quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Saúde, segurança e educação: o centro da campanha eleitoral


Uma pesquisa mostra que a prioridade dos brasileiros são serviços públicos de mais qualidade e compatíveis com os tributos pagos

                               Sala de espera na zona sul de São Paulo
Do El País
Nos anos 1980 e 1990, os brasileiros apontavam a hiperinflação como o inimigo número um do país em todas as pesquisas de opinião. Depois, era o desemprego que liderava a lista de preocupações nos anos 2000. Agora, os brasileiros apontaram a saúde, segurança pública e a educação como os principais problemas do país neste ano em que serão realizadas novas eleições presidenciais. Esse foi o resultado a que chegou uma nova pesquisa da Confederação Nacional da Indústria(CNI), realizada em parceria com o Ibope. Com 49% de citações pelos consultados, a saúde apareceu no topo, violência e criminalidade tiveram 31% das indicações, seguidas por educação, com 28%.
O levantamento, chamado de Retratos da Sociedade Brasileira – Problemas e Prioridades para 2014, contou com mais de 15.000 entrevistas, realizadas em todos os Estados do Brasil e no Distrito Federal. Os resultados vêm confirmar as demandas mais relevantes apontadas pelos manifestantes durante o mês de junho, e que devem ser uma cobrança permanente para qualquer um que assuma a presidência no início de 2015.
De acordo com Murillo Aragão, analista político e presidente da Arko Advice, esse eixo de reivindicações deverá guiar as campanhas dos candidatos à presidência. “A oposição vai tentar explorar esse caminho, dizendo que o Governo fez pouco nessas áreas. Já Dilma deverá turbinar seu discurso com dados que apontem uma trajetória de melhoria, prometendo um futuro com mais avanços”, diz ele.
Para Aragão, um caso concreto é a reivindicação relacionada à saúde. “O Mais Médicos, sem dúvida, será usado como exemplo de um programa que está melhorando a situação da saúde pública e que deveria ser aumentado.”
Outro ponto importante da pesquisa é que o aumento do salário mínimo e as políticas de promoção do emprego acabaram ficando em segundo plano, com 23% e 18% das escolhas dos entrevistados, respectivamente. Alinhado a essa menor preocupação com a estabilidade econômica, o item que teve menos indicações dos entrevistados foi a inflação, com 14% das indicações para entrar na lista de prioridades do Governo. Isso reflete o quadro de satisfação do brasileiro com a melhora da renda nos últimos anos, o que tirou o custo de vida do centro das preocupações.
No final do mês passado, a CNI havia divulgado uma pesquisa que mostrou um aumento na taxa de confiança do consumidor. De acordo com o levantamento, os brasileiros estavam mais confiantes em dezembro do que no começo do ano. "Isso mostra que a fase de cobrança por uma estrutura econômica mais estável já está muito menor do que no passado e que o foco passou a ser serviços públicos de mais qualidade", diz Aragão.
A preocupação com a corrupção foi o sexto item mais citado pelas pessoas consultadas pelo levantamento. Para Paulo Fernando Carneiro de Andrade, professor do Centro de Ciências Humanas da PUC- Rio, esse tipo de manifestação revela um passo importante da sociedade brasileira. "Hoje já se reconhece que a questão da corrupção não é apenas moral. O brasileiros percebem que é necessária a criação e o aprofundamento dos mecanismos de vigilância dos servidores públicos", diz.
Na avaliação de Renato da Fonseca, da área de pesquisa e competitividade da CNI, o levantamento aponta um sentimento popular de saturação no pagamento de tributos altos, sem uma contrapartida dos serviços públicos. “Esse quadro acaba se parecendo muito com o que detectamos na pesquisa de avaliação mensal de avaliação do Governo. Todos os políticos deveriam pensar em soluções de prazo mais longo para essas áreas”, diz ele.