quinta-feira, 19 de julho de 2018

Feirão de emprego em São Paulo tem fila quilométrica e confusão


O Vale do Anhangabaú, na região central de São Paulo, amanheceu mais movimentado do que de costume na segunda-feira, 16.
Uma multidão se reunia desde cedo nas imediações do Sindicato dos Comerciários de São Paulo em busca de uma das 1.800 vagas formais oferecidas em um mutirão realizado pela entidade em parceria com empresas.
O volume de interessados pegou a organização de surpresa. Segundo o sindicato, os primeiros candidatos chegaram já no fim da noite de domingo (15).
Letícia dos Santos Silva, 33, e o marido, Welligton, 35, entraram na fila às 5 horas.
Eles estão desempregados há cerca de dois meses e têm quatro filhos.
"Estamos aqui porque temos aluguel para pagar", disse Letícia. Ela mirava vagas de operadora de caixa, e ele, de estoquista.
Foram distribuídas 5.000 senhas para os candidatos, mas, diante da fila que se formava em caracol por todo o vale, o sindicato decidiu limitar o atendimento do dia a 1.600 pessoas.
O restante será atendido em grupos de 800 ao longo da semana.
A mudança na dinâmica do processo deixou os candidatos perdidos e retrata o desespero daqueles que procuram por emprego. Uma funcionária do sindicato relatou casos de pessoas vendendo senhas.
Muitos se aglomeravam na porta da entidade para tirar dúvidas e reclamavam que, com a comunicação confusa, haviam saído da fila por engano.
Insistiam para garantir que seriam atendidos, gritavam se alguém ameaçava furar a ordem de chegada e se abraçavam quando o colega que conheceram ali, na fila, também conseguia pegar uma senha.
Outros que não chegaram a tempo de se inscrever entregavam seus currículos a funcionários na porta do sindicato ao longo de toda a tarde.
Dentro do prédio, candidatos iam de um andar ao outro, participando em sequência de vários processos seletivos.
Segundo Ricardo Patah, presidente do sindicato e da UGT (União Geral dos Trabalhadores), a maioria das vagas disponíveis tem salário médio de R$ 1.300.
Há postos como de operador de caixa e vendedor em grandes redes de farmácias, materiais de construção e supermercados, entre outros.
Na fila do desemprego, não há regras para formação, idade ou origem.
Vivian Donato, 42, é professora e está desempregada há três anos. Enquanto espera a abertura de concurso para a rede pública, ela se candidatou para vagas no mutirão.
"Fui me virando, vendendo artesanato, trabalhando em feiras e eventos", disse.
Ana Carolina Toneo, 30, é graduada em marketing e está sem emprego com carteira assinada há dois anos.
"Só fiz bicos, estou aceitando a vaga que vier. É muita gente desempregada", afirmou Toneo.
Ícaro de Oliveira, 18, chegou às 6 horas à fila em busca do primeiro emprego. "Já está na hora de procurar."
Já o viúvo Arnaldo José Correra, 60, que trabalhou como taxista por 16 anos e está desempregado desde novembro, conta que faltam apenas dois anos para se aposentar.
Os haitianos Louis Pierre, 38, Oska Bellevue, 41, e Jean Alix Joseph, 54, estão no Brasil há cerca dois anos.
Tiveram empregos diversos, como de pedreiro e ajudante de cozinha.
"Não queremos problema, só queremos trabalhar", disse Bellevue, que fez curso de auxiliar de produção no Senai.
Além de fazer frente à situação do desemprego no país, a iniciativa do sindicato é uma tentativa de atrair filiados, após a reforma trabalhista tornar o imposto sindical facultativo.
"É uma resposta pela valorização do movimento sindical e um caminho para aperfeiçoarmos a relação com as empresas", disse Patah.

 Folhapress





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