segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

AVALIAÇÃO

Uma avaliação precisa e criteriosa é o instrumento capaz de assegurar navegabilidade em mares tão revoltos. Impõe a diferença entre os que singram os mares e adornam, e os que – com segurança – chegam ao bom cais. 

Medida é simplesmente a quantificação de algo, é corresponder aos objetos de interesse, números, dados, informações e ordená-las.

Já avaliação transcende a simples informação numérica, é muito mais que uma mera medida.

Quando, utilizando uma fita métrica, verificamos que o quadro negro mede oito metros de comprimento por um e meio de largura, estamos efetuando uma medida. Mas quando informamos que o quadro negro não passa pela porta da sala de aula, já estamos avaliando.

A avaliação deve ser um processo importante para os gestores, mas também para a comunidade.

Permite verificar se as metas estão sendo adequadamente atingidas, estimulando ou refreando o ritmo da caminhada.



No caso específico dos empreendedores e servidores, devem trabalhar o conceito de avaliação não como tem sido entendido até aqui, como uma mera e reles medida, um instrumento de punição, um açoite na mão de feitor. O conceito de avaliação compartilhado por empregados, servidores e gerentes deve ser aquele que defina o instrumento como um processo maior, em que a nota, a medida, faça parte de um conjunto de componentes e referências outras, que se complementam umas às outras. Deve propiciar ao servidor a oportunidade de verificar, com absoluta clareza, o quanto tem assimilado de conteúdos, de conhecimentos, o quanto tem melhorado a performance, e se deve se esforçar mais, e em que direção, prazo, intensidade e profundidade, conforme sua condição específica.

Mas para que isto ocorra, o servidor deve ser chamado à participação em setores antes reservados exclusivamente ao staff. O chefe e o gestor sempre avocaram a si a tarefa de definir o que o servidor deve aprender, como, quando e com quem. Hoje isto não é mais aceitável. A sociedade avançou no sentido de assegurar direitos. Além do mais, se o servidor percebe abertos os canais de participação, se vê componente importante do processo, aprofunda seus vínculos e compromissos com a aprendizagem, com seus agentes e com a instituição. É a educação cidadã.



Isso nada tem a ver com o democratismo, a falta de autoridade, a completa ausência de limites e parâmetros, a mais pura libertinagem que tem assolado grande número de instituições, sobretudo as de ensino, enxovalhando a relação educador-aluno, servidor-gestor, cliente-empreendedor, trazendo prejuízos dificilmente reparáveis a todas as partes.

A educação cidadã a que me refiro tem a ver tão somente com a busca por melhores resultados, com a qualificação da educação, do processo de interlocução, com necessidade de satisfazer os atores envolvidos, de responder às expectativas da sociedade.

Enganam-se os que, conformando-se com uma mera medida – uma nota negativa – imaginam que seus avaliados não sejam capazes. O fato de não dominarem um saber específico, não os tornam cegos e néscios. É preciso atentar para o conhecimento que só eles possuem, fruto dos valores compartilhados por sua geração e da cultura familiar, laborial e da comunidade em que vivem e atuam. Esses elementos, apropriados pelo gestor, podem emprestar às tarefas e atividades a dinâmica e o interesse perdidos em algum lugar do caminho entre a casa e o trabalho.



Neste contexto, os servidores com menor índice de aproveitamento, devem receber, da parte do gestor, um acompanhamento mais amiúde, mais específico, mais solidário, de modo que se sintam em condições de acompanhar o ritmo dos colegas de trabalho.

Uma nota de per si, jamais poderá ser tomada pelo gestor como uma avaliação universal, total e completa. Zero ou dez, com todos os seus intermédios, é uma medida que expressa apenas parte do contexto. O gestor compromissado deve se municiar do maior número possível de medidas e referências para que possa compor um universo adequado.

Da parte do gerente, é preciso considerar que mesmo a mera medida, mesmo a nota solitária e fria, quando revela o fracasso de um trabalhador, pode estar na realidade escondendo o fracasso do gestor. Do gestor que não tem abertura, arrogante, que não consegue interagir com o servidor, que se passa por superior, do gestor incompetente.

Para o gestor, a avaliação deve ser um instrumento que possibilite a permanente simbiose avaliação-ação-reflexão-avaliação-ação-reflexão... É esta dinâmica o elo capaz de manter os agentes do setor público (e também os do setor empresarial) em correspondência com o que dele se espera.

E aqui importa ressaltar a diferenciação entre eficiência e eficácia.

O gerente que rigorosamente observa as regras e procedimentos, deixando atualizado o livro de ponto; observando os horários de início e término das atividades; cuidando religiosamente das rotinas; participando de todas as reuniões de planejamento e avaliação, estará sendo deveras eficiente. Mas só estará sendo eficaz se conseguir, de fato, fazer acontecer, gerar produtos e resultados com a qualidade estipulada na fase de planejamento.

É óbvio ululante que boa parte de nossos gestores e de nossas instituições não se pautam pela eficácia. Conformam com a eficiência esterilizada dos cemitérios. Como os túmulos caiados de que falam as escrituras sagradas. Alvos e límpidos por fora, mas putrefatos por dentro.

Também a comunidade deve ser chamada a participar com maior intensidade desse rico processo de avaliação. Não só os clientes e beneficiários diretos, mas as forças vivas que atuam na comunidade: lideranças classistas, populares, sindicais, religiosas,...

Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia de planejamento estratégico Quasar K+.