segunda-feira, 6 de julho de 2015

Administrar ?



O mundo evoluiu e não mais consegue se movimentar ao largo de suas organizações. A relação entre as pessoas e as instituições se tornou de tal forma umbilical que ficou impossível uma prescindir da outra.

Do nascimento à morte, passando por todas as fases e etapas de nossa existência, do aprendizado acadêmico, do aprendizado informal, da conformação de nossos conteúdos imateriais, dos momentos de lazer e prazer, até a realização no amor e no exercício profissional, vivemos num permanente processo de simbiose com as organizações, extraindo delas tanto quanto contribuímos, e vice versa.

De forma geral, a administração das organizações tornou-se um imperativo face a necessidade da sociedade traduzir o esforço do trabalho coletivo em inclusão e bem estar social.

 No plano específico da administração “educacional” (administração pública ou privada sempre terá um viés educacional haja vista que lida diuturnamente com a transformação de pessoas e processos) este universo se reveste de maior importância, em conseqüência do ensino formal oferecido nas escolas ter se tornado o templo – não exclusivo, mas sem dúvida o referencial - onde se processa o substancial da geração, reprodução e democratização do conhecimento.

Com todos os problemas endo e exógenos que a martirizam, nossos locais de trabalho e sobretudo as escolas de formação e habilitação profissional, ainda são exemplo bem sucedidos na reprodução do conhecimento acumulado pela humanidade.

O mundo foi exigindo de suas organizações educacionais e profissionais um compromisso cada vez maior com as condicionantes do progresso e do desenvolvimento. Hoje, mais que em qualquer outra época passada - e muito mais será no futuro - o saber fazer é a mola propulsora do desenvolvimento pessoal, coletivo e institucional.

Em tempos de acelerada globalização, tudo assume dimensões descomunais, numa complexa e intrincada rede de interdependências e interpenetrações. Cada vez dependemos mais dos outros – pessoas e instituições.

O mesmo ocorre em nível de nacionalidades. A aglutinação dos países em grandes blocos políticos e econômicos, está a evidenciar a irreversibilidade da interdependência cosmopolita.

Neste contexto, administrar se tornou muito mais que um mero ordenamento de fluxos e rotinas. Enseja fundamentalmente a disposição de pessoas certas nos lugares certos, a alocação de pessoas com diferentes atributos em diversas escalas hierárquicas, de modo que as diferentes tarefas e atribuições possam ser dotadas de operacionalidade, não uma operacionalidade inerte e sim uma orgânica.

Impregnar este processo de racionalidade é a essência da administração.

Sem que lancemos mão do planejamento sistemático, da estruturação dos processos, da direção e do controle das diferentes atividades, não estaremos sorvendo da boa administração.

Sim, não subestimemos a vulnerabilidade humana. O que mais presenciamos nas instituições contemporâneas, públicas, privadas ou do terceiro setor, é a má gestão, a gestão perdulária, inconseqüente e inconsistente.

Boa parte dos nossos centros de administração absorveu o estigma da inoperância, da ineficácia, do carcomido pelo tempo, que se faz indiferente às avaliações de desempenho, que desdenha exalando sarcasmo qualquer proposta ou tentativa de controle social.

Abordar, portanto, o tema da gestão soa como um objetivo dos mais desafiadores, posto que os interesses corporativistas se sedimentaram de tal modo, que fossilizaram mentes e intenções, se emoldurando de arquétipos ideológicos e de ortodoxias dogmáticas. Questionar, o simples argüir, ou o convite para a mais elementar reflexão crítica, passou a soar como desvio a ser eliminado através de mecanismos nada sutis de convencimento e adesão “voluntária”, similares em muitos aspectos aos utilizados pelas agências de repressão política.

Destarte, a gestão que deveria se constituir num eficiente instrumento de liberação de energias produtivas, é instrumentalizada para servir exclusivamente aos grupos de interesses.

Por isto, tão importante quanto dominar as técnicas da moderna administração, é municiar de uma proposta de vida que enxergue a sociedade como um grande laboratório, onde vingue e aflore o progresso individual e coletivo, a justiça social e a democracia.

Sobre as técnicas, é importante destacar que sua aplicação mecânica é tão ineficaz como dispendiosa e desnecessária.

 Apesar dos múltiplos contextos e do caldo cultural em que nos encontramos, não existe uma instituição, uma organização rigorosamente igual à outra. Assim como, da mesma forma, não existe uma pessoa que em tudo guarde semelhança com um outro alguém. Esta característica é uma magia da vida. É esta radical diversidade que torna nosso universo muito mais complexo e dinâmico. Receitas prontas e padronizadas geram quando muito, relatórios técnicos e gerenciais volumosos, detalhados, mas que invariavelmente retratam atividades pasteurizadas, de resultados efêmeros e medíocres.

Daí que o gestor que tenha obtido boa performance numa determinada instituição estará sempre sujeito a amargar homéricos fracassos em uma outra, em que pese, às vezes estar atuando em organizações muito parecidas.

Não se trata apenas do conhecimento tecnológico. Este é necessário, mas não suficiente. Para impregnar o processo gerencial de qualidade, é necessário também misturar à massa insumos fundamentais, estruturantes, como o modo de ser, pensar e agir do gestor e demais atores, as personalidade, valores, princípios, filosofias de vida e trabalho.

Como não existe um único caminho pelo qual possa trilhar o administrador, nosso gestor deve ter a habilidade de, no leque de opções disponíveis, optar pelo trajeto que demande menor esforço; menor dispêndio em insumos materiais, humanos e financeiros; mas que necessariamente origine melhores resultados.

E estes predicados, somente uma formação integral, holística, que considere o todo, poderá propiciar.

O fato do gestor conquistar a formação regular, se apropriando dos saberes técnico e acadêmico, se constitui apenas na primeira de uma serie de outras etapas; e não implica em automático êxito, sucesso ou eficácia na condução da organização. As etapas seguintes que poderão conduzir ao tão almejado êxito dos agentes gestores estão condicionadas à formação psicológica, à personalidade, à forma de sentir e enxergar os outros e as coisas, o modo de operacionalizar as técnicas científicas e os procedimentos da informalidade.

De qualquer forma, para que ao processo de gerenciamento institucional agregue eficácia, o gestor deve se valer, no mínimo, de três competências.

A primeira, a técnica, é o suporte que permitirá desenvolver as atividades diárias, potencializadas por meio de conhecimentos específicos e métodos revestidos de racionalidade.

A segunda, a capacidade humana, é a qualificação que permite desvendar certas particularidades das pessoas, de modo que seja possível despertar nelas o interesse pela produção qualificada, e pelo trabalho efetuado com motivação.

Finalmente, a competência conceitual encerra a capacidade de enxergar a essência, de poder manejar o que não se encontra à vista, a capacidade de desnudar - na junção das partes - o conjunto, o universo em que se situam as pessoas e as organizações. É esta dimensão que possibilita entender a complexidade das instituições e nos dá a possibilidade de extrair soluções simples, adequadas ao perfil e características das pessoas. É esta dimensão que faz o gestor libertar-se do corporativismo que limita, para gravitar numa outra esfera, superior, que expande, e o interage aos objetivos maiores da instituição e da sociedade.

Em qualquer instituição, essas três capacidades são dosadas e utilizadas conforme o grau hierárquico ocupado. Uma empresa privada demandará um profissional com maiores habilidades técnicas para administrar os extratos de supervisão operacional. As habilidades necessárias passam a ser a humana e a conceitual conforme transitamos para as chefias intermediarias e os cargos de direção superior.

Todavia, a peculiaridade dos universos executivo e gerencial exige de todos os seus profissionais a utilização das três capacidades, quase que de forma plena. Independentemente do lugar em que atua e do serviço que executa no dia a dia, o profissional deve raciocinar e agir lidando com todo o conjunto de habilidades: a técnica, a humana e a conceitual.

Se as instituições devem se constituir numa linha de montagem para processar insumos com vistas à satisfação de clientes e cidadãos, como exigir menos de um profissional da administração?

As pessoas compõem o mais valioso patrimônio de qualquer instituição. O agente responsável por conduzir as pessoas ao seu caminho deve ser o mais preparado, deve ser o melhor e o mais capaz, deve ser o mais interessado em mudar a si e as pessoas, o mais interessado em transformar-se para que todos possam processar o ambiente, a sociedade, modificando para melhor a realidade em que vivemos.

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e a tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo.acs@ueg.br