Para
a presidente de um dos maiores fóruns empresariais das Américas, as
instituições democráticas da região estão sobrevivendo bem às mudanças
políticas
Os
últimos meses não foram fáceis para a América Latina, que viu estourar uma onda
de revoltas populares. Na visão de Susan Segal, presidente do Americas Society
e do Council of the Americas — dois fóruns empresariais para debates
econômicos, políticos e sociais das Américas —, tais turbulências não afetaram
a força da democracia na região, e o maior desafio que os países
latino-americanos enfrentam hoje é o mesmo de décadas atrás: garantir um
crescimento econômico sustentável e inclusivo.
Qual é o maior desafio
da América Latina na atualidade?
É
o mesmo desafio que temos há décadas: a região precisa de crescimento econômico
sustentável, inclusivo, de modo que se tenha uma classe média fortalecida. As
pessoas não podem sentir que é impossível ascender socialmente. E, quando
ascendem, não podem ter medo de perder esse status.
Por que é tão
difícil conseguir resolver essa situação?
A
queda nos preços das commodities limitou, e muito, a capacidade de crescimento
econômico da região. E a consequência dessa lentidão é uma pressão sobre as
pessoas, que pagam muitos impostos, mas não recebem nada em troca por isso da
parte dos governos. A classe média da América Latina quer o mesmo que a classe
média global: moradia, educação, saúde e serviços públicos de qualidade.
Como a senhora
avalia o momento econômico da região?
É
difícil falar como um todo, já que cada país tem sua particularidade. No caso
do Brasil, por exemplo, acredito que vamos ver bons movimentos, uma vez que as
reformas que o governo vem tentando emplacar têm o potencial de criar um novo
espaço de crescimento da classe média. Isso é algo que pode dar às pessoas a
esperança da mobilidade social.
E do ponto de vista
social?
A
imigração se tornou uma questão urgente na América Latina. Hoje, em razão do
que acontece na Venezuela e perante o fato de haver novos governantes — Alberto
Fernández na Argentina e Lacalle Pou no Uruguai, por exemplo —, existem dúvidas
sobre como será a cooperação entre os países daqui em diante.
Há um sentimento de
descontentamento popular em toda a região. A democracia está ameaçada?
Não,
pelo contrário: a democracia ainda é muito forte na América Latina. Talvez os
governos de alguns países tenham um apelo populista. No entanto, isso não
esconde o fato de que esse sistema de governo continua florescendo. Em minha
visão, a democracia é o único sistema de governo que deveria existir e é o
único caminho legítimo que os países devem seguir.
Como a senhora
enxerga as turbulências recentes em vários países da América Latina?
A
internet e as redes sociais dão acesso total à informação e criam um ambiente
de transparência. Por outro lado, também criam espaço para que qualquer pessoa
manifeste sua opinião sobre tudo. E essa é uma percepção que acaba por desafiar
os meios tradicionais de consenso e comunicação com o povo.
A corrupção ainda é
um problema. Como mudar isso?
Os
sistemas de Justiça e o estado democrático de direito precisam ser fortalecidos
para que o combate à corrupção seja bem-sucedido. A relação entre o risco e a
recompensa, o que muitas vezes pode incentivar práticas criminosas, tem de
mudar e os corruptos devem ser penalizados. Nesse sentido, a sociedade tem um
papel fundamental, que é o de garantir que a transparência seja a regra em
todas as instituições.
Por
Gabriela Ruic, na Revista Exame
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