segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A gestão e a organização

A complexidade do mundo moderno tem ocasionado, nas organizações e nas pessoas, um caldo de mudanças e incertezas que as deixam vulneráveis ao nosso tempo.

Por isto é importante aprofundar nas pessoas, as relações cooperativas, e nas organizações, os paradigmas da sustentabilidade.

As relações cooperativas e os paradigmas da sustentabilidade são conceitos que, por si só, não conduzem à produtividade almejada se desconectadas do contexto adequado, aquele em que as pessoas se sintam valorizadas para estabelecerem pactos e compromissos.

Relações cooperativas consolidadas implicam em radicalizar no indivíduo a utilização de suas plenas capacidades, para que seja possível estabelecer relações orgânicas e produtivas com o outro. Não é fácil enxergar no outro uma extensão da nossa vontade sem que isto passe pela instrumentalização, pela coisificação, pela transformação do colega de trabalho em escada, mero trampolim para o alcance de nossos objetivos. Para conseguirmos extrair das relações cooperativas o máximo do que seja possível atingir, é necessário dotar os indivíduos da habilidade da transversalidade, da habilidade de navegar pelas diferentes disciplinas e conteúdos, de modo que possa, ao contrário de uma ameaça, encontrar no outro um colaborador.

Já os paradigmas da sustentabilidade devem transitar por uma necessária abordagem científica, pela apropriação do saber tecnológico, de modo que nossa ação transpire e exale qualidade e competitividade. O avanço tecnológico é vital para que nossas organizações possam superar as adversidades, sustentando-se ao longo do tempo, obtendo mais e melhores resultados com o dispêndio de menos insumos. Mas também por si apenas, o arcabouço tecnológico – por mais revolucionário que seja – não será capaz de resolver nossos problemas, de viabilizar nossos desafios.

Só a perfeita interação entre as relações cooperativas e o arcabouço tecnológico será capaz de desnudar um horizonte que conduza ao ambiente desejado: pessoas satisfeitas e motivadas; relações inter-pessoais produtivas estabelecidas, e tecnologias adequadamente apropriadas.


Por isto causa espécie nos dias de hoje, muitos ainda se valerem de abordagens conceituais segmentadas, praticas ultrapassadas e cenários indigentemente construídos para, neste deserto arenoso, processarem a ação gerencial.

É na instituição que os conceitos da administração deveriam vingar.

Eis que as organizações atuam de forma determinante no processo de desenvolvimento individual e coletivo. Não existe absolutamente nada tão importante quanto as organizações visto que atuam no sentido de conformar nosso ser e nosso viver. E novamente aqui o componente “educação” é esteio, referência, âncora. Entendendo educação não apenas como a capacidade de se apropriar dos conteúdos científicos e acadêmicos, mas, sobretudo de manejá-los, inter relacioná-los com o empírico e o informal, dotando as pessoas e as instituições de canais umbilicais de comunicação, possibilitando uma ação crítica-reflexiva que aponte para a elaboração e transformação de ambientes e cenários.

A Teoria Geral da Administração teve início quando Taylor teorizou sobre as atividades executadas pelos operários em uma linha de produção fabril. Isto ocorreu no inicio do século passado, em 1903, nos legando a Teoria da Administração Científica.

E por mais fantasmagórico que possa parecer, muitos de nossos gestores, públicos e empresariais, se orientam tão somente pela racionalização do trabalho em nível operacional, dando-se por satisfeitos por implementar, de forma segmentaria e extemporânea, um arrazoado teórico desenvolvido para resolver problemas dos idos de 1900.

Negligentemente esquecem-se que as técnicas e teorias da administração jamais permaneceram indiferentes ao tempo, acompanhando as escalas da evolução humana. E que na seqüência de Taylor, surgiram Fayol e Weber desenvolvendo a teoria Clássica e a da Burocracia, que enfatizaram as estruturas organizacionais. E que, a partir de 1932, os pensadores iniciaram uma reação com vistas a situar as pessoas no centro da teorização administrativa, o que se deu com a Teoria das Relações Humanas, a Teoria Comportamental e a Teoria do Desenvolvimento Organizacional. E que o novo cenário obtido com a análise do ambiente levou a formulação da Teoria da Contingência, que logo se apropriou também da análise tecnológica.


E assim, as características de cada tempo foram formatando diferentes teorias administrativas que analisadas e aplicadas em separado, levam a equívocos, desvios, resultados pífios e voláteis.

É importante destacar que toda a ação gerencial tem no fundo, o mesmo fundamento. Esteja o gestor numa chefia elementar, de primeira linha, como na seção de Protocolo, por exemplo; esteja o gestor numa gerência superior, como numa sub secretaria de ensino ou ocupando o cargo de secretário da educação, no fundo, independentemente do grau hierárquico, a função é a mesma, mobilizar os subordinados para - atuando de forma cooperativa – alcançar as metas e objetivos traçados, fazendo com que a organização obtenha êxito em sua missão.

Portanto, desbravar os caminhos que conduzam as pessoas ao trabalho em equipe, a divisão dos conhecimentos; que levem as pessoas a compartilhar experiências e atuar de forma solidária é o desafio do gestor de organizações. É ter a convicção de que o sucesso do empreendimento, qualquer que seja, depende tanto do aporte da tecnologia adequada quanto da forma como as pessoas se relacionam entre elas, consigo mesmas e com a organização.

Na gestão pública e empresarial, a organização e o outro são muito mais importantes do que se pensa, do que sempre se acreditou.

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e a tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo, e a metodologia ThM-Theater Movement