sexta-feira, 6 de julho de 2018

Um dos maiores símbolos do esquema de corrupção no Brasil será tocado pelos chineses


Chineses vão construir refinaria do Comperj
CNPC é a primeira estrangeira a investir no setor desde 2001. Mercado estima que obra pode gerar 10 mil empregos
Um dia depois de informar ao mercado que suspendeu a busca por sócios para o setor de refino, a Petrobras anunciou ontem uma parceria para concluir a construção da refinaria no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí. A obra para a construção dessa unidade, parada desde 2015, é um dos maiores símbolos do esquema de corrupção na companhia, revelado pela Operação Lava-Jato. A Petrobras assinou uma carta de intenções com a gigante chinesa China National Petroleum Corporation International (CNPCI) para uma parceria estratégica num projeto integrado que inclui a construção da refinaria e a compra de participações pelos chineses nos campos de Marlim, na Bacia de Campos.

A retomada é um alento para a região, que sofreu o impacto da paralisação das obras. A versão inicial do Comperj era muito maior, com unidade de refino e unidade petroquímica e perspectiva de geração de cem mil postos de trabalho. Posteriormente, o projeto foi revisto, e suas ambições, reduzidas, excluindo o setor petroquímico, até ser integralmente paralisado com as denúncias de corrupção. Já foram gastos US$ 14 bilhões no empreendimento. Segundo estimativas do mercado, no pico das obras deverão ser criados dez mil postos de trabalho. De acordo com fontes, a construção da refinaria requer investimentos de cerca de US$ 4 bilhões. A construção da refinaria do Comperj não consta do Plano de Negócios da Petrobras 2017-2022. OUTRA CHINESA CONSTRÃ'I UNIDADE DE GÁS As empresas não informaram qual será a participação dos chineses no projeto, mas ele prevê atuação integrada: o óleo pesado produzido em Marlim será usado na refinaria.

A chinesa é a primeira estrangeira a investir no setor de refino no país desde 2001, quando a petroleira espanhola Repsol adquiriu 30% da Refinaria Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul. A empresa saiu do negócio em 2010 em razão de prejuízos causados pelo controle no preço dos combustíveis.

Petrobras e CNPC são parceiras desde 2013 no consórcio que explora a área de Libra, no présal da Bacia de Santos. Em 2017, Petrobras e CNPC arremataram em consórcio, junto com a BP, o bloco de Peroba, um dos mais disputados na 3ª Rodada do pré-sal.

'A parceria estratégica fortalecerá os laços entre as empresas e contribuirá para o aprofundamento da parceria estratégica global entre o Brasil e a China, ambos membros do grupo Brics', afirma a Petrobras no comunicado.

O prefeito de Itaboraí, Sadinoel Souza (PMB) destacou a importância da retomada do projeto para a recuperação da economia do estado. Itaboraí foi uma das regiões mais afetadas pela suspensão, com a perda de 36 mil empregos após 2015.

- A mola propulsora da economia do Estado do Rio é o petróleo. Nós vamos conversar com a Petrobras para fazer as obras de melhoria de infraestrutura necessárias - disse o prefeito.

O vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Empregados nas Empresas de Montagem e Manutenção Industrial do Município de Itaboraí (Sintramon), Marcos Hartung, destacou a importância da retomada das obras que, segundo ele, só deverão ser iniciadas a partir de 2022:

- Parte das obras da refinaria já está pronta, então os primeiros empregos devem ser da área industrial, como engenheiro técnico, montagem, tubulações e movimentação de carga.

No primeiro trimestre, outra empresa chinesa, a Shandong Kerui Petroleum, venceu licitação e foi contratada para a construção da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN), dentro do Comperj, destinada a processar o gás natural que será produzido nos campos do pré-sal da Bacia de Santos. A companhia está iniciando as obras e já contratou 500 trabalhadores. TCU MUDA NORMA QUE TRAVAVA MEGALEILÃO Ontem, o Tribunal de Contas da União (TCU) recuou e decidiu que sua nova regra sobre o acompanhamento de privatizações e concessões só valerá a partir de janeiro 2019. A norma, que estava em vigor desde a semana passada, tinha o potencial de impedir a realização de um megaleilão de petróleo do pré-sal ainda este ano. A licitação já está com a data pré-agendada para 29 de novembro e pode render até R$ 100 bilhões aos cofres públicos.

Na semana passada, o tribunal havia alterado a sistemática de acompanhamento de desestatizações e concessões, e passado a exigir o envio de um extrato com todas as informações relacionadas a qualquer licitação com antecedência mínima de 150 dias da data da publicação do edital. Isso atrasaria o certame e inviabilizaria sua realização em 2018. No entanto, após negociar com integrantes do governo, o TCU criou uma regra de transição.

O Congresso também retirou ontem outro entrave ao megaleilão de petróleo, que depende de um acordo entre União e Petrobras em torno do contrato de cessão onerosa (acordo pelo qual a empresa adquiriu o direito de explorar cinco bilhões de barris na camada pré-sal). A Câmara aprovou o projeto de lei que permite à Petrobras vender até 70% de sua participação nos campos da cessão onerosa. O texto traz dispositivos para viabilizar a revisão do contrato entre o governo federal e a estatal. Agora, o texto será analisado pelo Senado.

PREJUÍZOS

A VISÃO de Brasil dos autores sindicalistas da ação que levou o ministro do Supremo Ricardo Lewandowski a, liminarmente, condicionar qualquer privatização à autorização do Congresso é de um país em que as estatais seriam as locomotivas do crescimento.

MAS, NA vida real, o que a liminar provoca são atrasos no plano de saneamento financeiro da Petrobras e ainda impede que o parque de refino se modernize e seja ampliado — porque a única forma de isso ser feito sem distorções é por meio de capitais privados e com a vinda de empresas para competir com a estatal neste setor.

O RESULTADO é prejudicar a Petrobras e a população, que continuará a pagar por combustíveis os preços definidos por um monopólio.
Por RAMONA ORDOÃ'EZ MANOEL VENTURA, em O Globo  





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