terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

"O dinheiro não fede!"


1852: Aberto o primeiro banheiro público do mundo

 Do Deutsche Welle

Em 2 de fevereiro de 1852, a administração municipal de Londres abriu o primeiro banheiro público do mundo na Fleet Street, o centro da imprensa da capital britânica. A instalação sanitária era só para homens.


Garota vestida de romana junto à entrada de um banheiro público em Londres, por ocasião dos 150 anos dos banheiros públicos britânicos

Onde vive gente, produz-se lixo. E o que entra pela boca em algum momento terá que sair. Os nômades ainda não tinham nenhum problema com a evacuação. Faziam seus "montinhos" despreocudamente em qualquer parte, afinal logo depois seguiriam para outro lugar. Só com o sedentarismo é que a eliminação dos excrementos tornou-se um problema logístico.

Os primeiros toaletes públicos conhecidos foram na Roma antiga. Tais latrinas privadas eram extremamente lucrativas, pois seu proprietário cobrava duas vezes: primeiro do usuário, depois do hortelão, que comprava as fezes e a urina para adubar seus canteiros. Cientes do bom negócio, os concessionários das latrinas já faziam publicidade, com o slogan: "Cuide de não defecar na rua, senão a ira de Júpiter recairá sobre você".

Longa história dos sanitários públicos
Pressupondo uma excelente renda para os cofres públicos, o imperador Vespasiano tributou os proprietários de latrinas com um imposto sobre a urina. Seu filho Tito foi inicialmente contrário a essa tributação. Quando seu pai lhe passou debaixo do nariz uma moeda recebida com o novo imposto, ele teria dito – fascinado: "Pecunia non olet!" ("O dinheiro não fede!").

No século 3º d.C., os romanos podiam escolher entre 144 instalações sanitárias públicas para se aliviar. Ainda hoje, o refinado sistema de cloacas da cidade causa admiração aos engenheiros.

Mas, então, começou a tenebrosa Idade Média. De nada valeram as conquistas dos romanos, pois a falta de limpeza nas cidades atingiu um ponto absolutamente crítico. As fezes eram despejadas nas ruas, onde os excrementos humanos e dos animais se juntavam numa imundície fétida. Quem não tinha monturo próprio, usava o do vizinho ou simplesmente despejava o penico na rua.

Ainda no começo do século 19, um crítico contemporâneo escreveu sobre a situação das ruas de Berlim: "Na beira da calçada são esvaziados os urinóis noturnos e todo o lixo da cozinha, jogados os animais domésticos mortos, que exalam um mau cheiro insuportável… Em Berlim, você tem sempre que tapar o nariz com um lenço… Se chove, os montes de dejetos são espalhados pelas ruas, pois eles frequentemente ficam esperando dias e noites pelo recolhimento. E no escuro, pode-se por descuido pisar neles, sujando-se até o joelho".

Sanitários públicos em Paris
Um passo decisivo na tenebrosa história da higiene só veio com a Revolução Francesa. No início dos anos 90 do século 18, homens esclarecidos mandaram construir sanitários públicos nas praças parisienses. Apesar disso, a literatura apega-se ao boato de que os toaletes públicos dos tempos modernos tiveram sua origem na Inglaterra e que a inauguração da primeira instalação sanitária pública na Fleet Street de Londres, em 1852, teria sido uma data muito especial para a civilização.

Um engano perdoável, pois foram os britânicos que presentearam o mundo com o WC (water closet). Esta invenção genial, nós a devemos a um certo Sir Henry Harrington. Já em 1589, ele mandou construir em sua casa, em Kelsington, uma fossa sanitária com descarga de água. Porém, só em 1775, quando um certo Alexander Cumming registrou a patente de um vaso sanitário com descarga e vedação de odor, é que começou um rápido desenvolvimento na ilha britânica, durante o qual foram inventados todos os tipos ainda hoje comuns de WC - com descarga hidráulica e bloqueamento de cheiro, através do escoamento por sifão.

Contudo, tampouco na Inglaterra de meados do século XIX podia-se falar de uma canalização perfeita. Os proprietários de casas despejavam o esgoto, através de tubulações, nas águas mais próximas. Os rios transformavam-se em caldos fedorentos. Do especialista em esgotos William Dunbar, pode-se ler: "As crianças tinham prazer em acender as bolhas de gás que subiam dos leitos dos rios. Surgiam então chamas de até 6 pés de altura, as quais corriam até 100 metros sobre a superfície da água. Cadáveres de animais boiavam em grande número nos rios. E encalhavam aqui ou acolá. Ninguém era obrigado a eliminá-los".

Em Londres, foram tomadas, já em 1836, as primeiras medidas de limpeza pública, uma vez que os detritos das cidades industriais do Reino Unido nos primórdios do capitalismo exalavam um enorme mau cheiro. Nas décadas seguintes, não se desenvolveram em nenhum país do mundo tantos métodos de purificação do esgoto como na Inglaterra. O padrão de desenvolvimento sanitário dos britânicos tornou-se modelo para a Europa continental.