quarta-feira, 18 de julho de 2018

ESTRADA FANTASMA


Prestes a completar noventa anos de sua fundação, Rodovia Washington Luiz (BR-040) tem trechos desprezados e R$ 500 milhões de construções ao ermo

“Governar é construir estradas.” O último presidente da República Velha levou o lema de sua gestão tão a sério que construiu e batizou com o próprio nome a primeira rodovia pavimentada do país, a Washington Luiz — o político fluminense que fez carreira em São Paulo chamava-se Washington Luís, mas essa é outra história. Inaugurada oficialmente em agosto de 1928, quando a frota no estado contava com apenas 20?000 veículos, a pista que liga o Rio a Petrópolis já teve seus dias de glória. Hoje, porém, quem decide visitar a Cidade Imperial enfrenta um percurso sinuoso, maltratado por manutenção precária, índices cada vez maiores de acidentes e uma grande obra abandonada no meio do caminho. Administradora, desde 1995, do trecho que vai até Juiz de Fora, a Concer é alvo de ações movidas pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela prefeitura de Petrópolis, que pedem o fim da concessão. “Melhorar as condições da BR-040 é uma questão urgente não só para quem vem a passeio como para quem mora aqui e trabalha no Rio. Contamos com uma resposta da Justiça”, comenta o prefeito petropolitano, Bernardo Rossi.

Ainda sem prazo para a retomada das obras, a Nova Subida da Serra (NSS) é um traçado de 20 qui­lômetros que pretende substituir a atual estrada e deveria ter sido inaugurado antes da Olimpíada. O projeto original, concebido em 1995 e orçado na época em 80 milhões de reais, seria totalmente custeado pela Concer. Entretanto, a concessionária acabou recorrendo à União em busca de mais verba, diante da alegação de que a construção precisou se adequar a “novas demandas ambientais, viárias e tecnológicas”. A contenda seguiu, então, até um conhecido beco sem saída: o Tribunal de Contas da União (TCU) entrou com um embargo diante de suspeitas de superfaturamento e tudo parou. Na tentativa de resolver o impasse, um novo projeto com alterações no traçado foi submetido ao TCU. Em paralelo à polêmica da NSS, a empresa diz que “mantém investimentos em melhorias, manutenção, conservação e operação da rodovia, sobretudo no trecho da serra de Petrópolis”, mas quem trafega pela área não vê sinal de tanto zelo.

De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), 2017 teve média mensal de dez acidentes com feridos graves ou com morte na Rodovia Washington Luiz, grande parte na subida e na descida da serra. A partir do início do aclive, no quilômetro 100, é comum encontrar rachaduras, buracos e desníveis nas placas de concreto. As irregularidades aparecem até em curvas fechadas, principalmente na pista da direita, por onde trafegam os veículos mais pesados. Em vários trechos, a manutenção é feita com massa asfáltica, recurso mais barato — e mais perigoso. Fendas afetam a estrutura das placas e, portanto, deveriam ser reparadas também com concreto. Quando há obras na pista, torna-se evidente outro problema: a ausência de acostamentos, retornos e faixas reversíveis. Qualquer obstáculo causa engarrafamento, em especial nos horários de maior movimento da via, onde o pedágio varia de 12,40 reais (automóveis e caminhonetes) a 74,40 reais (veículos de seis eixos).

Perigos na pista

Para reduzirem o prejuízo, usuários diários da estrada costumam se organizar em caronas com revezamento. É o caso do engenheiro Márcio Magalhães, 42 anos, morador de Petrópolis. “A gente tenta diminuir os riscos. O asfalto irregular, um grande problema, ainda piora por causa das chuvas”, afirma. Outra preocupação está no trecho da pista próximo da Comunidade do Contorno. Na altura do quilômetro 81, um desmoronamento ocorrido em novembro de 2017 abriu uma cratera de 70 metros de profundidade à beira da estrada, bem em cima de onde estava sendo construído um túnel da NSS. Meses mais tarde e depois de outros deslizamentos perto do local, o medo continua. “Já passei de carro por ali, e após alguns minutos a terra cedeu”, conta a enfermeira Sirlene Ulombe, moradora de Três Rios. A julgar pelo slogan do ex-presidente Washington Luís e pelo estado da Rio-Petrópolis, o governo vai mal.
Por Dilson Júnior, na Revista Veja Rio




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