segunda-feira, 24 de abril de 2023

Tecnologia: agente da felicidade ou da escravidão?

Possuir um produto de alta tecnologia nos traz prazer e qualidade de vida. Com ele, nossas tarefas são facilitadas e “parecemos” uma pessoa de sucesso, pois a impressão é que aquilo custou muito caro e que somente os bem-sucedidos e com bom salário têm condições de exibi-lo.

 

A cada lançamento de um desses artefatos alarga-se o fosso que separa as classes sociais no Brasil. Quem pode comprá-lo tem acesso a conhecimentos que a outros não é permitido. Além de um suposto respeito que se adquire, a posse de tais produtos tecnológicos cria uma aura de “um ser superior”.

Mas nem tudo é o que parece ser. Por isso, se pudéssemos abrir uma “janela” em cada produto desses para vermos o que está por trás de sua produção, com toda a certeza um filme de terror seria projetado na tela da nossa consciência.

Esquecemos – ou muitos não têm ideia – que todo produto de alta tecnologia nasce de uma mina, de um poço de petróleo ou de uma floresta. O que vale dizer que, de alguma forma, o planeta é afetado com aquela produção, ao mesmo tempo em que os insumos utilizados vão escasseando para as gerações vindouras. A sustentabilidade fica ainda mais vulnerável.

Na outra ponta, temos uma economia que faz de tudo para tornar viável os negócios oriundos da comercialização desses produtos e considera ter alcançado o sucesso quando as vendas crescem. Está fora desse cenário econômico e comercial a preocupação com os impactos perversos que ocorrem nos extremos da cadeia produtiva.

Vamos a alguns exemplos. A produção de um smartphone envolve uma cadeia de aproximadamente 250.000 (!!) operários, no mundo. Grande parcela dessa mão de obra está em minas para extrair o minério de lítio usado na confecção das baterias ou para extrair o minério de tântalo, insumo básico para capacitores de alta capacidade.

Em ambos os casos, as condições desses operários são as mais adversas e desumanas, não têm à disposição equipamentos de proteção individual adequados. É o que se vê nas minas de lítio bolivianas.

No Congo, país africano, a situação é ainda mais grave. Crianças são utilizadas na extração do minério de tântalo em condições de trabalho idênticas a dos seus antepassados do tempo da escravidão.

Símbolo de sustentabilidade

O veículo elétrico, hoje o símbolo de sustentabilidade com status ambiental, é realmente um agente da felicidade ou um instrumento da escravidão? Os projetistas desses veículos têm ideia do impacto de seus projetos no planeta? Não creio.

A maioria dos desenvolvedores de tecnologia enxerga seu produto apenas no momento da criação, num grande encantamento. Todavia, eles esquecem de olhar qual a origem da matéria-prima utilizada para a fabricação desses veículos. Até mesmo como será o descarte ou reciclagem de tais veículos, inclusive das baterias que são utilizadas.

O que fazer para quebrar esta cadeia? A academia ainda não tem a resposta.

Ao buscar a excelência acadêmica por meio de boas avaliações nos rankings com suas publicações qualificadas, entopem os acadêmicos com conteúdos tecnológicos, de grande utilidade para os criadores de tecnologia focados no presente. Mas se esquecem da importância do conteúdo humanístico que agrega consciência ambiental e social necessária para o profissional que aprendeu com os erros de seus antepassados e tem seu olhar focado no futuro. Um futuro que precisa estar na trilha das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas – ONU.

Devemos buscar a transformação da formação multidisciplinar de uma única área do conhecimento para a formação transdisciplinar que mescla conteúdo tecnológico interdisciplinar com conteúdo humanístico que impacta na sociedade.

Por derradeiro, nossas escolas de formação tecnológica continuam formando seus estudantes com conteúdos semelhantes àqueles exigidos para o ingresso em programas de doutorado e se esquecem de oferecer o conteúdo necessário à formação de um cidadão – realmente preocupado com o presente e o futuro da humanidade.

Jornal da USP, José Roberto Cardoso


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