segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Empresas cortam soneca de funcionários após produtividade despencar

 BBC Capital
No ano passado, a empresa start-up AskforTask.com criou uma salinha para que seus funcionários pudessem tirar sonecas depois de longas jornadas de trabalho - às vezes, de mais de 70 horas por semana.
Parecia o plano perfeito para uma empresa que queria relançar sua plataforma online rapidamente e precisava da colaboração dos funcionários para a missão.
Mas o plano fracassou. "Não foi preciso muito tempo para descobrir que as sonecas eram contraproducentes", diz uma das fundadoras da empresa, Nabeel Mushtaq.
Os chefes haviam imposto um limite de 15 minutos por soneca, mas ainda assim muitos empregados estouravam o tempo.
Outros, acordados forçosamente, passavam mais tempo tomando café e no banheiro lavando o rosto, na tentativa de despertar totalmente.
O processo todo desperdiçava algo como 30 minutos a uma hora e meia por dia, segundo Mushtaq.
Depois de seis meses da experiência, a equipe - anteriormente tida como eficiente - estava cumprindo apenas 55% de suas metas semanais, uma queda de 30 pontos percentuais.

Soneca corporativa

A perda de produtividade da empresa, na prática, vai contra a teoria de vários estudos que sustentam que os cochilos podem elevar o desempenho dos trabalhadores. Corporações como Apple, Nike, Procter & Gamble, HootSuite e Intuit adotaram a prática.
Em Nova York, o ramo já está até se terceirizando: a MetroNaps nasceu dedicada a fabricar móveis para a chamada "soneca corporativa".
A iniciativa é semelhante à de empresas que instalam videogames e mesas de ping pong no escritório: o objetivo é descontrair os trabalhadores.
Mas às vezes, quando os funcionários exageram, o chefe acaba tendo que desempenhar um papel parecido com o de professor de jardim de infância.
Nathan Schokker, da empresa australiana Talio Group Pty, diz que um problema recorrente é identificar quem abusa demais das sonecas.
"Já tive uma pessoa que passou tempo demais na sala de soneca em plena manhã de segunda-feira. O ronco foi o que acabou entregando", diz Schokker
A empresa empresa dele oferece salas de soneca, mas não impõe nenhum limite ou regra. No entanto, os chefes recomendam que elas só sejam usadas em situações extremas.
"É pouco produtivo recomendar sonecas diárias", diz. "Eu descobri que algumas vezes eu usei a sala de soneca para procrastinar, destruindo minha produtividade por algumas horas."
No caso citado, o chefe e o empregado acabaram rindo da situação, mas o funcionário foi advertido para que descansasse mais em seu tempo livre.

Relaxando com eficiência

Para Schokker, o desafio é achar o equilíbrio junto com os empregados.
Jacob Stewart, da empresa americana The Travelling Photo Booth, por exemplo, cobra que seus funcionários interrompam seu trabalho por alguns minutos todas as tardes.
"Pedimos que eles deixem suas mesas por pelo menos 20 minutos por dia. É uma forma de impedir que todos fiquem exaustos."
A Blue Soda Promo, uma empresa americana de produtos promocionais, tem amenidades como uma pista de boliche, scooters motorizados, cestas de basquete, mesas de jogo e uma "sala de serenidade", com um sofá e uma cadeira de massagens.
A empresa diz ter um bom equilíbrio na sua produtividade, e os funcionários nunca passam tempo demais sem trabalhar. Segundo Matt Powers, um dos diretores, a companhia tem prazos e metas muito rígidos, e isso faz com que as pessoas não abusem do seu tempo no trabalho.
Ele diz que basta ser sutil - perguntando "onde você esteve?", por exemplo - para alertar aqueles que se excedem um pouco.
Simon Hudson, fundador da empresa Brndstr nos Emirados Árabes, testou a ideia de uma sala de soneca por dois meses em sua companhia, mas desistiu da ideia. A sala de soneca era uma distração muito grande e os empregados se ausentavam por muito tempo.
Ele resolveu mudar a sala, instalando sofás, cadeiras confortáveis, uma televisão de 50 polegadas e um Playstation. Isso estimulou que seus funcionários se mantivessem ativos e criativos no descanso. Até agora a ideia tem dado certo, segundo ele.
Na AskforTask, Mushtaq resolveu seguir o exemplo, transformando a "sala de soneca" em um "lounge de inovação". Em seis semanas, a produtividade da empresa voltou ao normal.
"Mudando o nome e o tema da sala, conseguimos fazer nossos empregados atingirem mais de 85% de suas metas semanais", diz Mushtaq.