

"Quando peguei uma arma pela primeira vez, senti uma descarga de adrenalina", diz ele. "Era algo que eu gostava, queria atirar, mas a realidade é que uma luta não é o mesmo que atirar."

Seu pai, Daniel Rivera, é um vigilante que protege sua comunidade indígena das gangues armadas. Ele não esperava que seu filho se juntasse a uma delas.

"Senti muita tristeza e dor pensando que poderia perder meu filho", diz Daniel. "A primeira coisa que você pensa é: onde eu falhei?, o que eu fiz de errado?".

Nessas áreas da Colômbia, o caminho dentro da lei é difícil. Muitos esperam que o novo presidente, Gustavo Petro, cumpra suas promessas de campanha de diminuir a violência, alcançar a "paz total" para acabar com o que chamou de "guerra eterna", além de oferecer aos jovens a oportunidade de forjar seu próprio futuro.

BBC News, Katy Watson 


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